Quem já leu o
meu conto «Segundo Ultimatum Futurista», incluído na colectânea de ficção
científica e fantástico «Mensageiros das Estrelas», concebida e co-organizada
por mim, publicada pela Fronteira do Caos em 2012 e apresentada pela primeira
vez na segunda edição do colóquio internacional com o mesmo nome realizado na
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa…
… Com certeza
se recordará de que, apesar de aquele conto, com base num dos mais famosos
textos do genial José de Almada Negreiros, ter como tema principal (a visão de)
um Portugal diferente num futuro próximo, difícil e até violento, nele não
deixou de se fazer uma (breve) referência ao destino imaginado de um outro país
europeu que tem sido, desde há anos, como que «companheiro de infortúnio» do
nosso: a Grécia. Na verdade, nele escrevi: «E como se já não bastassem os
anarquistas e os militares gregos a matarem-se uns aos outros, os turcos,
oportunistas, resolveram intervir e invadir o dito berço da cultura ocidental,
numa tentativa, talvez, de recuperarem o que em tempos passados possuíram.
Porém, tiveram de enfrentar os exércitos privados das várias empresas
multinacionais que ocuparam e se apossaram de partes do território grego que
haviam sido hipotecadas como garantias para a concessão de empréstimos… que não
foram reembolsados. É por isso que agora, e por exemplo, os dois estádios
olímpicos de Atenas, tanto o velho como o novo, são da Sony, a cidade de
Maratona é da Mercedes, o Monte Olimpo é da Nike e a Acrópole é da Coca-Cola.»
Quem leu
poderá ter pensado que se tratou de algo rebuscado, até delirante, exagerado,
excessivo como «convém» nestes casos… neste tipo de exercícios literários. No
entanto, e como que comprovando novamente que a realidade, frequentemente, imita
a ficção e pode ser inclusivamente mais estranha do que aquela, li no Público,
no passado dia 17 de Março, uma notícia assinada por Cláudia Carvalho intitulada
«Protestos na Grécia por Governo querer vender edifícios históricos». Onde se
pode ler: «(…) O Governo grego continua a procurar soluções
para menorizar os efeitos da crise. Depois de na semana passada ter dado luz
verde à privatização de alguns monumentos e sítios arqueológicos importantes, o
Ministério da Cultura grego pondera agora vender edifícios históricos. A
decisão está a gerar controvérsia e protestos no país. (…) O primeiro-ministro Antonis Samaras pediu que se
fizesse um levantamento dos edifícios pertencentes ao Estado para assim avaliar
aqueles que podem ser vendidos. Listados para venda estarão já as propriedades
construídas em 1922 para os refugiados da guerra greco-turca e ainda alguns
andares do Ministério da Cultura instalados em edifícios neoclássicos no bairro
turístico de Plaka. Pela sua história e importância arquitectónica, estes
edifícios são vistos como jóias da arquitectura da Grécia. (…)»
Sabendo isto,
é com alguma expectativa que fico à espera para ver se é concretizada outra
«previsão» que fiz em «Segundo Ultimatum Futurista» relativa àquele país: «Nem
a equipa que venceu o Campeonato da Europa de Futebol de 2004 foi poupada nas
medidas e tentativas desesperadas e drásticas para pagar as dívidas: todos os
jogadores que a integraram, verdadeiros heróis helénicos, foram vendidos ao
Schweinsteiger’s, um famoso e exclusivo bordel em Berlim dedicado à
prostituição homossexual masculina sado-masoquista.» (Também no Simetria.)
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