domingo, dezembro 25, 2005

Obras: "Cristo renasceu na Roménia"

Cristo renasceu na Roménia
e os novos anjos espalharam rapidamente a notícia sensação.
Aconteceu nas ruas, que o parto inundou de sangue e de lágrimas,
porque nas casas já não havia lugar para o silêncio e para a resignação.

Cristo renasceu na Roménia
e o velho tirano, receoso, mandou matar as crianças, inocentes reféns.
Os que têm paz no ódio declararam guerra ao amor
mas não venceram mesmo depois de abaterem os pais e as mães.

Cristo renasceu na Roménia
e os reis do Mundo acorreram a oferecer riquezas.
Foram guiados pela estrela de fogo que brilhava da terra até ao céu,
e recebidos pelos cadáveres dos pastores que se cansaram de tristezas.


Poema (Nº 208) escrito em 1989 e incluído no meu livro «Museu da História».

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Obras: "Guitarra"

Pega na minha guitarra
e vamos guitarrar.
Dedilha suavemente as minhas cordas;
toca uma música de embalar.

A noite ainda é uma criança que quer brincar,
maravilhada com sons festivos e perfumes inebriantes.
No reino da boémia o meu reinado acaba de principiar;
sou dono e senhor até os arautos da madrugada se revelarem triunfantes.

Canto o fado entre gritos apaixonados
de amantes capazes de matar por ciúmes.
Uma cigana lê-me a sina e prevê momentos sublimados
enquanto fogosas dançarinas me abordam com lânguidos queixumes.

Sinto a inspiração a embriagar-me;
pelo prazer e pela arte vale a pena viver a vida.
Uma rodada de êxtase para todos, pago eu!
Dêem de beber ao amor, e a dor não será sentida.

Agarra na minha guitarra
e vamos guitarrar!
Dedilha violentamente as minhas cordas;
toca uma música de arrebatar!


Hoje, 21 de Dezembro de 2005, passam 200 anos sobre a morte de Manuel Maria Barbosa du Bocage.

Poema (Nº 156) escrito em 1986 e incluído no meu livro «Alma Portuguesa».

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Organização: MAR é minha marca

Hoje, 2 de Dezembro de 2005, desloquei-me ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial, em Lisboa, onde procedi – concluindo um processo que se iniciou em 21 de Novembro de 2003 - ao registo nacional definitivo, em meu nome, da marca MAR, que é também o título da revista que constitui, há mais de três anos, o meu principal projecto profissional.
A ideia surgiu-me há quase dez anos. A 5 de Fevereiro de 1996 apresentei no Palácio Foz, na então Direcção Geral de Espectáculos, actualmente Inspecção Geral das Actividades Culturais, um requerimento de registo em meu favor do direito de autor sobre um «projecto de uma revista mensal, de edição nacional e (também) com distribuição internacional, sobre os factos e as figuras das culturas dos povos lusófonos.»
Em 1998 uma primeira versão da MAR esteve perto de se tornar realidade. Na editora onde eu então trabalhava um grupo de trabalho chegou a ser formado, um primeiro estudo gráfico chegou a ser realizado... mas não se foi além disso. Só em 2002 o projecto viria a registar não só um novo dinamismo mas também uma nova direcção. E a causa da mudança foi... o Campeonato do Mundo de Futebol desse ano, que decorreu no Japão e na Coreia do Sul. Para ser mais preciso, foi a prestação vergonhosa da selecção nacional nesse campeonato, que, à semelhança de anteriores «humilhações futebolísticas», mergulhou o país num exagerado mas inegável estado de frustração colectiva. Como se o destino de uma nação se jogasse única e exclusivamente na forma como onze marmanjos chutam uma bola. O sentimento generalizado de desilusão, de desânimo, de decepção, ficou bem ilustrado numa caricatura de António Maia publicada no jornal O Ribatejo de 4 de Julho desse ano: nela viam-se dois homens que levantavam uma faixa onde se lia «Queremos ser campeões de qualquer coisa!!» Quando a vi pensei: «Mas... nós somos, ou fomos, campeões de muita coisa!!» E então na minha mente fez-se «luz»!
Assim, o nome mantém-se, as secções então pensadas estão praticamente todas, o «espírito» é o mesmo, os destinatários não mudaram. O que mudou sim foi o âmbito, que se alargou, e a abordagem, que se especializou.
A MAR tem como lema «Sucesso que fala português» (registado em 21 de Janeiro de 2004 na IGAC), e é esse também o seu objectivo: procurar os nossos vencedores - individualidades e instituições - em todos os sectores; dar a conhecer (melhor) todos os falantes da nossa língua – sejam eles portugueses, brasileiros, africanos, timorenses, luso-descendentes - que alcança(ra)m o «pódio» - ou quase – em qualquer área de actividade (política, economia, ciência, cultura, desporto...), que ganharam fama e/ou proveito não só no presente, como também no passado.... mas sempre numa perspectiva internacional: agora, o critério básico, determinante, é a (vitória em) competição com estrangeiros e/ou o reconhecimento (distinção) por estrangeiros – isto é, não falantes de português.
Houve quem me dissesse que este seria um mau momento para se lançar uma nova publicação. Muito pelo contrário: esta é a melhor altura para se lançar um novo tipo de revista, de um género que nunca até hoje havia existido no nosso país... precisamente porque faz (fazia) falta algo para contrariar o negativismo que nos rodeia. Que, é certo, não é só recente, mas que se agravou, e muito, nos últimos dois, três anos. Devido, sim, ao Campeonato do Mundo de Futebol, mas também à multiplicação dos estudos, das sondagens, das comparações, dos relatos e das opiniões que apontam invariavelmente na mesma direcção, que retiram a mesma conclusão: somos dos piores da Europa, quando não do Mundo, em diversos indicadores de desenvolvimento, na saúde, na educação, na (reduzidas produtividade e competitividade da) economia, na segurança (ou seja, na criminalidade...) As situações escandalosas, os exemplos de fracasso, os casos de insucesso, os últimos lugares nas tabelas estatísticas sucedem-se. A nossa auto-estima está muito por baixo. A desmotivação, a depressão, são dominantes.
Nem tudo é sempre uma «apagada e vil tristeza»; é preciso igualmente pensar, dizer e agir pela positiva. Recusamos a «ditadura da negatividade»... e também recusamos a «ditadura da actualidade». À MAR não interessa, dentro do seu âmbito, apenas o que aconteceu no dia, na semana ou no mês anterior. Se for relevante para o seu objectivo, também nos interessa o que aconteceu há um, dez, cinquenta, cem anos atrás. Ou mais! Há histórias que devem ser reveladas; há outras que merecem ser recordadas. E os casos de sucesso «em português», de hoje e de ontem, são muitos e não são difíceis de encontrar; eles estão espalhados um pouco por todo o lado; encontramos com frequência referências a compatriotas, ou a irmãos no idioma, que se tornaram, em várias áreas, o «número um»... ou ficaram muito perto disso. Era pois necessária uma revista que reunisse, que centralizasse, aprofundasse, e, logo, que valorizasse, todos esses casos, todas essas referências.
A MAR surge também como um meio, um contributo, para tentar estabelecer um equilíbrio no panorama da informação no - e sobre o - espaço dos países e dos povos de língua portuguesa; é um projecto plural. A MAR quer estar onde estiver um falante (ou leitor) de português, constituindo assim um factor de identificação, um elo de ligação, entre uma comunidade mundial que partilha uma língua e uma cultura. São muitas as possibilidades; a questão está em saber se queremos – porque de certeza que podemos – torná-las realidades. Para a MAR, a frase «a minha pátria é a língua portuguesa» não é uma figura de retórica: é um ideal que é real, em que acredita(re)mos e que vive(re)mos todos os dias.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Opinião: O real eixo atlântico

É cada vez mais evidente aquilo em que Portugal se tornou: um país destruído - por incêndios (grande parte, talvez a maior, de origem criminosa) mas não só - e deprimido, desequilibrado, ridicularizado no estrangeiro por acontecimentos típicos do Terceiro Mundo – sejam prostitutas em Bragança, «arrastões» na praia de Carcavelos e nos comboios da linha de Sintra, ou a IP5 como a «segunda estrada mais perigosa do Mundo». Na república portuguesa o crime compensa; reinam o desinteresse e a incompetência, a permissividade e a impunidade. O Estado não mostra ter autoridade, e não inspira segurança e confiança aos cidadãos.
Porém, por incrível que isso possa parecer, existe um país, muito distante mas ao mesmo tempo muito próximo de nós, cuja situação é ainda pior: o Brasil. O escândalo que ficou conhecido como «Mensalão» - em que grandes empresas portuguesas poderão estar envolvidas! - veio provar definitivamente, em especial aos mais ingénuos, que na república federativa do Brasil nenhum sector da política, da «esquerda» à «direita», se aproveita; lá, onde as assimetrias sociais são inacreditáveis, a corrupção não é um mal - é um modo de vida; e que, além dos futebolistas, o grupo de profissionais com as carreiras mais promissoras são os criminosos – sejam eles os dos palácios de Brasília ou os das favelas do Rio de Janeiro. E, entretanto, a Amazónia continua a arder...
Nos dois países irmãos os problemas são semelhantes, apesar de as suas dimensões serem diferentes. E a - melhor - solução é a mesma: a restauração da Monarquia.
Já existem, felizmente, muitas ligações entre Portugal e o Brasil. Construamos, reforcemos, mais uma: um real eixo atlântico. Que, unindo os monárquicos dos dois países – e as famílias dos pretendentes aos tronos, aliás já há muito unidas por laços de sangue, de parentesco – numa causa comum, contribua para restituir, o mais rápida e firmemente possível, a honra e o amor-próprio a ambas os povos, eliminando ao mesmo tempo os «bandidos» que, nas duas margens do mar, se apoderaram do «ouro» - literal e figurado.
No Brasil a grande ladroagem começou em 1889: foi neste ano que a república foi instaurada... depois de a Monarquia ter abolido definitivamente (em 1888...) a escravatura. Ou seja, 21 anos antes de os assassinos terem tomado o poder em Portugal. Numa e noutra nação já é tempo demais de baixaria; numa e noutra nação já é chegado o tempo de as vozes da coragem, da probidade e da tradição se erguerem e proclamarem bem alto que o regime tem de mudar... e passarem das palavras aos actos.
E esses actos implicam... pegar em armas. Retribuir, pagar bem caro, e na mesma moeda, a afronta feita em 5 de Outubro de 1910. Não tenhamos mais ilusões: pelo menos em Portugal a restauração da Monarquia só se fará pela força. Nunca os «republicanos» de meia-tigela deste país permitirão que se faça sequer um referendo sobre o assunto... e isso comprovou-se novamente neste ano de 2005, quando, durante o processo – mais um! – de revisão constitucional, se introduziu um novo artigo (o 295º) que permite a realização de referendo(s) sobre tratado(s) europeu(s) mas não se introduziu outro que permitisse a realização de um referendo sobre o regime! Aliás, nem o famigerado artigo 288º - o de qualquer revisão ter de respeitar a «forma republicana de governo» - foi alterado.
E com que armas se pode derrubar a república? Com as das forças policiais e militares nacionais, que estão entre os segmentos sócio-profissionais mais descontentes com a actual situação de Portugal, e, em particular, com os ataques de que estão a ser alvo por parte do actual governo. Na verdade, esse descontentamento é geral... e praticamente total: os portugueses – nota-se nas ruas e nas mensagens que, de uma forma ou de outra, chegam aos meios de comunicação – atingiram o ponto de saturação; fartos dos políticos, dos quais dizem serem «todos o mesmo», querem, exigem, uma mudança completa; entre outras propostas mais ou menos radicais, alguns até propõem na brincadeira – ou será que é a sério?! – que sejamos anexados pela Espanha... Como se não houvesse outra alternativa. Mas há. E décadas de desinformação, de propaganda, de deturpação da História, não foram suficientes para a apagar, para a destruir.
A democracia é, sem qualquer dúvida, e quase sempre, a melhor forma de governar uma sociedade. Todavia, ela não passará de um embuste, de uma fraude, se não estiver assente sobre bases sólidas e visíveis; se, à partida, os dados estiverem viciados, se as cartas estiverem marcadas. É o que se passa tanto em Portugal como no Brasil: não foram removidos todos os elementos, agrupamentos e comportamentos nocivos que, directa ou indirectamente, corroem, minam, as legítimas estruturas e os processos normais dos dois países, e impedem um verdadeiro desenvolvimento em todos os aspectos. Ambos precisam de um período de excepção; de uma breve, embora implacável, ditadura. Para pôr as «casas» em ordem; para as «limpar». E para depois se poder, realmente, recomeçar.

Hoje, 1 de Dezembro de 2005, passam 365 (300+50+10+5) anos sobre a Restauração da Independência de Portugal.