sábado, dezembro 31, 2022

Olhos e Orelhas: Terceiro Quadrimestre de 2022

A literatura: «Os Benefícios de Dar Peidos Explicados, ou a Causa Fundamental dos Episódios de Indisposição do Belo Sexo Investigada», Jonathan Swift; «Milton, um Poema em Dois Livros», William Blake; «O Livro dos Snobs», William M. Thackeray; «De Profundis», Oscar Wilde; «Manual de Civilidade para Jovens Meninas a Usar em Casas de Educação», Pierre-Félix Louys; «Uma família sentada à volta de uma mesa», Isidore Ducasse Comte de Lautréamont.
A música: «Lágrima», Amália Rodrigues; «Power, Corruption & Lies», New Order; «Nocturne», Siouxsie & The Banshees; «The Works», Queen; «Thing-Fish», Frank Zappa; «O Despertar Dos Alquimistas», Fausto; «Trompe Le Monde», Pixies; «Human Touch» e «Lucky Town», Bruce Springsteen; «Very», Pet Shop Boys; «Danças», Maria João & Mário Laginha; «Bloodflowers», Cure; «Machina - The Machines Of God», Smashing Pumpkins; «Stories From The City, Stories From The Sea», P. J. Harvey; «Is This It», Strokes; «Tamerlano», George Frideric Handel (por Gregory Reinhart, Henri Ledroit, Isabelle Poulenard, John Elwes, Mieke van der Sluis e René Jacobs, com La Grande Écurie et La Chambre du Roy dirigida por Jean-Claude Malgoire); «Missa Cellensis In Honorem Beatissimae Virginis Mariae», Joseph Haydn (por Marga Hoffgen, Maria Stader, Josef Greindl e Richard Holm, com o Coro e a Orquestra da Rádio Bávara dirigidos por Eugen Jochum).
O cinema: «O Testamento do Dr. Mabuse», Fritz Lang; «Kong - Ilha Caveira», Jordan Vogt-Roberts; «Homem-Formiga», Peyton Reed; «O Fim do Mundo», Edgar Wright; «Planeta Terror», Robert Rodriguez; «Este Obscuro Objecto do Desejo», Luis Buñuel; «Calígula», Tinto Brass; «Quo Vadis», Mervyn LeRoy; «Pompeia», Paul W. S. Anderson; «A Águia», Kevin Macdonald; «Querido Diário», Nanni Moretti; «Não Outro Filme de Adolescentes», Joel Gallen; «Noite Áspera», Lucia Aniello; «Coisas Muito Más», Peter Berg; «O Jogo de Odiar», Peter Hutchings; «Lá Fora», Fernando Lopes; «Bobby», Emilio Estevez; «Sacrifício do Peão», Edward Zwick; «Homem Negro do Clã», Spike Lee; «Frost/Nixon», Ron Howard; «Peter Rabbit 2 - O Fugitivo», Will Gluck; «Mulher Maravilha 1984», Patty Jenkins; «Caça-Fantasmas - Pós Vida», Jason Reitman; «Veneno - Que Haja Carnificina», Andy Serkis; «Homem-Aranha - Nenhum Caminho Para Casa», Jon Watts; «Artur Natal», Sarah Smith; «A Sociedade Literária e da Tarte de Cascas de Batata de Guernsey», Mike Newell.
E ainda...: Câmara Municipal de Vila Franca de Xira - exposição «A (re)afirmação de um elemento identitário - 70 anos da Ponte Marechal Carmona» (Museu Municipal) + exposição de pintura e desenho de Ana Cristina Dias «Da crisálida ao mundo maravilhoso» (galeria do Palácio da Quinta da Piedade) + exposição «Bienal de Fotografia 2022» (Celeiro da Patriarcal, Museu Municipal e Fábrica das Palavras); Museu do Neo-Realismo - exposição «Voltar - Mário Sacramento, a hora do ensaio»; Biblioteca Nacional de Portugal - exposição «Rituais públicos no império português (1640-1821)» + exposição «A Biblioteca Cosmos e a propagação das luzes» + exposição «A oficina de Saramago» + mostra «Restauração e a fortificação moderna - Nicolau de Langres e as praças no Alentejo» + mostra «Un mirabile Inferno - Dante ilustrado por Amos Nattini» + colóquio «Pinharanda Gomes, historiador do pensamento português»; FNAC - exposição de fotografias de António Faria «A água e o livro» (Chiado); Universidade Católica Portuguesa/Pavilhão Carlos Lopes - Cerimónia de graduação de Mestres pela Escola de Negócios e Economia do ano 2022; Canal História - (documentário) «A Verdadeira Caça ao Outubro Vermelho» + (documentário) «O dia que abalou o pensamento»; Plataforma de Associações da Sociedade Civil - 2ª sessão do ciclo «O Esplendor Caótico do Mundo» - «Brasil contra Brasil»; EuroSport - (documentário) «Sétimo Céu».

quinta-feira, dezembro 15, 2022

Ocorrência: Alternativa, mas concreta

Pode a Cidade Invicta reclamar para si, definitivamente ou quase, o título de capital nacional da ficção especulativa em Portugal, isto no sentido de ter os mais importantes eventos e iniciativas regulares do género no nosso país? Se Lisboa dispõe do MoteLx (no Verão) e do Fórum Fantástico (no Outono), o Porto dispõe, há muitos anos (mais de 40), do FantasPorto (na Primavera), e, mais recentemente (há quatro anos), da What If (Outono), ou, mais correcta e completamente, e na sua designação original em Inglês, Conference of «What If» World History. Esta conferência anual dedicada à história alternativa, com efeito, teve neste ano de 2022, entre 22 e 25 de Novembro, a sua quarta edição, que foi simultaneamente a segunda internacional. Na verdade, e para além de convidados estrangeiros, dos três pólos do programa dois situaram-se na metrópole do Douro e um em Puebla, no México...
... Mais concretamente na Universidade Popular Autónoma do Estado de Puebla, onde se realizou, logo no primeiro dia da conferência, a Primeira Oficina Internacional de Gestão de Hipóteses e Económicas, com ligação virtual em directo para o outro lado do Atlântico. Neste, e na Universidade do Porto, os restantes dois pólos foram especificamente: a Casa Comum (da Reitoria daquela), onde as actividades incluíram o Salão Literário da Bela Época da Vinoterapia, «O “Museu da Falso” – Uma proposta de modelo para a criação de uma Paisagem Mental Patrimonial» por Rui Macário, «Na década de 20 do século passado» com DJ Sardão, e a (inauguração da) exposição «Catastrophe Honorável» com curadoria de Sílvia Simões e Ana da Silveira Moura; e a Casa dos Livros, designação «popular» do Centro de Estudos da Cultura em Portugal da UP, localizado no Palacete Burmester, onde as actividades incluíram as comunicações «E se o 25 de Abril de 1974 (Revolução dos Cravos) não tivesse acontecido?» por Irene Pimentel, «Os Naga na história indiana antiga – Budismo e Brahmanismo» por Daipayan Paul, «Ser ou não ser – identidade, história e desenlaces sociais alternativos na arte contemporânea brasileira» por Pedro Pousada e Vera Araújo, e «E se estivéssemos a viver no mundo distópico de “Mil Novecentos e Oitenta e Quatro?» por Iren Boyarkina.
Nunca é de mais recordar, reconhecer, reiterar que a «cabeça» e o «coração» deste acontecimento anual, a sua grande força impulsionadora, dinamizadora (constitui como que um autêntico «dínamo», uma fonte de energia individual) é Ana da Silveira Moura, talvez mais conhecida pelo seu pseudónimo literário AMP Rodriguez, que, lembro novamente, generosamente me convidou para ser um dos participantes, oradores, na primeira edição do encontro, em 2019, o que levou igualmente a que eu fizesse parte do Comité Científico Honorífico permanente para as edições subsequentes. Ela é também, claro, a principal autora e organizadora do projecto literário de história alternativa «Winepunk», de que se aguarda com alguma expectativa a publicação do segundo volume. Um empreendimento cultural multifacetado cuja capacidade criadora é bem concreta. (Também no Simetria.

quarta-feira, novembro 30, 2022

Ocorrência: Os «Mensageiros» partiram há 10 anos

Há exactamente uma década, a 30 de Novembro de 2012, a antologia de contos de ficção científica e fantástico «Mensageiros das Estrelas» teve a sua primeira apresentação. Foi na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, aquando do segundo colóquio com o mesmo nome, uma iniciativa organizada pelo Centro de Estudos Anglísticos daquela universidade.
Porque fui convidado a participar enquanto orador no primeiro colóquio, em 2010, ocorreu-me propor ao CEA como agradecimento a realização de uma colectânea colectiva que reflectisse o âmbito do evento, e que servisse de «amostra» do talento e da diversidade dos autores nacionais de FC & F. Eu fui um desses autores, e convidei a juntarem-se-me Ana Cristina Luz, António de Macedo, António Pedro Saraiva, Cristina Flora, Isabel Cristina Pires, João Afonso Machado, João Seixas, José António Barreiros, Luísa Marques da Silva, Luís Filipe Silva, Maria de Menezes, Miguel Garcia, Nuno Fonseca, Ozias Filho, Pedro Manuel Calvete, Sacha Andrade Ramos e Sérgio Franclim. Foram co-organizadores Adelaide Meira Serras e Duarte Patarra, e a publicação foi assegurada pela Fronteira do Caos, que antes, ainda em 2012, editara o meu livro «Um Novo Portugal – Ideias de, e para, um País». O excelente – e mesmo extraordinário – trabalho de desenho e de paginação do livro esteve a cargo de Pedro Piedade Marques, que já colaborara comigo em «Poemas» de Alfred Tennyson e em «Um Novo Portugal». E foi por causa de PPM que «Mensageiros das Estrelas» foi mostrada na Amazing Stories, como um dos exemplos da sua criatividade e capacidade, a propósito de uma entrevista a ele feita, e incluída numa edição (digital) de 2015 daquela histórica revista. Dois anos depois, «MdE» apareceu numa outra revista histórica da especialidade, a Locus, como uma das ilustrações de um artigo de Luís Filipe Silva sobre a FC & F em Portugal.
A seguir à primeira apresentação em Lisboa, e no que foi outro momento muito especial, «Mensageiros das Estrelas» teve a sua segunda apresentação: foi na Cidade Invicta, no cinema Rivoli, aquando da edição de 2013 do Festival Internacional de Cinema do Porto; a co-fundadora e co-organizadora do FantasPorto, Beatriz Pacheco Pereira, deu as boas vindas a mim e a Ana Cristina Luz, representando os autores, e ainda a Victor Raquel, editor da Fronteira do Caos, que explanámos e explicámos a origem, as características e os objectivos do projecto. No mesmo ano os «Mensageiros...» proporcionaram outra experiência inolvidável: na Feira do Livro de Lisboa alguns dos seus autores reuniram-se junto do espaço da editora Gradiva – que então distribuía os livros publicados pela FdC – para uma sessão de autógrafos e de agradável convívio. Em contraste previsível, foi muito desagradável a «recensão», ou série de «recensões», de Jorge Candeias aos contos que integram o livro. Inevitavelmente, respondi aos ataques indecorosos do «tormento do Barlavento», tanto a um nível geral como a um nível particular, aqui respeitante, obviamente, ao meu conto «Segundo Ultimatum Futurista», que o «poltrão de Portimão» se atreveu a (des)classificar ridiculamente, imagine-se, de «fascista». Entretanto, uma das «previsões» contidas no meu trabalho parece ter encontrado como que uma «confirmação» em 2014; porém, em 2017, ano em que a acção do mesmo se desenrola, praticamente (e felizmente?) nada do que eu tinha «antecipado» se tinha concretizado.
Enfim, e no que acabou por constituir também uma consequência, gratificante e assaz inesperada, da elaboração e da edição de «Mensageiros das Estrelas», eu e Luís Filipe Silva fomos convidados pelo Centro de Estudos Anglísticos para dar uma aula (cada um) aos alunos da licenciatura em Línguas, Literaturas e Culturas do ano lectivo 2016-2017 da Faculdade de Letras; a do Luís, dada a 4 de Abril, teve como tema «Steampunk», e a minha, dada a 11 do mesmo mês, teve como tema «O fantástico é o género dominante na literatura portuguesa», e aproveitei-a para reafirmar e desenvolver a tese que propus no meu artigo com idêntico tema publicado no Público em 2011. Então como hoje, sempre, há que aproveitar toda e qualquer oportunidade para espalhar a «mensagem» da qualidade, relevância e superioridade da FC & F. (Também no Simetria.)

domingo, novembro 13, 2022

Outros: Comentários meus contra o AO (Parte 10)…

... Escritos e publicados, desde 8 de Setembro de 2021, nos seguintes blogs: Corta-Fitas (um, dois); Porta da Loja; MILhafre; Blasfémias; Horas Extraordinárias; O Lugar da Língua Portuguesa; Apartado 53. E que aborda(ra)m, entre outros subtemas: de como uma arquitecta não é, não tem, necessariamente, uma grande mama; a sujeição ao «acordês» por parte do jornal (supostamente alternativo) Observador; de como o grupo Impresa é um dos maiores activistas da novilíngua nacional; Jorge Miranda esteve mal num aspecto do seu discurso de 10 de Junho de 2022; Portugal, se não é um «circo», é certamente um mau «espetáculo» a que falta «adjetivação» adequada; a constatação de que «erros sempre houve» não deve servir de desculpa para o facto de o AO90 os ter multiplicado; de como é incrível, quase inacreditável, como existem tantas pessoas em Portugal dispostas a cobrirem-se de ridículo, e publicamente, por aceitarem cortar as consoantes «mudas»; a Associação de Professores de Português é uma associação de malfeitores, de inimigos da competência, da decência e da honra.      

quarta-feira, outubro 05, 2022

Observação: A república, sempre repugnante

Hoje assinala-se mais um (triste) aniversário da instauração, por golpe de Estado, da república em Portugal. Mas também se pode e deve assinalar mais um (feliz) aniversário da assinatura do Tratado de Zamora, e é precisamente isso o que o Movimento Independência de Portugal fez, em Guimarães, Coimbra e Lisboa.  Nas três cidades houve deposição de coroas de flores em estátuas e em túmulos, minutos de silêncio em memória e em honra dos soldados portugueses, de todas as épocas, caídos em campos de batalha, e discursos; é de questionar, porém, a execução do suposto «hino nacional» - na verdade, o hino dos republicanos nacionais – nas três cerimónias. Na urbe do Mondego a evocação foi organizada pela Causa Real, tendo aliás o seu Presidente da Direcção, Pedro Quartin Graça, sido um dos oradores...
... E é de supôr que a sua intervenção se tenha caracterizado pelos mesmos temas abordados e pelo mesmo estilo utilizado no seu editorial publicado na edição Nº 25 (de Junho de 2022, página 3) da revista Correio Real. Eis excertos: «(...) A Instituição Real pode dar a Portugal (...) uma entidade de referência intemporal e independente, precisamente como garante da unidade da Nação, garantia de perenidade do património humano, cultural e histórico de Portugal. Tudo aquilo, em suma, que esta 3ª República não representa, não representou nem alguma vez representará. A 3ª República está velha, moribunda, corroída por dentro, apenas subsistindo através de balões de oxigénio. A incapacidade do regime em se regenerar resulta evidente ao olhos dos Portugueses através de múltiplos sintomas: a perpetuação dos limites materiais da Constituição, situação sem paralelo em praticamente todo o Mundo; a incapacidade de revisão do sistema eleitoral no continente; o escandaloso desperdício de entre quinhentos mil a um milhão de votos que (ninguém elegem) nas eleições legislativas; (...) o domínio do Estado por parte dos grandes aparelhos partidários, centros políticos fechados ao exterior e incapazes de aceitar a diversidade de opiniões. Não sendo a Causa Real, nem querendo ser, um partido político, somos, contudo, da opinião que a mesma não pode nem deve manter-se alheada da continuada degradação da vida política nacional. É pois tempo, 50 anos após o 25 de Abril de 1974, de abrir uma discussão séria e determinada sobre as temáticas (atrás elencadas). Mas a Causa Real deve ir mais longe, mantendo uma estreita vigilância, na triste constatação que fazemos de que poucos ou nenhuns agentes políticos se arriscam a corporizar qualquer oposição digna de menção no que diz respeito às tentativas, que serão já visíveis nos próximos meses, por via da já anunciada revisão da Constituição, de pôr em causa os direitos, liberdades e garantias consagrados no texto fundamental do país (...) (através) da aprovação do “supertratado das pandemias” (...) em conjugação com a já aprovada e surreal “Lei do Clima” (...). De um estado de emergência pontual poderemos passar, com uma simples decisão de uma autoridade de saúde internacional, por muito desacreditada que a mesma esteja, para uma continuada restrição de direitos fundamentais que põem em causa a(s) liberdade(s) de circulação, de associação e de manifestação, já para não falar da liberdade de opinião dos portugueses, hoje já reféns de uma “ditadura do politicamente correcto”. A luta pelo ambiente (...) não pode nem deve passar pela utilização do mesmo como desculpa para a necessidade de implementação de uma agenda extremista, anti-família, anti-vida, tudo a pretexto do combate às apelidadas alterações climáticas (...).»
Foi este texto que me convenceu a dar mais uma oportunidade (quiçá a última?) à Real Associação de Lisboa, e, por extensão, à Causa Real, que tem naquela a sua maior e mais importante unidade. Na verdade, durante vários meses ponderei seriamente desvincular-me da RAL, desiludido que estava – e ainda estou – com a sua inacção e «invisibilidade» perante, e contra, a sempre repugnante república em que infelizmente (sobre)vivemos. Já em 2017, em artigo publicado no jornal O Diabo, me insurgia contra a aparente passividade das entidades mais representativas do movimento monárquico português, então claramente mais preocupadas em obter para o Duque de Bragança um lugar cativo no protocolo de Estado do que em conseguir mais protagonismo para os seus valores e objectivos, que implicam inevitavelmente, e o mais rapidamente possível – porque 112 anos de desastre são demasiados – a restauração do Reino de Portugal. Então escrevi que «é bom que se façam visitas, missas, jantares, homenagens, conferências, mas é preciso mais do que isso.» Este panorama não sofreu qualquer alteração nos cinco anos que entretanto decorreram. A ver, pois, se é desta vez que uma nova, e mais firme, atitude passa a animar as hostes azuis e brancas (não falo, é óbvio, do Futebol Clube do Porto...) Uma atitude que, por exemplo, possibilite que não haja qualquer hesitação na denúncia pública de um eventual ataque à sede de uma real associação feita por um qualquer fanático republicano, talvez possuído pelos  espíritos (espectrais) de Alfredo Costa e Manuel Buíça. 

sábado, outubro 01, 2022

Orientação: SimSon com 850!

Hoje, 1 de Outubro de 2022, celebra-se mais um Dia Mundial da Música, o que significa também, no sítio da Simetria, a publicação de uma nova edição do projecto Simetria Sonora. E, tal como em edições anteriores, a esta grande lista foram adicionados 50 discos por mim considerados de ficção científica e de fantástico: são agora 850 no total. Como ilustração está a imagem da capa do álbum dos Simple Minds «New Gold Dream», lançado originalmente em 1982 – ou seja, há 40 anos. A ouvir… e a descobrir. Tudo, e sempre!

quarta-feira, setembro 07, 2022

Opinião: Não irmão mas sim filho

(Adenda - A versão digital foi hoje, 8 de Setembro de 2022, alterada conforme exactamente o meu original. Pode ler-se aqui.)
(Esclarecimento prévio - O artigo que em baixo se transcreve foi publicado hoje na edição em papel e no sítio da Internet de um jornal diário português... mas não exactamente como a seguir se pode ler. Na verdade, o texto foi «convertido» segundo o AO90 obviamente contra a minha vontade, e pedidos repetidos no sentido de a versão digital ser alterada conforme o meu original não foram atendidos - até ao momento em que escrevo e publico este post.)
O Brasil celebra hoje, 7 de Setembro de 2022, 200 anos de independência. É uma data muito importante, realmente histórica, pela qual Portugal é o primeiro país a dar os parabéns e a desejar «feliz aniversário». Ao país irmão? Não, ao país filho. Sim, porque o Brasil é uma completa, total, criação de Portugal, que foi tanto «pai» como «mãe» entre 1500 e 1822...
... Período durante o qual sucessivas gerações de portugueses, cujo maior representante, símbolo, terá sido o Padre António Vieira, trabalharam para fazer da Terra de Vera Cruz a mais bela, a mais rica, quiçá perfeita, nação do planeta. Alargaram o território para além do Tratado de Tordesilhas e assim conquistaram praticamente todo o Amazonas, floresta e rio. Aos povos nativos juntaram europeus e africanos, criando condições para uma autêntica, e profícua, miscigenação. Deste lado do Atlântico levaram inclusivamente pedras com que se construíram fortalezas e igrejas. Providenciaram uma língua que constituiria o principal suporte da identidade e da unidade nacionais. E, algo de incrível nunca acontecido, visto, antes nem depois, fizeram da colónia o centro do império, Rio de Janeiro a substituir Lisboa como capital e metrópole, e a seguir permitiram que a família real portuguesa se tornasse também a brasileira, com o «Grito do Ipiranga» do herdeiro do trono a anunciar o «corte» do «cordão umbilical». Que se fez sem revolução, sem guerra, assim possibilitando à nova nação iniciar o seu próprio caminho sem drama, sem tragédia. Os brasileiros teriam preferido que tivesse acontecido o mesmo que nas independências dos Estados Unidos e da Argélia, marcadas por confrontos longos e sangrentos com, respectivamente, a Grã-Bretanha e a França? Sim, não se duvide: tudo o que de bom o Brasil teve e tem deve a Portugal. Pelo que não se compreende e não se aceita que, ainda hoje, tantos brasileiros, desde cidadãos mais ou menos anónimos a figuras públicas mais ou menos conceituadas, insistam no insulto de que os problemas que a sua pátria sofre(u) sejam culpa de Portugal. Tanta estupidez, tamanha falta de respeito, tal demonstração de ignorância, imaturidade e ingratidão, devem ser condenadas sem hesitação e sempre que se manifestem.
Nós deixámos de ser responsáveis por eles desde 1822, directamente, e desde 1889, indirectamente, quando D. Pedro II, após (e por causa de) abolir a escravatura, foi deposto enquanto chefe de Estado, e com ele a monarquia brasileira. Na verdade, os dois países foram, e são, prejudicados por repúblicas, ambas instauradas por golpistas fanáticos e minoritários, que não cumpriram plenamente o que prometeram, ou seja, ordem e progresso. Uma das áreas em que a desordem e o retrocesso mais se fizeram, e fazem, sentir é a da ortografia. As repúblicas de ambos os lados do Atlântico são reincidentes em obsessivas e absurdas «reformas» e (des)acordos quanto à forma de escrever, iniciativas que desvalorizam, enfraquecem, um vital instrumento de comunicação, com (más) consequências visíveis, inegáveis, nas culturas de ambas as nações. O maior extremismo, e até terrorismo, neste âmbito veio do Brasil em 1943, quando a ditadura de Getúlio Vargas consagrou um radical e generalizado corte de consoantes «mudas», ceifando as raízes latinas, que cobardemente as mais altas (ou baixas?) instâncias oficiais portuguesas viriam a «adotar» através do AO90. Os dois países são, neste aspecto, duas insólitas e ridículas, risíveis, excepções em todo o mundo civilizado, duas «repúblicas das bananas» típicas do Terceiro Mundo, terrenos férteis para o surgimento de «vanguardistas» patéticos que não hesitam em sacrificar os verdadeiros interesses, a estabilidade e o bem-estar da maioria dos seus compatriotas em favor de um falso progresso, de utopias que acabam por se revelar, inevitavelmente, como distopias. E tanto deste lado do Atlântico como do outro a «justificação» tem sido a mesma: simplificar e «facilitar» a aprendizagem; porém, tais objectivos não - nunca - foram atingidos, como o atestam os crónicos e elevados índices de analfabetismo e de iliteracia nas duas nações.
Há 100 anos, em 1922, a celebração do primeiro centenário da independência do Brasil teve como maiores protagonistas dois portugueses: Carlos Gago Coutinho e Artur Sacadura Cabral, que realizaram a primeira travessia aérea do Atlântico Sul. Um século depois, o maior protagonista é outro português que também viajou – na verdade, apenas uma parte dele – de avião a partir da Europa: o coração de D. Pedro I (para nós o quarto), por ele doado à cidade do Porto, regressou temporariamente à segunda pátria que igualmente tanto amou. Se o dele já não, os corações de muitos (acredito que a maioria dos) portugueses ainda batem pelo Brasil, apesar de tudo orgulhosos, como um pai, por tudo o que de bom o filho conseguiu. Todavia, e tal como numa relação familiar, é indispensável haver respeito mútuo, e, nesse aspecto, muito há ainda a fazer. Tal como entre pessoas, também entre nações não deve existir dominação e subordinação resultantes de uma disparidade de números – nos quilómetros quadrados de área, no número de habitantes, no poder económico. A reversão de papéis expressa numa eventual reconversão de Portugal como colónia contemporânea do Brasil, que muitos cá parecem encarar com resignação, não é uma solução para um problema que, de facto, não existe nem nunca existiu. Porque nós não temos presentemente de pedir perdão seja pelo que for. Esperamos, sim, pelo contrário, ouvir um «muito obrigado». (Também no MILhafre. Referência e transcrição no Apartado 53 e n'O Lugar da Língua Portuguesa.)  

quarta-feira, agosto 31, 2022

Olhos e Orelhas: Segundo Quadrimestre de 2022

A literatura: «Portugal Templário - História e Mito», Sérgio Franclim; «Maria Francisca de Sabóia - Uma Princesa Entre Dois Reis de Portugal», Diana de Cadaval; «O Homem Sem Nome» e «Uma Deusa na Bruma», João Aguiar; «Tensão Con/Tenção», António Carlos dos Santos; «A Joaninha e os Impostos - Uma História de Educação Fiscal para Crianças», Clotilde Celorico Palma; «Caricaturas Portuguesas dos Anos de Salazar», João Abel Manta; «Fragmentos do Dicionário Ilustrado da Monarquia do Norte», AMP Rodriguez.
A música: «Os Grandes Êxitos Dos...», Sheiks; «Uncle Meat», Frank Zappa; «John Barleycorn Must Die», Traffic; «Pearl», Janis Joplin; «Live-Evil», Miles Davis; «Pré-Histórias», Sérgio Godinho; «Bossanova», Pixies; «Jordan - The Comeback», Prefab Sprout; «Slow, Deep And Hard» e «The Origin Of The Feces», Type O Negative; «Portugal», Amália Rodrigues; «Those Once Mighty Fallen», Ildjarn + Hate Forest; «Morning Phase», Beck; «Honeymoon», Lana Del Rey; «Hardwired... To Self-Destruct», Metallica; «Giulio Cesare», George Frideric Handel (por Beverly Sills, Beverly Wolff, Dominic Cossa, Maureen Forrester, Michael Devlin, Norman Treigle, e outros, com a Orquestra e o Coro da Ópera de Nova Iorque dirigidos por Julius Rudel); «Die Jahreszeiten», Joseph Haydn (por Dietrich Fischer-Dieskau, Edith Mathis, Siegfried Jerusalem, e outros, com a Academia e o Coro de St. Martin-in-The-Fields dirigidos por Neville Marriner).
O cinema: «Funeral de Estado», Sergei Loznitsa; «A Cabana no Bosque», Drew Goddard; «Cume Carmesim», Guillermo Del Toro; «Orla do Pacífico - Sublevação», Steven S. DeKnight; «Godzilla vs. Kong», Adam Wingard; «O Fantasma da Liberdade», Luis Buñuel; «Coisas Selvagens», John McNaughton; «Criaturas Belas», Bill Eagles; «O Demónio de Néon», Nicolas Winding Refn; «Regressão», Alejandro Amenábar; «Mãe», Bong Joon Ho; «Ira do Homem», Guy Ritchie; «Dama Pássaro», Greta Gerwig; «Terra Nómada», Chloé Zhao; «Melro», Roger Michell; «A Mulher que Acreditava ser Presidente dos Estados Unidos da América», João Botelho; «O Clube Algodão», Francis Ford Coppola; «Os Estados Unidos vs. Billie Holyday», Lee Daniels; «Ray», Taylor Hackford; «Respeito», Liesl Tommy; «A Janela (Maryalva Mix)», Edgar Pêra; «Homicídio por Morte», Robert Moore; «Grito 4», Wes Craven; «Isso» e «Isso - Capítulo Dois», Andy Muschietti; «M - Uma Cidade Procura um Assassino», Fritz Lang; «Xangai», Mikael Hafstrom; «NEU Indianapolis - Homens de Coragem», Mario Van Peebles.
E ainda...: Câmara Municipal de Vila Franca de Xira - exposição de cerâmica de Anabella Vilares «Do azul ao vermelho» (Fábrica das Palavras) + apresentação do livro de João de Lancastre e Távora «Casa de Abrantes, Crónicas de Resistência» (Quinta Municipal da Piedade); Museu do Neo-Realismo -  exposição de fotografia «A família humana»; Biblioteca Nacional de Portugal - exposição «Obras proibidas e censuradas no Estado Novo» + mostra «Contemporânea centenária 1922-2022» + mostra «Pinharanda Gomes, historiador do pensamento português»; «Pequenas Histórias, Episódio 3 - Bestiário da Alma, o Mistério da Palingénese (freguesia se Santa Maria Maior)», (vídeo de) David Soares; Canal História - (documentário) «Churchill na Madeira», Joana Pontes + (documentário) «Alienígenas Antigos - Os Deuses Estelares de Sirius»; RTP 2/France Télévisions - (documentário) «O Caso Bovary»,  Alban Vian e Stéphane Miquel; Prince - «Live at Paisley Park Studios, Chanhassen, MN, 12/31/1987» (DVD incluído na edição especial com nove discos de «Sign O' The Times»); Câmara Municipal de Loulé/Galeria de Arte da Praça do Mar de Quarteira - exposição de fotografia de Pedro Leote «Sinóptico»; FNAC - exposição de pintura e desenho de David Benasulin «Ícones e Monstros» (Chiado); Associação Portuguesa de Editores e Livreiros - 92ª Feira do Livro de Lisboa.

segunda-feira, agosto 15, 2022

Outras: História(s) no Imaginauta

No género cultural (não apenas literário...) da Ficção Científica e do Fantástico – e não só neste, evidentemente, mas especialmente neste – é sempre útil e justificado proceder-se com alguma (elevada) regularidade a retrospectivas, a resenhas históricas, a «revisões da matéria dada», exercícios de memória de forma a que certos autores e as suas obras, que habitualmente não gozam da atenção e dos favores de editores, da comunicação social (tanto generalista como especializada) em geral e de «críticos» em particular, e até de leitores, não caiam no esquecimento ou, meramente, tenham mais hipóteses de evitar aquele, o que é sempre mais provável num país como Portugal, que se tem revelado tradicionalmente avesso à expressão artística mais importante e aos seus intérpretes. Neste âmbito, uma das intervenções mais recentes, e quiçá a mais recente, foi feita por Carlos Eduardo Silva no sítio Imaginauta sob o título «Apontamentos para uma história recente da ficção especulativa portuguesa (1999-2022)». Porque o autor informou desde logo que «aceitam-se sugestões de correcção ou melhoria», decidi fazer isso mesmo...
... Em dois comentários que inseri, não unicamente em relação a projectos em que participei, quer a «solo» quer em «grupo». E as referências sucederam-se... No começo do século e do milénio, mais concretamente entre 2001 e 2003, na (entretanto falida) editora Hugin, António de Macedo dirigiu a colecção «Bibliotheca Phantastica», cujo objectivo era republicar autores «antigos» de FC & F - e livros de Teófilo Braga e de João da Rocha foram lançados - e ainda revelar autores «modernos» - e livros de Maria de Menezes, Luísa Marques da Silva, Pedro Lúcio, Sérgio Franclim e eu próprio (com «Visões», aliás a minha primeira obra publicada) foram lançados. Na Saída de Emergência, depois de «A Sombra Sobre Lisboa» (que não é de 2006 mas sim de 2007) e antes de «Os Anos da Pulp Fiction Portuguesa» (que não é de 2007 mas sim de 2011) e de «Lisboa no Ano 2000» (que não é de 2012 mas sim de 2013), foi publicada - em 2008, ano do centenário do Regicídio - «A República Nunca Existiu!», antologia colectiva de contos de história alternativa, por mim concebida e organizada, cujo tema, ou premissa, era um Portugal em que a Monarquia nunca havia sido derrubada; incluiu autores então mais (João Aguiar, Miguel Real) e menos conhecidos - como, por exemplo, Bruno Martins Soares, no que constituiu a sua estreia na SdE, e que proporcionaria o surgimento de «Alex 9». Na colecção 1001 Mundos da Gailivro, e antes de «Se Acordar Antes de Morrer» e «As Atribulações de Jacques Bonhomme» (ambos colectâneas de contos), foi publicado (o meu primeiro romance) «Espíritos das Luzes». O colóquio «Mensageiros das Estrelas» foi também o local e a ocasião para a primeira apresentação, em 2012, na segunda edição daquele, de uma antologia colectiva de contos de FC & F com a mesma designação, também por mim concebida e organizada, e em que participaram autores como António de Macedo, João Seixas, José António Barreiros e Luís Filipe Silva. Mais recentemente, em 2019, teve lugar no Porto o I Encontro Internacional de História Alternativa «E Se?..»; o segundo e o terceiro ocorreram em 2020 e em 2021 num formato predominantemente virtual (devido, claro, às restrições da pandemia), mas o quarto, neste ano de 2022, deverá retomar o formato presencial. É uma iniciativa liderada por AMP Rodriguez no contexto do colectivo Invicta Imaginária, do qual também resultou o projecto «Winepunk», colectânea de contos que constitui uma abordagem alternativa à (verídica) «Monarquia do Norte» de há um século. Enfim, as três últimas sugestões... Primeira, uma prévia panorâmica da ficção especulativa portuguesa escrita por Luís Filipe Silva e publicada em 2017 na revista Locus. Segunda, as reedições, na Saída de Emergência, de duas obras portuguesas fundamentais do género, uma escrita por LFS e outra por ele co-escrita (com João Barreiros), respectivamente «A Galxmente» e «Terrarium». Terceira, o surgimento recente de mais uma editora especializada, a Fábrica do Terror, que apresentou um dos seus livros, a antologia «Sangue Novo», na edição deste ano do FantasPorto; um festival que, aliás, sempre teve espaço para a ficção especulativa portuguesa, principal e obviamente ao nível do cinema, tanto em longas como em curtas-metragens, mas também aos níveis da literatura e das artes plásticas; e Beatriz Pacheco Pereira, co-fundadora e co-organizadora do evento, é também uma escritora de talento que integra e honra as nossas fileiras.
É de louvar esta iniciativa de Carlos Eduardo Silva, e espera-se que outras como esta venham a acontecer. Porque a «ImagiNação» portuguesa pode ser pequena mas tem grande valor. (Também no Simetria.)

quinta-feira, julho 14, 2022

Ocorrência: «Um Novo Portugal» já tem 10 anos

Há precisamente uma década, em Julho de 2012, o meu livro «Um Novo Portugal – Ideias de, e para, um País» começou a ser distribuído e vendido em livrarias. Publicado pela editora Fronteira do Caos, do Porto (que, no final do mesmo ano, lançaria outro projecto meu, a antologia colectiva de ficção científica e fantástico «Mensageiros das Estrelas»), esta obra reúne, por ordem cronológica, alguns dos meus mais importantes artigos de opinião, jornalísticos, ensaísticos...
... Que têm como denominador comum Portugal, a sua (então) actualidade, a sua história tanto contemporânea como antiga, as grandes questões e controvérsias, os protagonistas. Na minha actividade de escritor a vertente de ficcionista (em prosa) veio depois da de poeta, mas esta veio depois da de cronista, como bem o demonstra o texto que abre o livro, escrito em 1976 quando eu não tinha mais de 11 anos. Uma década depois, a partir de 1986, vêm os textos escritos num âmbito local e regional – para o Notícias de Alverca – e num âmbito universitário – para o DivulgAcção (boletim, que eu co-fundei, da Associação de Estudantes do ISCTE, cuja Direcção integrei) e outras publicações similares. A seguir será a vez de se somar as colaborações, mais irregulares do que regulares, para jornais e revistas de âmbito nacional, dos quais sobressai o Público. E, a partir de Abril de 2005, com a criação do Octanas, passei a dispôr de um meio alternativo quando não conseguia encontrar um «tradicional» para expressar as minhas opiniões e/ou quando não queria perder tempo a fazê-lo. «Um Novo Portugal» reflecte essa diversidade de fontes mas, em simultâneo, surge como um todo organizado e coeso – ou pelo menos assim o tentei – em que não é difícil identificar o meu principal «alvo»: o regime saído do 25 de Abril de 1974, a Terceira República – na verdade, toda a República desde 1910 – com as suas ridículas e incompetentes figuras de proa, as decisões mais ou menos desastrosas que tomaram, com um especial (e muito negativo) destaque para essa aberração denominada «acordo ortográfico» que não contribuiu, certamente, para a melhoria das relações com os outros países de língua oficial portuguesa.
«Um Novo Portugal» nunca chegou a ter uma apresentação propriamente dita; o mais próximo disso que aconteceu foi um encontro em que participei com outros escritores, realizado em Lisboa em Abril de 2014. Enfim, este meu livro, tal como todos os outros da minha autoria que consegui publicar, não teve o sucesso que acredito que merecia ter. E, obviamente, depois disso continuei a escrever e a divulgar outros textos que formam, ou poderão formar, o que poderá ser «Um Novo Portugal – Parte 2»; porém, a sua eventual publicação parece ser, neste momento, problemática e pouco provável. (Também no MILhafre.)

sexta-feira, junho 10, 2022

Observação: Um país em eutanásia

Hoje assinala-se e «celebra-se» mais um «Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas». Um «feriado» sempre e cada vez mais ridículo, que não deveria ser o principal, o «dia nacional» do nosso (?) país. Não apenas por este, na verdade, e oficialmente, ter por nome «República Portuguesa», qual delegação sul-europeia e ocidental da «grande república mundial». Não apenas por ser uma invenção da II República e do Estado Novo, que a III e o Estado Social adoptaram após uma ligeira alteração na sua designação; antes de 1974 era também o dia da «raça», depois passou a ser também o das «comunidades portuguesas», algo como o que aconteceu com a ponte sobre o Tejo que liga Lisboa a Almada, inaugurada em 1966, que antes se chamava «Salazar» e depois passou a chamar-se «25 de Abril». Não apenas por ser estúpido, e até ofensivo, «festejar-se» a morte de um artista, de um poeta, o maior e o melhor que este «jardim à beira-mar plantado» alguma vez teve mas que tão mal tratou; e, em simultâneo, e na prática, «festejar-se» a perda da independência de Portugal, ocorrida igualmente em 1580; continua a ser bizarra a obsessão dos republicanos portugueses pelo iberismo, obsessão inconsciente e, sim, até mesmo consciente, demonstrada pela persistente e irritante mania de querer-se organizar um Campeonato do Mundo de Futebol em conjunto com a Espanha – deles não se deve esperar apoio para mudar o dia de Portugal para 14 de Agosto. Enfim, o 10 de Junho tornou-se, como se tal fosse possível (mas é), ainda mais ridículo porque este ano, na véspera, foram aprovados na casa da «deputação» nacional não um, não dois, não três mas sim quatro projectos de lei para a dita despenalização da «morte medicamente assistida», mais vulgarmente conhecida como eutanásia. Seria muito difícil, quiçá impossível, alcançar-se um mais perfeito simbolismo para a presente situação deste deprimente país; afinal, já não se quer tanto sentir «a voz dos egrégios avós» mas sim calá-la definitivamente - e, obviamente, os inevitáveis abusos deste procedimento sinistro não incidirão exclusivamente sobre os mais velhos. Esta é uma nação em pleno suicídio, o que aliás ficou comprovado nas mais recentes eleições legislativas, que proporcionaram uma segunda maioria absoluta aos que nos levaram à bancarrota há pouco mais de 10 anos. Que «não» se desespere, porém: a auto-destruição terá como «ortografia oficial» a do «acordo ortográfico de 1990», sem dúvida a adequada à «gramática» da cobardia, da desistência e até da traição.

terça-feira, maio 17, 2022

Outros: VGM evocado n’OLdLP

Isabel A. Ferreira, com o seu blog O Lugar da Língua Portuguesa, é, e desde há bastantes anos, a maior «guerreira» em Portugal contra o ilegítimo, ilegal, ridículo e prejudicial «acordo ortográfico de 1990», e nessa capacidade (e qualidade) só tem ao seu nível João Pedro Graça com o seu Apartado 53. No passado sábado ela publicou um post «recordando as ofensas póstumas a Vasco Graça Moura...», que inclui reproduções de dois textos meus que têm como tema, precisamente, o prematuramente falecido grande homem de cultura (em palavras e em actos). As referidas (e autênticas) ofensas foram cometidas pela Academia das Ciências de Lisboa e por Marcelo Rebelo de Sousa.

sábado, abril 30, 2022

Olhos e Orelhas: Primeiro Quadrimestre de 2022

A literatura: «Alix - A Tiara de Oribal» e «(...) - A Garra Negra», Jacques Martin; «Cavaleiro Ardente - A Lei da Estepe», «(...) - A Trompa de Névoa» e «(...) - A Harpa Sagrada», François Craenhals; «Blueberry - Forte Navajo» e «(...) - A Pista dos Navajos», Jean-Michel Charlier e Jean Giraud; «Corto Maltese - Tango», Hugo Pratt; «Dunquerque/Operação Dínamo», Pierre Dupuis; «Os Quadradinhos Completos de Kake», Tom of Finland (Dian Hanson, org.); «Michel Vaillant - Steve Warson Contra Michel Vaillant», «(...) - Rali Sobre um Vulcão» e «(...) - Rebuliço na F1», Jean Graton; «V de Vendetta», Alan Moore e David Lloyd; «Intenções Comestíveis, ou Nova Tábua de Cebes», David Soares e Filipe Abranches.
A música: «Amália Em Paris - Olympia 1956», Amália Rodrigues; «With A Little Help From My Friends» e «Joe Cocker!», Joe Cocker; «I Got Dem Ol' Kozmic Blues Again Mama!», Janis Joplin; «Chunga's Revenge», Frank Zappa; «Crónicas Da Terra Ardente», Fausto; «Washing Machine», Sonic Youth; «Wild Mood Swings», Cure; «Blood On Ice», Bathory; «Odelay», Beck; «Mumadji», Maria João e Mário Laginha; «Welcome 2 America», Prince; «Happier Than Ever», Billie Eilish; «Voyage», Abba; «30», Adele; «Rinaldo», George Frideric Handel (por Armand Arapian, Carolyn Watkinson, Charles Brett, Ileana Cotrubas, Paul Esswood, Ulrik Cold, e outros, com La Grande Écurie et La Chambre du Roy dirigida por Jean-Claude Malgoire); «Die Schopfung», Joseph Haydn (por Edith Mathis, Francisco Araiza e José Van Dam, com o Coro de Viena dirigido por Helmuth Froschauer e a Orquestra Filarmónica de Viena dirigida por Herbert Von Karajan).     
O cinema: «Casa de Lava», Pedro Costa; «Requiem Por um Sonho», Darren Aronofsky; «Mapa Para as Estrelas», David Cronenberg; «A Rapariga da Porta ao Lado», Luke Greenfield; «O Clube do Pequeno Almoço», John Hughes; «Nader e Simin, Uma Separação», Asghar Farhadi; «Carta Selvagem», Simon West; «Rápidos e Furiosos Apresentam - Hobbs & Shaw», David Leitch; «Plano de Fuga», Mikael Hafstrom; «Rambo - Último Sangue», Adrian Grunberg; «Memórias de Assassínio», Bong Joon Ho; «Anon», Andrew Niccol; «Vida», Daniel Espinosa; «Ultravioleta», Kurt Wimmer; «Mundo de Água», Kevin Reynolds; «Metrópolis», Fritz Lang; «Stan & Ollie», Jon S. Baird; «Olhos Grandes», Tim Burton; «Lenny», Bob Fosse; «Patsy e Loretta», Callie Khouri; «Clímax», Gaspar Noé; «Dois Para o Dinheiro», D. J. Caruso; «O Equalizador 2», Antoine Fuqua; «A Dívida», John Madden; «O Jogo de Chorar», Neil Jordan; «Bela de Dia», Luis Buñuel; «A Vida Aquática com Steve Zissou», Wes Anderson.
E ainda...: (Sítio na Internet) 75 anos (do nascimento) de David Bowie; Fundação Calouste Gulbenkian - exposição «Hergé»; RTP2/HBO - (documentário) «Mapplethorpe - Olhem Para as Imagens», Fenton Bailey e Randy Barbato; Museu do Neo-Realismo - exposição «Jorge Vieira - Monumento ao prisioneiro político desconhecido» + exposição «Representações do povo»; FNAC - exposição de fotografias de Rita Carmo «Exit - Saída de Emergência» (Chiado); RTP2/BBC - (documentário) «David Bowie - Encontrando Fama», Francis Whately; Biblioteca Nacional de Portugal - exposição «Bibliotecas limpas - Censura dos livros impressos nos séculos XV a XIX» + exposição «Viagem a um país desconhecido - Emílio Biel, "A Arte e a Natureza em Portugal"» + mostra «Um modernista autodidacta - Delfim Maya» + mostra «Mário Domingues - Anarquista, cronista e escritor da condição negra» + mostra «Rui de Pina - 500 anos depois» + mostra «O império informal dos portugueses na Ásia»; «Hey Hey Rise Up», (vídeo musical dos) Pink Floyd; Câmara Municipal de Vila Franca de Xira - CartoonXira 2022/Cartoons do Ano 2021-Desenhos à Margem/Simanca (Celeiro da Patriarcal).

sábado, abril 16, 2022

Orientação: Sobre a longa noite, no DN

(Adenda a 20 de Abril - Hoje foi enfim publicada digitalmente a versão alargada e integral do artigo, entregue em simultâneo com a versão inicial e reduzida para a edição em papel.)
Na edição de hoje (Nº 55878) do jornal Diário de Notícias, na página 9, e também, na sua versão alargada e integral, no sítio na Internet daquele, está o meu artigo «A longa noite socialista». Um excerto: «As esperanças proporcionadas pelo “movimento dos capitães” cedo começaram a desvanecer-se com um “processo revolucionário em curso” pródigo em prepotências disfarçadas e/ou desculpadas em nome da “justiça popular”; a descolonização foi desastrosa; as nacionalizações foram desastrosas; a então nova Constituição foi e é desastrosa, não só porque durante vários anos, e precisamente, consagrou a “irreversibilidade” das nacionalizações, mas ainda porque continua a ter como objectivo “abrir caminho para uma sociedade socialista” e a impôr a “forma republicana de governo” como única possível.» (Também no MILhafre.)

quarta-feira, março 30, 2022

Observação: «Filhos» e «enteados»

Acaso o sector editorial-literário português terá registado alguma melhoria e/ou dado alguns sinais de (verdadeiro) progresso – no sentido de um maior respeito tanto para com o público leitor (real e potencial) como para com os escritores sem «cunhas» e/ou desalinhados com o «sistema» - desde 2018, quando denunciei a fraude perpetrada pela Sociedade Portuguesa de Autores na atribuição de um prémio, e ainda o boicote generalizado (e concertado?) a obras (mais concretamente, uma minha) que divergem do «consenso» quanto à análise da situação política nos EUA?
Nem por isso, a avaliar pelos factos de que vou tendo conhecimento... Seria, por exemplo, de esperar que novas editoras se comportassem de um modo diferente, talvez mais... transparente. Infelizmente, não é o caso da Editorial Divergência, cujo fundador-director-editor principal, para além de ter decidido impor-me «regras» - na verdade, restrições – personalizadas num projecto que eu estava a organizar (e que por isso não se concretizou), mais recentemente confessou(-me) que tem sido sempre membro do júri do Prémio António de Macedo – uma designação que a mim se deve – apesar de saber quem são os autores dos romances supostamente submetidos anonimamente porque... é ele quem os recebe, numa conta de correio electrónico que detém! Algo que coloca em causa, e quiçá até invalida, todas as deliberações – e, logo, todos os «vencedores» – das edições anteriores, incluindo, obviamente, a última, em que o «triunfo» foi para uma obra cujos título e enredo são tão bizarros que se justifica questionar se efectivamente não haveria outra(s) eventualmente mais merecedora(s) da distinção... e de publicação.
E que dizer de alguns escritores ainda novos mas que são já – para muitas, talvez demasiadas, pessoas – como que «vacas sagradas»? Em Portugal dois exemplos se destacam. Um é José Luís Peixoto, cujo mais recente trabalho poderá não ser tão ficcional, e original, como aparenta: uma peça de teatro que provavelmente é um «diário» dissimulado, resultante de uma viagem à Roménia feita por aquele no ano passado – vá lá que, desta vez, não foi à Coreia do Norte; e escreve utilizando o abominável «acordo pornortográfico», pelo que também por isso não merece respeito. O segundo exemplo é Afonso Reis Cabral, que, nem de propósito, trabalhou numa vacaria; tal como Peixoto, também venceu o Prémio José Saramago... mas quando já se sabia de quem ele é descendente; sendo a oposição (e a expressão) entre «filhos» e «enteados» utilizada frequentemente para apontar e salientar injustas diferenças de tratamento, com Cabral justifica-se alargar o grau de parentesco para netos... e trinetos, e é igualmente por isso que ele foi designado, há pouco mais de um mês, como novo presidente do conselho de administração da Fundação Eça de Queiroz; enfim, e tal como o dinheiro, o nome da família não traz necessariamente a felicidade... mas ajuda muito.

terça-feira, fevereiro 22, 2022

Opinião: A confirmação do conformismo

No passado dia 7 de Fevereiro Henrique Pereira dos Santos publicou no blog Corta-Fitas o seu texto «Sampaio, Santana e as instituições», em que afirma que «(Somos) tão poucos a ter a opinião de que Sampaio, quando dissolveu o parlamento em Novembro de 2004, o fez de uma forma institucionalmente inadmissível. (...) O governo de Sócrates foi muito pior e perigoso para o país que o de Santana Lopes, culminando num pedido de assistência externa. (...) Sampaio resolveu, de acordo com o poder discricionário que a constituição lhe dá, dissolver a Assembleia da República, mas é completamente terceiro-mundista fazê-lo sem que o justifique, tornando uma prerrogativa numa prepotência. (...) O problema é que esta fragilidade institucional nos deixa quase indefesos, como sociedade, face à possibilidade de cometermos os mesmos erros.»
Porque eu considero este facto político o mais significativo e consequente (no mau sentido) em Portugal dos últimos 20 anos, senti-me na «obrigação» de deixar o meu comentário: «Não sei se são assim “tão poucos” os que pensam, e afirmam, que Jorge Sampaio dissolveu o parlamento em 2004 de uma forma “institucionalmente inadmissível”. De qualquer forma, eu sou um deles, e em 2007, no meu artigo “Sem pejo”, publicado n'O Diabo (e depois incluído no meu livro “Um Novo Portugal”, editado em 2012), escrevi o seguinte: “A decisão de maior impacto que Jorge Sampaio tomou, não só em 2004 mas em todos os dez anos enquanto presidente, foi sem dúvida a demissão (indirecta) do Governo de Pedro Santana Lopes através da dissolução da Assembleia da República, processo que decorreu entre Novembro e Dezembro daquele ano. Já em Outubro Sampaio teria afirmado, numa entrevista, ‘que preferia que outro partido tivesse ganho as eleições (legislativas de 2002), mas o PR não pode expressar estados de alma...’ Afinal, expressou-os e concretizou-os. Justificou a sua decisão com uma alegada série de ‘incidentes, contradições e descoordenações’ - que não explicitou - e com uma alegada ‘concordância geral’ por parte da opinião pública – que não demonstrou. Tanto aos governos de António Guterres, antes, como ao de José Sócrates, depois, podem ser apontados autênticos, muitos e mais graves ‘incidentes, contradições e descoordenações’... mas em relação a esses Sampaio não teve a mesma atitude. Porque eram do seu partido? Quando, em Julho de 2005, Luís Campos e Cunha se demitiu (ou foi demitido?) de ministro das Finanças por discordar dos projectos da Ota e do TGV, o então PR não deve ter considerado tal facto um motivo para dissolver a AR... mas fê-lo depois de Henrique Vale se demitir por não concordar com os pelouros que Santana lhe atribuíra. Enfim, é uma questão de saber o que é mais importante...” Mais recentemente, e sobre o mesmo assunto, acabei por manter um breve “diálogo” com Luís Menezes Leitão no Delito de Opinião.»
Nesse «diálogo», ocorrido a propósito de um texto de LML publicado em 23 de Fevereiro de 2019 (sim, há exactamente três anos), eu afirmei: «Já o disse e escrevi anteriormente, incluindo aqui no DdO, e espanta-me que tenha de voltar ao assunto: afirmar que o governo presidido por Pedro Santana Lopes foi o “pior”, ou “o mais desastroso”, ou qualquer outra idiotice desse tipo, só demonstra que quem o faz tem sérios problemas de (falta de) inteligência, de memória e/ou de saúde. José Sócrates decerto agradece tais disparates. (…) José Sócrates agradeceu, sim (e, se não o fez, devia tê-lo feito), a Jorge Sampaio a oportunidade que teve. E, comparado com o do “engenheiro ao domingo”, o governo de Pedro Santana Lopes foi mesmo magnífico. (...) A alusão às “pessoas que continuam a apostar em (Pedro) Santana Lopes” não é para mim de certeza, pois não “aposto” nele nem em praticamente qualquer figura do actual regime - regime que, volto a dizer, já há muito passou do “prazo de validade” e deve ser substituído. Porém, isso não implica que aceite, nem que seja pelo silêncio, as mentiras, as falácias, as distorções, enfim, a reescrita falseada da História, que atingem PSL ou qualquer outra pessoa. Obviamente, o governo daquele tinha de facto “um mínimo de consistência” - interna e ainda um apoio maioritário no parlamento - e não andou a “perder tempo com incubadoras” - tal foi apenas um “fait-divers”, um “sound-bite”, que, claro, os opositores e a comunicação social “amiga” daqueles trataram de exagerar até à histeria, criando o ambiente propício para que em eleições legislativas (indevidamente) antecipadas o PS obtivesse um (imerecido) triunfo. Desastrosa foi, sim, a presidência de Jorge Sampaio, cujas consequências continuamos a sofrer.» E ao domínio «rosa» será suficiente existir somente uma alternativa «laranja»? Há muitas pessoas que pensam isso, entre as quais José Miguel Roque Martins, que, também no Corta-Fitas, mas a 23 de Julho de 2021, escreveu, no seu texto «A responsabilidade total do PS», que «é difícil vislumbrar um futuro para Portugal sem um pacto de regime entre os dois maiores partidos, o PS e o PSD.» Em resposta comentei e perguntei: «A sério? É esse o único futuro que se vislumbra para Portugal? Uma continuada partilha entre os partidos do “centrão”, pródiga em incompetência e em corrupção? Que mais não tem feito do que “gerir” a desmoralização, o declínio, a degradação deste país, a diferentes níveis, político, social, económico, cultural? E porque não um futuro diferente? Que implique, por exemplo, uma radical renovação, quiçá uma revolução, que acabe com este regime, a III República? Que, aliás, acabe com a República, pura e simplesmente? Que permita trazer e aplicar novos valores, novas ideias, novos talentos?»
Os resultados das eleições legislativas do passado dia 30 de Janeiro vieram demonstrar, nova e infelizmente, que essa (muito) necessária transformação fundamental não é possível em Portugal, pelo menos por meios pacíficos. O mais recente escrutínio nacional apenas constituiu (mais um)a confirmação do conformismo em que se encontra uma parte considerável, quiçá maioritária, da população deste país, que proporcionou ao Partido Socialista a segunda maioria absoluta da sua história. O mesmo é dizer, proporcionou aos mesmos protagonistas (menos um ou outro) da primeira, que levou a nação à falência, uma segunda oportunidade para, sem obstáculos institucionais, arrastarem-nos, talvez desta vez definitiva e irreversivelmente, para a ruína total. Serão esses cidadãos irremediavelmente estúpidos? Simples masoquistas? Terão memórias (muito) curtas? Seja como for, é cada vez mais legítimo questionar se todos os povos merecem a democracia, e se a plena igualdade de direitos e de deveres para todos os indivíduos se justifica. Porque é que uns, lúcidos e motivados, têm de ser sucessivamente prejudicados por outros, iludidos e manipulados? E porque é que para muitos dos que não se resignam com a cobardia, a estagnação e a mediocridade que os rodeia a melhor, ou a única, solução continua a ser a emigração?  
Os que erram constantemente não merecem respeito. Cada vez mais se impõe desafiar a noção, ou o dogma, de que «a vontade popular é soberana» se essa suposta «vontade» não passa de uma obediência rotineira a ordens ilógicas, injustas e/ou ilegítimas. A sujeição é algo de sujo. 

domingo, janeiro 23, 2022

Observação: Há «guerreiros» que não desistem

A 3 de Janeiro último assinalei, no blog MILhafre, o 80º aniversário do nascimento de Vasco Graça Moura. Cujos consideráveis contributos para a cultura nacional incluiram, para além da sua vasta produção literária (tanto própria como traduzindo outros), os seus desempenhos enquanto Presidente da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses e co-criador da Expo 98 e, obviamente, a sua militância activa contra o abjecto «acordo ortográfico de 1990». Que durou praticamente até à sua morte, ocorrida quando era Presidente do Centro Cultural de Belém, onde – demonstrando a sua coerência e a sua coragem ao passar das palavras (com todas as consoantes) aos actos – ordenou que todos os meios de comunicação e de informação daquela instituição voltassem a ser redigidos em Português Normal e CorreCto.
É possível que uma situação semelhante aconteça em breve na Fundação Calouste Gulbenkian. E isto porque o novo Presidente daquela, António Feijó, é, tem sido, era também (segundo as mais recentes afirmações públicas sobre este tema) forte opositor do AO90. Em princípio será mais fácil, ou menos difícil, voltar a impôr a ortografia certa numa entidade privada como a FCG do que numa pública como o CCB. Porém, recuperar e revitalizar aquela fundação não passa apenas por restaurar nela a prática de escrever bem e sem erros. Com efeito, tal implica igualmente, por exemplo, não tomar decisões ridículas como atribuir um «Prémio para a Humanidade» a uma adolescente estrangeira com evidentes problemas mentais, doutrinada e manipulada desde a infância para servir de «símbolo» de uma «causa» que mais não é do que uma enorme fraude.
Entretanto, enquanto se espera pelas acções de António Feijó (que só tomará posse do seu novo cargo em Maio próximo), há que não esquecer que existem «guerreiros» contra o «acordo pornortográfico» que não desistem de lutar, e que por isso são dignos guardiães do legado de Vasco Graça Moura, entre os quais se pode e deve destacar Francisco Miguel Valada, Isabel A. Ferreira, João Pedro Graça, Nuno Pacheco e Rui Valente. Leiam-nos e divulguem-nos!