No
passado dia 15 de Março recebi (mais) uma mensagem de correio electrónico da
Real Associação de Lisboa, de que sou membro. O tema era uma petição, apoiada
pela Causa Real e pela sua associação distrital mais representativa, com o
título (e objectivo) «inclusão do Duque de Bragança na lei do protocolo do Estado». Após leitura da, e reflexão sobre a, referida petição, decidi que não
a assinaria.
O
motivo da minha decisão, da minha posição nesta questão, não está,
evidentemente, em eu considerar que D. Duarte Pio não é merecedor de respeito,
individual e institucional, que não é digno de reconhecimento oficial em
cerimónias públicas. Muito pelo contrário: é exactamente por eu não duvidar de
que o herdeiro do trono de Portugal merece um estatuto acima de qualquer
suspeita que eu acredito que ele não deve ter qualquer tipo de presença ou de
pertença a este Estado, a este regime, a esta terceira república, que, no
seguimento das duas que a precederam, embora de diferentes – mas sempre
deprimentes, mental e materialmente – formas, tanto tem prejudicado este país
em geral e as suas pessoas em particular. Uma terceira república marcada por:
permanente incapacidade de defender devidamente a integridade física tanto do
território como dos cidadãos, não disponibilizando a bombeiros, polícias e a
outras entidades de protecção e de segurança os meios adequados, apesar de uma
carga fiscal excessiva e que não diminui; sucessivos, crescentes (em gravidade,
dimensão, complexidade) escândalos de corrupção, ou, pelo menos, casos de
incompetência e de irresponsabilidade governativas; constante desrespeito pela
opinião dos eleitores, ao serem tomadas decisões importantes, fundamentais, e
mesmo estruturantes, no presente e para o futuro, sem aqueles serem consultados
em referendos - sobre matérias europeias
(adesão à CEE, tratado de Maastricht que definiu a transição de «comunidade»
para «união», moeda única) ou outras mais ou menos «fracturantes» («acordos
ortográficos», «casamento» e adopção entre/por pessoas/«casais» do mesmo sexo,
incentivos – incluindo financeiros - ao aborto em larga escala, e, em breve,
talvez a eutanásia).
Entre
os proponentes e os primeiros subscritores da petição estão várias
individualidades por quem tenho respeito e até admiração, e não duvido das suas
boas intenções ao avançarem com esta iniciativa. No entanto, receio que assim
estejam a «assinar» - inconscientemente, involuntariamente – a «rendição»
definitiva do movimento monárquico nacional perante a repugnante, ridícula,
ruinosa e arruinada, república: que assim estejam a confirmar o (seu)
conformismo com a situação, com o «sistema»; a concordar com «se não consegues
vencê-los, junta-te a eles»; a (quererem) entrar numa «festa» para o qual não
se foi convidado… e ainda bem, porque aquela é frequentada por gente de
carácter duvidoso, dada a comportamentos perigosos, se não mesmo criminosos.
Seria preferível que, da parte da Causa Real, das reais associações, e do
próprio Duque de Bragança, houvesse uma (re)afirmação da vontade,
indestrutível, insubmissa, inegociável, imune a quaisquer cortesias, de
restaurar o Reino de Portugal, e de tudo fazer nesse sentido, começando com um
distanciamento em relação à república e aos seus desacreditados, decadentes,
degradados, redutos e rituais, e continuando com a definição e a realização de
uma estratégia – mesmo que de longo prazo, mas efectiva – de (re)conquista do
poder. É bom que se façam visitas, missas, jantares, homenagens, conferências,
mas é preciso mais do que isso. Espera-se de todos os monárquicos, e em
especial dos seus representantes, mais protagonismo – em palavras e em actos –
na concretização da causa que (n)os une, e menos (preocupação com o, um)
protocolo. Espera-se resistência, persistência, desobediência, e não
desistência. (Artigo publicado no passado dia 12 de Setembro na página 23 da edição Nº 2124 do jornal O Diabo.) (Também no MILhafre.)
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