É certo que já era expectável... mas temos sempre uma esperança,
por mais pequena que seja, de que o inevitável seja, pelo menos, adiado o mais
possível. Vasco Graça Moura morreu, e vai fazer-nos muita falta; e não apenas no
combate contra o abjecto, abominável, «aborto pornortográfico».
Também previsíveis, nestas ocasiões, são os elogios de circunstância,
mais ou menos sinceros, a respeito da pessoa que partiu. É certo que há sempre
uma quantidade apreciável de hipocrisia nestas manifestações de admiração
póstuma. Porém, no caso deste advogado, político (secretário de Estado,
deputado), poeta, ensaísta, romancista, (que desempenhou, entre outros, os cargos
de) presidente da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos
Portugueses e do Centro Cultural de Belém, co-criador da Expo 98, a duplicidade
é, tem sido, mais descarada do que o habitual.
Exemplos? Em comunicado, o actual (p)residente da república
sublinhou a «marca indelével» que o agora falecido deixa na cultura e na
política. Aparentemente, e infelizmente, não tão indelével de modo a que ele,
que sempre teve o apoio do agora falecido, seguisse os seus conselhos no que se
refere ao AO90. Pelo que, se quisesse mesmo «render homenagem» a Vasco Graça Moura,
bem que Aníbal Cavaco Silva podia fazer cumprir um dos últimos e grandes
objectivos do antigo director da Imprensa Nacional Casa da Moeda: cessar de
imediato a (auto-)destruição da língua portuguesa. O mesmo se aplica a
Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro, e a Francisco José Viegas e a Jorge
Barreto Xavier, anterior e actual secretário de Estado da Cultura. E ainda a Guilherme de Oliveira Martins, que permitiu que o CNC se tornasse em mais uma
«coutada» dos neo-colonialistas da ortografia.
Entretanto, na RTP, é a pouca vergonha do costume: hoje, no
programa «Bom Dia Portugal», logo a seguir a uma reportagem sobre o óbito do
tradutor de Dante, Petrarca e Shakespeare, Carla «quebrar a oposição dos
portugueses ao AO» Trafaria apresentou mais uma edição da rubrica «Bom
Português», em que, desta vez, se perguntava como é que se escrevia
«correctamente»… «pé-de-atleta». Não faltaram os inquiridos que, quais papagaios
amestrados, responderam que era… sem hífens. Um (ponta)pé no traseiro era o
que eles, e a alegada «jornalista», precisavam.
Vasco Graça Moura merecia muito mais do que isto. Ele foi, é,
será, o nosso, autêntico, Companheiro Vasco. Outros provocam-nos, apenas, asco. (Também no MILhafre (86).)
(Adenda - Vasco Graça Moura foi, é de recordar e de salientar, uma das muitas pessoas que já subscreveram a Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Pelo que homenageá-lo passa também por fazer com que mais assinaturas sejam conseguidas e recolhidas.)
(Adenda - Vasco Graça Moura foi, é de recordar e de salientar, uma das muitas pessoas que já subscreveram a Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Pelo que homenageá-lo passa também por fazer com que mais assinaturas sejam conseguidas e recolhidas.)
3 comentários:
Eles estão apenas a repetir fórmulas ocas, porque sabem que têm de dizer alguma coisa nesta situação. A minha forma de honrar Vasco Graça Moura é continuar a ler A Divina Comédia, sem acordo ortográfico, coisa que começara a fazer poucos dias antes de ele falecer.
É um livro que também está na minha lista de próximas aquisições e leituras.
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