Em Portugal,
e depois de demitido – isto é, de ter visto recusado o seu programa – no Palácio de São Bento o XX Governo Constitucional a 10 de Novembro de 2015,
tomou posse o XXI a 26 de Novembro no Palácio da Ajuda; este, pelas pessoas que
inclui e pelas políticas que indica, bem que poderia ser designado
informalmente de «terceiro governo de José Sócrates».
Exagero?
Atente-se: nas várias e interessantes «ligações», familiares e outras, que se
encontram no elenco do novo executivo; no facto de o novo secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros ser advogado, precisamente, do ex-preso
Nº 44 de Évora; no perfil e no percurso, algo… problemáticos, do novo secretário de Estado do Ambiente, talvez emuladores, evocativos, de um anterior
detentor do cargo; nas (superadas?) dificuldades com a ortografia da nova secretária de Estado da Cidadania e da Igualdade – dificuldades essas, aliás,
que uma ex-ministra da «Cultura» também tem…
… E o novo
primeiro-ministro não se distingue igualmente, o que é preocupante, pelo
conhecimento, tanto a um nível adequado à posição que agora ocupa como a um
nível mais básico exigível a um português letrado. Eis dois exemplos de erros
graves e grosseiros que ele cometeu este ano: primeiro, e ainda não tinha concluído a
primeira semana no desempenho das suas novas funções, afirmou – em Bruxelas! – que
a NATO foi fundada em 1959 (na verdade, foi em 1949) e que a Turquia foi uma das
nações fundadores daquela (na verdade, foi admitida em 1952); segundo (e muito pior),
em Junho durante a pré-campanha para as eleições legislativas, afirmou que
procuraria repor o dia 1 de Dezembro enquanto feriado porque «Portugal é o
único país que não comemora a sua data fundadora»! Incrivelmente, ao mesmo
tempo que mostrava não saber o significado do dia de hoje, também salientava,
acertadamente, que o nosso país não festeja oficialmente a sua própria criação…
… E esse é
apenas um de entre vários aspectos insólitos que continuam a caracterizar a
História, a política e a sociedade nacionais. Em comentários que fiz recentemente
a textos de outros blogs destaquei alguns desses aspectos: a surpresa que vários
ainda sentem perante a evidência de que um, qualquer, presidente da república habitualmente é «faccioso», o que não acontece normalmente com um Rei; o
equívoco que muitos ainda têm sobre o Partido Social-Democrata ser de direita,
quando nunca o foi; a ilusão que bastantes ainda partilham de que o Partido Socialista continua a ser uma força de centro-esquerda, quando já não é. E a «crise de egocentrismo, narcisista e sebastianista» de que o novo ministro da Cultura
acusava o novo primeiro-ministro em 2014 também ajuda a explicar a deriva do PS
para a extrema-esquerda. O filho do fundador… do PS queixava-se igualmente
então de que «as pessoas não têm memória
na nossa terra.» É verdade, e por isso é que, em vez de a nacionalidade ter a
sua fundação (correctamente) celebrada, há o perigo de a ver afundada. (Também no MILhafre.)
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