Naquele momento o corso* deixou de ser uma ameaça;
ele e ela esqueceram-se de que havia uma guerra entre nações.
Estavam sós num enorme palácio abandonado ao crepúsculo
e o bater dos seus corações era mais forte do que o troar dos canhões.
Ela não podia continuar bordando e lendo poesia
depois de receber aquela carta lacrada do seu amado.
Ele obtivera uma breve licença da frente de batalha
e implorava-lhe que não faltasse a um encontro, talvez o último a ser marcado.
Eles sabem que serão condenados pelas suas aristocráticas famílias,
mas por bailes românticos e jantares faustosos não podem esperar.
Há muito que não há corridas de carruagens puxadas por cavalos brancos sob fogo de artifício;
há muito que não há passeios de barco ao som de violinos em lagos banhados pelo luar.
Assim que se viram beijaram-se demorada e ternamente,
após o que ele lhe ofereceu uma bela e fresca rosa vermelha.
Sussurrando: «A flor da paixão violenta e arrebatada,
a que tudo submete, que tudo consome, tudo incendeia!»
E nessa noite a melancolia desapareceu e a felicidade explodiu.
Dois corpos flamejantes abriram feridas na esperança e no medo.
Mais profundas que as abertas nas planícies por soldados e cavalos
porque estas, embora dolorosas, cicatrizam sempre mais tarde ou mais cedo.
Quando ela acordou de madrugada ele já tinha partido
mas deixara uma bela e fresca rosa branca a seu lado sobre o travesseiro.
Com um bilhete que dizia: «A flor do amor puro e eterno,
que vai além da vida e da morte por ser verdadeiro.»
* Napoleão Bonaparte
Hoje, 19 de Novembro de 2007, passam 200 anos sobre o início das invasões francesas de Portugal.
Poema (Nº 190) escrito em 1988 e incluído no meu livro «Alma Portuguesa».
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