Decorreu
ontem, segunda-feira, à tarde, no cemitério do Alto de São João, em Lisboa, o
funeral (missa de corpo presente seguida de cremação) de António de Macedo, que faleceu no passado dia 5 de Outubro. Eu estive presente para participar na
cerimónia de despedida a um homem, artista, cidadão, exemplar e excepcional, a
quem eu devo tanto, a quem muitos outros devem tanto.
No meu
caso, e como constantemente tenho referido ao longo do tempo, a ele devo o
início da minha carreira literária, ao ter decidido publicar, por sugestão de
Sérgio Franclim, o meu livro «Visões» na colecção «Bibliotheca Phantastica» da
(entretanto extinta) editora Hugin, para o qual escreveu, aliás, uma elogiosa
introdução, que replicou, oralmente, na apresentação da minha obra de estreia,
ocorrida n(a Biblioteca d)o Palácio Galveias, em Lisboa, em 2003. Depois disso,
foram muitos anos de encontros, conversas e colaborações – em especial a sua
participação na antologia colectiva de contos de ficção científica e fantástico
«Mensageiros das Estrelas», que eu concebi e co-organizei, e cuja apresentação, na edição de 2012 do colóquio internacional com o mesmo nome, na Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa, contou com a sua presença. Várias
apresentações de livros autografados por ele, que não incluem, infelizmente, o
seu último romance, «Lovesenda ou o Enigma das Oito Portas de Cristal», cuja
publicação pela Editorial Divergência eu me orgulho de ter proporcionado.
Aliás, a apresentação daquela obra, ocorrida em 18 de Fevereiro último na
Biblioteca São Lázaro, em Lisboa, não contou com a sua presença, o que
constituíu um indício infeliz de que o seu estado de saúde já se agravara
consideravelmente.
Assim,
a última ocasião em que eu – e muitas outras pessoas – estive(mos) com ele foi
aquando da estreia no cinema São Jorge, em Setembro do ano passado durante o
festival MoteLx, do seu último filme, «O Segredo das Pedras Vivas», num
auditório repleto que o aplaudiu, que o ovacionou antes e depois de subir ao
palco para, rodeado por actores e técnicos que com ele trabalharam naquele
projecto, falar deste e ainda da sua carreira; sobre esta, e não muito tempo
depois, era estreado o documentário «Nos Interstícios da Realidade – O Cinema
de António de Macedo», o que contribuíu para fazer de 2016 «o ano de António». Então
vimo-lo frágil, andando com dificuldade. Tínhamos esperança de que ele
recuperasse, que o seu corpo readquirisse o vigor que a sua mente nunca deixou
de ter. Porém, tal acabou por não ser possível.
Este
desfecho não foi, pois, inesperado. No entanto, não deixa por isso de ser
triste. Fica a admiração, a gratidão, a saudade. E, ao contrário do que afirmou
Jorge Mourinha no Público, António de Macedo não estava «ultimamente esquecido»…
pelo menos não totalmente; eventualmente, talvez, por alguns ignorantes, ingratos
e invejosos de uma certa, pequenina, «cultura à portuguesa»; não, de certeza,
pelos adeptos e praticantes mais jovens da FC & F nacional, que tinham – e têm,
e continuarão a ter – nele um mentor, um modelo.
A ler ainda
as homenagens assinadas por Ana Almeida, David Soares, João Campos, João Lopes,
Luís Miguel Sequeira e Rogério Ribeiro. (Também no MILhafre e no Simetria.)
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