Hoje, 25 de Junho de 2023, passam 120 anos sobre o
nascimento de Eric Arthur Blair, que ficou famoso mundialmente através do seu pseudónimo
literário George Orwell. Tal como acontece com muitas outras pessoas, não é, ou
não seria, necessária uma efeméride especial – e esta que agora se assinala é
como que uma «composta», cem mais vinte – para se evocar e celebrar a vida e a
obra do autor de «Mil Novecentos e Oitenta e Quatro». Porém, vários têm sido os
factos ocorridos na última década, e em especial desde o início desta década,
que mais vieram reforçar a pertinência, a permanente actualidade e relevância
do seu mais famoso romance. Que, aliás, celebra este ano (a 4 de Dezembro) os
75 da sua conclusão e no próximo (a 8 de Junho) os 75 da sua primeira edição.
Não faltam exemplos que confirmam que a ficção se
tornou facto, em especial – o que é mais inquietante – na Grã-Bretanha e em
outros países anglófonos com forte ligação política e/ou cultural àquela, como
o Canadá (onde Pierre Trudeau se revelou um quase ditador, mantendo-se como
primeiro-ministro no momento em que escrevemos), a Irlanda, a Austrália, a Nova Zelândia (onde Jacinda Arden se revelou uma quase ditadora, tendo entretanto,
e, felizmente, deixado de ser primeira-ministra), e, obviamente, os Estados
Unidos da América após a (ilegítima) ocupação da Casa Branca por Joe Biden. Na
verdade, certas pulsões, ou tendências, totalitárias – em especial a
predisposição para a censura e para a punição por parte de certas
individualidades e entidades contra outras consideradas «inimigas» – que já se
notavam antes naquelas nações foram grandemente agravadas pela eclosão da
pandemia do vírus Covid-19...
... E a consequente repressão exercida por um Estado
sobre uma população não se verificou apenas em países com ditaduras duradouras
ou com fracas tradições democráticas. O «modelo chinês» foi como que «exportado»,
adoptado em quase todo o Mundo, tendo-se multiplicado os casos de cidadãos
detidos pelos motivos mais absurdos – como o de estarem sózinhos na rua em vez
de fechados em casa – ou punidos por emitirem e/ou partilharem «teorias da
conspiração» e «acções de desinformação» que, em última análise, vieram a
comprovar-se correctas: o vírus teve origem num laboratório, só é perigoso para
segmentos demográficos diminutos, e as vacinas contra o mesmo não tiveram
qualquer resultado na redução das infecções e das transmissões e comportaram
efeitos secundários perigosos e até fatais; quarentenas, máscaras e
confinamentos não proporcionaram quaisquer benefícios assinaláveis.
Nunca até então se havia assistido a uma tal
operação repressiva à escala planetária, protagonizada não por um mas sim por
vários «Grandes Irmãos». A liderá-la estava a OMS, ou, em Inglês (e numa
designação provavelmente mais apropriada a uma organização criminosa
internacional), a WHO. Que actuou como um autêntico «apêndice» propagandístico
de Pequim, quase como uma câmara de ressonância das posições do Partido
Comunista Chinês, atitude tanto mais reprovável, condenável, porque a agência
da Organização das Nações Unidas para a saúde deveria ter sido, ser,
equidistante em relação a todo e qualquer país membro. Porém, há que reconhecer
que a actuação de Tedros Ghebreyesus e dos seus «camaradas» acabou por se
revelar bastante consentânea com o que tem sido o panorama geral na ONU durante
as últimas décadas, em que várias ditaduras – em especial as muçulmanas –
conseguem ser eleitas para integrarem agências e comités (porque é «normal» ter
o Irão a pontificar sobre direitos das mulheres), nessas campanhas aproveitando,
com o maior descaramento, para aumentar ainda mais a pressão sobre Israel com
sucessivas e revoltantes moções condenatórias. Tudo isto quando é secretário-geral
um António Guterres cada vez mais ridículo, histérico e execrável, agora uma
personificação não nacional mas internacional do «pântano», expelindo
intervenções públicas e oficiais que alternam entre o catastrofismo climático –
e que, não se duvide, incitam os actos praticamente terroristas de «activistas»
como o bloqueio de ruas e de estradas e o vandalismo de obras de arte – e o
apelo constante ao alargamento da censura sob o pretexto do
combate à «desinformação e ao «discurso do ódio», este tendo ou não «dois minutos»
de duração.
Com tais exemplos vindos de «cima», não é de
surpreender que irrupções de loucura «orwelliana» aconteçam um pouco por todo o
Mundo. Recorde-se aquela que é, muito provavelmente, a mais famosa passagem de «Mil
Novecentos e Oitenta e Quatro: «Todos os registos foram destruídos ou
falsificados, todos os livros reescritos, todas as imagens foram repintadas,
todas as estátuas e edifícios receberam novos nomes, todas as datas foram
alteradas. E o processo continua dia após dia e minuto após minuto. A história
parou. Nada existe excepto um presente infindável em que o Partido está sempre
certo». A China destruiu os registos referentes ao início da pandemia, e as
falsificações quanto àquela foram, são, muitas; registos são também os textos e
vídeos sobre este e outros assuntos que os operacionais do Facebook, do Twitter
(pré-Elon Musk) e do YouTube têm apagado, e não só os produzidos e publicados
por norte-americanos, e a montagem selectiva («repintar»?) de gravações de som
e imagem é algo que há muito se pratica. Vários livros têm de facto sido
reescritos, reeditados com alterações, recentemente, como os de Agatha Christie, Ian Fleming e Roald Dahl, porque originalmente continham palavras
agora tidas como «ofensivas», e há quem queira fazer o mesmo a Eça de Queiroz.
Nos EUA assistiu-se também, desde os motins em 2020 que tiveram como pretexto a
morte de George Floyd, a um movimento de remoção de estátuas em diversas
cidades, não só de esclavagistas mas também de abolicionistas como Abraham Lincoln (!) e de outras figuras históricas que, seria de pensar, são, eram,
progressistas consensuais como Theodore Roosevelt, enquanto escolas, quartéis e
outras infra-estruturas públicas foram «rebaptizadas»; já em Portugal a estátua do Padre António Vieira e o Padrão dos Descobrimentos foram alvos de vandalismo.
Quanto a datas, surgiu nos EUA uma corrente que advoga o ano de 1619, e não o
de 1789, como o da «fundação» do país, e, no Brasil, mantém-se a tendência, por
parte de alguns, de culpar os «tugas» por tudo o que de mau aconteceu depois da
independência em 1822, mas não se hesita em atribuir a uma nação de Vera Cruz,
ainda não existente formalmente, certos feitos que, na verdade, se deveram à metrópole.
«Grande Irmão» não é a única expressão inventada por
George Orwell que foi tornada realidade muitas e muitas vezes nos anos
seguintes. «Memory hole»? A comunicação social «tradicional», em especial nos
EUA mas não só, muito se tem esforçado em ignorar, em fazer desaparecer,
notícias negativas para as individualidades e as entidades que prefere, todas
invariavelmente à esquerda do espectro político. «Groupthink»? Uma vez mais,
repare-se nos milhares de pessoas, formando como que um «culto», os «fiéis» que
continuam a acreditar nas aldrabices dos alarmistas climáticos apesar das consecutivas
«profecias» apocalípticas que nunca se concretizaram. «Ministério da Verdade»?
Alguém por Joe Biden (porque este não tem capacidade para tal) tentou
oficialmente criar (pelo menos) um. «Thought crimes» cujos respectivos
«culpados» são detidos por uma «Polícia do Pensamento»? Dos dois lados do
Atlântico casos desse tipo sucedem-se, com várias pessoas a (poderem) ser
presas pelo que dizem, escrevem e até,
literalmente, pensam (!!). «Newspeak»? O AO90 em Portugal, e as «justificações»
dadas pelos seus indignos impulsionadores, podem preencher os «requisitos»
daquela denominação, mas, no entanto, ficam muito aquém das loucuras lexicais
dos fanáticos, totalitários integrantes das hordas LGBTQ+, decididos a
substituírem as palavras, e designações, mais normais por alternativas retorcidas e ofensivas, inclusive para «mulher». Na sociedade norte-americana,
aliás, o panorama é de tal modo degradante e inquietante que, num julgamento em
que vários sectores do governo federal são acusados de acções de censura
generalizada em conluio com empresas tecnológicas, o juíz perguntou aos
representantes daqueles se alguma vez haviam lido «Mil Novecentos e Oitenta e
Quatro»!
George Orwell morreu
prematuramente, antes de completar 47 anos, e apesar de breve e difícil a sua
vida foi intensa, plena de acontecimentos e de momentos significativos,
individual e colectivamente. As suas experiências e as reflexões que delas
retirou permitiram-lhe antecipar o futuro. E beneficiou igualmente de estar
inserido num meio cultural, literário, muito mais receptivo à diferença, à
inovação, à subversão. Se ele tivesse sido português muito provavelmente esta
sua obra-prima nunca teria sido publicada, porque receberia repetidas respostas
negativas com a «justificação» de que ela não se integrava no plano editorial
ou que este já estava fechado. (Também no Obamatório e no Simetria.)