Não é novidade que o maior problema que os autores
portugueses de Ficção Científica e Fantasia enfrentam desde... sempre é o muito
deficiente, se não mesmo reduzido e até inexistente, apoio editorial
(publicação e promoção) que recebem. Porém, tal constituí também um factor que,
apesar de ocasionais divergências e disputas que possam ocorrer, tem
contribuído para estabelecer e reforçar laços de solidariedade entre eles,
laços esses que são os fundamentos de uma comunidade onde a troca de
informações e de experiências é vital.
Na mesma lógica, e compreensivelmente, o contacto
com autores estrangeiros é tão ou mais importante do que o do com nacionais.
Nesse aspecto eu já tinha tido o privilégio de, mais do que comunicar
remotamente, falar pessoalmente com duas relevantes personalidades de outros
países que trabalham na FC & F. Uma é Gerson Lodi-Ribeiro, brasileiro, que
conheci em 2006 aquando do Fórum Fantástico realizado naquele ano, cujo
trabalho no sub-género da História Alternativa, expresso em várias obras notáveis
(romances, novelas e contos), foi uma influência decisiva na concepção e na
organização da antologia colectiva de contos «A República Nunca Existiu!», em
que ele, aliás, participou a meu convite, juntamente comigo e outros 11
escritores. A outra personalidade estrangeira a que aludi é Mariano Martín Rodriguez, este não um ficcionista mas sim um investigador, que me contactou
inicialmente em 2013 depois de tomar conhecimento da existência do meu livro
«Visões» e, em especial, do conto «Decreto-Lei Nº 54» nele incluído, que MMR
considerou poder enquadrar-se num estilo que ele designou de «fictoprescrição»;
viria a encontrar-me com ele em 2014 na Biblioteca Nacional de Portugal, quando
se deslocou àquela para efectuar pesquisas bibliográficas, uma ocasião que
também aproveitei para o apresentar a, entre outros, António de Macedo, Daniel
Tércio, João Barreiros e Luís Filipe Silva.
No final de 2023 recebi
uma mensagem de correio electrónico de um terceiro estrangeiro ligado à FC
& F através do meu segundo «e-ndereço», que ele encontrou depois de
descobrir e de ler artigos meus publicados no sítio da Simetria. Chama-se Heath
Row, é norte-americano e, profissionalmente, o seu currículo ao longo do tempo indica actividades no jornalismo, nas novas tecnologias e no marketing. Reside
a maior parte do ano na maior cidade da Califórnia, onde integra actualmente a
equipa dirigente da Sociedade de Fantasia Científica de Los Angeles como
escrivão («scribe»); numa menor parte do ano reside... em Portugal, mais
concretamente em Póvoa de Lanhoso, onde ele e a esposa compraram uma casa. Aqui
chegado, decidiu tentar saber quem é quem, e o que se faz, no nosso país em
matéria de FC & F. Em 2024 encontrámos-nos pessoalmente em duas ocasiões na
capital, a primeira em Abril no Festival Contacto (organizado pela Imaginauta na
Biblioteca de Marvila), e a segunda em Novembro no restaurante Alto Minho perto
da Praça do Marquês de Pombal, esta com a presença de Bruno Martins Soares, a
meu convite. Uma e outra foram mencionadas por HR no seu boletim digital/ezine
The StF Amateur, respectivamente nas edições de Junho (páginas 9 a 11) e de Janeiro (páginas 6 a 8) últimos. Este novo amigo americano adquiriu entretanto exemplares de
«Espíritos das Luzes» e de «Mensageiros das Estrelas», apenas duas das várias
obras, tanto antigas como modernas, que fazem parte da história da ficção especulativa portuguesa, de cuja existência o informei e cuja leitura lhe
sugeri. Também lhe dei uma lista de filmes baseados em livros de José Saramago,
alguns dos quais são produções de Hollywood, e um rol dos principais eventos do
género no nosso país, com destaque para o FantasPorto. Sendo Heath Row um
grande consumidor e divulgador de tudo o que é Ficção Científica e Fantasia
numa perspectiva multimédia, é de esperar que ele possa contribuir de algum
modo para dar maior visibilidade e valor, pelo menos nos EUA (o que já não
seria pouco), ao trabalho que uma comunidade artística diminuta, algo
deprimida, mas nunca desistente, teima em fazer neste pequeno «jardim à
beira-mar plantado» por vezes tão mal tratado.