No jornal Público foi ontem publicado
electronicamente, e hoje na edição (Nº 10281, página 32) em papel, o artigo (e notícia) «Rui Vieira Nery premiou como júri obra de que é um dos coordenadores», escrito por Rodrigo
Nogueira.
Este é um facto do qual eu fui o
primeiro a tomar conhecimento… fora da Sociedade Portuguesa de Autores, cujos
principais (ir)responsáveis vieram a revelar-se cúmplices numa situação de
autêntica fraude intelectual, e privando-me, e ao meu livro «Nautas – O início da Sociedade da Informação em Portugal» (e, eventualmente, a outros autores e a
outras obras), de um prémio, com o nome de José Mariano Gago, já falecido e
saudoso professor, investigador e ministro, nesta capacidade tendo dado início,
em meados da década de 90, a um processo, a um projecto, de modernização
tecnológica do país, do Estado e da sociedade civil, corporizado no «Livro
Verde para a Sociedade da Informação em Portugal», editado em 1997, e que,
precisamente, constituiu o pretexto e o ponto de partida para a minha carreira
enquanto jornalista especializado em tecnologias da informação e da comunicação.
Reuni os que considero serem os melhores textos dessa carreira num volume
publicado no ano passado, quando se assinalou o 20º aniversário do «Livro Verde…».
Custaria a acreditar que um livro feito
por causa de José Mariano Gago, e em homenagem (explícita) a José Mariano Gago,
não vencesse a primeira edição de um prémio com o nome de José Mariano Gago,
com o objectivo declarado de «ser atribuído ao autor português do melhor livro de divulgação científica publicado no ano anterior». Porém, infelizmente e até
escandalosamente, foi isso mesmo o que aconteceu. Para o artigo do Público dei o
meu depoimento e, deste, excertos são citados, resumindo correctamente o que
sucedeu desde 22 de Maio último: a minha surpresa após saber qual tinha sido a obra «vencedora», considerando as suas características, incluindo em especial o
estar «escrita» em sujeição ao AO90; a minha ainda maior surpresa ao descobrir,
quase por acaso, que um dos membros do júri era também um dos co-autores da
obra – veja-se, e confirme-se, quem coordena(rá) o volume Nº 20 daquela; o meu contacto
junto da SPA, com conhecimento do Presidente da Direcção daquela, José Jorge
Letria, apelando a que a entrega do prémio fosse cancelada, o que não aconteceu; a minha mensagem a Carlos Fiolhais (que, enquanto director da
colecção «Ciência Aberta» da Gradiva, recusou publicar o meu livro «Nautas»
naquela editora, isto depois de se ter queixado, no seu livro «A Ciência em
Portugal», de que faltavam obras escritas por jornalistas de ciência)
sugerindo-lhe, e a José Eduardo Franco, que renunciassem ao prémio, e da qual, significativamente, não recebi resposta.
No momento em que escrevo e publico este
relato não há indícios de que este caso de «compadrio cultural», de atropelo à
ética, de «promiscuidade professoral», vá ter consequências, mais
concretamente, e obviamente, (algumas) demissões. Afinal, é tão só mais um
exemplo de como neste país certas pessoas sentem ter a autoridade e a
impunidade para fazerem o que, como e quando querem, não obedecendo a regras ou
adoptando regras diferentes para elas próprias. No entanto, e apesar de
particularmente grave, este «incidente» com a SPA não constitui o único exemplo
recente, e em que eu estou de algum modo envolvido, de prémios literários organizados e/ou atribuídos de forma duvidosa. Antes, mas já igualmente neste
ano de 2018, (um júri nomeado pel)a Associação Portuguesa de Escritores
concedeu o seu Prémio de Crónica e Dispersos Literários, não a «Nautas» mas sim a «A Alma Vagueante» de Mário Cláudio… que, por «coincidência» e curiosamente, é igualmente presidente da mesa da assembleia geral da APE! Todavia,
aqui houve um regulamento, divulgado publicamente, que indicava claramente como
(única?) incompatibilidade a de membros do júri não poderem ser autores
concorrentes ao prémio. Contudo, será isso suficiente para afastar as
suspeitas? (Também no MILhafre. Referência no Apartado 53.)