Na sua edição Nº 127, de Fevereiro de 2004, que assinalava, aliás, o seu vigésimo aniversário, o jornal Notícias de Alverca - onde eu iniciara quase vinte anos antes, meio a sério meio a brincar, o meu percurso enquanto jornalista - publicou uma entrevista que me fizera a propósito da edição do meu livro «Visões». Dessa entrevista transcreve-se a seguir um excerto.
Em primeiro lugar, fale-me um pouco deste seu livro...
Este livro constitui o culminar de uma tentativa, com mais de vinte anos, de construção de uma carreira literária. Com os meus 13, 14 anos, comecei a escrever com regularidade, especialmente poesia... que é, creio, aquilo que quase todos nós começamos por tentar escrever. A partir de 1985 fui bater à porta das editoras, sempre sem sucesso... até 2001, ano em que recebi «luz verde» da Hugin Editores para o «Visões», tornado realidade dois anos depois. Foi muito gratificante, para mim, que tal tenha acontecido. E, neste particular, estou grato a António de Macedo, conhecido cineasta e escritor, que dirige a colecção «Bibliotheca Phantastica», onde o meu livro se insere.
Noto que escreve sobre coisas do senso comum, no fundo, acerca de factos do dia a dia de todos nós, de uma forma acutilante e directa...
Sim. Aliás, em qualquer texto que eu elabore, seja jornalístico, pois essa é a minha profissão, ou de outro tipo, a minha intenção é sempre ir directo ao assunto, não perder tempo com grandes «floreados». Se tenho uma ideia para expressar, então tento exprimi-la o mais claramente possível. Por exemplo, um dos contos do meu livro chama-se «Caminhos de ferro» e resulta, em grande parte, das experiências que venho acumulando diariamente, enquanto utente da CP, desde há muitos anos. Actualmente, temos um serviço ferroviário com algum conforto e eficiência, mas eu ainda sou do tempo em que os comboios eram absolutamente deploráveis, velhos, atrasados... E, depois, houve aquele acidente, trágico, na Póvoa de Santa Iria, em 1986, que traumatizou bastante a minha geração. Naquele comboio iam amigos meus; uns morreram; outros ficaram feridos e marcados para sempre, um dos quais o Luís Lamancha, a quem eu dedico o «Visões». Esse episódio significou um ponto de viragem em muitos aspectos, um sinal de que a tragédia nos pode acontecer a qualquer momento.
Esta obra relembra-nos, assim, o nosso quotidiano...
É... O género fantástico de que eu mais gosto é, precisamente, aquele que está mais perto do quotidiano, das coisas do dia a dia, dos afazeres normais das pessoas. Outro exemplo é o conto «A caixa negra», em que eu procuro explorar até onde podem ir os limites da burocracia, que chega a alterar, completamente, as vidas dos cidadãos. No fundo, as pessoas são, de facto, a minha grande fonte de inspiração.
E usa uma linguagem muito frontal, que, em alguns casos, poderá mesmo chocar...
A ideia também é essa. De resto, como já referi, eu sou, tento ser, frontal, não só a escrever mas em todos os aspectos da minha vida e da minha profissão, e penso que esse estilo deve ser estimulado.
Continua a ser difícil encontrar uma editora para os nossos livros?
Digamos que, hoje em dia, é mais fácil ser-se publicado. Mas, mesmo conseguindo-o, existe, posteriormente, o problema da promoção da obra. E quando não somos figuras televisivas essa dificuldade aumenta... O que não faltam, presentemente, são livros escritos por pessoas que, de uma forma ou de outra, aparecem na televisão, e que têm à partida, desde logo, outro tipo de cobertura que eu não tenho.
Os leitores portugueses continuam a «ligar» mais aos títulos estrangeiros?
Eu penso que já não é tanto assim, quer na literatura quer na música. Temos um José Saramago, um António Lobo Antunes, um Miguel Sousa Tavares, uma Margarida Rebelo Pinto... Houve, de facto, um tempo em que não se gostava mais do que era nacional, mas, agora, felizmente, isso mudou.
Este seu livro é igualmente o resultado de uma actividade jornalística continuada? Ou seja, contém uma visão jornalística dos assuntos?
Esta obra consiste numa série de contos, autónomos, aos quais procurei dar uma certa sequência, um «fio condutor». Se neles se nota um cunho jornalístico, tal não é deliberado, pois já tinha este estilo antes de ser jornalista. Embora, obviamente, a minha actividade contribua para, em tudo, procurar ser conciso, claro e buscar aquilo que é essencial.
Em primeiro lugar, fale-me um pouco deste seu livro...
Este livro constitui o culminar de uma tentativa, com mais de vinte anos, de construção de uma carreira literária. Com os meus 13, 14 anos, comecei a escrever com regularidade, especialmente poesia... que é, creio, aquilo que quase todos nós começamos por tentar escrever. A partir de 1985 fui bater à porta das editoras, sempre sem sucesso... até 2001, ano em que recebi «luz verde» da Hugin Editores para o «Visões», tornado realidade dois anos depois. Foi muito gratificante, para mim, que tal tenha acontecido. E, neste particular, estou grato a António de Macedo, conhecido cineasta e escritor, que dirige a colecção «Bibliotheca Phantastica», onde o meu livro se insere.
Noto que escreve sobre coisas do senso comum, no fundo, acerca de factos do dia a dia de todos nós, de uma forma acutilante e directa...
Sim. Aliás, em qualquer texto que eu elabore, seja jornalístico, pois essa é a minha profissão, ou de outro tipo, a minha intenção é sempre ir directo ao assunto, não perder tempo com grandes «floreados». Se tenho uma ideia para expressar, então tento exprimi-la o mais claramente possível. Por exemplo, um dos contos do meu livro chama-se «Caminhos de ferro» e resulta, em grande parte, das experiências que venho acumulando diariamente, enquanto utente da CP, desde há muitos anos. Actualmente, temos um serviço ferroviário com algum conforto e eficiência, mas eu ainda sou do tempo em que os comboios eram absolutamente deploráveis, velhos, atrasados... E, depois, houve aquele acidente, trágico, na Póvoa de Santa Iria, em 1986, que traumatizou bastante a minha geração. Naquele comboio iam amigos meus; uns morreram; outros ficaram feridos e marcados para sempre, um dos quais o Luís Lamancha, a quem eu dedico o «Visões». Esse episódio significou um ponto de viragem em muitos aspectos, um sinal de que a tragédia nos pode acontecer a qualquer momento.
Esta obra relembra-nos, assim, o nosso quotidiano...
É... O género fantástico de que eu mais gosto é, precisamente, aquele que está mais perto do quotidiano, das coisas do dia a dia, dos afazeres normais das pessoas. Outro exemplo é o conto «A caixa negra», em que eu procuro explorar até onde podem ir os limites da burocracia, que chega a alterar, completamente, as vidas dos cidadãos. No fundo, as pessoas são, de facto, a minha grande fonte de inspiração.
E usa uma linguagem muito frontal, que, em alguns casos, poderá mesmo chocar...
A ideia também é essa. De resto, como já referi, eu sou, tento ser, frontal, não só a escrever mas em todos os aspectos da minha vida e da minha profissão, e penso que esse estilo deve ser estimulado.
Continua a ser difícil encontrar uma editora para os nossos livros?
Digamos que, hoje em dia, é mais fácil ser-se publicado. Mas, mesmo conseguindo-o, existe, posteriormente, o problema da promoção da obra. E quando não somos figuras televisivas essa dificuldade aumenta... O que não faltam, presentemente, são livros escritos por pessoas que, de uma forma ou de outra, aparecem na televisão, e que têm à partida, desde logo, outro tipo de cobertura que eu não tenho.
Os leitores portugueses continuam a «ligar» mais aos títulos estrangeiros?
Eu penso que já não é tanto assim, quer na literatura quer na música. Temos um José Saramago, um António Lobo Antunes, um Miguel Sousa Tavares, uma Margarida Rebelo Pinto... Houve, de facto, um tempo em que não se gostava mais do que era nacional, mas, agora, felizmente, isso mudou.
Este seu livro é igualmente o resultado de uma actividade jornalística continuada? Ou seja, contém uma visão jornalística dos assuntos?
Esta obra consiste numa série de contos, autónomos, aos quais procurei dar uma certa sequência, um «fio condutor». Se neles se nota um cunho jornalístico, tal não é deliberado, pois já tinha este estilo antes de ser jornalista. Embora, obviamente, a minha actividade contribua para, em tudo, procurar ser conciso, claro e buscar aquilo que é essencial.
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