quarta-feira, fevereiro 27, 2013

Observação: Barros e Barreiros erraram

(Uma adenda no final deste texto.)
No passado dia 23 de Fevereiro de 2013 o Diário de Notícias publicou, no seu suplemento QI, um artigo de Eurico de Barros sobre a antologia «Lisboa no Ano 2000» com base numa entrevista feita ao criador e organizador daquela, João Barreiros. Abstraindo do abjecto «acordês» que enforma – e enferma – o texto, logo no terceiro parágrafo pode ler-se que aquela colectânea colectiva de contos constitui «a primeira ficção científica portuguesa de história alternativa.» Telefonei ao jornalista do DN e ele esclareceu-me que aquela afirmação é sua e foi «corroborada por João Barreiros». Porém, e obviamente, está errada…
… Porque a verdadeira primeira obra portuguesa de história alternativa é, foi, claro, «A República Nunca Existiu!», publicada em 2008… e sobre a qual o próprio Eurico de Barros escreveu então! Como me admitiu, esqueceu-se… mas João Barreiros também se terá esquecido. Aliás, é igualmente oportuno e relevante lembrar que ambas as antologias foram editadas pela Saída de Emergência, e que o subtítulo de «Lisboa no Ano 2000» é «Uma antologia assombrosa sobre uma cidade que nunca existiu», pelo que, sem dúvida e não surpreendentemente, ainda se «ouvem os ecos» daquele meu projecto pioneiro que teve como objectivo imaginar, escrever e publicar contos, enredos, narrativas, em que Portugal nunca havia deixado de ser uma Monarquia.
Assunto também abordado no artigo, e que aliás é recorrente nas discussões sobre ficção científica e fantástico no nosso país, é o da alegada «falta de uma tradição de literatura de FC, e de imaginação e especulação em geral, em terras lusas. (…) Esquecemo-nos de sonhar?» João Barreiros não é o único a pensar assim, mas ele e outros estão, também aqui, errados. Como demonstrei inequivocamente no meu artigo «A nostalgia da quimera», publicado no Público em 2011, o fantástico é – sempre foi – o género dominante na literatura portuguesa. A aparente ausência, na viragem do século XIX para o XX, de uma FC «pura e dura» nacional, em que a antecipação civilizacional e a inovação tecnológica são factores fulcrais, pode ter-se devido não à inexistência de obras desse âmbito mas sim à não publicação daquelas; o mesmo é dizer, que possivelmente existiram autores mas «não existiram» editores… à altura das suas responsabilidades. E esta não é uma hipótese mirabolante: quando se sabe que, já no século XXI, neste país houve quem decidisse destruir milhares de exemplares da «colecção azul» da Editorial Caminho, mais fácil se torna aceitar que o problema, provavelmente, não está, e nunca esteve, na escrita. (Também no Simetria.)
(Adenda: Fui contactado por Álvaro Holstein, que me informou da existência do livro «História Maravilhosa de D. Sebastião Imperador do Atlântico», escrito por Samuel Maia e publicado em 1940, e que terá sido, e é, o primeiro livro de história alternativa portuguesa. Pelo que pude ler e depreender do índice tal parece ser verdade, mas só quando puder tê-lo nas mãos, folheá-lo e, eventualmente, confirmar esse facto, é que renunciarei à primazia, neste aspecto, de «A República Nunca Existiu!». Se e quando o fizer… será sem qualquer problema, sem ressentimento, sem tristeza. Muito pelo contrário! Porque, neste assunto, e de uma forma ou de outra, eu «ganho» sempre: «História Maravilhosa…», de que eu nunca tinha ouvido falar até agora, constituirá mais uma prova de que «o fantástico é o género dominante na literatura portuguesa» como eu afirmo no meu artigo «A nostalgia da quimera». Mais: também no início de Março, e numa coincidência curiosíssima, duas pessoas - Manuel Curado e Nuno Fonseca - mencionaram-me o mesmo autor, Cândido de Figueiredo (sim, o do dicionário!), por causa da mesma obra, «Lisboa no Ano Três Mil», de que eu também nunca tinha ouvido falar até agora, publicada em… 1892! Ou seja, e ao contrário do que afirma João Barreiros, Jules Verne provavelmente terá mesmo deixado – pelo menos – uma «semente» em Portugal que «floresceu» ainda no século XIX! Sim, afinal houve alguém no nosso país que imaginou «ter visto o futuro» antes de 1900.)

terça-feira, fevereiro 19, 2013

Observação: «Brava» bojarda

Neste último Natal receberam-se como prendas em minha casa, e entre outras, vários discos – de música, de jogos, de filmes. Entre estes «Brave», o mais recente filme dos estúdios Pixar, que em Portugal recebeu o título «Indomável» (sim, há traduções piores…), e que é comercializado pela Zon Lusomundo Audiovisuais. Observando a caixa, li a síntese, a ficha técnica, e a seguinte… ressalva: «Dados corretos salvo erro tipográfico».
Quero acreditar que, um dia, se irá investigar, descobrir e explicar por que motivo neste país tantos indivíduos e tantas instituições, quer públicas quer privadas, se prestaram – sem o deverem, sem serem forçadas, sem terem qualquer verdadeira obrigação disso – a fazer figuras ridículas, a passarem por idiotas, a tornarem-se autênticas anedotas. Talvez então se possa rir (ainda mais, e descansadamente) da aberração que é, foi, o «ac(b)ord(t)o (porn)ortográfico».
(Adenda - Hoje, 21 de Fevereiro, celebra-se o Dia Internacional da Língua Materna. Uma data ainda melhor do que as outras para todos os que ainda não subscreveram, divulgam e apoiam a Iniciativa Legislativa de Cidadãos Contra o Acordo Ortográfico... o fazerem.)
(Segunda adenda - «Escoçês» é errado e esquisito? Sim. Mas não é mais errado e esquisito, e ridículo, que, por exemplo, «espetáculo», «perspetiva», «receção» e «suntuoso».)
(Terceira adenda – Quando se recorre à força e à imposição burocráticas e totalitárias, é óbvio que os «processos» (kafkianos) «avançam» e «correm» sem «problemas», que qualquer absurdo é aplicável. Há para aí quem seria um «excelente» «comissário cultural» de Stalin e de Mao…

sábado, fevereiro 09, 2013

Obras: Desenhando os «Mensageiros…»

Pedro Piedade Marques, que desenhou e paginou «Mensageiros das Estrelas – Antologia de Contos de Ficção Científica e Fantástico», escreve sobre o seu trabalho neste meu projecto no seu blog Montag em texto intitulado «Controlo terrestre chama major Tomás» (sim, uma alusão à canção «Space Oddity» de David Bowie…) 
Um excerto: «(…) Tratou-se de um exercício de recuperação de uma certa forma de ilustrar a ficção científica “de fora” do género, ou seja: em vez da ilustração naturalista “pulp” ou associada à “Golden Age” da FC dos anos 30 aos anos 50 (e ainda a matriz do que se faz na ilustração de FC de há quarenta anos a esta parte), e porque, muito simplesmente, não sou um “ilustrador” ou pintor, impunha-se o recurso essencialmente à selecção, montagem e “colagem” de elementos de heteróclita proveniência (catálogos de ferramentas e produtos industriais e manuais de astronomia do século XIX, desenhos de Ernst Haeckel de diversa fauna e flora marinha, parafernália da Era Espacial como fatos dos primeiros cosmonautas americanos e soviéticos, etc.), aos quais não faltaram aportações nacionais como detalhes das estruturas fabris da CUF dos anos 50, o rosto de um jovem D. Carlos dentro de um capacete da tripulação da Soyuz dos anos 70 ou a fachada da Faculdade de Letras de Lisboa do arquitecto Pardal Monteiro. (…)» Entretanto, Pedro já adicionou o «Mensageiros…» ao seu portfolio.  
A propósito, informo novamente que «Mensageiros das Estrelas» vai ser apresentado no Porto no próximo dia 3 de Março, às 17 horas, no Teatro Rivoli, integrado na programação do Fantasporto 2013. (Também no Simetria.

sexta-feira, fevereiro 01, 2013

Outros: Sobre o Regicídio…

… De que hoje se assinala mais um (triste) aniversário, recomendo a leitura de textos de David Garcia («105 anos depois do Regicídio, não esquecemos!»), João Afonso Machado («Para além da efeméride»), João Amorim («No dia 1 de Fevereiro a escumalha não tem pesar»), João Pinto Bastos («Recordar o Regicídio»), Miguel Castelo-Branco («O erro dos regicidas») e Nuno Castelo-Branco («O Regicídio não foi esquecido, jamais o será!»). (Também no Esquinas (137).)