segunda-feira, novembro 04, 2024

Outros: Verdes são

Hoje, 4 de Novembro de 2024, passam exactamente 40 anos desde a morte do meu pai, José Manuel Dias dos Santos. Um dos acontecimentos mais marcantes – aliás, numa certa perspectiva, talvez mesmo o mais marcante – da minha vida, pelo profundo impacto e pelas enormes consequências que nela teve. Poder-se-á contrapor que o falecimento de um progenitor é algo de natural e de previsível, para o qual devemos estar, mesmo que inconscientemente, sempre preparados. Sim, sem dúvida; mas há que reconhecer também que esse cenário inevitável toma contornos muito diferentes quando o funesto desaparecimento acontece prematuramente, aos 45 anos de idade. Para melhor contextualizar a perda, eu tinha 19 anos e o meu irmão 12.
Nestas quatro décadas que entretanto passaram nunca deixei de me lembrar do, e de pensar no, meu pai constantemente. De duas formas, ou em dois sentidos: por um lado, interrogando-me sobre o que ele acharia de factos importantes que ocorreram em Portugal e no Mundo, e das figuras que os protagonizaram; e, por outro lado, especulando sobre qual teria sido a própria evolução pessoal dele, em especial nos aspectos ideológico e profissional. O meu pai, à semelhança de outros, ficaria surpreendido pela ascensão à Presidência da República de Mário Soares, primeiro, e de Cavaco Silva, depois, além de pelos dez anos em que o ex-ministro das Finanças de Francisco Sá Carneiro foi primeiro-ministro; teria ainda, acredito, testemunhado com expectativa a adesão do nosso país à Comunidade Económica Europeia e as mudanças radicais que aquela induziu; observado com entusiamo a realização da Expo 98 e a concomitante renovação urbana da zona oriental de Lisboa; assistido, entre espanto e terror, à queda do Muro de Berlim, ao fim da União Soviétiva e aos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001. A um nível individual prefiro imaginar que também se afastaria progressivamente do Partido Comunista Português, em que ambos militámos (eu na JCP), mas é provável que não tivesse ido tão longe quanto o filho mais velho, que se tornou monárquico e de direita; e não duvido de que, a dado momento, ter-se-ia tornado empresário e lançado o seu próprio, bem sucedido, negócio, porque espírito de iniciativa e competência técnica não lhe faltavam, de que é um exemplo o ter sido o fundador principal da cooperativa de consumo Unipovo, em Alverca.
Em retrospectiva, aquele ano de 1984 destaca-se como memorável por diversos motivos, a maioria dos quais infelizes. Começou mal com a morte igualmente precoce de José Carlos Ary dos Santos, que o meu pai conheceu pessoalmente enquanto publicitário, e a quem por isso eu muito gostaria de ter dado a ler os meus poemas. Continuou pior com o falecimento ainda mais precoce de Joaquim Agostinho, cujo cortejo fúnebre, que partiu da Basílica da Estrela com destino a Torres Vedras, nós presenciámos no Largo do Rato, depois de termos descido a Rua Rodrigo da Fonseca, vindos da empresa onde o meu pai trabalhava, situada num edifício na esquina com a Avenida Joaquim António de Aguiar – o mesmo a que eu voltaria, uma década depois, mas para um outro piso, enquanto redactor da revista África Hoje. Mantendo-nos no desporto, o José Manuel, tal como todos os seus compatriotas, exultou com a vitória – e respectiva obtenção da medalha de ouro (a primeira de Portugal) – de Carlos Lopes na prova da maratona dos Jogos Olímpicos de Los Angeles. Um triunfo que mais ou menos compensou a desilusão da derrota da selecção portuguesa de futebol face à sua congénere gaulesa no campeonato da Europa daquele ano, realizado, precisamente, em França. Como eu lamento que o meu pai não tenha tido a felicidade de assistir à «desforra» em 2016 e se maravilhar com as proezas de Cristiano Ronaldo, que nasceu no ano seguinte àquele em que ele pereceu...
... E que, tal como Carlos Lopes e Joaquim Agostinho, está entre os atletas mais valorosos que envergaram as cores do Sporting Clube de Portugal, de que ele era adepto. O que, depois de se casar, resultou numa «solidão clubística»: rodeado de benfiquistas, afirmava com bom humor ser o «Acácio Barreiros da (nossa) família». E hoje, muitos anos depois, o que acontece neste âmbito? Decidi tornar-me adepto do Sporting. Quem disse que não se pode mudar de clube, e numa idade já «avançada»? Afinal, se mudei tanto a nível político, porque não poderia fazer o mesmo a nível desportivo? E fi-lo não apenas por estar cansado, farto, da incompetência crónica e do fatalismo perene do suposto «glorioso»; também por muito admirar Frederico Varandas e Rúben Amorim – este um conterrâneo, aliás. Mas, principalmente, por o SCP ser uma das poucas (ou possivelmente a única?) instituição de grande dimensão no país, pública ou privada, que não se submeteu ao infame e ilegal «acordo ortográfico de 1990». Assim, actualmente sou eu que de certo modo invoco o então deputado único da UDP. O que não é um problema. E, enfim, o verde é também a minha cor, verdes são os meus (defeituosos) olhos, verde de uma esperança que, porém, agora é para mim, enquanto adulto e por causa de bastantes desilusões e de vários fracassos, bem menor do que quando eu era mais jovem. Do que quando o meu pai era vivo.

sábado, outubro 05, 2024

Opinião: A República, impúdica, é a ré

A 5 de Outubro de 2023 escrevi: «a cada ano que passa é cada vez mais difícil, se não impossível, contrabalançar, atenuar, a desgraça da implantação da república em 1910 com a glória da assinatura do Tratado de Zamora em 1143, em que foi reconhecida pela primeira vez a independência de Portugal.»
2024 não é uma excepção a essa regra; apesar de, entretanto, o PS ter finalmente deixado o poder após ter perdido as eleições legislativas antecipadas de 10 de Março na sequência da demissão do governo de António Costa, motivada por (mais) um escândalo de corrupção – e consequentes investigações policiais e acusações judiciais – envolvendo membros daquele, o governo do PSD e do como que  «desenterrado» CDS-PP que o substituiu, liderado por Luís Montenegro, não constituiu (até agora) a mudança profunda, o corte decisivo com um passado recente e regressivo que seria de desejar e de esperar. Aliás, e pelo contrário, parece que o famigerado «Bloco Central» de outros tempos reapareceu: não muito tempo depois de tomar posse, Montenegro declarou o seu apoio a Costa para este ocupar o cargo de Presidente do Conselho Europeu e, já neste mês, entendeu-se com Pedro Nuno Santos para garantir a aprovação do Orçamento de Estado de 2025, para além de ter prometido apoiar os órgãos de comunicação social «estabelecidos» e combater a «desinformação» (ou seja, implementar a censura) nas redes sociais. O que não surpreende de todo porque, nunca é de mais recordar e salientar, o PSD não é nem nunca foi um partido de direita; o que explica que os «laranjas» não pareçam muito incomodados com a utilização de expressões ridículas como «pessoas que menstruam» em documentos oficiais já sob a sua tutela, e que até o actual primeiro-ministro faça alusão à aldrabice das alterações climáticas antropogénicas a propósito dos incêndios em Portugal, em discurso proferido na assembleia geral da ONU! Enfim, estamos aparentemente perante mais um exemplo de «mudança de moscas».
O país parece estar pior do que há 365 dias, e provavelmente até está. Vejamos: vários hospitais continuam a encerrar com uma frequência alarmante os seus serviços de urgência e de ginecologia-obstetrícia, e mais de milhão e meio de pessoas (incluindo eu, esposa e filhas) não têm médico de família; a imigração maciça (para a dimensão da nação) e descontrolada atinge níveis cada vez mais preocupantes; a criminalidade violenta está a aumentar, e resulta também dessa imigração crescente. Neste ano em que se assinalou o cinquentenário do 25 de Abril de 1974, eis o panorama desolador que se nos apresenta na celebração da «liberdade». Sim, é verdade que a culpa por estes problemas cabe principalmente ao PS, mas este contou durante quase 10 anos com a cumplicidade activa de um chefe de Estado que mostrou não estar à altura do cargo. E muito bom seria que os disparates de Marcelo Rebelo de Sousa se limitassem a sugerir que Portugal deve «reparações» às suas ex-colónias; porém, a revelação de que ele se deixou envolver em acções de (tentativa de) obtenção de favores promovidas pelo filho enfraqueceu ainda mais a sua posição institucional, não estando inteiramente fora de consideração, em última instância, eventuais implicações (i)legais. É para isto que os herdeiros de Afonso Costa tanto se esforçaram a favor da eleição da cabeça do regime? Cada vez mais caquéctica, patética, suportada por renovadas «brigadas do reumático» e tendo na ridícula ortografia «acordizada» o seu dialecto oficial, a república, impúdica, é a ré maior.
Neste ano também se comemora(ra)m, ou nem por isso, os 500 anos da morte de Vasco da Gama e do nascimento de Luís de Camões – é, na verdade, interessante e mesmo notável que o autor da nossa maior epopeia literária e o principal, real, protagonista daquela tenham esta ligação especial. Nenhumas evocações dignas desta dupla efeméride foram até ao momento realizadas ou estão previstas. Para isso também faz falta alguém como Vasco da Graça Moura, falecido há 10 anos. E alguém como Agostinho da Silva, falecido há 30. Em Portugal, possivelmente, já não se produzem homens da estirpe daqueles dois; e, se ainda são produzidos, o mais provável é já terem emigrado.     

quarta-feira, setembro 18, 2024

Outros: Textos seleccionados (Parte 7)

«Sobre a amizade», David Soares; «O ó, que som tem? Até um tambor nos falou de fonética», Nuno Pacheco; «O grotesco em alturas de Olimpo», José Mendonça da Cruz; «O silêncio da ficção científica», João Campos; «A verruga cabeluda no nariz da velha, e o sonso», Paulo Sousa; «Cores da Ericeira», João Afonso Machado; «Carta de Bruxelas – Para assinalar 10 meses passados sobre o dia 7 de Outubro de 2023», João Tiago Proença; «As elites têm medo da liberdade e do povo», Telmo Azevedo Fernandes; «Lembrar Alice Jorge», Manuel Augusto Araújo; «Não existe Português de Portugal vs. Português do Brasil, muito menos Variante do Português de Portugal. Enquanto insistirem nestes antilogismos a Língua Portuguesa continuará a ser vilipendiada...», Isabel A. Ferreira; «A luta contra o marxismo cultural», Francisco Gomes; «Sven-Goran Eriksson», Sérgio de Almeida Correia; «As associações subversivas, racistas e violentas do semanário Expresso», Miguel Silva; «Jornalismo com contexto», Henrique Pereira dos Santos; «Como votar nas eleições americanas», José Meireles Graça; «Pas dormir», José António Barreiros; «A culpa é dos jornais?», Maria do Rosário Pedreira; «A votação do orçamento», Luís Menezes Leitão; «Os silenciados», Cristina Miranda; «Antero e o pessimismo», Daniel Santos Sousa; «O dia 12 de Setembro de 2024 será recordado», Francisco Miguel Valada; «O mérito capilar», João Távora. 

sábado, agosto 31, 2024

Olhos e Orelhas: Segundo Quadrimestre de 2024

A literatura: «Bolhas de Esperança», Clotilde Celorico Palma; «As Belas», Prince Rogers Nelson (Dan Piepenbring, org., intro.); «Natália Correia - Fotobiografia», Ana Paula Costa; «A Rainha Bugatti - Em Busca de uma Lenda das Corridas Motorizadas», Miranda Seymour; «Gente da Nossa Terra - Memórias de Cuba», Francisca Lopes Bicho; «Porque é que os franceses não celebram Lafayette?», Adam Gopnik. 
A música: «Os Grandes Êxitos do...», Conjunto Académico João Paulo; «The Fillmore Concerts», Allman Brothers Band; «The Grand Wazoo», Frank Zappa; «Light As A Feather», Return To Forever; «Sweetnighter», Weather Report; «À Queima Roupa», Sérgio Godinho; «New York», Lou Reed; «Words For The Dying», John Cale; «Songs For Drella», John Cale & Lou Reed; «Wrong Way Up», Brian Eno & John Cale; «In Vivo», GNR; «Take A Look In The Mirror», Korn; «Under My Skin», Avril Lavigne; «Rosenrot», Rammstein; «Back To Black», Amy Winehouse; «Serse», George Frideric Handel (por Anne Marie Rodde, Barbara Hendricks, Carolyn Watkinson, Ortrun Wenkel, Paul Esswood e Ulrich Studer, com La Grande Écurie et la Chambre du Roy dirigida por Jean-Claude Malgoire); «Symphonien (Nº 93, Nº 96, Nº 101)», Joseph Haydn (pela Orkest Concertgebouw Amsterdam dirigida por Colin Davis). 
O cinema: «Simone, a Viagem do Século», Olivier Dahan; «Pardal Vermelho», Francis Lawrence; «O Equalizador 3», Antoine Fuqua; «John Wick - Capítulo 4», Chad Stahelski; «Ava», Tate Taylor; «Espartilho», Marie Kreutzer; «No Portão da Eternidade», Julian Schnabel; «Raptando o Senhor Heineken», Daniel Alfredson; «Whitney Houston - Quero Dançar com Alguém», Kasi Lemmons; «Sully», Clint Eastwood; «O Sol do Futuro», Nanni Moretti; «Ela Está Fora da Minha Liga», Jim Field Smith; «A Feia Verdade», Robert Luketic; «Amor Outra Vez», Jim Strouse; «Bilhete Para o Paraíso», Ol Parker; «Um Homem à Altura», Laurent Tirard; «Mundo Jurássico - Domínio», Colin Trevorrow; «A Guerra do Amanhã», Chris McKay; «Népia», Jordan Peele; «Um Lugar Quieto», John Krasinski; «Anatomia de uma Queda», Justine Triet; «Viúva Negra», Cate Shortland; «O Homem-Morcego», Matt Reeves; «Shazam! Fúria das Deusas», David F. Sandberg; «Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis», Destin Daniel Cretton; «Gato das Botas - O Último Desejo», Januel Mercado e Joel Crawford; «Ferrari», Michael Mann; «Lamborghini - O Homem Atrás da Lenda», Bobby Moresco.
E ainda...: RTP2 - (documentário) «Editor Contra», Luís Alvarães; Prince - «Live at Glam Slam, Minneapolis, Minnesota, January 11, 1992» (blu-ray incluído na edição especial com oito discos de «Diamonds And Pearls»); Câmara Municipal de Vila Franca de Xira - exposição de pintura de Alexa Jesus «Franca de coração» (Biblioteca Municipal de VFX/Fábrica das Palavras) + exposição «Vila Franca de Xira e o 25 de Abril - 50 anos» (Museu Municipal) + exposição «Alverca em festa» (Núcleo de Alverca do MM); Museu do Neo-Realismo - exposição «Escrever é lutar - Escritores neo-realistas e a revolução de Abril»; RTP Antena 1 - (programa) «Tão Longe, Tão Perto - Episódio 14 - Francisca Lopes Bicho e as memórias de Cuba»; Biblioteca Nacional de Portugal - exposição «A caminhar para o princípio - Eduardo Lourenço, 100 anos» + exposição «Uma colecção com a casa às costas» + exposição «A revolução em marcha - Os cartazes do PREC, 1974-1975» + mostra «A "espantosa realidade" da História - José Mattoso (1933-2023)» + mostra «Publicações islâmicas em Portugal (1968-2024)»; Câmara Municipal de Loulé/Galeria de Arte da Praça do Mar de Quarteira - exposição de fotografia de Luiz Carvalho «50DE25»; Channel 5/RTP2 - (série televisiva de ficção) «Todas as Criaturas Grandes e Pequenas (segunda temporada)».

terça-feira, agosto 06, 2024

Outros: Que estudam Alfred Tennyson

6 de Agosto é, há 15 anos, uma dia importante no Octanas. Nesta data, em 2009, anunciei aqui pela primeira vez a conclusão e a edição – que se concretizou em Dezembro do mesmo ano – da minha tradução de «Poemas» de Alfred Tennyson, cujo aniversário de nascimento – mais concretamente, desta vez o 215º - se celebra hoje. Desde então tem sido com alguma regularidade, mesmo que por vezes com algum espaçamento no tempo, que divulgo novidades e/ou informações interessantes relacionados não só com aquele meu livro mas também com o próprio grande poeta inglês...
... Pelo que uma descoberta recente que fiz neste âmbito tem todos os atributos para ser devidamente divulgada e valorizada: uma dissertação de mestrado com o título «”A infinda névoa e os pavilhões da aurora” – Traduzindo a poesia de Alfred Tennyson», submetida em 2022 pelo brasileiro Pedro Mohallem Rodrigues Duarte ao programa de pós-graduação em Estudos Linguísticos e Literários da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Nela todo um sub-capítulo – concretamente, o 2. 1. 3, entre as páginas 65 e 74 – é dedicado à minha tradução. Toda esta tese é, aliás, mais uma confirmação, mais uma prova, de que a vida e a obra do grande poeta são ainda matérias de interesse para muitas pessoas à volta do Mundo.
Em 2019, aquando do décimo aniversário da publicação de «Poemas», evoquei a efeméride recordando os factos mais significativos até então decorrentes da publicação do livro. Que continua esgotado e ainda sem qualquer perspectiva de ser reeditado pela Saída de Emergência.

domingo, julho 28, 2024

Orientação: Sobre a soma e as partes, no FN

No sítio na Internet do jornal Folha Nacional está, a partir de hoje, o meu artigo «A soma e as partes». Um excerto: «No futebol – como, aliás, em qualquer outra actividade – convém haver sempre consistência, (boa) direcção e estabilidade durante um período alargado de tempo. Que Portugal nunca teve, e não só com Fernando Santos. Com excepção do “milagre” de 2016 tem-se verificado uma instabilidade de desempenhos e de resultados que não é aceitável nem justificável, quase sempre “do 8 ao 80”, alternando triunfos tonitruantes com derrotas desmoralizantes. Portugal tem-se caracterizado por ser como que uma selecção “bi-polar”, esquizofrénica. É imperdoável, e ridículo, que jogadores que nos seus clubes estão habituados a serem dominantes e a mandar nos jogos e nos adversários sejam forçados a retraírem-se quando estão na selecção.»

segunda-feira, junho 10, 2024

Orientação: Sobre um «rei» de um olho, no FN

No sítio na Internet do jornal Folha Nacional está, a partir de hoje, o meu artigo «Quem teve um olho não é “rei”?». Um excerto: «Exactamente três anos passaram e nada foi feito, e honestamente ninguém poderá afirmar que tal se deveu à crise política que eclodiu em Novembro de 2023 e que levou à demissão do primeiro-ministro e do seu executivo, à dissolução do parlamento e à realização de eleições legislativas antecipadas a 10 de Março deste ano. Note-se igualmente que em 2022 assinalaram-se os 550 anos da publicação d’”Os Lusíadas”, e também nada de especial se fez para celebrar esta efeméride, ou isoladamente ou, o que seria mais lógico, integrada, precisamente, num programa mais alargado alusivo aos cinco séculos do nascimento de Luís de Camões.»

sábado, maio 25, 2024

Opções: Pelo interesse nacional de JMB

Assinei hoje, dia em que se celebra o 82º aniversário do nascimento do artista, a petição «Classificação da obra de José Mário Branco como de interesse nacional», promovida por um grupo de cidadãos – cujos primeiros subscritores incluem alguns conhecidos cantores e compositores portugueses – e dirigida ao «Exmo Sr Presidente da Assembleia Da República» e ao «Exmo Sr Ministro da Cultura» (agora é uma ministra – a petição foi criada antes de o actual governo tomar posse). Quem quiser fazer o mesmo deve ir aqui.
Lê-se no texto que apresenta e que explica a iniciativa: «José Mário Branco, para além da sua obra pessoal, uma corajosa sementeira de novidade que mudou a nossa canção logo desde as primeiras gravações, no final da década de 60, e que foi vertida em numerosos trabalhos discográficos, no teatro e no cinema, foi também responsável por uma irreversível viragem estética na música popular portuguesa, de que é exemplo máximo o disco “Cantigas do Maio” (1971), de José Afonso. Este trabalho, vestido instrumentalmente pelo jovem JMB, tornou-se um marco e inspiração para todos os criadores de canções e arranjadores musicais.»
Tal como para muitas outras pessoas, as obras de José Mário Branco – uma das quais é um dos meus 20 discos favoritos – são componentes fundamentais da «banda sonora» da minha vida, e provas de que as diferenças ideológicas não têm de constituir obstáculos intransponíveis a uma autêntica apreciação e admiração. É por isso que muito gostaria de o ter conhecido pessoalmente mas ele faleceu (em 2019) antes de isso ter sido possível. De destacar também que neste ano de 2024 se assinala o vigésimo aniversário da edição do que seria o seu último álbum de originais, «Resistir É Vencer», uma efeméride evocada esta semana por Nuno Pacheco no Público.

terça-feira, maio 21, 2024

Orientação: Sobre um «Outono Marcelista», no FN

No sítio na Internet do jornal Folha Nacional está, a partir de hoje, o meu artigo «Outono Marcelista». Um excerto: «Entretanto, e o que não é de surpreender, o corrente governo esquerdista do Brasil, onde abundam amigos e admiradores de tiranos e de terroristas a começar pelo seu corrupto e cadastrado líder Lula da Silva, já se manifestou – através de duas ministras – a favor da abertura de um “negócio” desse tipo, no qual, incrivelmente, também São Tomé e Príncipe quer entrar. Pelo que a resposta “diplomática” a dar a estes e a todos os outros potenciais “reclamantes” é, obviamente, mandá-los para um determinado sítio.» (Transcrição no Arco de Almedina.)

terça-feira, abril 30, 2024

Olhos e Orelhas: Primeiro Quadrimestre de 2024

A literatura: «Casas Mínimas», Aitana Lleonart Triquell, Claudia Martínez Alonso e Mireia Casanovas Soley; «Às Compras», Finn Gopfert, Friederike Krump e Miriam Loetz; «Oeiras - A Jóia da Coroa», António Homem Cardoso; «Álbum das Glórias», Raphael Bordallo Pinheiro (com textos de Guilherme d'Azevedo, João da Câmara, João Chagas, Ramalho Ortigão, e outros); «Obra Plástica», José de Almada Negreiros (Rui Guedes, org.; José de Almada Negreiros (Filho), intro.); «Grandes Pintores do Século XX - Andy Warhol (1928-1987)», Maria Vera Pachón; «O Meu Pai Tinha um Desses», Giles Chapman e Richard Porter.
A música: «Na Vida Real», Sérgio Godinho; «London 0 Hull 4», Housemartins; «Marsalis Standard Time, Vol. 1», Wynton Marsalis; «Guitar», Frank Zappa; «Maiden England '88», Iron Maiden; «Do Lado Dos Cisnes», GNR; «Untouchables», Korn; «Think Tank», Blur; «Dear Heather», Leonard Cohen; «First Impressions Of Earth», Strokes; «Aqui Está-se Sossegado», Camané & Mário Laginha; «When We All Fall Asleep Where Do We Go?», Billie Eilish; «Ordinary Man», Ozzy Osbourne; «Medicine At Midnight», Foo Fighters; «We», Arcade Fire; «Partenope», George Frideric Handel (por Helga Molinari, John Skinner, Krisztina Laki, Martyn Hill, René Jacobs e Stephen Varcoe, com La Petite Bande dirigida por Sigiswald Kuijken); «Missa Brevis Sancti Joannis De Deo/Harmoniemesse», Joseph Haydn (por Alexander Young, Erma Spoorenberg, Helen Watts, Jennifer Smith e Joseph Rouleau, com a Academia de St. Martin-in-the-Fields e o Coro do Colégio de St. John dirigidos por George Guest).
O cinema: «Amadeo», Vicente Alves do Ó; «Radioactivo», Marjane Satrapi; «Oppenheimer», Christopher Nolan; «Elvis», Baz Luhrmann; «Vice», Adam McKay; «Onde Está Anne Frank», Ari Folman; «O Conto da Criada», Volker Schlondorff; «Dia da Danação», Neil Marshall; «Danação», Andrzej Bartkowiack; «Autómata», Gabe Ibáñez; «Corta!», Michel Hazanavicius; «Gremlins» e «Gremlins 2 - A Nova Ninhada», Joe Dante; «As Bruxas», Robert Zemeckis; «Os Irmãos Grimm», Terry Gilliam; «Delicioso», Éric Besnard; «Hostis», Scott Cooper; «Água Para Elefantes», Francis Lawrence; «Uma do Coração», Francis Ford Coppola; «Logan Sortudo», Steven Soderbergh; «Crematório», Neeraj Ghaywan; «Eternos», Chloé Zhao; «Thor - Amor e Trovão», Taika Waititi; «Adão Negro», Jaume Collet-Serra; «Doutor Strange no Multiverso da Loucura», Sam Raimi; «Revolução (Sem) Sangue», Rui Pedro Sousa; «O Corpo», Jonas McCord; «O Rei Perdido», Stephen Frears; «Ossos e Tudo», Luca Guadagnino; «Amor é Amor é Amor», Eleanor Coppola; «Verão Coincidente», António de Macedo.
E ainda...: «Angry», (vídeo musical dos) Rolling Stones; Biblioteca Nacional de Portugal - exposição «A China vista da Europa, séculos XVI-XIX» + exposição «Centenário do ABCzinho - 100 anos de revistas de banda desenhada em Portugal» + mostra «Maria de Lourdes Belchior, 1923-1998»; FNAC - exposição de ilustrações de Maria Hesse «Mulheres Más» (Chiado); Câmara Municipal de Vila Franca de Xira - CartoonXira 2024/Cartoons do ano 2023-Horizontes imaginários/Chubasco (Celeiro da Patriarcal); Museu do Neo-Realismo - exposição de pintura de Pires Vieira «Considerações e legitimidades com algum "lixo de artista" à mistura» + exposição de fotografia «Alfredo Cunha, photographo» + mostra «Homenagem do centenário a Júlio Graça, escritor combatente da liberdade»; «Fanny Hill - Memórias de uma Mulher de Prazer», James Hawes; Canal História - (documentário) «Alienígenas Antigos - Os Arquitectos Alienígenas»; Imaginauta/Biblioteca de Marvila - Festival Literário de Ficção Científica e Fantasia Contacto 2024; RTP2 - (documentário) «A torre de João Abel Manta, o imaginador», Laurent Filipe.     

terça-feira, abril 16, 2024

Orientação: Sobre mentiras de Abril, no FN

No sítio na Internet do jornal Folha Nacional está, a partir de hoje, o meu artigo «Mentiras de Abril». Um excerto: «A apressada incompetência – e quiçá traição – dos novos (co)mandantes políticos e militares causou nas ex-colónias em África desastrosos processos de descolonização de que resultaram, em todas as cinco, regimes de partido único, e em duas – Angola e Moçambique – ainda longas guerras civis que provocaram muitos milhares de mortos. A Terceira República em nada ficou a dever às suas duas antecessoras em termos de destruição e de sofrimento que originou; aliás, excedeu-as largamente. Antes, a Monarquia Constitucional não levara Portugal para qualquer conflito militar; já a Primeira República levou-nos para a Primeira Guerra Mundial e a Segunda para a Guerra Colonial.»

segunda-feira, março 04, 2024

Orientação: Sobre uma causa «fraturante», no FN

No sítio na Internet do jornal Folha Nacional está, a partir de hoje, o meu artigo «Uma causa “fraturante”». Um excerto: «A introdução do AO90 em Portugal começou, é certo, com Cavaco Silva, mas a verdade é que a sua imposição só aconteceu de facto com José Sócrates... e com Lula da Silva. É por isso que é contraditório e descredibilizador, para qualquer partido e qualquer político, criticar e condenar aqueles dois presidiários irresponsáveis usando, ao mesmo tempo, a infame ortografia que os dois energúmenos protagonizaram e promoveram.» (Transcrição n'O Lugar da Língua Portuguesa.)

sexta-feira, fevereiro 23, 2024

Outros: Textos seleccionados (Parte 6)

«Livrarias perdidas», Maria do Rosário Pedreira; «O que há de religioso na tensão no Médio Oriente? (Quase) tudo», Filipe d’Avillez; «Desmontar equívocos nas artes contemporâneas», Manuel Augusto Araújo; «O último soldado da velha guarda», Daniel Santos Sousa; «Vícios privados, públicas virtudes», Sérgio de Almeida Correia; «Manifestações», José Meireles Graça; «A República Velhíssima», João Gonçalves; «Damião de Góis», Rui Passos Rocha; «Capicrua», João Pedro Graça; «Os partidos políticos, que vão a eleições, continuam a fazer-se de cegos, surdos e mudos à gravíssima “Questão da Língua” que está a conduzir Portugal para o “pântano brasileiro”, com a cumplicidade dos média», Isabel A. Ferreira; «Carros eléctricos e fascismo», Telmo Azevedo Fernandes; «Maria Ondina Braga, páginas angolanas», José António Barreiros; «As sanguessugas do tempo», David Soares; «A imprensa, as eleições e nós», Henrique Pereira dos Santos; «Alergia à realidade», José Miguel Roque Martins; «Carta de Bruxelas», João Tiago Proença; «Chegaram os saldos políticos», Cristina Miranda; «As lágrimas de Pedro Nuno», Miguel A. Baptista; «O futuro depois dos primeiros cinquenta anos», Paulo Sousa; «O tal debate», João Afonso Machado; «A bolha», João Távora; «O outro», José Mendonça da Cruz; «A língua portuguesa, a campanha e a São(ta) ignorância»; Nuno Pacheco.

terça-feira, janeiro 16, 2024

Ocorrência: «Abusos toponímicos» em VFX

No sítio na Internet do jornal (quinzenário regional) Voz Ribatejana está – desde 12 de Janeiro último, e transcrevendo e adaptando a que fora publicada na edição em papel Nº 333, de 3 de Janeiro de 2024 – a notícia «Sucessão de “avenidas” na antiga EN 10 revolta moradores», na qual o autor, Jorge Talixa (também director do VR) incluiu um depoimento que lhe enviei. Uma chamada de atenção para, e uma denúncia de, mais um exemplo de desrespeito e de incompetência por parte do Partido Socialista em relação aos cidadãos, neste caso ao nível autárquico.  

domingo, dezembro 31, 2023

Olhos e Orelhas: Terceiro Quadrimestre de 2023

A literatura: «Três Filhas de Sua Mãe», Pierre-Félix Louys; «Sobre Cinema», José de Almada Negreiros; «O elevador que desceu até ao Inferno», Par Lagerkvist; «Homenagem à Catalunha», George Orwell (pseudónimo de Eric Blair); «Adentro da vida nocturna», Henry Miller; «Quatro Quartetos», T. S. Eliot; «Os Quatro Cantos do Tempo», David Mourão Ferreira; «No Tempo Dividido», Sophia de Mello Breyner Andresen; «A ira da Ferreirinha», Carlos Eduardo Silva; «Um espelho para os fantasmas», David Soares.
A música: «Coincidências», Sérgio Godinho; «Girl At Her Volcano», Rickie Lee Jones; «Under A Blood Red Sky», U2; «Francesco Zappa», Frank Zappa; «Love», Cult; «Sob Escuta», GNR; «Mellow Gold», Beck; «Voodoo Lounge», Rolling Stones; «Live!», Police; «Mirror Ball», Neil Young; «Mário Laginha Bernardo Sassetti», Bernardo Sassetti e Mário Laginha; «Frank», Amy Winehouse; «Room On Fire», Strokes; «Funeral», Arcade Fire; «Reise, Reise», Rammstein; «Fados Meus (E Algumas Canções) Para Amigos Meus», Daniel Gouveia;  «Lotario», George Frideric Handel (por Hillary Summers, Sara Mingardo, Simone Kermes, Sonia Prima, Steve Davislim e Vito Priante, com o Complesso Barocco dirigido por Alan Curtis); «Klaviertrios (Nº's 24, 25, 26, 27)», Joseph Haydn (pelo Beaux Arts Trio).
O cinema: «Jigajoga Espacial - Um Novo Legado», Malcolm D. Lee; «Bestas Fantásticas - Os Segredos de Dumbledore», David Yates; «O GGA (Grande Gigante Amigável)», Steven Spielberg; «Três Mil Anos de Anseio», George Miller; «Rompedores do Dia», Michael Spierig e Peter Spierig; «Eu Acuso», Roman Polanski; «Mata Hari», Curtis Harrington; «A Guerra em Baixo», J. P. Watts; «Sr. Jones», Agnieszka Holland; «A Esposa do Tratador do Jardim Zoológico», Niki Caro; «Onoda», Arthur Harari; «Reflexos num Olho Dourado», John Huston; «Algum Tipo de Belo», Tom Vaughan; «Ela Odiar-me», Spike Lee; «Homem das Entregas», Ken Scott; «Gabriel», Nuno Bernardo; «Punidor - Zona de Guerra», Lexi Alexander; «O Esquadrão Suicida», James Gunn; «Liga da Justiça (versão longa)», Zack Snyder; «Quatro Fantásticos», Josh Trank; «As Aventuras de Spirou e Fantasio», Alexandre Coffre; «Bófia em Brasa», Edgar Wright; «Sem Tempo Para Morrer», Cary Joji Fukunaga; «F9 - A Saga dos Rápidos», Justin Lin.
E ainda...: Câmara Municipal de Estremoz/Museu Municipal - Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz + exposição de artesanato «Irmãs Flores - 50 anos em 50 de bonecos» + exposição fotográfica de Carmen Serejo «In Limbo»; Museu Berardo Estremoz; Igreja de São Francisco de Évora - Núcleo Museológico + Colecção de Presépios; RTP - «Visita Guiada - Banhos Islâmicos de Loulé»; Câmara Municipal de Vila Franca de Xira - exposição «Vila Franca - Imagens em movimento» (Celeiro da Patriarcal) + exposição «Gravura - A matriz de uma colecção» (Museu Municipal) + exposição «Objectos intemporais, delicadas intimidades - João Duarte, 45 anos de escultura» (Biblioteca Municipal de VFX/Fábrica das Palavras); Museu do Neo-Realismo - exposição «Querubim Lapa, uma poética neo-realista» + exposição «Sidónio Muralha - Caminhada insubmissa»; «Now And Then», (vídeo musical dos) Beatles; Biblioteca Nacional de Portugal - exposição «Olisipógrafos - Os cronistas de Lisboa» + exposição «Marcas de água e caligrafias em papel de música - Os manuscritos do Fundo do Conde de Redondo»; Canal História - «Alienígenas Antigos - Encontros Próximos do Quinto Grau». 

sexta-feira, dezembro 08, 2023

Outros: Comentários meus contra o AO (Parte 11)...

.. Escritos e publicados, desde 9 de Janeiro de 2023, nos seguintes blogs: Porta da Loja (um, dois); Corta-Fitas (um, dois, três, quatro); Horas Extraordinárias (um, dois, três); Apartado 53; O Lugar da Língua Portuguesa. E que aborda(ra)m, entre outros subtemas: o Expresso não é o melhor jornal nacional, e não só porque também se sujeitou à «acordização»; a culpa principal pela generalizada aceitação passiva do AO90 recai – salvaguardando sempre, como é óbvio, honrosas excepções – em juristas, jornalistas e professores, e estes em particular não merecem grande respeito, façam eles as greves e as manifestações que fizerem; correcção de erros ortográficos ridículos em comentários... de outros comentadores; alterar constantemente a ortografia sempre foi uma obsessão dos «republicanistas» dos dois lados do Atlântico; de pouco ou nada serve, num texto, a excelência do conteúdo se a forma for bizarra; a reescrita «politicamente correcta» de livros também pode incluir, em Portugal, a «acordização» de obras antigas, incluindo as de autores que eram contra o AO90; o «acordês» como uma das causas possíveis do aumento da venda de livros em Inglês; Francisco Vale ainda e sempre um cobarde e um mentiroso; respostas exemplares a comentários agressivos e ignorantes de brasileiros ingratos (dos quais, infelizmente, há muitos).     

segunda-feira, novembro 13, 2023

Ocorrência: Duas décadas de «Visões»

Hoje, 13 de Novembro de 2023, passam exactamente 20 anos desde a apresentação e o lançamento, em Lisboa (na Biblioteca Municipal do Palácio Galveias, ao Campo Pequeno), de «Visões», o meu primeiro livro a ser editado (com data de Outubro de 2003).
Não há muito a acrescentar ou a alterar em relação ao que escrevi aqui há dez anos. A não ser, e compreensivelmente, que nesta década que decorreu faleceu António de Macedo, o principal responsável por aquele meu livro ter sido publicado. E também que um dos contos que o integra ter sido referido por dois investigadores universitários espanhóis no âmbito de trabalhos que realizaram sobre a ficção científica e o fantástico nas literaturas dos dois países ibéricos. Em 2013 escrevi igualmente que pretendia começar a escrever em 2014 «”Visões 2”, já planeado, imaginado, estruturado». Na verdade, e infelizmente, tal não aconteceu, e por uma questão de (falta de) motivação, decorrente do facto de o meu segundo romance, concluído há nove anos, ainda não ter sido publicado.
Independentemente do que foi, é, obteve e representa, «Visões» constitui(u) o início do meu percurso enquanto interveniente activo e permanente – como criador e como divulgador – na Ficção Científica e Fantástico em Português, percurso esse que teve como um dos momentos mais marcantes a participação – como orador – na primeira Conferência Internacional de História Mundial «E Se?..», que teve lugar no Porto em 2019. Este ano, entre 22 e 24 de Novembro, decorrerá a terceira edição, e, uma vez mais, integro o Comité Científico Honorário desta iniciativa.

domingo, outubro 15, 2023

Observação: Sobre o alegado «3º Congresso Eça»

Está marcada para amanhã, 16 de Outubro de 2023, na Biblioteca Nacional de Portugal, a realização do «3º Congresso Internacional Eça de Queiroz 150 Anos»... ou do «3º Encontro Internacional Eça de Queiroz 150 Anos». Afinal, é «congresso» ou «encontro»? Nesta divergência entre as entidades principais que promovem o evento fica desde logo aparente que algo não estará bem com aquele. E, efectivamente, assim é. Apesar de supostamente ser a terceira edição de uma iniciativa que eu concebi e cujas duas primeiras edições decorreram, com a minhas co-organização e participação, em 2019 e em 2021, na verdade aquela não tem legitimidade enquanto tal. Desautorizo, repudio, o ajuntamento agendado para amanhã na BNP. E, obviamente, desta vez não estarei presente...
... Porque a forma e o conteúdo do que está agendado não corresponde de modo algum ao que eu defini em Abril de 2022, em mensagem que então enviei ao Presidente da Direcção do Movimento Internacional Lusófono e co-organizador nas duas edições anteriores: «um terceiro congresso dedicado a Eça de Queiroz nos 150 anos do início da sua actividade enquanto diplomata, mais concretamente como cônsul em Havana, com alusões inevitáveis às suas viagens aos Estados Unidos e ao Canadá, e ainda ao início da escrita, nesse período, de “Singularidades de uma Rapariga Loira” (...) e de “O Crime do Padre Amaro”. O evento poderia ter como subtítulo, ou “mote”, “José Maria na América” (...); alargar igualmente o seu âmbito à recepção da obra de EdQ no Brasil». Definido o mês de Outubro de 2023 como período de concretização, anunciei aqui em Janeiro e em Fevereiro últimos a realização do congresso e a data limite para inscrições e envio de comunicações. Porém, no início de Setembro era inegável que não estavam reunidas as condições mínimas para a concretização satisfatória do projecto, e disso dei conta ao meu interlocutor habitual: um evento que decorra apenas num dia, e, pior, em metade de um dia, não merece a designação de «congresso», e fica aquém, nesse aspecto, das duas edições anteriores; é fundamental a qualidade dos oradores e das suas intervenções, mas a quantidade não deve ser menosprezada; também para não quebrar o «padrão» estabelecido em 2019 (Sociedade de Geografia de Lisboa) e em 2021 (Palácio Valenças, em Sintra), este ano o evento deveria decorrer igualmente num segundo local, e nesse sentido sugeri a Casa da América Latina em Lisboa; a «pequenez» do «EdQ 3» é agravada pela realização simultânea (a 13, 17 e 20 de Outubro, respectivamente no Porto, Lisboa e Coimbra) do congresso do centenário (da morte) de Guerra Junqueiro, contemporâneo e amigo de Eça; enfim, o terceiro «congresso queirosiano» merece um novo cartaz e não a re-utilização, ou repetição, daquele que serviu para divulgar o segundo. Depois de apresentar estes factos e argumentos ao Presidente da Direcção do MIL propus, se não o cancelamento definitivo, pelo menos o adiamento da iniciativa para 2024; no entanto, a minha proposta foi recusada, pelo que a minha reacção não poderia ser outra que não aquela que agora revelo. 
Não é, todavia, este fracasso que diminui o sucesso dos congressos de 2019 e de 2021 e a minha contribuição para eles, e estarei sempre interessado e disponível para colaborar na evocação do grande artista que foi Eça de Queiroz. Não que tal seja necessário, evidentemente: o autor de «Os Maias» está sempre presente nas nossas consciência e memória colectivas e raramente passa muito tempo sem que a sua vida e/ou a sua obra fiquem em destaque por qualquer motivo, positivo ou negativo. Um exemplo recente disso é a controvérsia sobre a trasladação dos seus restos mortais para o Panteão Nacional, e a minha opinião sobre aquela é inequivocamente desfavorável.

quinta-feira, outubro 05, 2023

Opinião: Sob um segundo «PREC»

Eis-nos em mais um dia 5 de Outubro. E a cada ano que passa é cada vez mais difícil, se não impossível, contrabalançar, atenuar, a desgraça da implantação da república em 1910 com a glória da assinatura do Tratado de Zamora em 1143, em que foi reconhecida pela primeira vez a independência de Portugal. Celebrar esta, hoje, reveste-se porém de uma acrescida ironia, porque ontem a FIFA anunciou que a organização do Campeonato do Mundo de Futebol de 2030 caberá não só ao nosso país mas também a Espanha e a Marrocos! Nações que, como se sabe, ao longo da História muito «contribuíram» para a nossa auto-determinação e para a nossa identidade. Os republicanos portugueses conseguiram finalmente o que sempre almejaram, uma «união ibérica», mesmo que meramente desportiva, no caso futebolística, e com umas «pitadas» de islamismo. 
Esta é apenas, no entanto, a instância mais recente em que os «descendentes» de Afonso Costa demonstram a sua perene falta de patriotismo, o seu profundo desprezo por este país, a sua prolongada negligência perante a verdadeira valorização que se deve fazer dele, a modernização e o desenvolvimento de que este recanto da Europa tanto carece, o que implica principalmente, ou primeiramente, o respeito pela cultura e a afirmação da dignidade nacionais, e não só ao nível institucional. Todavia, nada disto existiu, aconteceu, de uma forma significativa durante «a longa noite socialista» que começou a 25 de Abril de 1974, e, apesar de o período mais negro ter sido, indubitavelmente, aquele em que José Sócrates foi primeiro-ministro, estes últimos quase dez anos protagonizados pela «dupla» Marcelo Rebelo de Sousa & António Costa têm proporcionado muitos, demasiados, momentos constrangedores, embaraçosos, ridículos, vergonhosos; ambos adoram fazer longas viagens de avião para assistirem a jogos de futebol; ambos se subjugaram, como muitos outros, ao «aborto pornortográfico», pelo que até nem foi surpreendente que tanto um como o outro elogiassem - e prefiram - o sotaque brasileiro, nem que recebessem de braços abertos Luís Inácio «Lula» da Silva, comunista criminoso cadastrado que reocupou a presidência da república do Brasil graças à tirania judicial e à fraude eleitoral; bem acolhido em Lisboa foi também Miguel Díaz-Canel, actual ditador de Cuba e herdeiro dos irmãos Castro. E, não, Marcelo a comentar decotes nem é o pior que ele tem feito... A situação já seria suficientemente má unicamente pela corrupção e pela ineptitude crónicas, que possibilitam que, hoje, a «comemoração» da república seja também a da nossa ultrapassagem pela Roménia em indicadores económico-sociais e a da existência de mais de 30 hospitais em diferentes níveis de «desespero»; sucedem-se as greves, não só no sector da saúde mas também nos da justiça e da educação, embora, como é típico de uma sociedade estatizada, a prioridade seja dada aos que prestam os serviços e não aos que «beneficiam» daqueles, mais consumidores (insatisfeitos) do que cidadãos (interventivos)...
... Que, em última análise, são em grande parte culpados do que acontece. Sem dúvida que o governo de António Costa – não apenas a actual «versão» mas sim desde que aquele se tornou, ilegitimamente, primeiro-ministro – é caracterizado, na sua actuação, por «maldade, podridão e perversão», por uma generalizada incompetência e um desavergonhado nepotismo. Porém, há que nunca esquecer que os principais (ir)responsáveis pela existência do dito cujo são todos aqueles que vota(ra)m no PS, em especial nas mais recentes eleições legislativas, que proporcionaram aos «súcia-listas» (mais) uma maioria absoluta. Que não haja ilusões: em Portugal estamos mesmo, desde que José Sócrates tomou o poder, sob um autêntico, segundo, «Processo Revolucionário em Curso», pior do que o de 74-76 porque imposto com a acrítica passividade de uma larga faixa (a maioria?) da população, e que o breve interregno liderado por Pedro Passos Coelho não conseguiu – ou não quis – reverter no essencial. Não se duvide de que estamos em mais um «tempo infame» à conta da extrema-esquerda, e nesta passou a estar incluído o PS após a ascensão do «engenheiro de domingo». Este segundo «PREC» até tem os seus próprios, novos, «ocupas», não de herdades no Alentejo mas sim de estradas e ruas, os terroristas «melancia» da Climáximo («verdinhos» por fora mas «vermelhões» por dentro), estúpidos, irresponsáveis, manipulados, m*erd*s*s agressores de pessoas e de património, que contam, no entanto, com a condescendência das autoridades e a cumplicidade da comunicação social propagandista, «fracturante» e activista.
Aos que se lamentam e que afirmam que «não há esperança, não há saída à vista desta mediocridade de regime», pode-se e deve-se contrapor, perguntar: porque não dedicar também parte dos tempos livres – em especial o das pessoas que supostamente têm essa função por terem cargos de direcção em determinadas organizações – a acções de «agit-prop» com impacto a favor da mudança de regime? Mais do que «matar simbolicamente o socialismo», é preciso matá-lo literalmente, bem como à República. Logo, acabar com o preâmbulo da Constituição não chega: toda ela deve ser rasgada, mandada para o lixo, e substituída por outra. Quanto à pergunta sobre «onde estão os novos capitães (e quiçá outros oficiais, e soldados) indignados para levar a cabo tal empreitada» (de mudança de regime), eu responderia que estão nos quartéis e nas bases, furiosos com a falta e/ou a insuficiência de material e de condições de trabalho – que faz com que, por exemplo, não tenham um navio capaz de vigiar o que russos andam a fazer no nosso espaço marítimo – e ainda com a facilidade com que os paióis neste país são assaltados.
Enfim, e para que a primeira semana de Outubro seja menos deprimente do que o habitual, encontre-se contentamento no casamento, depois de amanhã, dia 7 de Outubro de 2023, de Maria Francisca de Bragança, no Convento de Mafra, uma casa construída por um seu antepassado. Todos sabem, compreendem, que a cerimónia representa(rá) mais do que um simples matrimónio, pelo que seria de esperar que alguns ressabiados revelassem o seu desagrado pelo enlace; nessa circunstância, nada melhor a fazer do que reduzi-los à sua insignificância porque «os cães ladram e a caravana passa». Parabéns aos noivos, e ficam os votos que os filhos deles e os nossos possam viver num restaurado Reino de Portugal. 

domingo, outubro 01, 2023

Orientação: SimSon com 900!

Hoje, 1 de Outubro de 2023, celebra-se mais um Dia Mundial da Música, o que significa também, no sítio da Simetria, a publicação de uma nova edição do projecto Simetria Sonora. E, tal como em edições anteriores, a esta grande lista foram adicionados 50 discos por mim considerados de ficção científica e de fantástico: são agora 900 no total. Como ilustração está a imagem da capa do álbum dos Delfins «Ser Maior – Uma História Natural», lançado originalmente em 1993 – ou seja, há 30 anos. A ouvir… e a descobrir. Tudo, e sempre!

sábado, setembro 16, 2023

quinta-feira, agosto 31, 2023

Olhos e Orelhas: Segundo Quadrimestre de 2023

A literatura: «Mitos Gregos - O Triunfo dos Deuses e Outras Histórias», «Mitos Gregos - Perseu e Outros Heróis» e «Eternamente Dante - Em Busca dos Infernos», Sérgio Franclim; «Valérian e Laureline - O Embaixador das Sombras», Jean-Claude Mézières e Pierre Christin; «O Terceiro Chega em Maio», António de Macedo; «Escala em Pharagonescia», Moebius (pseudónimo de Jean Giraud); «Terrarium - Um Romance em Mosaicos», João Barreiros e Luís Filipe Silva; «Memórias d'Além Espaço - Histórias Curtas 1974/1977», Enki Bilal.     
A música: «Canoas Do Tejo», Carlos do Carmo; «Aladdin Sane», David Bowie; «Has Anyone Here Seen Sigfried?», Pavlov's Dog; «Blues For Allah», Grateful Dead; «Minstrel In The Gallery», Jethro Tull; «Ao Vivo», Rui Veloso; «Jazz Time», Herbie Hancock; «Ragged Glory», Neil Young; «The Best Band You Never Heard In Your Life», Frank Zappa; «Dry», P. J. Harvey; «Lupa», Sérgio Godinho; «Modern Times», Bob Dylan; «Dead Again», Type O Negative; «Echoes, Silence, Patience & Grace», Foo Fighters; «Sawdust», Killers; «Alessandro», George Frideric Handel (por Guy de Mey, Isabelle Poulenard, Jean Nirouet, René Jacobs, Ria Bollen, Sophie Boulin e Stephen Varcoe, com La Petite Bande dirigida por Sigiswald Kuijken); «Cellokonzerte Nr. 1 & 2», Joseph Haydn (por Anne Gastinel com os Solisty Ie Moskva dirigidos por Yuri Bashmet).       
O cinema: «Ruas Rivais», Márcio Loureiro; «História do Lado Oeste», Jerome Robbins e Robert Wise; «Evita», Alan Parker; «Os Miseráveis», Tom Hooper; «Adentro do Bosque», Rob Marshall; «O Feiticeiro e a Serpente Branca», Siu-Tung Ching; «Duna - Parte Um», Denis Villeneuve; «Terra dos Perdidos», Brad Silberling; «Os Gonídios», Richard Donner; «Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo», Daniel Kwan e Daniel Scheinert; «R. A. I. D. de Doidos», Dany Boon; «Comboio Bala», David Leitch; «Casa de Sonho», Jim Sheridan; «Um Ano Mais Violento», J. C. Chandor; «Os Gajos Simpáticos», Shane Black; «De Gaulle», Gabriel Le Bomin; «Homem-Foguete», Dexter Fletcher; «O Duque», Roger Michell; «Minamata», Andrew Levitas; «Eu, Tonya», Craig Gillespie; «Marx Pode Esperar», Marco Bellocchio; «Os Fablemans», Steven Spielberg; «Casa de Gucci», Ridley Scott; «Rei Richard», Reinaldo Marcus Green; «Um Belo Dia na Vizinhança», Marielle Heller; «Futuro», Mamoru Hosoda; «Conheça Joe Black», Martin Brest.
E ainda...: RTP - (documentário) «Visita Guiada - Museu do Neo-Realismo», Paula Moura Pinheiro; Biblioteca Nacional de Portugal - exposição «O Tempo das Imagens IV - Edições recentes do Centro Português de Serigrafia» + exposição «Descubra as diferenças - Variação na literatura portuguesa desde a Idade Média até anteontem» + exposição «Manuscritos musicais do Mosteiro de Belém - Uma tradição desconhecida» + exposição «Terra mineral, terra vegetal - Fotografias de Duarte Belo» + exposição «17 rostos de acção» + exposição «Ruy Belo - Inesgotável rosto» + exposição «O que é a vida e o que é a morte - Centenário do nascimento de Ilda Reis» + mostra «Continuo a ser aquilo que ninguém espera - Mário Henrique Leiria (1923-1980)» + mostra «De Loreto a Spartacus - 250 anos do nascimento de José Liberato Freire de Carvalho»; Câmara Municipal de Vila Franca de Xira - CartoonXira 2023/Cartoons do ano 2022-50 Anos de Humor/Angeli (Celeiro da Patriarcal); Everything Is New/Bob Dylan - Rough and Rowdy Ways Tour - Campo Pequeno, Lisboa, 2023/6/4; Câmara Municipal de Loulé/Galeria de Arte da Praça do Mar de Quarteira - exposição de Bruno Grilo, Luís Marques e Rúben Gonçalves «Coppertone - A livre exposição solar». 

quinta-feira, agosto 03, 2023

Outros: Textos com «estampido»

Desde que o primeiro número – mais concretamente, o Nº 0 – da revista Bang! foi lançado, em Agosto de 2005, outros trinta e três saíram para as bancas – o mais recente, o Nº 33, precisamente, tem data de Maio deste ano de 2023. O principal objectivo da publicação sempre foi, como se compreende e seria de esperar, a apresentação, a divulgação e a valorização dos livros editados pela Saída de Emergência. Porém, uma grande parte das páginas da Bang! tem sido reservada desde o início para artigos de autores – ficcionistas, ensaístas, cronistas – portugueses sobre diferentes aspectos da ficção científica, da fantasia e do terror, com destaque para a(s) sua(s) história(s), tendências, convergências e divergências, ligações, e, claro, os seus protagonistas.
Alguns desses textos mais significativos dos últimos 18 anos têm sido como que relançados nos últimos 12 meses no sítio da revista. É de destacar «Literatura erudita vs. literatura popular» por António de Macedo, David Soares e João Seixas, «Fantasia urbana ou romance paranormal? As características e os segredos dos dois géneros que tomaram conta dos tops» de Safaa Dib, «Sobre o fantástico na literatura portuguesa» e «Fantasia e realidade – Os pais da ficção científica» de David Soares, «Nova vaga, novas capas – Quando a ficção científica ousou não se parecer com ficção científica» de Pedro Piedade Marques, «José Saramago – O Nobel da Ficção Científica» de José Candeias, «Ao sol de Newton – a FC “hard”, oitenta anos depois» de João Seixas, «Livros míticos ou a biblioteca (quase) invisível» de António de Macedo e «História do breve cinema de terror português» de João Monteiro.
Mais recentemente ainda, no passado mês de Junho, duas emissões consecutivas do Bangcast – esta e esta, com Bruno Martins Soares, Luís Corte Real e Luís Filipe Silva – foram dedicadas à selecção e à revelação de quais poderão ter sido os 20 livros mais importantes (juntamente com algumas «menções honrosas») da colecção «Bang!», no ano em que se celebram as duas décadas daquela colecção. Entre as obras mencionadas podem encontrar-se «A Sombra Sobre Lisboa», «Lisboa no Ano 2000» «Os Anos de Ouro da Pulp Fiction Portuguesa», «O Evangelho do Enforcado» e «Terrarium – Um Romance em Mosaicos». De referir que «A República Nunca Existiu!» não fez parte das escolhas, mas foi mencionado (embora sem alusão ao criador e organizador daquela antologia) a propósito de outro livro. (Também no Simetria.) 

quarta-feira, julho 05, 2023

Ocorrência: Nem em Maio nem em outro mês

Hoje celebra-se – deve celebrar-se – mais um aniversário do nascimento de António de Macedo. Que, se ainda fosse vivo, completaria 92 anos. Guardá-lo connosco, na nossa memória, pode ser alcançado vendo os seus filmes e lendo os seus livros. Quanto a estes, poucos me faltam para adquirir e/ou ler, e um deles era (mas já não é) «O Terceiro Chega em Maio», editado em Agosto de 2020 pela Editorial Divergência, e que «é uma obra póstuma (...) que reúne vários contos da sua autoria, por si (isto é, e alegadamente, pelo próprio António, antes de falecer) seleccionados e organizados cronologicamente, de 1997 e 2012».
Dos oito contos incluídos nesta obra só dois - «Uma história romântica» e «Teia de enganos» - são verdadeiramente inéditos, ou seja, a sua primeira publicação é feita neste volume. Os restantes seis foram previamente publicados em outras obras, e é precisamente neste aspecto que se encontra um problema que, para mim pelo menos, não pode ser ignorado ou desvalorizado. Sobre os dois que saíram originalmente no Brasil - «Sereia dum mar sem fim» e «A 2ª mão esquerda de Deus» - nem eu nem a Simetria temos autoridade, legitimidade, para comentar, mas o mesmo já não acontece quanto aos outros quatro. Os três primeiros - «Efeitos de maré», «Entre horizontes» e «A condessa preguiçosa» - tiveram a sua estreia respectivamente em 1997, 1998 e 1999 em antologias lançadas pela nossa associação intituladas «Efeitos Secundários», «Fronteiras» e «Pecar a Sete»; ao contrário do que é referido num dos índices (um erro entre outros, como se verá mais adiante), «Entre horizontes» está não em «Pecar a Sete» mas sim em «Fronteiras», que aliás nem é mencionada. Porém, ninguém da Editorial Divergência nem algum dos dois filhos de António de Macedo (que nos conhecem, que sabem da nossa existência) nos contactou informando-nos deste projecto e pedindo a nossa autorização para a reedição dos contos. Porque aquelas edições da Simetria estão há muitos anos esgotadas, fora de circulação, poder-se-ia talvez compreender, desculpar, esta ausência de contacto, esta falta de consideração, de cortesia...
... Mas tal «tolerância» já não é possível, de modo algum, em relação ao conto intitulado «A conjura», publicado originalmente em 2012 na antologia colectiva «Mensageiros das Estrelas», que eu concebi e que organizei, e que continua, 11 anos depois, em distribuição e em circulação. Nem eu nem a editora Fronteira do Caos fomos contactados pela Divergência antes de esta autêntica sobreposição ter ocorrido; nunca nos chegou qualquer mensagem, nem em Maio nem em outro mês. Pelo que uma acção judicial justificar-se-ia certamente, mas o bom carácter e a generosidade de Victor Raquel, o meu editor nesta colectânea e também no meu livro «Um Novo Portugal», publicado previamente no mesmo ano, foram o que impediram que este caso se tornasse num conflito desagradável e que não deixaria de manchar, indirecta e injustamente, o nome e a memória de António de Macedo. E o desrespeito pela fonte original não se ficou por aqui: o livro é identificado num dos índices como «Mensageiro da estrelas» - sim, três erros em três palavras – e a FdC como uma editora sediada em Lisboa, quando, na verdade, é do Porto. Todavia, não são estas as únicas falhas de revisão que  podem ser encontradas neste livro: um dos «s» que faltou no título da minha antologia terá «viajado» para a página 57 e «colado-se» ao apelido de um dos mais famosos cientistas de sempre, ficando Stephen «Hawkings», e isto numa alusão a um artigo que, por sua vez, tem dois erros, no título – é «spacetime» e não «space time» - e no ano de publicação – 1984 e não 1989; ao longo do livro é também frequente a não mudança de parágrafo (dezenas de ocorrências!) ao passar-se de discurso directo para discurso indirecto. Na ficha técnica lê-se que duas pessoas fizeram a revisão... mas, claramente, não foram competentes nesse trabalho.
A partir de certo momento a juventude e a inexperiência deixam de ser desculpas e atenuantes. Esta é a terceira vez que a Editorial Divergência – e, concretamente, o seu fundador – toma uma atitude ofensiva, para mim e para pessoas com quem colaborei. Primeiro foi o projecto de uma antologia de contos em Inglês sabotado por uma exigência ridícula, e, depois, a constatação de que o Prémio António de Macedo tem sido organizado de uma forma deficiente, e quiçá fraudulenta, o que muito provavelmente torna todas as edições nulas e todos os «vencedores» ilegítimos. Decididamente, o Mestre merecia mais e melhor. E pensar que fui eu quem lhe sugeriu que enviasse o seu (literalmente) último romance, «Lovesenda ou o Enigma das Oito Portas de Cristal», a uma então nova editora que apostava exclusivamente em FC & F de autores portugueses... (Também no Simetria.)

domingo, junho 25, 2023

Ocorrência: 1903, 1948, «1984»

Hoje, 25 de Junho de 2023, passam 120 anos sobre o nascimento de Eric Arthur Blair, que ficou famoso mundialmente através do seu pseudónimo literário George Orwell. Tal como acontece com muitas outras pessoas, não é, ou não seria, necessária uma efeméride especial – e esta que agora se assinala é como que uma «composta», cem mais vinte – para se evocar e celebrar a vida e a obra do autor de «Mil Novecentos e Oitenta e Quatro». Porém, vários têm sido os factos ocorridos na última década, e em especial desde o início desta década, que mais vieram reforçar a pertinência, a permanente actualidade e relevância do seu mais famoso romance. Que, aliás, celebra este ano (a 4 de Dezembro) os 75 da sua conclusão e no próximo (a 8 de Junho) os 75 da sua primeira edição.
Não faltam exemplos que confirmam que a ficção se tornou facto, em especial – o que é mais inquietante – na Grã-Bretanha e em outros países anglófonos com forte ligação política e/ou cultural àquela, como o Canadá (onde Pierre Trudeau se revelou um quase ditador, mantendo-se como primeiro-ministro no momento em que escrevemos), a Irlanda, a Austrália, a Nova Zelândia (onde Jacinda Arden se revelou uma quase ditadora, tendo entretanto, e, felizmente, deixado de ser primeira-ministra), e, obviamente, os Estados Unidos da América após a (ilegítima) ocupação da Casa Branca por Joe Biden. Na verdade, certas pulsões, ou tendências, totalitárias – em especial a predisposição para a censura e para a punição por parte de certas individualidades e entidades contra outras consideradas «inimigas» – que já se notavam antes naquelas nações foram grandemente agravadas pela eclosão da pandemia do vírus Covid-19...
... E a consequente repressão exercida por um Estado sobre uma população não se verificou apenas em países com ditaduras duradouras ou com fracas tradições democráticas. O «modelo chinês» foi como que «exportado», adoptado em quase todo o Mundo, tendo-se multiplicado os casos de cidadãos detidos pelos motivos mais absurdos – como o de estarem sózinhos na rua em vez de fechados em casa – ou punidos por emitirem e/ou partilharem «teorias da conspiração» e «acções de desinformação» que, em última análise, vieram a comprovar-se correctas: o vírus teve origem num laboratório, só é perigoso para segmentos demográficos diminutos, e as vacinas contra o mesmo não tiveram qualquer resultado na redução das infecções e das transmissões e comportaram efeitos secundários perigosos e até fatais; quarentenas, máscaras e confinamentos não proporcionaram quaisquer benefícios assinaláveis.
Nunca até então se havia assistido a uma tal operação repressiva à escala planetária, protagonizada não por um mas sim por vários «Grandes Irmãos». A liderá-la estava a OMS, ou, em Inglês (e numa designação provavelmente mais apropriada a uma organização criminosa internacional), a WHO. Que actuou como um autêntico «apêndice» propagandístico de Pequim, quase como uma câmara de ressonância das posições do Partido Comunista Chinês, atitude tanto mais reprovável, condenável, porque a agência da Organização das Nações Unidas para a saúde deveria ter sido, ser, equidistante em relação a todo e qualquer país membro. Porém, há que reconhecer que a actuação de Tedros Ghebreyesus e dos seus «camaradas» acabou por se revelar bastante consentânea com o que tem sido o panorama geral na ONU durante as últimas décadas, em que várias ditaduras – em especial as muçulmanas – conseguem ser eleitas para integrarem agências e comités (porque é «normal» ter o Irão a pontificar sobre direitos das mulheres), nessas campanhas aproveitando, com o maior descaramento, para aumentar ainda mais a pressão sobre Israel com sucessivas e revoltantes moções condenatórias. Tudo isto quando é secretário-geral um António Guterres cada vez mais ridículo, histérico e execrável, agora uma personificação não nacional mas internacional do «pântano», expelindo intervenções públicas e oficiais que alternam entre o catastrofismo climático – e que, não se duvide, incitam os actos praticamente terroristas de «activistas» como o bloqueio de ruas e de estradas e o vandalismo de obras de arte – e o apelo constante ao alargamento da censura sob o pretexto do combate à «desinformação e ao «discurso do ódio», este tendo ou não «dois minutos» de duração.
Com tais exemplos vindos de «cima», não é de surpreender que irrupções de loucura «orwelliana» aconteçam um pouco por todo o Mundo. Recorde-se aquela que é, muito provavelmente, a mais famosa passagem de «Mil Novecentos e Oitenta e Quatro: «Todos os registos foram destruídos ou falsificados, todos os livros reescritos, todas as imagens foram repintadas, todas as estátuas e edifícios receberam novos nomes, todas as datas foram alteradas. E o processo continua dia após dia e minuto após minuto. A história parou. Nada existe excepto um presente infindável em que o Partido está sempre certo». A China destruiu os registos referentes ao início da pandemia, e as falsificações quanto àquela foram, são, muitas; registos são também os textos e vídeos sobre este e outros assuntos que os operacionais do Facebook, do Twitter (pré-Elon Musk) e do YouTube têm apagado, e não só os produzidos e publicados por norte-americanos, e a montagem selectiva («repintar»?) de gravações de som e imagem é algo que há muito se pratica. Vários livros têm de facto sido reescritos, reeditados com alterações, recentemente, como os de Agatha Christie, Ian Fleming e Roald Dahl, porque originalmente continham palavras agora tidas como «ofensivas», e há quem queira fazer o mesmo a Eça de Queiroz. Nos EUA assistiu-se também, desde os motins em 2020 que tiveram como pretexto a morte de George Floyd, a um movimento de remoção de estátuas em diversas cidades, não só de esclavagistas mas também de abolicionistas como Abraham Lincoln (!) e de outras figuras históricas que, seria de pensar, são, eram, progressistas consensuais como Theodore Roosevelt, enquanto escolas, quartéis e outras infra-estruturas públicas foram «rebaptizadas»; já em Portugal a estátua do Padre António Vieira e o Padrão dos Descobrimentos foram alvos de vandalismo. Quanto a datas, surgiu nos EUA uma corrente que advoga o ano de 1619, e não o de 1789, como o da «fundação» do país, e, no Brasil, mantém-se a tendência, por parte de alguns, de culpar os «tugas» por tudo o que de mau aconteceu depois da independência em 1822, mas não se hesita em atribuir a uma nação de Vera Cruz, ainda não existente formalmente, certos feitos que, na verdade, se deveram à metrópole.
«Grande Irmão» não é a única expressão inventada por George Orwell que foi tornada realidade muitas e muitas vezes nos anos seguintes. «Memory hole»? A comunicação social «tradicional», em especial nos EUA mas não só, muito se tem esforçado em ignorar, em fazer desaparecer, notícias negativas para as individualidades e as entidades que prefere, todas invariavelmente à esquerda do espectro político. «Groupthink»? Uma vez mais, repare-se nos milhares de pessoas, formando como que um «culto», os «fiéis» que continuam a acreditar nas aldrabices dos alarmistas climáticos apesar das consecutivas «profecias» apocalípticas que nunca se concretizaram. «Ministério da Verdade»? Alguém por Joe Biden (porque este não tem capacidade para tal) tentou oficialmente criar (pelo menos) um. «Thought crimes» cujos respectivos «culpados» são detidos por uma «Polícia do Pensamento»? Dos dois lados do Atlântico casos desse tipo sucedem-se, com várias pessoas a (poderem) ser presas pelo que dizem,  escrevem e até, literalmente, pensam (!!). «Newspeak»? O AO90 em Portugal, e as «justificações» dadas pelos seus indignos impulsionadores, podem preencher os «requisitos» daquela denominação, mas, no entanto, ficam muito aquém das loucuras lexicais dos fanáticos, totalitários integrantes das hordas LGBTQ+, decididos a substituírem as palavras, e designações, mais normais por alternativas retorcidas e ofensivas, inclusive para «mulher». Na sociedade norte-americana, aliás, o panorama é de tal modo degradante e inquietante que, num julgamento em que vários sectores do governo federal são acusados de acções de censura generalizada em conluio com empresas tecnológicas, o juíz perguntou aos representantes daqueles se alguma vez haviam lido «Mil Novecentos e Oitenta e Quatro»!
George Orwell morreu prematuramente, antes de completar 47 anos, e apesar de breve e difícil a sua vida foi intensa, plena de acontecimentos e de momentos significativos, individual e colectivamente. As suas experiências e as reflexões que delas retirou permitiram-lhe antecipar o futuro. E beneficiou igualmente de estar inserido num meio cultural, literário, muito mais receptivo à diferença, à inovação, à subversão. Se ele tivesse sido português muito provavelmente esta sua obra-prima nunca teria sido publicada, porque receberia repetidas respostas negativas com a «justificação» de que ela não se integrava no plano editorial ou que este já estava fechado. (Também no Obamatório e no Simetria.)

segunda-feira, maio 22, 2023

Ocorrência: Há 25 anos a Expo 98 começou

Completam-se hoje precisamente 25 anos: a 22 de Maio de 1998 abriu as portas a Exposição Mundial de Lisboa, iniciativa que, dedicada ao tema «Os oceanos, um património para o futuro», teve como pretexto a celebração dos 500 anos da viagem de Vasco da Gama até à Índia, e que serviu ainda para a reabilitação urbana da zona oriental da capital. Tal como milhares de pessoas, fui visita do certame, e mais do que uma vez...
... E, pouco mais de um ano depois, a 8 de Setembro de 1999, publiquei, no jornal Vida Ribatejana, um artigo intitulado «Expo dos pequeninos?», que inclui no meu livro (editado em 2012) «Um Novo Portugal – Ideias de, e para, um País», no qual, apesar de reconhecer vários méritos ao projecto, não pude deixar de apontar o que me pareceu serem algumas, e graves, falhas. Um excerto: «(...) A Expo 98 deveria ter constituído a oportunidade e o pretexto para uma gigantesca campanha de publicidade ao nosso país a nível mundial. (...) Não estava em questão fazer com que todo o Mundo viesse à Expo, mas sim de lhe dar a conhecer que ela existia, o que tinha e significava. De que serve construir um evento desta dimensão se mais ninguém, além de nós, fica a saber disso? Foi apenas para levantar o moral nacional, para aumentar o orgulho colectivo? Se sim, haveria de certeza formas menos caras de o conseguir. Que ninguém tenha dúvidas: a Expo 98, enquanto grande “encontro mundial de povos e culturas” do ano passado, foi largamente superada, se não mesmo esmagada, pelo Campeonato do Mundo de Futebol realizado em França. (...) Esta nossa secular incapacidade de dar a conhecer a nossa versão dos acontecimentos, o nosso “lado da História”, só tem servido os interesses da Espanha, à qual convém que sejam mantidas todas estas ambiguidades, confusões e equívocos, de modo a que os nossos feitos possam ser atribuídos... a eles. (...)»
Previsível e compreensivelmente, a efeméride foi hoje evocada por vários órgãos de comunicação social – de referir Correio da Manhã, Diário de Notícias, Expresso, Forbes, Jornal de Notícias, M80, Público, RTP, TSF e Visão. O que já não é compreensível nem tolerável é que António Mega Ferreira seja lembrado e homenageado como único «autor» da Expo 98 quando na verdade houve outro, que parece estar a ser como que (deliberadamente?) esquecido, «apagado da fotografia»: Vasco Graça Moura.