quinta-feira, junho 03, 2010

Obituário: João Aguiar

A voz de um amigo e de um mentor está, a partir de hoje, entre a dos deuses. João Aguiar morreu esta manhã em Lisboa, e, apesar de eu saber que há quase um ano enfrentava uma doença grave, para mim, bem como para muitas outras pessoas, o desfecho nunca deixaria de ser doloroso e inesperado.
Conheci-o primeiro, indirectamente, pelos seus livros, e depois, pessoalmente, em 1992, aquando da fundação da revista TV Mais, cuja redacção ambos integrámos por pouco tempo – ele havia sido convidado para director, mas saiu ainda antes do lançamento da edição de estreia (eu fiquei mais um ano). Posteriormente, reencontrámo-nos, várias vezes, nas sessões de autógrafos da Feira do Livro de Lisboa, e em 2006 convidei-o a participar no projecto «A República Nunca Existiu!», antologia publicada em 2008 para assinalar o centenário do Regicídio; o seu conto, «Seis momentos em tempo real», logicamente, foi o que abriu a obra. A sua presença numa iniciativa idealizada por mim é algo que muito me honrou e de que me orgulharei sempre.
Não tenho dúvidas de que as suas facetas de monárquico e de estudioso e entusiasta da História de Portugal me influenciaram fortemente, e que também contribuiram decisivamente para que eu próprio viesse a partilhar esses interesses. Porém, João Aguiar era, antes de tudo, um patriota – alguém que amava o seu país, embora este não tenha retribuído na mesma medida... Aliás, talvez não tenha sido por acaso que o seu último livro publicado em vida, «Super Portugueses», é uma colectânea de casos de lusitanos que se distinguiram, em diferentes épocas e em diversas actividades, pela coragem, pela dignidade, pela excelência – qualidades que actualmente tanto parecem rarear nesta nação.
Ele foi – é! – um «homem com nome», um «navegador (nem sempre) solitário», quantas vezes lutando contra «cantos de fantasmas» e «dragões de fumo». Que o «altíssimo», no seu «trono», lhe faça a «encomendação da alma», e para sempre lhe permita estar numa «catedral verde» a meio de um «jardim das delícias». (Evocação e homenagem também no Esquinas (73) e no MILhafre (13), referência no Nova Águia.)

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