sexta-feira, fevereiro 14, 2025

Outros: O amigo americano

Não é novidade que o maior problema que os autores portugueses de Ficção Científica e Fantasia enfrentam desde... sempre é o muito deficiente, se não mesmo reduzido e até inexistente, apoio editorial (publicação e promoção) que recebem. Porém, tal constituí também um factor que, apesar de ocasionais divergências e disputas que possam ocorrer, tem contribuído para estabelecer e reforçar laços de solidariedade entre eles, laços esses que são os fundamentos de uma comunidade onde a troca de informações e de experiências é vital.
Na mesma lógica, e compreensivelmente, o contacto com autores estrangeiros é tão ou mais importante do que o do com nacionais. Nesse aspecto eu já tinha tido o privilégio de, mais do que comunicar remotamente, falar pessoalmente com duas relevantes personalidades de outros países que trabalham na FC & F. Uma é Gerson Lodi-Ribeiro, brasileiro, que conheci em 2006 aquando do Fórum Fantástico realizado naquele ano, cujo trabalho no sub-género da História Alternativa, expresso em várias obras notáveis (romances, novelas e contos), foi uma influência decisiva na concepção e na organização da antologia colectiva de contos «A República Nunca Existiu!», em que ele, aliás, participou a meu convite, juntamente comigo e outros 11 escritores. A outra personalidade estrangeira a que aludi é Mariano Martín Rodriguez, este não um ficcionista mas sim um investigador, que me contactou inicialmente em 2013 depois de tomar conhecimento da existência do meu livro «Visões» e, em especial, do conto «Decreto-Lei Nº 54» nele incluído, que MMR considerou poder enquadrar-se num estilo que ele designou de «fictoprescrição»; viria a encontrar-me com ele em 2014 na Biblioteca Nacional de Portugal, quando se deslocou àquela para efectuar pesquisas bibliográficas, uma ocasião que também aproveitei para o apresentar a, entre outros, António de Macedo, Daniel Tércio, João Barreiros e Luís Filipe Silva.
No final de 2023 recebi uma mensagem de correio electrónico de um terceiro estrangeiro ligado à FC & F através do meu segundo «e-ndereço», que ele encontrou depois de descobrir e de ler artigos meus publicados no sítio da Simetria. Chama-se Heath Row, é norte-americano e, profissionalmente, o seu currículo ao longo do tempo indica actividades no jornalismo, nas novas tecnologias e no marketing. Reside a maior parte do ano na maior cidade da Califórnia, onde integra actualmente a equipa dirigente da Sociedade de Fantasia Científica de Los Angeles como escrivão («scribe»); numa menor parte do ano reside... em Portugal, mais concretamente em Póvoa de Lanhoso, onde ele e a esposa compraram uma casa. Aqui chegado, decidiu tentar saber quem é quem, e o que se faz, no nosso país em matéria de FC & F. Em 2024 encontrámos-nos pessoalmente em duas ocasiões na capital, a primeira em Abril no Festival Contacto (organizado pela Imaginauta na Biblioteca de Marvila), e a segunda em Novembro no restaurante Alto Minho perto da Praça do Marquês de Pombal, esta com a presença de Bruno Martins Soares, a meu convite. Uma e outra foram mencionadas por HR no seu boletim digital/ezine The StF Amateur, respectivamente nas edições de Junho (páginas 9 a 11) e de Janeiro (páginas 6 a 8) últimos. Este novo amigo americano adquiriu entretanto exemplares de «Espíritos das Luzes» e de «Mensageiros das Estrelas», apenas duas das várias obras, tanto antigas como modernas, que fazem parte da história da ficção especulativa portuguesa, de cuja existência o informei e cuja leitura lhe sugeri. Também lhe dei uma lista de filmes baseados em livros de José Saramago, alguns dos quais são produções de Hollywood, e um rol dos principais eventos do género no nosso país, com destaque para o FantasPorto. Sendo Heath Row um grande consumidor e divulgador de tudo o que é Ficção Científica e Fantasia numa perspectiva multimédia, é de esperar que ele possa contribuir de algum modo para dar maior visibilidade e valor, pelo menos nos EUA (o que já não seria pouco), ao trabalho que uma comunidade artística diminuta, algo deprimida, mas nunca desistente, teima em fazer neste pequeno «jardim à beira-mar plantado» por vezes tão mal tratado.