segunda-feira, abril 23, 2012

Opções: Não comprar livros com AO90

Hoje, Dia Mundial do Livro, e véspera da abertura da Feira do Livro de Lisboa 2012, é o momento adequado para, mais uma vez, apelar a que não se compre livros escritos e/ou impressos segundo o abominável «acordo ortográfico de 1990». O boicote a obras deformadas e deturpadas é uma das principais formas, e talvez a melhor, de combater aquele «aborto»; quanto mais forem os leitores que o fizerem maior será a probabilidade de os escritores e/ou as editoras que renunciaram à dignidade e à sensatez retrocederem na sua conduta reprovável e ridícula… porque ver-se-ão afectados onde «dói mais», isto é, na carteira, no cofre e na conta bancária.
Neste âmbito, destaque pela positiva vai, entre outros, para Guilherme Valente: o fundador da Gradiva – que faz jus ao seu apelido! – não só subscreveu a Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico como disponibilizou os espaços da sua editora na Feira do Livro para a recolha de assinaturas a favor daquela iniciativa; é mais um motivo para uma visita aos pavilhões B19, B56, B58 e B60. Entretanto, também a Relógio d’Água se juntou à iniciativa, pelo que se deve igualmente visitar os pavilhões A73, A75, A77, A79, A81, A83, A85 e A87. E ainda a Zéfiro (D50), que edita a revista Nova Águia e a colecção de livros com o mesmo nome.
Enfim, e para além daqueles que já mencionei aquando de anteriores feiras e Natais, eis alguns novos livros, de amigos, cuja aquisição eu recomendo: «Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes» e «O Homem Corvo», David Soares; «Nova Teoria do Mal», Miguel Real; «A Última Sessão – A Edição dos Textos Malditos de Luiz Pacheco», Pedro Piedade Marques; «Convergência Lusófona – As Posições do MIL/Movimento Internacional Lusófono (2008-2012)», (coordenação de) Renato Epifânio; «A Cidade dos Sonhos», Sérgio Franclim (e Sandra Hormiga). (Também no Esquinas (120) e no MILhafre (56).)

3 comentários:

João Afonso Machado disse...

Caro Octávio dos Santos:
Tenho andado um pouco afastado destas lides. Lembrei-me hoje de saber - como vão os projectados contos, vol. 2 de »A República nunca existiu»?
Cumprimentos
JAM

Marco Lopes disse...

Caro Octávio

Não foi uma denuncia visto que já o tinha dito numa entrevista, foi apenas uma constatação de um facto. E se o falei foi porque quando li as suas palavras fiquei algo chocado. Compreendo que não seja a favor do Acordo, mas acho que deve dar à sua filha a possibilidade de escolha, ou pelo menos deixar que ela aprenda também na escola. Digo isto porque imagine que a sua luta (e de outros) contra o acordo não surte os efeitos que desejam e ele acaba por ser adoptado por todos? Imagine os constantes “erros ortograficos” que ela dará, porque um dia o senhor decidiu que ela não iria aprender a nova ortografia. O senhor pode ser contra o acordo, mas é ela que terá um dia de viver com as consequencias das suas convicções. Com isto não estou a dizer que deve ignorar os seus principos, mas apenas que lhe deve explicar ambos os lados. Claro que ambos sabemos que ela irá escolher o seu, mas assim o senhor deu-lhe a liberdade de escolha.

Acho que o senho está no seu direito de não acolher o acordo e de lutar contra ele, e digo-lhe desde já que até acho essa atitude de salutar, mas temos de saber traçar os limites, e na minha opinião envolver a sua filha, ou outras crianças que sejam é para mim o limite. Esse é o meu direito. Não fique calado, conteste, lute, mas respeite os limites de envolver as crianças em assuntos sobre os quais ainda não tem a compreenção necessaria para decidir por si. O senhor como pai não pode, nem conseguirá transformar a sua filha num clone das suas convicções.

O texto do Jorge Candeias agradou-me porque consegue captar uma ideia que transcende o mero “sou contra ou sou a favor do acordo”. É um texto que (com ou outro ajuste minimo) poderia referir-se a outros assuntos. Claro que ambos sabemos que o Candeias é a favor do acordo, mas isso não tira a razão ao texto que escreveu, que como pode ler nem faz a apologia do novo acordo (tiram possivelmente a parte “dos braços abertos”), apenas constata que a evolução é algo inevitavel. Quando muito poderá ler-se que temos de chegar a um ponto de entendimento. E é aqui que eu acho que a parte mais importante da luta se deveria fazer: tentar chegar a um entendimento com todas as partes envolvidas, mais do que simplesmente “ser do contra”. Ir ter com todos os envolvidos, falar, propor, discutir, chegar a uma base de entendimento o mais alargada possivel, embora sempre conscientes que nunca se irá agradar a “Gregos e a Troianos”. Este é o meu desafio a si e a todos, seja a favor ou contra. Espero que o leve a serio e quem sabe se não será assim que chegaremos a bom porto.

Costumo ir ao seu blog, tal como vou a outros blog's, mas é muito raro colocar comentarios, portanto não foi por fobia de qualquer tipo de “represalia” que não o fiz no seu. Para já ainda não o tenho como alguem que faz censura, e espero que nunca chegue a tornar-se nesse tipo de pessoa.

Meu caro Octávio apesar de termos certamente muito que nos separe, tal como tenho a certeza o mesmo acontece comigo e com o Candeias, e outras pessoas, gosto de pensar que é mais aquilo que nos une, e espero um dia poder falar consigo pessoalmente, para que possamos debater as nossas ideias, e mesmo que no fim não tenhamos mudado de opinião tenho a certeza que sairemos mais ricos do que antes.

Deixo este comentario quer no blog Octanas, quer n'A Lâmpada Mágica.

OCTÁVIO DOS SANTOS disse...

Claramente, o Sr. Marco Lopes não tem filhos… por isso é que escreve o que escreve. Mas não é só por isso que mostra ter uma grande ingenuidade, para não lhe chamar outra coisa.

Você parte do princípio, da certeza, de que o «aborto ortográfico» vai prevalecer, vai vingar, e que, por isso, a minha filha se arrisca a ficar como que «desajustada». Não se preocupe com isso: mesmo nesse cenário (de pesadelo) ela ficará muito melhor do que os colegas e do que todas as outras crianças cujos pais desistiram ou que, usando as suas palavras, lhes deram «liberdade de escolha». Que lirismo: neste caso, essa «liberdade de escolha» significa, inevitavelmente, capitulação. As minhas filhas – não é só a mais nova – est(ar)ão muito melhor porque escrevem com mais letras. E não se sentirão confusas quando lerem e escreverem inglês – língua estrangeira sempre cada vez mais omnipresente – onde abundam palavras correspondentes a portuguesas onde não faltam «c’s» e «p’s», consoantes repetidas e até «ph’s». Acredite, a compreenSão delas, mesmo da mais nova, já é considerável.

Veja se percebe: escrever correctamente, com todas as consoantes «mudas», acentos, hífens, e maiúsculas nos meses, não é, nem nunca será, para mim e para muitos outros (a maioria), escrever com «erros ortográficos». Os que em Portugal prescindiram da coluna vertebral, da dignidade e do sentido do ridículo é que escrevem com erros ortográficos; que, por exemplo, se obrigam a escrever «perspetiva» e «receção» enquanto no Brasil se continua a escrever «perspectiva» e «recepção». Volto a dizê-lo: juridicamente o AO90 não tem qualquer validade, tanto ao nível interno como ao nível externo, e isto é um FACTO, não está sujeito a argumentos. E mesmo que tudo estivesse «nos conformes», mesmo que tudo tivesse sido feito como deveria ser (pouco provável, mas coloquemos a hipótese…), nem assim ele teria justificação. Porquê? Porque ele não é necessário, é inútil, faz mais mal do que bem. Porque é o produto de meia dúzia de pervertidos, autêntica causa desviante e «fracturante» que, claro, encontrou em José Sócrates o «paladino» que não tivera nos 20 anos anteriores. Porque não o queremos. E ponto final.

Quem decidiu «envolver as crianças»… foram os «acordistas», não fui eu. E com eles não é possível, nem desejável, chegar a qualquer «ponto de entendimento» porque eles querem, simplesmente, a submissão. Já se debateu, discutiu, explicou, tudo o que era preciso, e somos nós que temos razão, não eles. E como qualquer biólogo lhe poderá explicar melhor do que eu, «evolução» é um processo de mudanças que decorre durante muito, muito, muito tempo, de uma forma quase imperceptível e alargada, e precisamente, natural… e não uma alteração radical que se tenta impor quase de um dia para o outro.