Não
constitui novidade para alguém que acompanhe o assunto com alguma atenção que os prémios
literários em Portugal constituem frequentemente motivos de interrogações,
polémicas, suspeitas… Habitualmente, tal resulta da componente «atribuição», mais
concretamente quando o vencedor não constitui propriamente uma surpresa, e era
até algo previsível. Exemplos nesta «categoria» não faltam, e no ano passado mencionei um, relativo a um galardão a que eu também concorri e que, não surpreendentemente, não ganhei.
Porém,
e embora menos frequente, a controvérsia também se verifica na (prévia)
componente «organização». Neste caso, um dos exemplos mais recentes foi dado
pelo Prémio Nacional de Poesia António Ramos Rosa, cujo prazo de inscrição para
a sexta edição terminou no passado dia 30 de Abril. O que há, houve, de
insólito nesta iniciativa da Câmara Municipal de Faro promovida «com o alto
patrocínio da Fundação Millennium BCP e o apoio da Direção Regional de Cultura,
Universidade do Algarve, FNAC e Tertúlia Algarvia»? «Apenas» o seguinte: apesar
de ser um prémio bienal, isto é, que se realiza de dois em dois anos, só aceita
livros publicados (em primeira edição) no ano anterior à sua atribuição! Ou
seja, o galardão da sexta edição, que será entregue neste ano de 2017, incide
unicamente sobre obras lançadas em 2016. O que significa que, por exemplo, e
entre outros, o meu «Q – Poemas de uma Quimera», publicado em 2015 pelo
Movimento Internacional Lusófono, não foi admitido a concurso. Tal como não o
seria, e não foi, em 2015, aquando da quinta edição, que restringiu os
concorrentes aos livros editados em 2014.
Dito
de outra forma: as obras lançadas em anos ímpares não existem, na prática, para
o Prémio Nacional de Poesia António Ramos Rosa. Trata-se de uma óbvia, inegável
e injustificável, e injusta, discriminação, da qual me queixei, em sucessivos
contactos por telefone e correio electrónico, para a Câmara Municipal de Faro e
para a Fundação Millennium BCP, tendo igualmente solicitado a alteração, a correcção, das
regras no sentido de alargar o galardão a livros editados nos dois anos anteriores.
As respostas foram negativas… no que respeita a 2017. No entanto, ficou a
promessa de que, «lamentando esta situação, tentaremos rever as normas para a
próxima edição, que serão colocadas à consideração superior do executivo (do município algarvio), de forma a poder
melhorar este que pretende ser um evento para homenagear o nosso patrono
António Ramos Rosa.» Espero que sim, pois, até agora, essa «homenagem» está a
ser feita a 50%. (Também no MILhafre.)
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