quarta-feira, janeiro 29, 2014

Observação: Também começa por «M»

Na sua crónica diária do Público do passado dia 25 de Janeiro, Vasco Pulido Valente juntou a sua voz à dos que critica(ra)m e condena(ra)m as «praxes académicas» que terão causado a morte de seis jovens na Praia do Meco, em Dezembro último, e, de um modo geral, contra todo o conjunto de humilhações e até de violências que em quase todas as universidades portuguesas são aplicadas aos jovens «caloiros» anualmente; o eminente historiador chegou inclusivamente a equiparar os «praxistas» a mafiosos…
… O que se entende, e se justifica, pela «conspiração do silêncio» que alguns deles querem manter a todo o custo de modo a não serem apuradas culpas e (ir)responsabilidades pelo que aconteceu. Porém, não me parece que a Máfia é a organização que melhor serve como ponto de referência, e de comparação, às comissões de praxes; estas, apesar dos seus comportamentos agressivos e sigilosos, não são inequívoca e deliberadamente criminosas. Na verdade, os seus «rituais», que promovem a hierarquização e a subordinação, fazem-me lembrar mais outra organização que também começa por «M»…
… Que constitui uma estrutura paralela de poder sem escrutínio público e se subdivide em duas tendências, a «regular» e a «irregular» - esta, indubitavelmente, com uma presença maior, e prejudicial, no Estado e na sociedade civil em Portugal; que tem redes de contactos e de cumplicidades que propiciam preferências e privilégios, e que dificultam – ou impedem mesmo – a meritocracia e a transparência, à revelia de qualquer fiscalização e vigilância legais. De certo modo, e em última análise, todos, os que «praxam» e os que são «praxados», estão simplesmente e eventualmente a «treinarem-se», a prepararem-se, para situações semelhantes que, saídos das escolas, irão enfrentar no «mundo real». (Também no MILhafre (80).)  

sábado, janeiro 18, 2014

Orientação: Sobre o Prémio Bang!, no Simetria

Depois de eu ter feito (escrito) reflexões sobre os Prémios Sophia e os Prémios Adamastor, é agora a vez do Prémio Bang!, no Simetria. Um excerto: «O que pode ser mais (tristemente) irónico do que editores – logo, admiradores, conhecedores, divulgadores – de obras de ficção científica e de fantástico, género em que abundam as distopias que têm em George Orwell como que um “santo padroeiro” e em “1984” como que um ”evangelho”, submeterem-se a um devaneio desviante, não democrático, de índole claramente totalitária, como é o “Acordo Ortográfico”, e que como que constrói uma (ridícula) “realidade alternativa”, pelo menos ao (baixo) nível cultural?»  

domingo, janeiro 12, 2014

Obrigado: Aos que compareceram ontem…

… No Café Saudade, em Sintra, para assistirem e participarem na sexta sessão da iniciativa Poesia e Café/Poetry & Coffee, promovida pela associação cultural Caminho Sentido e conduzida por Filipe de Fiúza, poeta sintrense. A uma e a outro agradeço, mais uma vez, o convite. A tertúlia foi dedicada a Alfred Tennyson, e baseada no livro «Poemas», com traduções minhas daquele autor…
… Dele tendo sido lidos: por Filipe de Fiúza, «A carga da Brigada Ligeira» (na versão original, e a tradução por Jorge Cosme), «Amor e Morte», «Liberdade», «O poeta» e «Por um evolucionista»; por Jorge Cosme, «A canção do poeta», «A casa deserta» e «As fadas do mar»; por ambos, «As duas vozes»; por Jorge Vicente, «Sir Lancelot e a Rainha Guinevere»; por mim, «Parte, parte, parte» (também na versão original), e ainda «The Revenge – A Ballad of the Fleet» (unicamente na versão original, porque não integra o livro) em homenagem e em memória de Paulo Lowndes Marques, que me mencionou aquele aquando da apresentação de «Poemas» em Lisboa, em 2009, na Câmara de Comércio Luso-Britânica. Nos intervalos das leituras respondi a perguntas sobre a biografia, a vida e a obra, de Alfred Tennyson, com especial e inevitável destaque para a sua visita a Portugal, mais concretamente a Lisboa e a Sintra, em 1859. Entre outros, estiveram presentes: Clive Gilbert, sucessor de Lowndes Marques na presidência da British Historical Society of Portugal, e cuja esposa, Emma Andersen Gilbert, leu «Cruzando a barra» (unicamente na versão original); Jorge Telles de Menezes, poeta, tradutor, jornalista, director do Selene («órgão oficial» da Caminho Sentido); Maria João Costa, minha amiga, minha editora no «Poemas»; e Sérgio Franclim, meu amigo, meu colega em diversos projectos literários e igualmente poeta sintrense.
O encontro de 11 de Janeiro no Café Saudade foi objecto de referência em: (agenda cultural da) Câmara Municipal de Sintra (na página 36); e-Cultura; Região Online; Rio das Maçãs; Tudo Sobre Sintra; TYMR; ViralAgenda

segunda-feira, janeiro 06, 2014

Observação: Viva o «Rei»!

Hoje é Dia de Reis. E, ontem, morreu aquele que foi chamado de «Rei» (do futebol português). Há já quem queira que ele seja sepultado no Panteão Nacional, ao lado da sua amiga Amália Rodrigues; e sem dúvida que ele merece essa honra muito, mas mesmo muito mais do que Aquilino Ribeiro e Óscar Carmona.
Não é necessário dizer, recordar, o que Eusébio da Silva Ferreira fez, o que foi e é, o que simbolizou e simboliza, agora e para todo o sempre. Dos muitos factos, das muitas memórias, relativas ao grande desportista e ao grande homem, escolho o simbolismo da selecção nacional de futebol que participou no Campeonato do Mundo de 1966, em Inglaterra; uma selecção europeia cujas duas principais figuras – o seu capitão (Mário Coluna) e o seu melhor jogador – eram ambos africanos, de cor de pele escura; nenhum país verdadeiramente racista permitiria isso; os afrikaners nunca o aceitariam – e por isso a África do Sul, ao contrário de Portugal, esteve banida das competições internacionais (até ao fim do apartheid); os segregacionistas (herdeiros dos esclavagistas) do Partido Democrata nos EUA nunca o aceitariam.
Mais do que através das condolências, das elegias e dos elogios fúnebres, do luto oficial, das bandeiras a meia haste, da repetição constante das suas melhores jogadas e dos seus melhores golos, a melhor forma de homenagear o «Pantera Negra» estaria em os seus sucessores, no Sport Lisboa e Benfica e na «equipa de todos nós», fazerem melhor… dentro das quatro linhas, nos estádios, nos relvados, nos terrenos de jogo. Infelizmente, e nos quarenta anos que se seguiram depois de ele ter «arrumado as chuteiras», nem o seu clube nem o seu país voltaram a alcançar, ou sequer chegaram a alcançar, a glória para a qual ele tanto contribuiu, o sucesso cujos alicerces ele ajudou a colocar. O Benfica, que com ele foi campeão europeu – aliás, vencedor de um troféu internacional – pela última vez, ergueu-lhe uma estátua ainda em vida mas é hoje uma instituição degradada, diminuída, sem identidade e mal dirigida. E a selecção nacional nunca chegou, verdadeiramente, a fazer melhor do que o terceiro lugar que ele e os seus companheiros «Magriços» conseguiram em Londres (é melhor nem falar de Lisboa em 2004…), sucedendo-se os «foi quase»
No seu último ano de vida, Eusébio assistiu ao (triplo) fracasso do Benfica, a uma «morte na praia» (nos últimos instantes de jogo) três vezes repetida; e soube que a final da Liga dos Campeões da época 2013-2014, que se realizará no seu Estádio da Luz, não contará, mais uma vez, com as (muito «depenadas») «águias»; desportivamente, a despedida foi muito triste. Resta que, como um derradeiro tributo póstumo, Cristiano Ronaldo e os seus colegas finalmente se superem e tragam do Brasil o supremo troféu mundial, quais Pedro Álvares Cabral e seus marinheiros «reencarnados». Porém, e dados os antecedentes, não há verdadeiros motivos para se estar optimista, não existem reais razões para se ter esperança. (Também no MILhafre (79).