quinta-feira, setembro 15, 2011

Observação: Da pátria, a língua

Neste mês de Setembro de 2011, mais concretamente a 1 e a 12, devido a documentos legislativos com essas datas, assinala(ra)m-se os 100 anos de mais uma catástrofe decorrente da insurreição republicana de 5 de Outubro de 1910: a reforma ortográfica de 1911, que constituiu uma autêntica «Caixa de Pandora», o «pecado original» para todos os problemas e discussões neste âmbito que desde então se sucederam e que ainda hoje, e cada vez mais – por causa do abominável «aborto (acordo) ortográfico» de 1990 – nos atormentam.
Não serão muitos os que sabem que foi em contestação a este (agora centenário) crime contra a cultura que Fernando Pessoa escreveu que «minha pátria é a língua portuguesa». Aliás, o autor de «Mensagem» viria a criticar, com – justificada – violência verbal, todos os republicanos e todos os outros atentados, de vários tipos, que aqueles practicaram, como verdadeiros terroristas que eram, e que deixaram o país pior do que estava com a Monarquia. Mas as hordas de Afonso Costa não se «limitaram» a prender, a bater, a matar, a destruir, a censurar: genuínos extremistas e fanáticos, alteraram, mais do que muitos nomes de avenidas, largos, praças e ruas, os símbolos culturais da nação: novo hino, nova bandeira – que o poeta da Orpheu (des)classificou como «ignóbil trapo» - e… nova ortografia.
Neste último século muito se tem discutido e escrito sobre a educação em Portugal, os seus sucessos e fracassos, os seus progressos e regressões. Frequentemente ainda, fala-se do «condicionamento escolar» do Estado Novo e do elevado analfabetismo que permitiu ou até que incentivou. Porém, é raro apontar-se a culpa aos primeiros republicanos, que, preconizando uma revolução (mais uma…) no ensino no sentido da sua massificação, acabaram por fracassar, também, neste domínio. Disso uma causa é hoje indiscutível: a hostilização, através de perseguições individuais e de expropriações patrimoniais, da Igreja Católica, que dispunha de uma presença e de uma influência determinantes em toda a infra-estrutura lectiva. Mas há outra causa primordial para o nosso atraso educativo e cultural: precisamente, a reforma ortográfica de 1911, que, pelo seu radicalismo, pelas súbitas e generalizadas alterações que introduziu, pela confusão que inevitavelmente espalhou, pela inutilização (tornando-os «antiquados», «obsoletos», «ultrapassados») de tantos livros, jornais, revistas e outros materiais impressos então existentes, condicionou decisivamente… e negativamente esta área – fulcral, fundamental – nas décadas seguintes. Quem é que é capaz de provar que as sucessivas acções de «simplificação» da ortografia realizadas durante o último século, e o cada vez menor grau de exigência resultante daquelas, não foram factores de constrangimento do nosso desenvolvimento intelectual, tanto individual como colectivo?
Poder-se-ia pensar que, num momento em que o país está tão fragilizado, quer económica quer socialmente, seria evidente para o Estado que um potenciador de ainda maior insegurança como é o AO fosse cancelado ou, pelo menos, suspenso. Mas não: hoje, a mesma ameaça volta a pairar sobre nós. Já fomos penalizados e prejudicados no passado recente por vários «experimentalismos» e «vanguardismos» na aprendizagem. Nada, no entanto, que se compare com o que agora querem obrigar-nos a aceitar: os alunos do presente – bem como os seus pais e encarregados de educação – estão em risco de sofrer os efeitos devastadores da maior acção de sabotagem comunicacional da História de Portugal. A eles se pede, também, contestação, desobediência, resistência. Eu, que tenho três filhas menores de idade, irei fazer isso… por elas, por mim, por todos. E muitos, muitos mais portugueses – muita(o)s mais… Pessoas! – irão fazer o mesmo e impor a sua vontade democrática na defesa da pátria, a língua. Porque, ao contrário de 1911 e de 1945 (ano do primeiro «acordo ortográfico»... que o Brasil viria a renegar), já não estamos em ditadura. Ou será que estamos? João Malaca Casteleiro, que é tão parecido com António Oliveira Salazar, provavelmente pensa que sim. Tal como os outros partidários deste autêntico fascismo linguístico. (Reproduzido também no Esquinas (100) e no MILhafre (38), referências (indirectas) no Portugal dos Pequeninos e no Causes/Pela Língua Portuguesa contra o «Acordo»!.)

2 comentários:

João Afonso Machado disse...

Caro Octávio dos Santos:
Absolutamente de acordo consigo no seu desacordo quanto ao acordo ortográfico.
Um abraço
João Afonso Machado

PS - deixo-lhe aqui o meu blog - apareça por lá. Linkei o seu. MACHADO, JA (http://jamachado.blogs.sapo.pt)

OCTÁVIO DOS SANTOS disse...

Caro João Afonso Machado, muito obrigado pelo apoio... e pela cortesia, que já retribuí, inserindo uma ligação para o seu blog no Octanas. Espero que não se importe de fazer parte da «Oligarquia»... Abraço!