sábado, junho 14, 2025

Ocorrência: ... E, porém, existiram!

Quem visita o Octanas, regular ou ocasionalmente, e que neste ano de 2025 já «clicou» nas imagens das capas dos livros «A República Nunca Existiu!» e «Poemas» de Alfred Tennyson – que estão, com os outros que integram a minha bibliografia, na coluna à esquerda deste blog – deparou-se (e hoje continuará a depararar-se) com a mesma página de erro, no sítio na Internet da editora Saída de Emergência, que editou ambos: «Ups! Esta página não foi encontrada.» Não seria propriamente difícil adivinhar o motivo da eliminação das duas páginas, mas, apesar disso, enviei em Fevereiro último uma mensagem à SdE em que pedi a reposição daquelas, e recebi a seguinte resposta, assinada por Natacha Corte Real: «Os títulos referidos encontram-se descontinuados. Por esse motivo já não são comercializados no nosso site
Respondi, por minha vez, com argumentos... e factos que acreditava, e continuo a acreditar, serem indesmentíveis: «Sei perfeitamente que as obras referidas se encontram descontinuadas – ou seja, esgotadas, fora de circulação – há vários anos, e até hoje nunca recebi qualquer indicação de que a Saída de Emergência tenha a intenção de as reeditar. Porém, elas foram, e são, creio, pelas suas originalidade e qualidade, trabalhos importantes, tanto para mim como para a vossa editora, pelo que se trata de reconhecer a sua existência, de não as “apagar”. Aliás, e passado todo este tempo desde que foram lançadas, ainda regularmente as divulgo e as menciono – inclusive a estrangeiros – sempre que as ocasiões e as circunstâncias o permitem e o justificam, pelo que seria, e é, fundamental que continuassem activas as páginas respectivas no sítio da SdE – o que aconteceu, saliento, até à recente reformulação daquele – para que eu pudesse continuar a fazer essa promoção da melhor forma possível, mesmo que actualmente só possam ser encontradas em bibliotecas (públicas e privadas).» «Tal decisão da vossa parte é não só prejudicial para mim mas também, e talvez mais, para a editora. Porque, e obviamente que eu já verificara isso, não são apenas aqueles meus livros que foram “apagados”: muitos outros publicados pela SdE nos últimos 20 anos, e que são indiscutivelmente obras de referência no panorama da Ficção Científica e Fantástico em Portugal, entretanto esgotadas e/ou fora de circulação, já não dispõem igualmente de páginas próprias na principal “morada digital” da Saída de Emergência. Exemplos? Além de “A República...”, outras antologias colectivas de contos originais como “A Sombra Sobre Lisboa”, “Lisboa no Ano 2000” e “Os Anos de Ouro da Pulp Fiction Portuguesa”, “A Saga de Alex 9” de Bruno Martins Soares, “A Galxmente” de Luís Filipe Silva, vários volumes de David Soares dos quais se destacam “A Conspiração dos Antepassados”, “Lisboa Triunfante” e “O Evangelho do Enforcado”. Títulos como estes fizeram da SdE a mais importante editora no âmbito da FC & F nacional contemporânea, a par da Editorial Caminho e da sua “Colecção Azul”. É por isto que não consigo compreender porque é que a vossa casa opta deliberadamente por ocultar a sua história e, logo, por diminuir e até negar a importância do excelente trabalho que desenvolveu. É compreensível que o vosso sítio na Internet funcione principalmente como loja, para promoção e venda do que existe correntemente, dos livros que estão disponíveis. Porém, não duvido de que manter em permanência a memória dos que já integraram o vosso catálogo constitui(ria) uma função igualmente fundamental.»
Todos os meus esforços revelaram-se infrutíferos, os meus «apelos» não foram atendidos, e, assim, a Saída de Emergência tornou-se a segunda editora que deixou de mostrar em espaço (digital) próprio um livro meu que publicou – aliás, e neste caso, são dois livros. A primeira foi a Hugin, que lançou em 2003 a minha obra de estreia, «Visões», e que cessou de a divulgar porque faliu e encerrou poucos anos depois. A SdE, pelo contrário, por enquanto, e felizmente, continua (bem) viva. O que também permitiu ao seu fundador e editor principal, Luís Corte Real, iniciar uma carreira de autor, em que são evidentes e indesmentíveis as influências de algumas obras que publicou previamente, em especial as colectâneas de contos concebidas e organizadas por mim, por Luís Filipe Silva e por João Barreiros. E, nesse âmbito, atente-se principalmente na série «Lisboa Noir» e nos textos e nas imagens que a promovem: «Bem-vindos a um Portugal que nunca existiu», em que grandes dirigíveis voam sobre a capital e outras cidades; «uma homenagem divertida e emocionante à ficção pulp dos anos 30, aos policiais dos anos 40, ao cinema noir dos anos 50 e à era dourada dos comics dos anos 60»; «como seria Portugal se D. Miguel tivesse vencido a guerra civil?». Será interessante verificar se e quando forem «descontinuados», por estarem esgotados e não forem reimpressos ou reeditados, os livros de LCR serão também «apagados» (ou não) do sítio da sua editora.  

terça-feira, maio 13, 2025

Observação: A nação, em vésperas de outra eleição

No próximo dia 18 de Maio decorrerá em Portugal mais uma eleição legislativa, para a Assembleia da República. E antecipada, causada pela rejeição naquela, a 11 de Março último (exactamente no dia em que se assinalavam os 50 anos de uma alegada tentativa de golpe de Estado «contra-revolucionário»), de uma moção de confiança apresentada pelo governo de coligação AD (PSD e CDS) presidido por Luís Montenegro. Que é, sim, o culpado por esta mais recente crise política porque recusou a formação de uma comissão parlamentar de inquérito que teria como objectivo investigar uma possível situação de incompatibilidade entre a Spinumviva, a sua empresa de consultoria, e o seu cargo de primeiro-ministro.
Que acontecimentos, que factos, que problemas verificados nas últimas semanas e até nos últimos meses, indicativos talvez do (mau) estado da Nação, podem e devem ser destacados antes desta ida às urnas (de votos)? O «apagão» ocorrido a 28 de Abril, que deixou Portugal e Espanha sem electricidade durante mais de 12 horas, e que resultou do colapso do sistema energético do país vizinho, que assenta em demasia nas chamadas «renováveis», claramente insuficientes para as necessidades básicas, mas ainda assim prioritárias para os cultistas fanáticos que acreditam nas mentiras do «aquecimento global antropogénico» e da «crise climática», os mesmos que no nosso país conseguiram que fossem encerradas as centrais termo-eléctricas do Carregado e de Sines, assim aumentando a nossa dependência em relação a «nuestros hermanos». A greve de uma semana na Comboios de Portugal, metade da qual sem quaisquer serviços mínimos, e que dificultou ou mesmo impediu a deslocação de milhares de pessoas para as suas casas e locais de trabalho, convocada futilmente perante um governo de gestão, logo impossibilitado de atender às reivindicações contínuas de funcionários privilegiados cujo reiterado comportamento irresponsável justifica cada vez mais a restrição e até a eliminação do direito de greve no sector público. A imigração em massa, crescente e descontrolada, causa de colapsos na saúde, na educação, na segurança e na habitação, mais grave e mais perigosa quando protagonizada por muçulmanos que uma e outra vez demonstram a sua hostilidade permanente para com sociedades cristãs, mas que encontram nos esquerdistas nacionais os cordatos colaboracionistas nos seus ensejos expansionistas, serviçais sabujos que não hesitaram em hastear no Castelo de São Jorge em Lisboa, um símbolo máximo da fundação da nacionalidade conseguida em grande parte contra todo o Islão, uma bandeira de terroristas neo-nazis anti-semitas, um ultraje supremo que em pouco ou nada se distingue de alta traição.
Tudo o que acima foi mencionado comprova qual é, em última análise, o principal problema deste país, e que não é novo: a preocupante falta de competência e de coragem por parte de quem, em princípio, está mandatado para lidar de forma firme com criminosos de diferentes proveniências e características, criminosos esses que incluem os atrevidos «ocupas» de propriedades alheias (que a polícia, vá-se lá saber porquê, não tem poder para expulsar) e os eco-extremistas anti-progressistas da Climáximo e do Fim ao Fóssil, que um dia irão descobrir de um modo muito, muito desagradável que nem todos os seus potenciais «alvos» são cobardes ao ponto de pacificamente se deixarem «pintar». Entretanto, prossegue a acelerada destruição da ortografia, e, por arrastamento, da língua e da cultura nacionais por via de um «acordo» concebido e imposto por deficientes mentais que acreditam que há «uniformização» quando – num exemplo entre vários – no Brasil se continua a escrever «recepção» e em Portugal se tornou «obrigatório» escrever «receção». Enfim, são coisas a considerar quando no domingo se for votar.     

quarta-feira, abril 30, 2025

Olhos e Orelhas: Primeiro Quadrimestre de 2025

A literatura: «Erótica Universalis - De Pompeia a Picasso», Gilles Néret; «Tatuagem - Colecção Privada da Arte e dos seus Fazedores, 1730-1970, de...» Henk Schiffmacher (Noel Daniel, ed.); «Brinquedos - 100 Anos de Anúncios de Brinquedos Todo-Americanos» e «Anúncios Todo-Americanos - 80's», Jim Heimann (org.) e Steven Heller (intro.); «A Arte da Alfinetada», Dian Hanson (com Louis K. Meisel e Sarah Jane Blum); «Cartazes Chineses de Propaganda», Max Gottschalk (Anchee Min, Duo Duo e Stefan R. Landsberger, intro.).
A música: «O Melhor Dos Melhores...», Herminia Silva; «Underground», Thelonious Monk; «Live At The Fillmore '68», Santana; «Yellow Submarine», Beatles; «Songs From A Room», Leonard Cohen; «Tinta Permanente», Sérgio Godinho; «Cure For Pain», Morphine; «Hell Freezes Over», Eagles; «The Great Escape», Blur; «Läther», Frank Zappa; «Horas Vazias», Camané; «Sour», Olivia Rodrigo; «Patient Number 9», Ozzy Osbourne; «Scarlet», Doja Cat; «One Assassination Under God - Chapter 1», Marilyn Manson; «Israel In Egypt», George Frideric Handel (por Alan Watt, Elizabeth Gale, Ian Partridge, James Bowman, Lillian Watson e Tom McDonnell, com o Coro da Catedral da Igreja de Cristo e a Orquestra de Câmara Inglesa dirigidos por Simon Preston); «Symphonien (Nº 44, Nº 48, Nº 49)», Joseph Haydn (pela Orquestra de Câmara Inglesa dirigida por Daniel Barenboim).
O cinema: «O Filme dos Super Irmãos Mário», Aaron Horvath e Michael Jelenic; «Guy Livre», Shawn Levy; «Caça-Fantasmas - Império Congelado», Gil Kenan; «Perdidos no Espaço», Stephen Hopkins; «Homem Gémeo», Ang Lee; «Batalha Real», Kinji Fukasaku; «O Clarão», Andy Muschietti; «Homem-Formiga e Vespa - Quantumania», Peyton Reed; «Pantera Negra - Wakanda Para Sempre», Ryan Coogler; «Morbius», Daniel Espinosa; «Hotel Transilvânia 3 - Umas Férias Monstruosas», Genndy Tartakovsky; «Qualquer um Menos tu», Will Gluck; «Sem Ressentimentos», Gene Stupnitsky; «Uma pelo Dinheiro», Julie Anne Robinson; «Admissão», Paul Weitz; «Cinco Dias, Cinco Noites», José Fonseca e Costa; «Telstar - A História de Joe Meek», Nick Moran; «O que Tem o Amor a ver com Isso», Brian Gibson; «Girando Ouro», Timothy Scott Bogart; «Esquisito - A História de Al Yankovic», Eric Appel; «20 Dias em Mariupol», Mstyslav Chernov; «Homem em Baixa», Dito Montiel; «O Convénio», Guy Ritchie; «Terra do Tigre», Joel Schumacher; «H. C. M. E.», Robert Altman; «O Barco», Wolfgang Petersen; «Ruas de Fogo», Walter Hill.
E ainda...: CBS/STAR Comedy - (série televisiva de ficção) «Dois Homens e Meio (primeira, segunda e terceira temporadas)»; «Se vincitor tu sei» (ária inédita de Francisco António de Almeida, em concerto, a 22 de Novembro de 2024, no Museu do Dinheiro gravado e emitido pela RDP-Antena2), Os Músicos do Tejo; TF1/STAR Crime - (série televisiva de ficção) «Mercato (primeira temporada)»; Arquivo Nacional Torre do Tombo - exposição (virtual) «Bartolomeu Lourenço de Gusmão e a Passarola»; «Good 4 U», (vídeo musical de ) Olivia Rodrigo; CBS/SyFy - (série televisiva de ficção) «Pessoa de Interesse (segunda, terceira e quarta temporadas)»; Everything Is New/Lenny Kravitz - «Blue Electric Light Tour (primeira parte, Amaura)» - Meo Arena, 2025/4/8; Museu do Neo-Realismo - exposição «Resistir! - Os Portugueses no Sistema Concentracionário do III Reich» + exposição «Onde Estão Elas? Mulheres Artistas na Colecção do Museu do Neo-Realismo» + exposição «Uma guitarra com gente dentro - Carlos Paredes e o Neo-Realismo» + vídeo-instalação (de Alexandre Lyra Leite) «She´s Lost Control»; Autódromo do Estoril/Classic Team Lotus - (exposição sobre os) 40 anos da primeira vitória de Ayrton Senna na Fórmula 1 (Grande Prémio de Portugal, 1985). 

quarta-feira, abril 16, 2025

Ordenação: 20 filmes (nova versão)

Foi há quase 20 anos, em Agosto de 2005, que publiquei aqui no Octanas a primeira versão da minha lista dos 20 filmes «inesquecíveis, que me impressiona(ra)m, que me marca(ra)m, que me influencia(ra)m». Mas então também fiz a ressalva de que essa lista não era necessariamente definitiva. E, efectivamente, duas décadas depois decidi fazer uma alteração, isto é, um filme «saiu» para outro «entrar». Ei-los, por ordem cronológica e com os realizadores respectivos: «The Crowd» (1928), King Vidor; «A Canção de Lisboa» (1933), Cottinelli Telmo; «The Great Dictator» (1940), Charles Chaplin; «O Pátio das Cantigas» (1942), Francisco Ribeiro; «It’s a Wonderful Life» (1946), Frank Capra; «North by Northwest» (1959), Alfred Hitchcock; «Ben-Hur» (1959), William Wyler; «The Sound of Music» (1965), Robert Wise; «2001: A Space Odyssey» (1968), Stanley Kubrick; «Roma» (1972), Federico Fellini; «O Rei das Berlengas» (1978), Artur Semedo; «Apocalypse Now» (1979), Francis Ford Coppola; «Excalibur» (1981), John Boorman; «Raiders of the Lost Ark» (1981), Steven Spielberg; «Blade Runner» (1982), Ridley Scott; «Aliens» (1986), James Cameron; «The Abyss» (1989), James Cameron; «Terminator 2: Judgement Day» (1991), James Cameron; «Titanic» (1997), James Cameron; «Inception» (2010), Christopher Nolan.

quarta-feira, abril 02, 2025

Ocorrência: 20 anos de «combustão»

Hoje assinala-se, e celebra-se, o vigésimo aniversário do início do Octanas. Este blog constitui o meu mais prolongado, contínuo, constante, projecto de sempre. São duas décadas de actualizações regulares, no mínimo mensais, e sem falhar um único mês. É a minha página oficial, principal, o sítio central em que podem ser encontradas as informações fundamentais – menos as privadas, obviamente – sobre mim e as minhas actividades, e as minhas opiniões...
... E tem a sua origem, e a sua justificação, na publicação do meu primeiro livro, «Visões», em 2003, e da necessidade que então senti de ter um espaço próprio na Internet que servisse de canal de comunicação privilegiado para divulgar não só aquela minha primeira obra editada mas também outras que se seguissem. E porque, por motivos financeiros e técnicos, outras soluções não me pareceram as mais adequadas então, acabei, após um atraso de quase dois anos, por optar por utilizar a plataforma Blogger. O nome surgiu-me de repente, numa inspiração súbita, mas obviamente influenciado pela semelhança com o meu nome, e ainda pelo grafismo que escolhi, e que sempre foi o mesmo, o dos círculos. Depressa decidi que Abril seria o mês de estreia, mas nem consegui esperar pelo dia do meu aniversário; e como dia 1 é o das mentiras, o primeiro post é do dia 2, com um dos meus poemas – que, pelo tema, considerei ser o adequado para marcar o início desta aventura – e o segundo, no dia 7, teve outro poema, este marcando uma efeméride de 200 anos na data exacta; no dia 16 foram nem mais nem menos do que seis entradas, uma delas com o prefácio escrito por António de Macedo para «Visões». Entretanto, igualmente à partida decidi que o título de cada texto seria antecedido de uma palavra – designando uma categoria, ou assunto – começada por «O»; e que as designações das secções, à esquerda, de igual modo começariam por «O». Uma... opção estética que serve também de marca distintiva, diferenciadora, e que dá consistência, coerência, a todo este percurso que já leva 20 anos...
... E que, contando com este, soma um total de 819 posts publicados, que variam entre «muitos factos e algumas ficções, potencialmente “inflamáveis”». Aquele com o maior número de visualizações – 5758, no momento em que escrevo – é, como revelei no mês passado, um que viu a luz em Novembro último. Mais do que um exercício em egocentrismo, que inevitável e compreensivelmente é, o Octanas tem constituído também, ocasionalmente e sempre que se justifica, um esforço de empatia quando nele são destacadas outros indivíduos e outras instituições, as suas posições e as suas produções. Seja como for, e em última instância, só posso esperar que algo de positivo, algo de útil, tenha resultado deste trabalho. O qual, sim, tenho a intenção de manter, apesar de as minhas ilusões com uma «carreira» de alguma importância e alguma influência já terem desaparecido. 

quinta-feira, março 13, 2025

Outros: Ainda mais «verdejantes»

A 4 de Novembro último assinalei os 40 anos da morte do meu pai aqui, no Octanas, com um texto a que dei o título de «Verdes são», em que o evoquei, referi episódios sobre a sua vida (e a minha) e especulei sobre o que ele poderia ter pensado e/ou feito a propósito de acontecimentos nacionais e internacionais que ocorreram após o seu falecimento. Hoje, dia em que ele completaria 86 anos de idade se ainda fosse vivo, parece-me ser o momento adequado para voltar ao tema e àquele meu texto, antes de mais por causa de um facto relativo a ele, que não esperava de todo, e que muito me surpreende(u): o seu notável e, para as minhas circunstâncias, enorme sucesso; no instante em que publico isto, (a página específica de) «Verdes são» tem mais de 4500 visualizações (4588, para ser mais exacto)...
... Pelo que o número total, verdadeiro, até deverá ser superior, se considerarmos as leituras feitas através da página principal deste blog. Trata-se de um registo bem elevado para alguém cujas «postas» habitualmente recebem visitas entre as muitas dezenas e as poucas centenas; algumas, não muitas, passaram o milhar, mas essas foram excepções à «norma». Obviamente, este meu texto mereceu o interesse e a atenção de muitas, mas mesmo de muitas pessoas... que não sei quem são; as únicas reacções de que tenho conhecimento vieram de familiares, de que são exemplos os dois únicos comentários feitos até agora. A divulgação do texto terá sido feita principalmente por correio electrónico e, talvez, também por Facebook, mas não tenho certezas, provas, quanto a isso. De alguma forma o conteúdo de «Verdes são» teve «ecos» prolongados em bastantes mentes (e corações?), mas espero sinceramente que tal tenha acontecido não apenas pela «bizarria» de um homem que, quase aos 60 anos, deixou de ser adepto do Benfica para passar a sê-lo do Sporting. Seja como for, expresso a minha profunda gratidão a todos os que o leram e que o recomendaram...
... E decidi, como um modo adicional de agradecimento, proceder ao aumento do texto original; resolvi fazer, digamos, uma espécie de «edição especial». Pelo que inseri um novo parágrafo e cinco frases nos parágrafos existentes, e em itálico para que melhor se perceba onde estão e quais são as diferenças, que espero que sejam igualmente apreciadas. Nem sempre maior equivale a melhor, mas tentei que neste caso assim fosse. Continuo receptivo a comentários e a perguntas. E esclareço que, sim, o título é uma alusão ao poema de Luís de Camões.  

sexta-feira, fevereiro 14, 2025

Outros: O amigo americano

Não é novidade que o maior problema que os autores portugueses de Ficção Científica e Fantasia enfrentam desde... sempre é o muito deficiente, se não mesmo reduzido e até inexistente, apoio editorial (publicação e promoção) que recebem. Porém, tal constituí também um factor que, apesar de ocasionais divergências e disputas que possam ocorrer, tem contribuído para estabelecer e reforçar laços de solidariedade entre eles, laços esses que são os fundamentos de uma comunidade onde a troca de informações e de experiências é vital.
Na mesma lógica, e compreensivelmente, o contacto com autores estrangeiros é tão ou mais importante do que o do com nacionais. Nesse aspecto eu já tinha tido o privilégio de, mais do que comunicar remotamente, falar pessoalmente com duas relevantes personalidades de outros países que trabalham na FC & F. Uma é Gerson Lodi-Ribeiro, brasileiro, que conheci em 2006 aquando do Fórum Fantástico realizado naquele ano, cujo trabalho no sub-género da História Alternativa, expresso em várias obras notáveis (romances, novelas e contos), foi uma influência decisiva na concepção e na organização da antologia colectiva de contos «A República Nunca Existiu!», em que ele, aliás, participou a meu convite, juntamente comigo e outros 11 escritores. A outra personalidade estrangeira a que aludi é Mariano Martín Rodriguez, este não um ficcionista mas sim um investigador, que me contactou inicialmente em 2013 depois de tomar conhecimento da existência do meu livro «Visões» e, em especial, do conto «Decreto-Lei Nº 54» nele incluído, que MMR considerou poder enquadrar-se num estilo que ele designou de «fictoprescrição»; viria a encontrar-me com ele em 2014 na Biblioteca Nacional de Portugal, quando se deslocou àquela para efectuar pesquisas bibliográficas, uma ocasião que também aproveitei para o apresentar a, entre outros, António de Macedo, Daniel Tércio, João Barreiros e Luís Filipe Silva.
No final de 2023 recebi uma mensagem de correio electrónico de um terceiro estrangeiro ligado à FC & F através do meu segundo «e-ndereço», que ele encontrou depois de descobrir e de ler artigos meus publicados no sítio da Simetria. Chama-se Heath Row, é norte-americano e, profissionalmente, o seu currículo ao longo do tempo indica actividades no jornalismo, nas novas tecnologias e no marketing. Reside a maior parte do ano na maior cidade da Califórnia, onde integra actualmente a equipa dirigente da Sociedade de Fantasia Científica de Los Angeles como escrivão («scribe»); numa menor parte do ano reside... em Portugal, mais concretamente em Póvoa de Lanhoso, onde ele e a esposa compraram uma casa. Aqui chegado, decidiu tentar saber quem é quem, e o que se faz, no nosso país em matéria de FC & F. Em 2024 encontrámos-nos pessoalmente em duas ocasiões na capital, a primeira em Abril no Festival Contacto (organizado pela Imaginauta na Biblioteca de Marvila), e a segunda em Novembro no restaurante Alto Minho perto da Praça do Marquês de Pombal, esta com a presença de Bruno Martins Soares, a meu convite. Uma e outra foram mencionadas por HR no seu boletim digital/ezine The StF Amateur, respectivamente nas edições de Junho (páginas 9 a 11) e de Janeiro (páginas 6 a 8) últimos. Este novo amigo americano adquiriu entretanto exemplares de «Espíritos das Luzes» e de «Mensageiros das Estrelas», apenas duas das várias obras, tanto antigas como modernas, que fazem parte da história da ficção especulativa portuguesa, de cuja existência o informei e cuja leitura lhe sugeri. Também lhe dei uma lista de filmes baseados em livros de José Saramago, alguns dos quais são produções de Hollywood, e um rol dos principais eventos do género no nosso país, com destaque para o FantasPorto. Sendo Heath Row um grande consumidor e divulgador de tudo o que é Ficção Científica e Fantasia numa perspectiva multimédia, é de esperar que ele possa contribuir de algum modo para dar maior visibilidade e valor, pelo menos nos EUA (o que já não seria pouco), ao trabalho que uma comunidade artística diminuta, algo deprimida, mas nunca desistente, teima em fazer neste pequeno «jardim à beira-mar plantado» por vezes tão mal tratado. 

quarta-feira, janeiro 15, 2025

Opinião: Pateada para o Panteão

Infelizmente, aconteceu: após vários anos de confrontos e de diferendos que incluiram decisões em tribunais, os restos mortais de José Maria Eça de Queiroz foram oficialmente transferidos, trasladados, para o Panteão Nacional, em Lisboa, no passado dia 8 de Janeiro. Mas dificilmente a controvérsia e o debate terão terminado.
Eu, que concebi e co-organizei congressos em 2019 e em 2021 dedicados ao criador de «O Primo Basílio», «A Relíquia» e o «Os Maias», sinto-me com mais autoridade para criticar, para condenar, esta iniciativa: para o Panteão, esse mórbido «depósito de celebridades» do regime, vai a minha mais sonora... pateada. E o facto de terem coberto o caixão de Eça de Queiroz com o «ignóbil trapo» (Fernando Pessoa o disse), estandarte de terroristas e de assassinos, regicidas e criminosos, representou o pior numa cerimónia, e num processo, já de si demasiado indignos. José Maria era monárquico, anti-republicano; os seus filhos combateram, com armas, muito bem e honrosamente, o regime ilegítimo saído do golpe de Estado de 5 de Outubro de 1910. Pelo que «embrulhá-lo» naquele «casulo» infame foi como cuspir em cima dele e de todos os seus descendentes.
No seu blog Horas Extraordinárias Maria do Rosário Pedreira escreveu, em tom fantasista, que Eça agora «poderá ter interessantíssimas conversas com Sophia (de Mello Breyner Andresen) (...) apesar de para já estar sozinho numa sala». Comentando no mesmo tom, eu diria que ele sem dúvida preferiria permanecer no cemitério de Santa Cruz do Douro, onde não estava só pois repousava ao lado da filha, com quem teria certamente diálogos mais enternecedores. Aliás, o que mais espanta nesta anunciada e concretizada profanação de sepultura é a deslealdade – para não usar uma palavra mais forte começada por «t» - de alguns indivíduos e instituições em Baião, a começar por José Luís Carneiro, socialista que foi presidente da câmara daquela vila, ministro de António Costa e agora deputado, e a terminar na Fundação Eça de Queiroz (esta, sim, «sempre a mexer», mas nem sempre no melhor sentido) e no actual, imaturo, presidente daquela. Porquê tirar o autor de «A Cidade e as Serras» de perto do local, de Tormes, que lhe inspirou a criação daquela obra? O que poderá levar pessoas aparentemente sensatas a «darem tiros nos pés», se não os seus próprios, então os da terra à qual, em princípio, deveriam maior fidelidade? Apenas granjear alguns favores junto de pseudo-elitistas e «burrocratas» instalados n'A Capital?
Enfim, porquê ficar por aqui? Porque não continuar a roubar escritores aos locais em que têm as suas últimas (?), escolhidas, moradas? Por exemplo, Fialho de Almeida a Cuba? Florbela Espanca a Vila Viçosa? Camilo Castelo Branco – cujo bicentenário do nascimento se celebra neste ano de 2025 – ao Porto, apesar de, ele sim e curiosamente, ter nascido em Lisboa? A abusiva e ofensiva apropriação dos ossos de Eça de Queiroz constitui apenas mais uma ilustração, mais uma confirmação, de uma das hipocrisias fundamentais da sociedade portuguesa contemporânea, a que concerne à desigualdade entre o litoral e o interior, à oposição entre núcleos urbanos e áreas rurais; que depois os «suspeitos do costume» não venham queixar-se da falta de regionalização e do centralismo olissiponense.

terça-feira, dezembro 31, 2024

Olhos e Orelhas: Terceiro Quadrimestre de 2024

A literatura: «Quarta-Feira de Cinzas», «Livro do Velho Gambá Sobre Gatos Práticos» e «A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock», T. S. Eliot; «O Aleph», Jorge Luis Borges; «A Casa da Azenha», Vítor Péon; «Michel Vaillant - Paris-Argel-Dakar», «(...) - Steve e Julie» e «(...) - Mostra de Corrida», Jean Graton; «Cancioneiro de Natal», David Mourão Ferreira (Ana Esquível, fotografias); «Os Três Reis do Oriente», Sophia de Mello Breyner Andresen (Fátima Afonso, ilustrações); «Anjos esgaravatando por alfinetes», David Soares.  
A música: «Fora De Moda», Rui Veloso; «Secret Messages», Electric Light Orchestra; «New Sensations», Lou Reed; «... Meets The Mothers Of Prevention», Frank Zappa; «Live Magic», Queen; «Chorinho Feliz», Maria João e Mário Laginha; «Golden State», Bush; «Let Go», Avril Lavigne; «HoboSapiens», John Cale; «Old Friends - Live On Stage», Simon & Garfunkel; «Canta Marceneiro», Camané; «Don't Smile At Me», Billie Eilish; «Raise Vibration», Lenny Kravitz; «Thanks For The Dance, Leonard Cohen; «Folklore», Taylor Swift; «Solomon», George Frideric Handel (por Anthony Johnson, Barbara Hendricks, Carolyn Watkinson, Della Jones, Joan Rodgers, Nancy Argenta e Stephen Varcoe, com o Coro Monteverdi e os Solistas Barrocos Ingleses dirigidos por John Eliot Gardiner); «Symphonien (Nº 94, Nº 100)», Joseph Haydn (pela Orquestra Filarmónica de Londres dirigida por Georg Solti). 
O cinema: «Corrida Pela Glória - Audi vs. Lancia», Stefano Mordini; «Grande Turismo», Neill Blomkamp; «Tiro à Queima-Roupa», Franziska Stunkel; «Sonho Diurno da Idade da Lua», Brett Morgen; «Priscilla», Sofia Coppola; «Sendo os Ricardos», Aaron Sorkin; «O Meu Nome é Alfred Hitchcock», Mark Cousins; «Abandonados», Francisco Manso; «Uma Vida», James Hawes; «Ó Irmão, Onde Estais?», Joel Coen; «Marlowe», Neil Jordan; «Aliado», Robert Zemeckis; «Salão Kitty», Tinto Brass; «Amesterdão», David O. Russell; «Haverá Sangue», Paul Thomas Anderson; «Terror na Pradaria», Michael Polish; «Os Irmãos Sisters», Jacques Audiard; «1911», Zhang Li; «Esquina Vermelha», Jon Avnet; «Capitão Phillips», Paul Greengrass; «Som de Liberdade», Alejandro Monteverde; «O das 15.17 para Paris», Clint Eastwood; «Nossa Senhora Arde», Jean-Jacques Annaud; «Paz, Amor e Desentendimento», Bruce Beresford; «Junípero», Matthew J. Saville; «A Baleia», Darren Aronofsky; «Um Homem Chamado Otto», Marc Forster; «O Homem com 100 Anos de Idade que Saiu pela Janela e Desapareceu», Felix Herngren; «Casa da Estrada», Rowdy Herrington; «Uma Semana», Buster Keaton.
E ainda...: ABC/AXN - (série televisiva de ficção) «O Novato (quinta e sexta temporadas)»; Museu do Neo-Realismo - exposição de fotografia «A Família Humana - Paralelos e Contrapontos» + exposição «Mário Soares e o Neo-Realismo» + instalação de Luciana Fina «O móvel e o imóvel»; Câmara Municipal de Vila Franca de Xira - exposição «António - 50 anos de humores» (Celeiro da Patriarcal, Biblioteca Municipal de VFX-Fábrica das Palavras e MdN-R) + BF24-Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira 2024 (Celeiro da Patriarcal e Biblioteca Municipal de VFX-Fábrica das Palavras); TF1/AXN - (série televisiva de ficção) «Alto Potencial Intelectual (quarta temporada)»; FNAC - exposição «Maratona Fotográfica FNAC 2024» (Chiado); «One Assassination Under God», (vídeo musical de) Marilyn Manson; RTP - (documentário) «Visita Guiada - Museu Nacional de Soares dos Reis»;  «Along Comes a Woman», (vídeo musical dos) Chicago; Canal História - (documentário) «Alienígenas Antigos - Alimento dos Deuses»; Biblioteca Nacional de Portugal - exposição «A Ideia, 50 anos - Revista de cultura libertária» + exposição «No reino de O'Neill» + mostra «Histórias da história da Biblioteca Nacional - Tempos difíceis (1918-1923)» + mostra «Bartolomeu de Gusmão - Um cientista polémico».

quinta-feira, dezembro 12, 2024

Ocorrência: Mais um prémio com o nome de JMG

Há um novo prémio literário com o nome de – e em honra e em memória de – um já (infelizmente) falecido professor e investigador universitário português que, na década de 90 do século passado, e como Ministro da Ciência e da Tecnologia, foi o principal responsável pela definição e pela concretização de várias políticas e de iniciativas tendentes à construção de uma sociedade da informação, assentes em novas tecnologias digitais e reunindo entidades públicas e privadas. Trata-se do Prémio Literário de Ficção Científica (José) Mariano Gago, numa organização da associação Era Uma Voz.
O prémio, no valor de 2500 euros, tem «o obje(c)tivo de homenagear José Mariano Gago, através da criação literária na área da ficção científica, associando este género literário a uma personalidade absolutamente determinante na vida cultural, política e científica nacionais. É um estímulo aos escritores para explorarem novas fronteiras da imaginação e de visões de futuro, numa ligação entre a ciência, a literatura e o pensamento, em honra do seu legado visionário.» Os textos, inéditos, com um mínimo de 15 mil e um máximo de 20 mil palavras, podem ser submetidos até 31 de Março de 2025.
Será relevante recordar que já existiu um primeiro Prémio Literário José Mariano Gago, em 2018, com outras características e promovido por outra entidade, e ao qual eu concorri com o meu livro «Nautas», mas que veio a revelar-se ser um projecto pervertido, como relatei aqui e aqui, e que por isso, em última instância, acabou por manchar o legado do homem a quem supostamente se pretendia prestar tributo. Esperemos que agora, com este novo galardão, tal não aconteça; e desta vez não concorrerei, mas apenas porque não possuo uma obra com as características exigidas pelo regulamento.

segunda-feira, novembro 04, 2024

Outros: Verdes são

(Adenda: texto aumentado - com novos segmentos a itálico - a 13 de Março de 2025.
Hoje, 4 de Novembro de 2024, passam exactamente 40 anos desde a morte do meu pai, José Manuel Dias dos Santos. Um dos acontecimentos mais marcantes – aliás, numa certa perspectiva, talvez mesmo o mais marcante – da minha vida, pelo profundo impacto e pelas enormes consequências que nela teve. Poder-se-á contrapor que o falecimento de um progenitor é algo de natural e de previsível, para o qual devemos estar, mesmo que inconscientemente, sempre preparados. Sim, sem dúvida; mas há que reconhecer também que esse cenário inevitável toma contornos muito diferentes quando o funesto desaparecimento acontece prematuramente, aos 45 anos de idade. Para melhor contextualizar a perda, eu tinha 19 anos e o meu irmão 12.
Nestas quatro décadas que entretanto passaram nunca deixei de me lembrar do, e de pensar no, meu pai constantemente. De duas formas, ou em dois sentidos: por um lado, interrogando-me sobre o que ele acharia de factos importantes que ocorreram em Portugal e no Mundo, e das figuras que os protagonizaram; e, por outro lado, especulando sobre qual teria sido a própria evolução pessoal dele, em especial nos aspectos ideológico e profissional. O meu pai, à semelhança de outros, ficaria surpreendido pela ascensão à Presidência da República de Mário Soares, primeiro, e de Cavaco Silva, depois, além de pelos dez anos em que o ex-ministro das Finanças de Francisco Sá Carneiro foi primeiro-ministro; teria ainda, acredito, testemunhado com expectativa a adesão do nosso país à Comunidade Económica Europeia e as mudanças radicais que aquela induziu; observado com entusiasmo a realização da Expo 98 e a concomitante renovação urbana da zona oriental de Lisboa; assistido, entre espanto e terror, à queda do Muro de Berlim, ao fim da União Soviética e aos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001. A um nível individual prefiro imaginar que também se afastaria progressivamente do Partido Comunista Português, em que ambos militámos (eu na JCP), mas é provável que não tivesse ido tão longe quanto o filho mais velho, que se tornou monárquico e de direita; utilizaria com progressiva desenvoltura as novas tecnologias, o computador pessoal e a Internet, o Multibanco e a Via Verde, os automóveis híbridos (mas talvez não os eléctricos); e não duvido de que, a dado momento, ter-se-ia tornado empresário e lançado o seu próprio, bem sucedido, negócio, porque espírito de iniciativa e competência técnica não lhe faltavam, de que é um exemplo o ter sido o fundador principal da cooperativa de consumo UniPovo, em Alverca - outro, de quem era amigo, foi Josué Romão, que durante demasiados anos esteve preso no campo do Tarrafal.
Foi essa capacidade de trabalho que lhe permitiu superar uma infância e uma adolescência humildes, e alcançar uma situação financeira minimamente estável que lhe possibilitou constituir família. Todavia, o empenho no emprego nunca lhe tirou o interesse em aumentar o seu enriquecimento cultural nas horas nas horas (não necessariamente) vagas. Os seus gostos em literatura, música e cinema exerceram em mim uma grande influência. Admirador de Albert Camus, adquiriu vários livros do aclamado escritor francês, um dos quais - «A Queda» - é um dos (20) livros da minha vida; também o era de Ian Fleming e de Irving Wallace, autores também com vários volumes lá em casa; «My Sweet Lord», de George Harrison, era tocado constantemente no nosso gira-discos, o que incentivou, «recuando», à (re)descoberta dos Beatles; ao serviço da empresa em que exerceu funções de direcção deslocava-se com regularidade a Londres, de onde trouxe, a meu pedido, diversos discos - quatro deles, dos Doors, Joy Division, Talking Heads e Siouxsie & The Banshees, integram o meu «top 20» pessoal; levou-me a ver, no (depois desactivado) cinema Berna, «2001, uma Odisseia no Espaço», um dos (20) filmes da minha vida e factor decisivo na minha futura vocação literária. Nunca faltavam pretextos para falarmos das obras e dos artistas que mais nos impressionavam. No entanto, e infelizmente, o tempo para tal foi muito menor do que deveria ter sido.     
Em retrospectiva, aquele ano de 1984 destaca-se como memorável por diversos motivos, a maioria dos quais infelizes. Começou mal com a morte igualmente precoce de José Carlos Ary dos Santos, que o meu pai conheceu pessoalmente enquanto publicitário - e por isso ficámos com um exemplar autografado de «As Portas Que Abril Abriu» - e a quem por isso eu muito gostaria de ter dado a ler os meus poemas. Continuou pior com o falecimento ainda mais precoce de Joaquim Agostinho, cujo cortejo fúnebre, que partiu da Basílica da Estrela com destino a Torres Vedras, nós presenciámos no Largo do Rato, depois de termos descido a Rua Rodrigo da Fonseca, vindos da empresa onde o meu pai trabalhava, situada num edifício na esquina com a Avenida Joaquim António de Aguiar – o mesmo a que eu voltaria, uma década depois, mas para um outro piso, enquanto redactor da revista África Hoje. Mantendo-nos no desporto, o José Manuel, tal como todos os seus compatriotas, exultou com a vitória – e respectiva obtenção da medalha de ouro (a primeira de Portugal) – de Carlos Lopes na prova da maratona dos Jogos Olímpicos de Los Angeles. Um triunfo que mais ou menos compensou a desilusão da derrota da selecção portuguesa de futebol face à sua congénere gaulesa no campeonato da Europa daquele ano, realizado, precisamente, em França. Como eu lamento que o meu pai não tenha tido a felicidade de assistir à «desforra» em 2016 e se maravilhar com as proezas de Cristiano Ronaldo, que nasceu no ano seguinte àquele em que ele pereceu...
... E que, tal como Carlos Lopes e Joaquim Agostinho, está entre os atletas mais valorosos que envergaram as cores do Sporting Clube de Portugal, de que ele era adepto - e em cujos campos de ténis foi apanha-bolas quando era criança. O que, depois de se casar, resultou numa «solidão clubística»: rodeado de benfiquistas, afirmava com bom humor ser o «Acácio Barreiros da (nossa) família». E hoje, muitos anos depois, o que acontece neste âmbito? Decidi tornar-me adepto do Sporting. Quem disse que não se pode mudar de clube, e numa idade já «avançada»? Afinal, se mudei tanto a nível político, porque não poderia fazer o mesmo a nível desportivo? E fi-lo não apenas por estar cansado, farto, da incompetência crónica e do fatalismo perene do suposto «glorioso»; também por muito admirar Frederico Varandas e Rúben Amorim – este um conterrâneo, aliás. Mas, principalmente, por o SCP ser uma das poucas (ou possivelmente a única?) instituição de grande dimensão no país, pública ou privada, que não se submeteu ao infame e ilegal «acordo ortográfico de 1990». Assim, actualmente sou eu que de certo modo invoco o então deputado único da UDP. O que não é um problema. E, enfim, o verde é também a minha cor, verdes são os meus (defeituosos) olhos, verde de uma esperança que, porém, agora é para mim, enquanto adulto e por causa de bastantes desilusões e de vários fracassos, bem menor do que quando eu era mais jovem. Do que quando o meu pai era vivo. Do que quando, ainda distantes da tristeza, alguns momentos perfeitos aconteciam, como aquele no Verão de 1981, com nós os quatro no carro, e no rádio ouvimos «Love Plus One» dos Haircut 100, na estrada para o Algarve, algures entre Aljustrel e Castro Verde.

sábado, outubro 05, 2024

Opinião: A República, impúdica, é a ré

A 5 de Outubro de 2023 escrevi: «a cada ano que passa é cada vez mais difícil, se não impossível, contrabalançar, atenuar, a desgraça da implantação da república em 1910 com a glória da assinatura do Tratado de Zamora em 1143, em que foi reconhecida pela primeira vez a independência de Portugal.»
2024 não é uma excepção a essa regra; apesar de, entretanto, o PS ter finalmente deixado o poder após ter perdido as eleições legislativas antecipadas de 10 de Março na sequência da demissão do governo de António Costa, motivada por (mais) um escândalo de corrupção – e consequentes investigações policiais e acusações judiciais – envolvendo membros daquele, o governo do PSD e do como que  «desenterrado» CDS-PP que o substituiu, liderado por Luís Montenegro, não constituiu (até agora) a mudança profunda, o corte decisivo com um passado recente e regressivo que seria de desejar e de esperar. Aliás, e pelo contrário, parece que o famigerado «Bloco Central» de outros tempos reapareceu: não muito tempo depois de tomar posse, Montenegro declarou o seu apoio a Costa para este ocupar o cargo de Presidente do Conselho Europeu e, já neste mês, entendeu-se com Pedro Nuno Santos para garantir a aprovação do Orçamento de Estado de 2025, para além de ter prometido apoiar os órgãos de comunicação social «estabelecidos» e combater a «desinformação» (ou seja, implementar a censura) nas redes sociais. O que não surpreende de todo porque, nunca é de mais recordar e salientar, o PSD não é nem nunca foi um partido de direita; o que explica que os «laranjas» não pareçam muito incomodados com a utilização de expressões ridículas como «pessoas que menstruam» em documentos oficiais já sob a sua tutela, e que até o actual primeiro-ministro faça alusão à aldrabice das alterações climáticas antropogénicas a propósito dos incêndios em Portugal, em discurso proferido na assembleia geral da ONU! Enfim, estamos aparentemente perante mais um exemplo de «mudança de moscas».
O país parece estar pior do que há 365 dias, e provavelmente até está. Vejamos: vários hospitais continuam a encerrar com uma frequência alarmante os seus serviços de urgência e de ginecologia-obstetrícia, e mais de milhão e meio de pessoas (incluindo eu, esposa e filhas) não têm médico de família; a imigração maciça (para a dimensão da nação) e descontrolada atinge níveis cada vez mais preocupantes; a criminalidade violenta está a aumentar, e resulta também dessa imigração crescente. Neste ano em que se assinalou o cinquentenário do 25 de Abril de 1974, eis o panorama desolador que se nos apresenta na celebração da «liberdade». Sim, é verdade que a culpa por estes problemas cabe principalmente ao PS, mas este contou durante quase 10 anos com a cumplicidade activa de um chefe de Estado que mostrou não estar à altura do cargo. E muito bom seria que os disparates de Marcelo Rebelo de Sousa se limitassem a sugerir que Portugal deve «reparações» às suas ex-colónias; porém, a revelação de que ele se deixou envolver em acções de (tentativa de) obtenção de favores promovidas pelo filho enfraqueceu ainda mais a sua posição institucional, não estando inteiramente fora de consideração, em última instância, eventuais implicações (i)legais. É para isto que os herdeiros de Afonso Costa tanto se esforçaram a favor da eleição da cabeça do regime? Cada vez mais caquéctica, patética, suportada por renovadas «brigadas do reumático» e tendo na ridícula ortografia «acordizada» o seu dialecto oficial, a república, impúdica, é a ré maior.
Neste ano também se comemora(ra)m, ou nem por isso, os 500 anos da morte de Vasco da Gama e do nascimento de Luís de Camões – é, na verdade, interessante e mesmo notável que o autor da nossa maior epopeia literária e o principal, real, protagonista daquela tenham esta ligação especial. Nenhumas evocações dignas desta dupla efeméride foram até ao momento realizadas ou estão previstas. Para isso também faz falta alguém como Vasco da Graça Moura, falecido há 10 anos. E alguém como Agostinho da Silva, falecido há 30. Em Portugal, possivelmente, já não se produzem homens da estirpe daqueles dois; e, se ainda são produzidos, o mais provável é já terem emigrado.     

quarta-feira, setembro 18, 2024

Outros: Textos seleccionados (Parte 7)

«Sobre a amizade», David Soares; «O ó, que som tem? Até um tambor nos falou de fonética», Nuno Pacheco; «O grotesco em alturas de Olimpo», José Mendonça da Cruz; «O silêncio da ficção científica», João Campos; «A verruga cabeluda no nariz da velha, e o sonso», Paulo Sousa; «Cores da Ericeira», João Afonso Machado; «Carta de Bruxelas – Para assinalar 10 meses passados sobre o dia 7 de Outubro de 2023», João Tiago Proença; «As elites têm medo da liberdade e do povo», Telmo Azevedo Fernandes; «Lembrar Alice Jorge», Manuel Augusto Araújo; «Não existe Português de Portugal vs. Português do Brasil, muito menos Variante do Português de Portugal. Enquanto insistirem nestes antilogismos a Língua Portuguesa continuará a ser vilipendiada...», Isabel A. Ferreira; «A luta contra o marxismo cultural», Francisco Gomes; «Sven-Goran Eriksson», Sérgio de Almeida Correia; «As associações subversivas, racistas e violentas do semanário Expresso», Miguel Silva; «Jornalismo com contexto», Henrique Pereira dos Santos; «Como votar nas eleições americanas», José Meireles Graça; «Pas dormir», José António Barreiros; «A culpa é dos jornais?», Maria do Rosário Pedreira; «A votação do orçamento», Luís Menezes Leitão; «Os silenciados», Cristina Miranda; «Antero e o pessimismo», Daniel Santos Sousa; «O dia 12 de Setembro de 2024 será recordado», Francisco Miguel Valada; «O mérito capilar», João Távora. 

sábado, agosto 31, 2024

Olhos e Orelhas: Segundo Quadrimestre de 2024

A literatura: «Bolhas de Esperança», Clotilde Celorico Palma; «As Belas», Prince Rogers Nelson (Dan Piepenbring, org., intro.); «Natália Correia - Fotobiografia», Ana Paula Costa; «A Rainha Bugatti - Em Busca de uma Lenda das Corridas Motorizadas», Miranda Seymour; «Gente da Nossa Terra - Memórias de Cuba», Francisca Lopes Bicho; «Porque é que os franceses não celebram Lafayette?», Adam Gopnik. 
A música: «Os Grandes Êxitos do...», Conjunto Académico João Paulo; «The Fillmore Concerts», Allman Brothers Band; «The Grand Wazoo», Frank Zappa; «Light As A Feather», Return To Forever; «Sweetnighter», Weather Report; «À Queima Roupa», Sérgio Godinho; «New York», Lou Reed; «Words For The Dying», John Cale; «Songs For Drella», John Cale & Lou Reed; «Wrong Way Up», Brian Eno & John Cale; «In Vivo», GNR; «Take A Look In The Mirror», Korn; «Under My Skin», Avril Lavigne; «Rosenrot», Rammstein; «Back To Black», Amy Winehouse; «Serse», George Frideric Handel (por Anne Marie Rodde, Barbara Hendricks, Carolyn Watkinson, Ortrun Wenkel, Paul Esswood e Ulrich Studer, com La Grande Écurie et la Chambre du Roy dirigida por Jean-Claude Malgoire); «Symphonien (Nº 93, Nº 96, Nº 101)», Joseph Haydn (pela Orkest Concertgebouw Amsterdam dirigida por Colin Davis). 
O cinema: «Simone, a Viagem do Século», Olivier Dahan; «Pardal Vermelho», Francis Lawrence; «O Equalizador 3», Antoine Fuqua; «John Wick - Capítulo 4», Chad Stahelski; «Ava», Tate Taylor; «Espartilho», Marie Kreutzer; «No Portão da Eternidade», Julian Schnabel; «Raptando o Senhor Heineken», Daniel Alfredson; «Whitney Houston - Quero Dançar com Alguém», Kasi Lemmons; «Sully», Clint Eastwood; «O Sol do Futuro», Nanni Moretti; «Ela Está Fora da Minha Liga», Jim Field Smith; «A Feia Verdade», Robert Luketic; «Amor Outra Vez», Jim Strouse; «Bilhete Para o Paraíso», Ol Parker; «Um Homem à Altura», Laurent Tirard; «Mundo Jurássico - Domínio», Colin Trevorrow; «A Guerra do Amanhã», Chris McKay; «Népia», Jordan Peele; «Um Lugar Quieto», John Krasinski; «Anatomia de uma Queda», Justine Triet; «Viúva Negra», Cate Shortland; «O Homem-Morcego», Matt Reeves; «Shazam! Fúria das Deusas», David F. Sandberg; «Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis», Destin Daniel Cretton; «Gato das Botas - O Último Desejo», Januel Mercado e Joel Crawford; «Ferrari», Michael Mann; «Lamborghini - O Homem Atrás da Lenda», Bobby Moresco.
E ainda...: RTP2 - (documentário) «Editor Contra», Luís Alvarães; Prince - «Live at Glam Slam, Minneapolis, Minnesota, January 11, 1992» (blu-ray incluído na edição especial com oito discos de «Diamonds And Pearls»); Câmara Municipal de Vila Franca de Xira - exposição de pintura de Alexa Jesus «Franca de coração» (Biblioteca Municipal de VFX/Fábrica das Palavras) + exposição «Vila Franca de Xira e o 25 de Abril - 50 anos» (Museu Municipal) + exposição «Alverca em festa» (Núcleo de Alverca do MM); Museu do Neo-Realismo - exposição «Escrever é lutar - Escritores neo-realistas e a revolução de Abril»; RTP Antena 1 - (programa) «Tão Longe, Tão Perto - Episódio 14 - Francisca Lopes Bicho e as memórias de Cuba»; Biblioteca Nacional de Portugal - exposição «A caminhar para o princípio - Eduardo Lourenço, 100 anos» + exposição «Uma colecção com a casa às costas» + exposição «A revolução em marcha - Os cartazes do PREC, 1974-1975» + mostra «A "espantosa realidade" da História - José Mattoso (1933-2023)» + mostra «Publicações islâmicas em Portugal (1968-2024)»; Câmara Municipal de Loulé/Galeria de Arte da Praça do Mar de Quarteira - exposição de fotografia de Luiz Carvalho «50DE25»; Channel 5/RTP2 - (série televisiva de ficção) «Todas as Criaturas Grandes e Pequenas (segunda temporada)».

terça-feira, agosto 06, 2024

Outros: Que estudam Alfred Tennyson

6 de Agosto é, há 15 anos, uma dia importante no Octanas. Nesta data, em 2009, anunciei aqui pela primeira vez a conclusão e a edição – que se concretizou em Dezembro do mesmo ano – da minha tradução de «Poemas» de Alfred Tennyson, cujo aniversário de nascimento – mais concretamente, desta vez o 215º - se celebra hoje. Desde então tem sido com alguma regularidade, mesmo que por vezes com algum espaçamento no tempo, que divulgo novidades e/ou informações interessantes relacionados não só com aquele meu livro mas também com o próprio grande poeta inglês...
... Pelo que uma descoberta recente que fiz neste âmbito tem todos os atributos para ser devidamente divulgada e valorizada: uma dissertação de mestrado com o título «”A infinda névoa e os pavilhões da aurora” – Traduzindo a poesia de Alfred Tennyson», submetida em 2022 pelo brasileiro Pedro Mohallem Rodrigues Duarte ao programa de pós-graduação em Estudos Linguísticos e Literários da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Nela todo um sub-capítulo – concretamente, o 2. 1. 3, entre as páginas 65 e 74 – é dedicado à minha tradução. Toda esta tese é, aliás, mais uma confirmação, mais uma prova, de que a vida e a obra do grande poeta são ainda matérias de interesse para muitas pessoas à volta do Mundo.
Em 2019, aquando do décimo aniversário da publicação de «Poemas», evoquei a efeméride recordando os factos mais significativos até então decorrentes da publicação do livro. Que continua esgotado e ainda sem qualquer perspectiva de ser reeditado pela Saída de Emergência.

domingo, julho 28, 2024

Orientação: Sobre a soma e as partes, no FN

No sítio na Internet do jornal Folha Nacional está, a partir de hoje, o meu artigo «A soma e as partes». Um excerto: «No futebol – como, aliás, em qualquer outra actividade – convém haver sempre consistência, (boa) direcção e estabilidade durante um período alargado de tempo. Que Portugal nunca teve, e não só com Fernando Santos. Com excepção do “milagre” de 2016 tem-se verificado uma instabilidade de desempenhos e de resultados que não é aceitável nem justificável, quase sempre “do 8 ao 80”, alternando triunfos tonitruantes com derrotas desmoralizantes. Portugal tem-se caracterizado por ser como que uma selecção “bi-polar”, esquizofrénica. É imperdoável, e ridículo, que jogadores que nos seus clubes estão habituados a serem dominantes e a mandar nos jogos e nos adversários sejam forçados a retraírem-se quando estão na selecção.»

segunda-feira, junho 10, 2024

Orientação: Sobre um «rei» de um olho, no FN

No sítio na Internet do jornal Folha Nacional está, a partir de hoje, o meu artigo «Quem teve um olho não é “rei”?». Um excerto: «Exactamente três anos passaram e nada foi feito, e honestamente ninguém poderá afirmar que tal se deveu à crise política que eclodiu em Novembro de 2023 e que levou à demissão do primeiro-ministro e do seu executivo, à dissolução do parlamento e à realização de eleições legislativas antecipadas a 10 de Março deste ano. Note-se igualmente que em 2022 assinalaram-se os 550 anos da publicação d’”Os Lusíadas”, e também nada de especial se fez para celebrar esta efeméride, ou isoladamente ou, o que seria mais lógico, integrada, precisamente, num programa mais alargado alusivo aos cinco séculos do nascimento de Luís de Camões.»

sábado, maio 25, 2024

Opções: Pelo interesse nacional de JMB

Assinei hoje, dia em que se celebra o 82º aniversário do nascimento do artista, a petição «Classificação da obra de José Mário Branco como de interesse nacional», promovida por um grupo de cidadãos – cujos primeiros subscritores incluem alguns conhecidos cantores e compositores portugueses – e dirigida ao «Exmo Sr Presidente da Assembleia Da República» e ao «Exmo Sr Ministro da Cultura» (agora é uma ministra – a petição foi criada antes de o actual governo tomar posse). Quem quiser fazer o mesmo deve ir aqui.
Lê-se no texto que apresenta e que explica a iniciativa: «José Mário Branco, para além da sua obra pessoal, uma corajosa sementeira de novidade que mudou a nossa canção logo desde as primeiras gravações, no final da década de 60, e que foi vertida em numerosos trabalhos discográficos, no teatro e no cinema, foi também responsável por uma irreversível viragem estética na música popular portuguesa, de que é exemplo máximo o disco “Cantigas do Maio” (1971), de José Afonso. Este trabalho, vestido instrumentalmente pelo jovem JMB, tornou-se um marco e inspiração para todos os criadores de canções e arranjadores musicais.»
Tal como para muitas outras pessoas, as obras de José Mário Branco – uma das quais é um dos meus 20 discos favoritos – são componentes fundamentais da «banda sonora» da minha vida, e provas de que as diferenças ideológicas não têm de constituir obstáculos intransponíveis a uma autêntica apreciação e admiração. É por isso que muito gostaria de o ter conhecido pessoalmente mas ele faleceu (em 2019) antes de isso ter sido possível. De destacar também que neste ano de 2024 se assinala o vigésimo aniversário da edição do que seria o seu último álbum de originais, «Resistir É Vencer», uma efeméride evocada esta semana por Nuno Pacheco no Público.

terça-feira, maio 21, 2024

Orientação: Sobre um «Outono Marcelista», no FN

No sítio na Internet do jornal Folha Nacional está, a partir de hoje, o meu artigo «Outono Marcelista». Um excerto: «Entretanto, e o que não é de surpreender, o corrente governo esquerdista do Brasil, onde abundam amigos e admiradores de tiranos e de terroristas a começar pelo seu corrupto e cadastrado líder Lula da Silva, já se manifestou – através de duas ministras – a favor da abertura de um “negócio” desse tipo, no qual, incrivelmente, também São Tomé e Príncipe quer entrar. Pelo que a resposta “diplomática” a dar a estes e a todos os outros potenciais “reclamantes” é, obviamente, mandá-los para um determinado sítio.» (Transcrição no Arco de Almedina.)

terça-feira, abril 30, 2024

Olhos e Orelhas: Primeiro Quadrimestre de 2024

A literatura: «Casas Mínimas», Aitana Lleonart Triquell, Claudia Martínez Alonso e Mireia Casanovas Soley; «Às Compras», Finn Gopfert, Friederike Krump e Miriam Loetz; «Oeiras - A Jóia da Coroa», António Homem Cardoso; «Álbum das Glórias», Raphael Bordallo Pinheiro (com textos de Guilherme d'Azevedo, João da Câmara, João Chagas, Ramalho Ortigão, e outros); «Obra Plástica», José de Almada Negreiros (Rui Guedes, org.; José de Almada Negreiros (Filho), intro.); «Grandes Pintores do Século XX - Andy Warhol (1928-1987)», Maria Vera Pachón; «O Meu Pai Tinha um Desses», Giles Chapman e Richard Porter.
A música: «Na Vida Real», Sérgio Godinho; «London 0 Hull 4», Housemartins; «Marsalis Standard Time, Vol. 1», Wynton Marsalis; «Guitar», Frank Zappa; «Maiden England '88», Iron Maiden; «Do Lado Dos Cisnes», GNR; «Untouchables», Korn; «Think Tank», Blur; «Dear Heather», Leonard Cohen; «First Impressions Of Earth», Strokes; «Aqui Está-se Sossegado», Camané & Mário Laginha; «When We All Fall Asleep Where Do We Go?», Billie Eilish; «Ordinary Man», Ozzy Osbourne; «Medicine At Midnight», Foo Fighters; «We», Arcade Fire; «Partenope», George Frideric Handel (por Helga Molinari, John Skinner, Krisztina Laki, Martyn Hill, René Jacobs e Stephen Varcoe, com La Petite Bande dirigida por Sigiswald Kuijken); «Missa Brevis Sancti Joannis De Deo/Harmoniemesse», Joseph Haydn (por Alexander Young, Erma Spoorenberg, Helen Watts, Jennifer Smith e Joseph Rouleau, com a Academia de St. Martin-in-the-Fields e o Coro do Colégio de St. John dirigidos por George Guest).
O cinema: «Amadeo», Vicente Alves do Ó; «Radioactivo», Marjane Satrapi; «Oppenheimer», Christopher Nolan; «Elvis», Baz Luhrmann; «Vice», Adam McKay; «Onde Está Anne Frank», Ari Folman; «O Conto da Criada», Volker Schlondorff; «Dia da Danação», Neil Marshall; «Danação», Andrzej Bartkowiack; «Autómata», Gabe Ibáñez; «Corta!», Michel Hazanavicius; «Gremlins» e «Gremlins 2 - A Nova Ninhada», Joe Dante; «As Bruxas», Robert Zemeckis; «Os Irmãos Grimm», Terry Gilliam; «Delicioso», Éric Besnard; «Hostis», Scott Cooper; «Água Para Elefantes», Francis Lawrence; «Uma do Coração», Francis Ford Coppola; «Logan Sortudo», Steven Soderbergh; «Crematório», Neeraj Ghaywan; «Eternos», Chloé Zhao; «Thor - Amor e Trovão», Taika Waititi; «Adão Negro», Jaume Collet-Serra; «Doutor Strange no Multiverso da Loucura», Sam Raimi; «Revolução (Sem) Sangue», Rui Pedro Sousa; «O Corpo», Jonas McCord; «O Rei Perdido», Stephen Frears; «Ossos e Tudo», Luca Guadagnino; «Amor é Amor é Amor», Eleanor Coppola; «Verão Coincidente», António de Macedo.
E ainda...: «Angry», (vídeo musical dos) Rolling Stones; Biblioteca Nacional de Portugal - exposição «A China vista da Europa, séculos XVI-XIX» + exposição «Centenário do ABCzinho - 100 anos de revistas de banda desenhada em Portugal» + mostra «Maria de Lourdes Belchior, 1923-1998»; FNAC - exposição de ilustrações de Maria Hesse «Mulheres Más» (Chiado); Câmara Municipal de Vila Franca de Xira - CartoonXira 2024/Cartoons do ano 2023-Horizontes imaginários/Chubasco (Celeiro da Patriarcal); Museu do Neo-Realismo - exposição de pintura de Pires Vieira «Considerações e legitimidades com algum "lixo de artista" à mistura» + exposição de fotografia «Alfredo Cunha, photographo» + mostra «Homenagem do centenário a Júlio Graça, escritor combatente da liberdade»; «Fanny Hill - Memórias de uma Mulher de Prazer», James Hawes; Canal História - (documentário) «Alienígenas Antigos - Os Arquitectos Alienígenas»; Imaginauta/Biblioteca de Marvila - Festival Literário de Ficção Científica e Fantasia Contacto 2024; RTP2 - (documentário) «A torre de João Abel Manta, o imaginador», Laurent Filipe.     

terça-feira, abril 16, 2024

Orientação: Sobre mentiras de Abril, no FN

No sítio na Internet do jornal Folha Nacional está, a partir de hoje, o meu artigo «Mentiras de Abril». Um excerto: «A apressada incompetência – e quiçá traição – dos novos (co)mandantes políticos e militares causou nas ex-colónias em África desastrosos processos de descolonização de que resultaram, em todas as cinco, regimes de partido único, e em duas – Angola e Moçambique – ainda longas guerras civis que provocaram muitos milhares de mortos. A Terceira República em nada ficou a dever às suas duas antecessoras em termos de destruição e de sofrimento que originou; aliás, excedeu-as largamente. Antes, a Monarquia Constitucional não levara Portugal para qualquer conflito militar; já a Primeira República levou-nos para a Primeira Guerra Mundial e a Segunda para a Guerra Colonial.»

segunda-feira, março 04, 2024

Orientação: Sobre uma causa «fraturante», no FN

No sítio na Internet do jornal Folha Nacional está, a partir de hoje, o meu artigo «Uma causa “fraturante”». Um excerto: «A introdução do AO90 em Portugal começou, é certo, com Cavaco Silva, mas a verdade é que a sua imposição só aconteceu de facto com José Sócrates... e com Lula da Silva. É por isso que é contraditório e descredibilizador, para qualquer partido e qualquer político, criticar e condenar aqueles dois presidiários irresponsáveis usando, ao mesmo tempo, a infame ortografia que os dois energúmenos protagonizaram e promoveram.» (Transcrição n'O Lugar da Língua Portuguesa.)

sexta-feira, fevereiro 23, 2024

Outros: Textos seleccionados (Parte 6)

«Livrarias perdidas», Maria do Rosário Pedreira; «O que há de religioso na tensão no Médio Oriente? (Quase) tudo», Filipe d’Avillez; «Desmontar equívocos nas artes contemporâneas», Manuel Augusto Araújo; «O último soldado da velha guarda», Daniel Santos Sousa; «Vícios privados, públicas virtudes», Sérgio de Almeida Correia; «Manifestações», José Meireles Graça; «A República Velhíssima», João Gonçalves; «Damião de Góis», Rui Passos Rocha; «Capicrua», João Pedro Graça; «Os partidos políticos, que vão a eleições, continuam a fazer-se de cegos, surdos e mudos à gravíssima “Questão da Língua” que está a conduzir Portugal para o “pântano brasileiro”, com a cumplicidade dos média», Isabel A. Ferreira; «Carros eléctricos e fascismo», Telmo Azevedo Fernandes; «Maria Ondina Braga, páginas angolanas», José António Barreiros; «As sanguessugas do tempo», David Soares; «A imprensa, as eleições e nós», Henrique Pereira dos Santos; «Alergia à realidade», José Miguel Roque Martins; «Carta de Bruxelas», João Tiago Proença; «Chegaram os saldos políticos», Cristina Miranda; «As lágrimas de Pedro Nuno», Miguel A. Baptista; «O futuro depois dos primeiros cinquenta anos», Paulo Sousa; «O tal debate», João Afonso Machado; «A bolha», João Távora; «O outro», José Mendonça da Cruz; «A língua portuguesa, a campanha e a São(ta) ignorância»; Nuno Pacheco.

terça-feira, janeiro 16, 2024

Ocorrência: «Abusos toponímicos» em VFX

No sítio na Internet do jornal (quinzenário regional) Voz Ribatejana está – desde 12 de Janeiro último, e transcrevendo e adaptando a que fora publicada na edição em papel Nº 333, de 3 de Janeiro de 2024 – a notícia «Sucessão de “avenidas” na antiga EN 10 revolta moradores», na qual o autor, Jorge Talixa (também director do VR) incluiu um depoimento que lhe enviei. Uma chamada de atenção para, e uma denúncia de, mais um exemplo de desrespeito e de incompetência por parte do Partido Socialista em relação aos cidadãos, neste caso ao nível autárquico.  

domingo, dezembro 31, 2023

Olhos e Orelhas: Terceiro Quadrimestre de 2023

A literatura: «Três Filhas de Sua Mãe», Pierre-Félix Louys; «Sobre Cinema», José de Almada Negreiros; «O elevador que desceu até ao Inferno», Par Lagerkvist; «Homenagem à Catalunha», George Orwell (pseudónimo de Eric Blair); «Adentro da vida nocturna», Henry Miller; «Quatro Quartetos», T. S. Eliot; «Os Quatro Cantos do Tempo», David Mourão Ferreira; «No Tempo Dividido», Sophia de Mello Breyner Andresen; «A ira da Ferreirinha», Carlos Eduardo Silva; «Um espelho para os fantasmas», David Soares.
A música: «Coincidências», Sérgio Godinho; «Girl At Her Volcano», Rickie Lee Jones; «Under A Blood Red Sky», U2; «Francesco Zappa», Frank Zappa; «Love», Cult; «Sob Escuta», GNR; «Mellow Gold», Beck; «Voodoo Lounge», Rolling Stones; «Live!», Police; «Mirror Ball», Neil Young; «Mário Laginha Bernardo Sassetti», Bernardo Sassetti e Mário Laginha; «Frank», Amy Winehouse; «Room On Fire», Strokes; «Funeral», Arcade Fire; «Reise, Reise», Rammstein; «Fados Meus (E Algumas Canções) Para Amigos Meus», Daniel Gouveia;  «Lotario», George Frideric Handel (por Hillary Summers, Sara Mingardo, Simone Kermes, Sonia Prima, Steve Davislim e Vito Priante, com o Complesso Barocco dirigido por Alan Curtis); «Klaviertrios (Nº's 24, 25, 26, 27)», Joseph Haydn (pelo Beaux Arts Trio).
O cinema: «Jigajoga Espacial - Um Novo Legado», Malcolm D. Lee; «Bestas Fantásticas - Os Segredos de Dumbledore», David Yates; «O GGA (Grande Gigante Amigável)», Steven Spielberg; «Três Mil Anos de Anseio», George Miller; «Rompedores do Dia», Michael Spierig e Peter Spierig; «Eu Acuso», Roman Polanski; «Mata Hari», Curtis Harrington; «A Guerra em Baixo», J. P. Watts; «Sr. Jones», Agnieszka Holland; «A Esposa do Tratador do Jardim Zoológico», Niki Caro; «Onoda», Arthur Harari; «Reflexos num Olho Dourado», John Huston; «Algum Tipo de Belo», Tom Vaughan; «Ela Odiar-me», Spike Lee; «Homem das Entregas», Ken Scott; «Gabriel», Nuno Bernardo; «Punidor - Zona de Guerra», Lexi Alexander; «O Esquadrão Suicida», James Gunn; «Liga da Justiça (versão longa)», Zack Snyder; «Quatro Fantásticos», Josh Trank; «As Aventuras de Spirou e Fantasio», Alexandre Coffre; «Bófia em Brasa», Edgar Wright; «Sem Tempo Para Morrer», Cary Joji Fukunaga; «F9 - A Saga dos Rápidos», Justin Lin.
E ainda...: Câmara Municipal de Estremoz/Museu Municipal - Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz + exposição de artesanato «Irmãs Flores - 50 anos em 50 de bonecos» + exposição fotográfica de Carmen Serejo «In Limbo»; Museu Berardo Estremoz; Igreja de São Francisco de Évora - Núcleo Museológico + Colecção de Presépios; RTP - «Visita Guiada - Banhos Islâmicos de Loulé»; Câmara Municipal de Vila Franca de Xira - exposição «Vila Franca - Imagens em movimento» (Celeiro da Patriarcal) + exposição «Gravura - A matriz de uma colecção» (Museu Municipal) + exposição «Objectos intemporais, delicadas intimidades - João Duarte, 45 anos de escultura» (Biblioteca Municipal de VFX/Fábrica das Palavras); Museu do Neo-Realismo - exposição «Querubim Lapa, uma poética neo-realista» + exposição «Sidónio Muralha - Caminhada insubmissa»; «Now And Then», (vídeo musical dos) Beatles; Biblioteca Nacional de Portugal - exposição «Olisipógrafos - Os cronistas de Lisboa» + exposição «Marcas de água e caligrafias em papel de música - Os manuscritos do Fundo do Conde de Redondo»; Canal História - «Alienígenas Antigos - Encontros Próximos do Quinto Grau». 

sexta-feira, dezembro 08, 2023

Outros: Comentários meus contra o AO (Parte 11)...

.. Escritos e publicados, desde 9 de Janeiro de 2023, nos seguintes blogs: Porta da Loja (um, dois); Corta-Fitas (um, dois, três, quatro); Horas Extraordinárias (um, dois, três); Apartado 53; O Lugar da Língua Portuguesa. E que aborda(ra)m, entre outros subtemas: o Expresso não é o melhor jornal nacional, e não só porque também se sujeitou à «acordização»; a culpa principal pela generalizada aceitação passiva do AO90 recai – salvaguardando sempre, como é óbvio, honrosas excepções – em juristas, jornalistas e professores, e estes em particular não merecem grande respeito, façam eles as greves e as manifestações que fizerem; correcção de erros ortográficos ridículos em comentários... de outros comentadores; alterar constantemente a ortografia sempre foi uma obsessão dos «republicanistas» dos dois lados do Atlântico; de pouco ou nada serve, num texto, a excelência do conteúdo se a forma for bizarra; a reescrita «politicamente correcta» de livros também pode incluir, em Portugal, a «acordização» de obras antigas, incluindo as de autores que eram contra o AO90; o «acordês» como uma das causas possíveis do aumento da venda de livros em Inglês; Francisco Vale ainda e sempre um cobarde e um mentiroso; respostas exemplares a comentários agressivos e ignorantes de brasileiros ingratos (dos quais, infelizmente, há muitos).     

segunda-feira, novembro 13, 2023

Ocorrência: Duas décadas de «Visões»

Hoje, 13 de Novembro de 2023, passam exactamente 20 anos desde a apresentação e o lançamento, em Lisboa (na Biblioteca Municipal do Palácio Galveias, ao Campo Pequeno), de «Visões», o meu primeiro livro a ser editado (com data de Outubro de 2003).
Não há muito a acrescentar ou a alterar em relação ao que escrevi aqui há dez anos. A não ser, e compreensivelmente, que nesta década que decorreu faleceu António de Macedo, o principal responsável por aquele meu livro ter sido publicado. E também que um dos contos que o integra ter sido referido por dois investigadores universitários espanhóis no âmbito de trabalhos que realizaram sobre a ficção científica e o fantástico nas literaturas dos dois países ibéricos. Em 2013 escrevi igualmente que pretendia começar a escrever em 2014 «”Visões 2”, já planeado, imaginado, estruturado». Na verdade, e infelizmente, tal não aconteceu, e por uma questão de (falta de) motivação, decorrente do facto de o meu segundo romance, concluído há nove anos, ainda não ter sido publicado.
Independentemente do que foi, é, obteve e representa, «Visões» constitui(u) o início do meu percurso enquanto interveniente activo e permanente – como criador e como divulgador – na Ficção Científica e Fantástico em Português, percurso esse que teve como um dos momentos mais marcantes a participação – como orador – na primeira Conferência Internacional de História Mundial «E Se?..», que teve lugar no Porto em 2019. Este ano, entre 22 e 24 de Novembro, decorrerá a terceira edição, e, uma vez mais, integro o Comité Científico Honorário desta iniciativa.

domingo, outubro 15, 2023

Observação: Sobre o alegado «3º Congresso Eça»

Está marcada para amanhã, 16 de Outubro de 2023, na Biblioteca Nacional de Portugal, a realização do «3º Congresso Internacional Eça de Queiroz 150 Anos»... ou do «3º Encontro Internacional Eça de Queiroz 150 Anos». Afinal, é «congresso» ou «encontro»? Nesta divergência entre as entidades principais que promovem o evento fica desde logo aparente que algo não estará bem com aquele. E, efectivamente, assim é. Apesar de supostamente ser a terceira edição de uma iniciativa que eu concebi e cujas duas primeiras edições decorreram, com a minhas co-organização e participação, em 2019 e em 2021, na verdade aquela não tem legitimidade enquanto tal. Desautorizo, repudio, o ajuntamento agendado para amanhã na BNP. E, obviamente, desta vez não estarei presente...
... Porque a forma e o conteúdo do que está agendado não corresponde de modo algum ao que eu defini em Abril de 2022, em mensagem que então enviei ao Presidente da Direcção do Movimento Internacional Lusófono e co-organizador nas duas edições anteriores: «um terceiro congresso dedicado a Eça de Queiroz nos 150 anos do início da sua actividade enquanto diplomata, mais concretamente como cônsul em Havana, com alusões inevitáveis às suas viagens aos Estados Unidos e ao Canadá, e ainda ao início da escrita, nesse período, de “Singularidades de uma Rapariga Loira” (...) e de “O Crime do Padre Amaro”. O evento poderia ter como subtítulo, ou “mote”, “José Maria na América” (...); alargar igualmente o seu âmbito à recepção da obra de EdQ no Brasil». Definido o mês de Outubro de 2023 como período de concretização, anunciei aqui em Janeiro e em Fevereiro últimos a realização do congresso e a data limite para inscrições e envio de comunicações. Porém, no início de Setembro era inegável que não estavam reunidas as condições mínimas para a concretização satisfatória do projecto, e disso dei conta ao meu interlocutor habitual: um evento que decorra apenas num dia, e, pior, em metade de um dia, não merece a designação de «congresso», e fica aquém, nesse aspecto, das duas edições anteriores; é fundamental a qualidade dos oradores e das suas intervenções, mas a quantidade não deve ser menosprezada; também para não quebrar o «padrão» estabelecido em 2019 (Sociedade de Geografia de Lisboa) e em 2021 (Palácio Valenças, em Sintra), este ano o evento deveria decorrer igualmente num segundo local, e nesse sentido sugeri a Casa da América Latina em Lisboa; a «pequenez» do «EdQ 3» é agravada pela realização simultânea (a 13, 17 e 20 de Outubro, respectivamente no Porto, Lisboa e Coimbra) do congresso do centenário (da morte) de Guerra Junqueiro, contemporâneo e amigo de Eça; enfim, o terceiro «congresso queirosiano» merece um novo cartaz e não a re-utilização, ou repetição, daquele que serviu para divulgar o segundo. Depois de apresentar estes factos e argumentos ao Presidente da Direcção do MIL propus, se não o cancelamento definitivo, pelo menos o adiamento da iniciativa para 2024; no entanto, a minha proposta foi recusada, pelo que a minha reacção não poderia ser outra que não aquela que agora revelo. 
Não é, todavia, este fracasso que diminui o sucesso dos congressos de 2019 e de 2021 e a minha contribuição para eles, e estarei sempre interessado e disponível para colaborar na evocação do grande artista que foi Eça de Queiroz. Não que tal seja necessário, evidentemente: o autor de «Os Maias» está sempre presente nas nossas consciência e memória colectivas e raramente passa muito tempo sem que a sua vida e/ou a sua obra fiquem em destaque por qualquer motivo, positivo ou negativo. Um exemplo recente disso é a controvérsia sobre a trasladação dos seus restos mortais para o Panteão Nacional, e a minha opinião sobre aquela é inequivocamente desfavorável.