sábado, junho 14, 2025

Ocorrência: ... E, porém, existiram!

Quem visita o Octanas, regular ou ocasionalmente, e que neste ano de 2025 já «clicou» nas imagens das capas dos livros «A República Nunca Existiu!» e «Poemas» de Alfred Tennyson – que estão, com os outros que integram a minha bibliografia, na coluna à esquerda deste blog – deparou-se (e hoje continuará a deparar-se) com a mesma página de erro, no sítio na Internet da editora Saída de Emergência, que editou ambos: «Ups! Esta página não foi encontrada.» Não seria propriamente difícil adivinhar o motivo da eliminação das duas páginas, mas, apesar disso, enviei em Fevereiro último uma mensagem à SdE em que pedi a reposição daquelas, e recebi a seguinte resposta, assinada por Natacha Corte Real: «Os títulos referidos encontram-se descontinuados. Por esse motivo já não são comercializados no nosso site
Respondi, por minha vez, com argumentos... e factos que acreditava, e continuo a acreditar, serem indesmentíveis: «Sei perfeitamente que as obras referidas se encontram descontinuadas – ou seja, esgotadas, fora de circulação – há vários anos, e até hoje nunca recebi qualquer indicação de que a Saída de Emergência tenha a intenção de as reeditar. Porém, elas foram, e são, creio, pelas suas originalidade e qualidade, trabalhos importantes, tanto para mim como para a vossa editora, pelo que se trata de reconhecer a sua existência, de não as “apagar”. Aliás, e passado todo este tempo desde que foram lançadas, ainda regularmente as divulgo e as menciono – inclusive a estrangeiros – sempre que as ocasiões e as circunstâncias o permitem e o justificam, pelo que seria, e é, fundamental que continuassem activas as páginas respectivas no sítio da SdE – o que aconteceu, saliento, até à recente reformulação daquele – para que eu pudesse continuar a fazer essa promoção da melhor forma possível, mesmo que actualmente só possam ser encontradas em bibliotecas (públicas e privadas).» «Tal decisão da vossa parte é não só prejudicial para mim mas também, e talvez mais, para a editora. Porque, e obviamente que eu já verificara isso, não são apenas aqueles meus livros que foram “apagados”: muitos outros publicados pela SdE nos últimos 20 anos, e que são indiscutivelmente obras de referência no panorama da Ficção Científica e Fantástico em Portugal, entretanto esgotadas e/ou fora de circulação, já não dispõem igualmente de páginas próprias na principal “morada digital” da Saída de Emergência. Exemplos? Além de “A República...”, outras antologias colectivas de contos originais como “A Sombra Sobre Lisboa”, “Lisboa no Ano 2000” e “Os Anos de Ouro da Pulp Fiction Portuguesa”, “A Saga de Alex 9” de Bruno Martins Soares, “A Galxmente” de Luís Filipe Silva, vários volumes de David Soares dos quais se destacam “A Conspiração dos Antepassados”, “Lisboa Triunfante” e “O Evangelho do Enforcado”. Títulos como estes fizeram da SdE a mais importante editora no âmbito da FC & F nacional contemporânea, a par da Editorial Caminho e da sua “Colecção Azul”. É por isto que não consigo compreender porque é que a vossa casa opta deliberadamente por ocultar a sua história e, logo, por diminuir e até negar a importância do excelente trabalho que desenvolveu. É compreensível que o vosso sítio na Internet funcione principalmente como loja, para promoção e venda do que existe correntemente, dos livros que estão disponíveis. Porém, não duvido de que manter em permanência a memória dos que já integraram o vosso catálogo constitui(ria) uma função igualmente fundamental.»
Todos os meus esforços revelaram-se infrutíferos, os meus «apelos» não foram atendidos, e, assim, a Saída de Emergência tornou-se a segunda editora que deixou de mostrar em espaço (digital) próprio um livro meu que publicou – aliás, e neste caso, são dois livros. A primeira foi a Hugin, que lançou em 2003 a minha obra de estreia, «Visões», e que cessou de a divulgar porque faliu e encerrou poucos anos depois. A SdE, pelo contrário, por enquanto, e felizmente, continua (bem) viva. O que também permitiu ao seu fundador e editor principal, Luís Corte Real, iniciar uma carreira de autor, em que são evidentes e indesmentíveis as influências de algumas obras que publicou previamente, em especial as colectâneas de contos concebidas e organizadas por mim, por Luís Filipe Silva e por João Barreiros. E, nesse âmbito, atente-se principalmente na série «Lisboa Noir» e nos textos e nas imagens que a promovem: «Bem-vindos a um Portugal que nunca existiu», em que grandes dirigíveis voam sobre a capital e outras cidades; «uma homenagem divertida e emocionante à ficção pulp dos anos 30, aos policiais dos anos 40, ao cinema noir dos anos 50 e à era dourada dos comics dos anos 60»; «como seria Portugal se D. Miguel tivesse vencido a guerra civil?». Será interessante verificar se e quando forem «descontinuados», por estarem esgotados e não forem reimpressos ou reeditados, os livros de LCR serão também «apagados» (ou não) do sítio da sua editora.  

terça-feira, maio 13, 2025

Observação: A nação, em vésperas de outra eleição

No próximo dia 18 de Maio decorrerá em Portugal mais uma eleição legislativa, para a Assembleia da República. E antecipada, causada pela rejeição naquela, a 11 de Março último (exactamente no dia em que se assinalavam os 50 anos de uma alegada tentativa de golpe de Estado «contra-revolucionário»), de uma moção de confiança apresentada pelo governo de coligação AD (PSD e CDS) presidido por Luís Montenegro. Que é, sim, o culpado por esta mais recente crise política porque recusou a formação de uma comissão parlamentar de inquérito que teria como objectivo investigar uma possível situação de incompatibilidade entre a Spinumviva, a sua empresa de consultoria, e o seu cargo de primeiro-ministro.
Que acontecimentos, que factos, que problemas verificados nas últimas semanas e até nos últimos meses, indicativos talvez do (mau) estado da Nação, podem e devem ser destacados antes desta ida às urnas (de votos)? O «apagão» ocorrido a 28 de Abril, que deixou Portugal e Espanha sem electricidade durante mais de 12 horas, e que resultou do colapso do sistema energético do país vizinho, que assenta em demasia nas chamadas «renováveis», claramente insuficientes para as necessidades básicas, mas ainda assim prioritárias para os cultistas fanáticos que acreditam nas mentiras do «aquecimento global antropogénico» e da «crise climática», os mesmos que no nosso país conseguiram que fossem encerradas as centrais termo-eléctricas do Carregado e de Sines, assim aumentando a nossa dependência em relação a «nuestros hermanos». A greve de uma semana na Comboios de Portugal, metade da qual sem quaisquer serviços mínimos, e que dificultou ou mesmo impediu a deslocação de milhares de pessoas para as suas casas e locais de trabalho, convocada futilmente perante um governo de gestão, logo impossibilitado de atender às reivindicações contínuas de funcionários privilegiados cujo reiterado comportamento irresponsável justifica cada vez mais a restrição e até a eliminação do direito de greve no sector público. A imigração em massa, crescente e descontrolada, causa de colapsos na saúde, na educação, na segurança e na habitação, mais grave e mais perigosa quando protagonizada por muçulmanos que uma e outra vez demonstram a sua hostilidade permanente para com sociedades cristãs, mas que encontram nos esquerdistas nacionais os cordatos colaboracionistas nos seus ensejos expansionistas, serviçais sabujos que não hesitaram em hastear no Castelo de São Jorge em Lisboa, um símbolo máximo da fundação da nacionalidade conseguida em grande parte contra todo o Islão, uma bandeira de terroristas neo-nazis anti-semitas, um ultraje supremo que em pouco ou nada se distingue de alta traição.
Tudo o que acima foi mencionado comprova qual é, em última análise, o principal problema deste país, e que não é novo: a preocupante falta de competência e de coragem por parte de quem, em princípio, está mandatado para lidar de forma firme com criminosos de diferentes proveniências e características, criminosos esses que incluem os atrevidos «ocupas» de propriedades alheias (que a polícia, vá-se lá saber porquê, não tem poder para expulsar) e os eco-extremistas anti-progressistas da Climáximo e do Fim ao Fóssil, que um dia irão descobrir de um modo muito, muito desagradável que nem todos os seus potenciais «alvos» são cobardes ao ponto de pacificamente se deixarem «pintar». Entretanto, prossegue a acelerada destruição da ortografia, e, por arrastamento, da língua e da cultura nacionais por via de um «acordo» concebido e imposto por deficientes mentais que acreditam que há «uniformização» quando – num exemplo entre vários – no Brasil se continua a escrever «recepção» e em Portugal se tornou «obrigatório» escrever «receção». Enfim, são coisas a considerar quando no domingo se for votar.     

quarta-feira, abril 30, 2025

Olhos e Orelhas: Primeiro Quadrimestre de 2025

A literatura: «Erótica Universalis - De Pompeia a Picasso», Gilles Néret; «Tatuagem - Colecção Privada da Arte e dos seus Fazedores, 1730-1970, de...» Henk Schiffmacher (Noel Daniel, ed.); «Brinquedos - 100 Anos de Anúncios de Brinquedos Todo-Americanos» e «Anúncios Todo-Americanos - 80's», Jim Heimann (org.) e Steven Heller (intro.); «A Arte da Alfinetada», Dian Hanson (com Louis K. Meisel e Sarah Jane Blum); «Cartazes Chineses de Propaganda», Max Gottschalk (Anchee Min, Duo Duo e Stefan R. Landsberger, intro.).
A música: «O Melhor Dos Melhores...», Herminia Silva; «Underground», Thelonious Monk; «Live At The Fillmore '68», Santana; «Yellow Submarine», Beatles; «Songs From A Room», Leonard Cohen; «Tinta Permanente», Sérgio Godinho; «Cure For Pain», Morphine; «Hell Freezes Over», Eagles; «The Great Escape», Blur; «Läther», Frank Zappa; «Horas Vazias», Camané; «Sour», Olivia Rodrigo; «Patient Number 9», Ozzy Osbourne; «Scarlet», Doja Cat; «One Assassination Under God - Chapter 1», Marilyn Manson; «Israel In Egypt», George Frideric Handel (por Alan Watt, Elizabeth Gale, Ian Partridge, James Bowman, Lillian Watson e Tom McDonnell, com o Coro da Catedral da Igreja de Cristo e a Orquestra de Câmara Inglesa dirigidos por Simon Preston); «Symphonien (Nº 44, Nº 48, Nº 49)», Joseph Haydn (pela Orquestra de Câmara Inglesa dirigida por Daniel Barenboim).
O cinema: «O Filme dos Super Irmãos Mário», Aaron Horvath e Michael Jelenic; «Guy Livre», Shawn Levy; «Caça-Fantasmas - Império Congelado», Gil Kenan; «Perdidos no Espaço», Stephen Hopkins; «Homem Gémeo», Ang Lee; «Batalha Real», Kinji Fukasaku; «O Clarão», Andy Muschietti; «Homem-Formiga e Vespa - Quantumania», Peyton Reed; «Pantera Negra - Wakanda Para Sempre», Ryan Coogler; «Morbius», Daniel Espinosa; «Hotel Transilvânia 3 - Umas Férias Monstruosas», Genndy Tartakovsky; «Qualquer um Menos tu», Will Gluck; «Sem Ressentimentos», Gene Stupnitsky; «Uma pelo Dinheiro», Julie Anne Robinson; «Admissão», Paul Weitz; «Cinco Dias, Cinco Noites», José Fonseca e Costa; «Telstar - A História de Joe Meek», Nick Moran; «O que Tem o Amor a ver com Isso», Brian Gibson; «Girando Ouro», Timothy Scott Bogart; «Esquisito - A História de Al Yankovic», Eric Appel; «20 Dias em Mariupol», Mstyslav Chernov; «Homem em Baixa», Dito Montiel; «O Convénio», Guy Ritchie; «Terra do Tigre», Joel Schumacher; «H. C. M. E.», Robert Altman; «O Barco», Wolfgang Petersen; «Ruas de Fogo», Walter Hill.
E ainda...: CBS/STAR Comedy - (série televisiva de ficção) «Dois Homens e Meio (primeira, segunda e terceira temporadas)»; «Se vincitor tu sei» (ária inédita de Francisco António de Almeida, em concerto, a 22 de Novembro de 2024, no Museu do Dinheiro gravado e emitido pela RDP-Antena2), Os Músicos do Tejo; TF1/STAR Crime - (série televisiva de ficção) «Mercato (primeira temporada)»; Arquivo Nacional Torre do Tombo - exposição (virtual) «Bartolomeu Lourenço de Gusmão e a Passarola»; «Good 4 U», (vídeo musical de ) Olivia Rodrigo; CBS/SyFy - (série televisiva de ficção) «Pessoa de Interesse (segunda, terceira e quarta temporadas)»; Everything Is New/Lenny Kravitz - «Blue Electric Light Tour (primeira parte, Amaura)» - Meo Arena, 2025/4/8; Museu do Neo-Realismo - exposição «Resistir! - Os Portugueses no Sistema Concentracionário do III Reich» + exposição «Onde Estão Elas? Mulheres Artistas na Colecção do Museu do Neo-Realismo» + exposição «Uma guitarra com gente dentro - Carlos Paredes e o Neo-Realismo» + vídeo-instalação (de Alexandre Lyra Leite) «She´s Lost Control»; Autódromo do Estoril/Classic Team Lotus - (exposição sobre os) 40 anos da primeira vitória de Ayrton Senna na Fórmula 1 (Grande Prémio de Portugal, 1985). 

quarta-feira, abril 16, 2025

Ordenação: 20 filmes (nova versão)

Foi há quase 20 anos, em Agosto de 2005, que publiquei aqui no Octanas a primeira versão da minha lista dos 20 filmes «inesquecíveis, que me impressiona(ra)m, que me marca(ra)m, que me influencia(ra)m». Mas então também fiz a ressalva de que essa lista não era necessariamente definitiva. E, efectivamente, duas décadas depois decidi fazer uma alteração, isto é, um filme «saiu» para outro «entrar». Ei-los, por ordem cronológica e com os realizadores respectivos: «The Crowd» (1928), King Vidor; «A Canção de Lisboa» (1933), Cottinelli Telmo; «The Great Dictator» (1940), Charles Chaplin; «O Pátio das Cantigas» (1942), Francisco Ribeiro; «It’s a Wonderful Life» (1946), Frank Capra; «North by Northwest» (1959), Alfred Hitchcock; «Ben-Hur» (1959), William Wyler; «The Sound of Music» (1965), Robert Wise; «2001: A Space Odyssey» (1968), Stanley Kubrick; «Roma» (1972), Federico Fellini; «O Rei das Berlengas» (1978), Artur Semedo; «Apocalypse Now» (1979), Francis Ford Coppola; «Excalibur» (1981), John Boorman; «Raiders of the Lost Ark» (1981), Steven Spielberg; «Blade Runner» (1982), Ridley Scott; «Aliens» (1986), James Cameron; «The Abyss» (1989), James Cameron; «Terminator 2: Judgement Day» (1991), James Cameron; «Titanic» (1997), James Cameron; «Inception» (2010), Christopher Nolan.

quarta-feira, abril 02, 2025

Ocorrência: 20 anos de «combustão»

Hoje assinala-se, e celebra-se, o vigésimo aniversário do início do Octanas. Este blog constitui o meu mais prolongado, contínuo, constante, projecto de sempre. São duas décadas de actualizações regulares, no mínimo mensais, e sem falhar um único mês. É a minha página oficial, principal, o sítio central em que podem ser encontradas as informações fundamentais – menos as privadas, obviamente – sobre mim e as minhas actividades, e as minhas opiniões...
... E tem a sua origem, e a sua justificação, na publicação do meu primeiro livro, «Visões», em 2003, e da necessidade que então senti de ter um espaço próprio na Internet que servisse de canal de comunicação privilegiado para divulgar não só aquela minha primeira obra editada mas também outras que se seguissem. E porque, por motivos financeiros e técnicos, outras soluções não me pareceram as mais adequadas então, acabei, após um atraso de quase dois anos, por optar por utilizar a plataforma Blogger. O nome surgiu-me de repente, numa inspiração súbita, mas obviamente influenciado pela semelhança com o meu nome, e ainda pelo grafismo que escolhi, e que sempre foi o mesmo, o dos círculos. Depressa decidi que Abril seria o mês de estreia, mas nem consegui esperar pelo dia do meu aniversário; e como dia 1 é o das mentiras, o primeiro post é do dia 2, com um dos meus poemas – que, pelo tema, considerei ser o adequado para marcar o início desta aventura – e o segundo, no dia 7, teve outro poema, este marcando uma efeméride de 200 anos na data exacta; no dia 16 foram nem mais nem menos do que seis entradas, uma delas com o prefácio escrito por António de Macedo para «Visões». Entretanto, igualmente à partida decidi que o título de cada texto seria antecedido de uma palavra – designando uma categoria, ou assunto – começada por «O»; e que as designações das secções, à esquerda, de igual modo começariam por «O». Uma... opção estética que serve também de marca distintiva, diferenciadora, e que dá consistência, coerência, a todo este percurso que já leva 20 anos...
... E que, contando com este, soma um total de 819 posts publicados, que variam entre «muitos factos e algumas ficções, potencialmente “inflamáveis”». Aquele com o maior número de visualizações – 5758, no momento em que escrevo – é, como revelei no mês passado, um que viu a luz em Novembro último. Mais do que um exercício em egocentrismo, que inevitável e compreensivelmente é, o Octanas tem constituído também, ocasionalmente e sempre que se justifica, um esforço de empatia quando nele são destacadas outros indivíduos e outras instituições, as suas posições e as suas produções. Seja como for, e em última instância, só posso esperar que algo de positivo, algo de útil, tenha resultado deste trabalho. O qual, sim, tenho a intenção de manter, apesar de as minhas ilusões com uma «carreira» de alguma importância e alguma influência já terem desaparecido. 

quinta-feira, março 13, 2025

Outros: Ainda mais «verdejantes»

A 4 de Novembro último assinalei os 40 anos da morte do meu pai aqui, no Octanas, com um texto a que dei o título de «Verdes são», em que o evoquei, referi episódios sobre a sua vida (e a minha) e especulei sobre o que ele poderia ter pensado e/ou feito a propósito de acontecimentos nacionais e internacionais que ocorreram após o seu falecimento. Hoje, dia em que ele completaria 86 anos de idade se ainda fosse vivo, parece-me ser o momento adequado para voltar ao tema e àquele meu texto, antes de mais por causa de um facto relativo a ele, que não esperava de todo, e que muito me surpreende(u): o seu notável e, para as minhas circunstâncias, enorme sucesso; no instante em que publico isto, (a página específica de) «Verdes são» tem mais de 4500 visualizações (4588, para ser mais exacto)...
... Pelo que o número total, verdadeiro, até deverá ser superior, se considerarmos as leituras feitas através da página principal deste blog. Trata-se de um registo bem elevado para alguém cujas «postas» habitualmente recebem visitas entre as muitas dezenas e as poucas centenas; algumas, não muitas, passaram o milhar, mas essas foram excepções à «norma». Obviamente, este meu texto mereceu o interesse e a atenção de muitas, mas mesmo de muitas pessoas... que não sei quem são; as únicas reacções de que tenho conhecimento vieram de familiares, de que são exemplos os dois únicos comentários feitos até agora. A divulgação do texto terá sido feita principalmente por correio electrónico e, talvez, também por Facebook, mas não tenho certezas, provas, quanto a isso. De alguma forma o conteúdo de «Verdes são» teve «ecos» prolongados em bastantes mentes (e corações?), mas espero sinceramente que tal tenha acontecido não apenas pela «bizarria» de um homem que, quase aos 60 anos, deixou de ser adepto do Benfica para passar a sê-lo do Sporting. Seja como for, expresso a minha profunda gratidão a todos os que o leram e que o recomendaram...
... E decidi, como um modo adicional de agradecimento, proceder ao aumento do texto original; resolvi fazer, digamos, uma espécie de «edição especial». Pelo que inseri um novo parágrafo e cinco frases nos parágrafos existentes, e em itálico para que melhor se perceba onde estão e quais são as diferenças, que espero que sejam igualmente apreciadas. Nem sempre maior equivale a melhor, mas tentei que neste caso assim fosse. Continuo receptivo a comentários e a perguntas. E esclareço que, sim, o título é uma alusão ao poema de Luís de Camões.  

sexta-feira, fevereiro 14, 2025

Outros: O amigo americano

Não é novidade que o maior problema que os autores portugueses de Ficção Científica e Fantasia enfrentam desde... sempre é o muito deficiente, se não mesmo reduzido e até inexistente, apoio editorial (publicação e promoção) que recebem. Porém, tal constituí também um factor que, apesar de ocasionais divergências e disputas que possam ocorrer, tem contribuído para estabelecer e reforçar laços de solidariedade entre eles, laços esses que são os fundamentos de uma comunidade onde a troca de informações e de experiências é vital.
Na mesma lógica, e compreensivelmente, o contacto com autores estrangeiros é tão ou mais importante do que o do com nacionais. Nesse aspecto eu já tinha tido o privilégio de, mais do que comunicar remotamente, falar pessoalmente com duas relevantes personalidades de outros países que trabalham na FC & F. Uma é Gerson Lodi-Ribeiro, brasileiro, que conheci em 2006 aquando do Fórum Fantástico realizado naquele ano, cujo trabalho no sub-género da História Alternativa, expresso em várias obras notáveis (romances, novelas e contos), foi uma influência decisiva na concepção e na organização da antologia colectiva de contos «A República Nunca Existiu!», em que ele, aliás, participou a meu convite, juntamente comigo e outros 11 escritores. A outra personalidade estrangeira a que aludi é Mariano Martín Rodriguez, este não um ficcionista mas sim um investigador, que me contactou inicialmente em 2013 depois de tomar conhecimento da existência do meu livro «Visões» e, em especial, do conto «Decreto-Lei Nº 54» nele incluído, que MMR considerou poder enquadrar-se num estilo que ele designou de «fictoprescrição»; viria a encontrar-me com ele em 2014 na Biblioteca Nacional de Portugal, quando se deslocou àquela para efectuar pesquisas bibliográficas, uma ocasião que também aproveitei para o apresentar a, entre outros, António de Macedo, Daniel Tércio, João Barreiros e Luís Filipe Silva.
No final de 2023 recebi uma mensagem de correio electrónico de um terceiro estrangeiro ligado à FC & F através do meu segundo «e-ndereço», que ele encontrou depois de descobrir e de ler artigos meus publicados no sítio da Simetria. Chama-se Heath Row, é norte-americano e, profissionalmente, o seu currículo ao longo do tempo indica actividades no jornalismo, nas novas tecnologias e no marketing. Reside a maior parte do ano na maior cidade da Califórnia, onde integra actualmente a equipa dirigente da Sociedade de Fantasia Científica de Los Angeles como escrivão («scribe»); numa menor parte do ano reside... em Portugal, mais concretamente em Póvoa de Lanhoso, onde ele e a esposa compraram uma casa. Aqui chegado, decidiu tentar saber quem é quem, e o que se faz, no nosso país em matéria de FC & F. Em 2024 encontrámos-nos pessoalmente em duas ocasiões na capital, a primeira em Abril no Festival Contacto (organizado pela Imaginauta na Biblioteca de Marvila), e a segunda em Novembro no restaurante Alto Minho perto da Praça do Marquês de Pombal, esta com a presença de Bruno Martins Soares, a meu convite. Uma e outra foram mencionadas por HR no seu boletim digital/ezine The StF Amateur, respectivamente nas edições de Junho (páginas 9 a 11) e de Janeiro (páginas 6 a 8) últimos. Este novo amigo americano adquiriu entretanto exemplares de «Espíritos das Luzes» e de «Mensageiros das Estrelas», apenas duas das várias obras, tanto antigas como modernas, que fazem parte da história da ficção especulativa portuguesa, de cuja existência o informei e cuja leitura lhe sugeri. Também lhe dei uma lista de filmes baseados em livros de José Saramago, alguns dos quais são produções de Hollywood, e um rol dos principais eventos do género no nosso país, com destaque para o FantasPorto. Sendo Heath Row um grande consumidor e divulgador de tudo o que é Ficção Científica e Fantasia numa perspectiva multimédia, é de esperar que ele possa contribuir de algum modo para dar maior visibilidade e valor, pelo menos nos EUA (o que já não seria pouco), ao trabalho que uma comunidade artística diminuta, algo deprimida, mas nunca desistente, teima em fazer neste pequeno «jardim à beira-mar plantado» por vezes tão mal tratado. 

quarta-feira, janeiro 15, 2025

Opinião: Pateada para o Panteão

Infelizmente, aconteceu: após vários anos de confrontos e de diferendos que incluiram decisões em tribunais, os restos mortais de José Maria Eça de Queiroz foram oficialmente transferidos, trasladados, para o Panteão Nacional, em Lisboa, no passado dia 8 de Janeiro. Mas dificilmente a controvérsia e o debate terão terminado.
Eu, que concebi e co-organizei congressos em 2019 e em 2021 dedicados ao criador de «O Primo Basílio», «A Relíquia» e o «Os Maias», sinto-me com mais autoridade para criticar, para condenar, esta iniciativa: para o Panteão, esse mórbido «depósito de celebridades» do regime, vai a minha mais sonora... pateada. E o facto de terem coberto o caixão de Eça de Queiroz com o «ignóbil trapo» (Fernando Pessoa o disse), estandarte de terroristas e de assassinos, regicidas e criminosos, representou o pior numa cerimónia, e num processo, já de si demasiado indignos. José Maria era monárquico, anti-republicano; os seus filhos combateram, com armas, muito bem e honrosamente, o regime ilegítimo saído do golpe de Estado de 5 de Outubro de 1910. Pelo que «embrulhá-lo» naquele «casulo» infame foi como cuspir em cima dele e de todos os seus descendentes.
No seu blog Horas Extraordinárias Maria do Rosário Pedreira escreveu, em tom fantasista, que Eça agora «poderá ter interessantíssimas conversas com Sophia (de Mello Breyner Andresen) (...) apesar de para já estar sozinho numa sala». Comentando no mesmo tom, eu diria que ele sem dúvida preferiria permanecer no cemitério de Santa Cruz do Douro, onde não estava só pois repousava ao lado da filha, com quem teria certamente diálogos mais enternecedores. Aliás, o que mais espanta nesta anunciada e concretizada profanação de sepultura é a deslealdade – para não usar uma palavra mais forte começada por «t» - de alguns indivíduos e instituições em Baião, a começar por José Luís Carneiro, socialista que foi presidente da câmara daquela vila, ministro de António Costa e agora deputado, e a terminar na Fundação Eça de Queiroz (esta, sim, «sempre a mexer», mas nem sempre no melhor sentido) e no actual, imaturo, presidente daquela. Porquê tirar o autor de «A Cidade e as Serras» de perto do local, de Tormes, que lhe inspirou a criação daquela obra? O que poderá levar pessoas aparentemente sensatas a «darem tiros nos pés», se não os seus próprios, então os da terra à qual, em princípio, deveriam maior fidelidade? Apenas granjear alguns favores junto de pseudo-elitistas e «burrocratas» instalados n'A Capital?
Enfim, porquê ficar por aqui? Porque não continuar a roubar escritores aos locais em que têm as suas últimas (?), escolhidas, moradas? Por exemplo, Fialho de Almeida a Cuba? Florbela Espanca a Vila Viçosa? Camilo Castelo Branco – cujo bicentenário do nascimento se celebra neste ano de 2025 – ao Porto, apesar de, ele sim e curiosamente, ter nascido em Lisboa? A abusiva e ofensiva apropriação dos ossos de Eça de Queiroz constitui apenas mais uma ilustração, mais uma confirmação, de uma das hipocrisias fundamentais da sociedade portuguesa contemporânea, a que concerne à desigualdade entre o litoral e o interior, à oposição entre núcleos urbanos e áreas rurais; que depois os «suspeitos do costume» não venham queixar-se da falta de regionalização e do centralismo olissiponense.