Muita indignação
causou – em especial, compreensivelmente, junto dos jornalistas – que os três
partidos portugueses do chamado «arco da governação» tivessem – através de
outros tantos representantes (in)devidamente mandatados para o efeito –
acordado numa iniciativa que, objectiva e indiscutivelmente, condiciona(ria) a
liberdade de expressão e cria(ria) uma nova comissão de «exame prévio», de censura, à qual deveriam ser submetidos planos de cobertura das eleições
legislativas de 2015 e que definiria e decidiria (d)as características dessa
cobertura. Ainda por cima, tal aconteceu na véspera de mais um aniversário do
25 de Abril… perdão, «abril».
Mas… qual é o
espanto? Qual é o escândalo? Acaso esta foi a primeira vez que PS, PSD e CDS,
não a «santíssima» mas sim a «insultíssima» trindade desta terceira república,
mostraram um total desrespeito pelas mais elementares regras democráticas? Evidentemente
que não: tão ou mais grave do que est(a tentativa d)e condicionamento da comunicação social foi, e é, a implementação ilógica e ilegal do «acordo ortográfico de
1990», com a qual aqueles três partidos concorda(ra)m; porém, os directores dos órgãos que unanimemente (ou quase) se insurgiram contra uma nova «lei da rolha»
não tiveram e não têm, com poucas excepções, a mesma atitude perante a
subversão da língua portuguesa perpetrada pelos mesmos directórios partidários.
Não há
certeza de quem teve a ideia de fazer aquela (mais uma…) acção de intimidação
da imprensa, apesar de o PS ter sido apontado, outra vez, como o primeiro, ou
principal, «culpado». O que não surpreende: afinal, trata-se do partido que se
mostrou renitente à abertura da televisão à iniciativa privada, e que, com José
Sócrates como primeiro-ministro, protagonizou alguns dos mais inquietantes
episódios de assalto à liberdade de expressão em pelo menos 20 anos; é uma
triste tendência de que António Costa, apesar de ser filho de uma jornalista e
irmão de outro, já mostrou ser um (in)digno continuador, como o comprovou o SMS com injúrias e ameaças que enviou no dia 25 de Abril (!) a João Vieira Pereira,
director-adjunto do Expresso, por este ter comentado desfavoravelmente o
programa económico do PS; significativamente, Ricardo Costa não manifestou
publicamente solidariedade para com o seu colega e «Nº 2», o que, ironicamente,
vem justificar a sua disponibilidade, manifestada há um ano, em se demitir de director do jornal que já foi uma «referência» (deixou definitivamente de o ser
depois de se ter submetido ao AO90) quando o «mano» sucedeu a António José
Seguro no Largo do Rato. No entanto, note-se que (tanto quanto eu julgo saber)
de nenhum dos órgãos de comunicação social portugueses veio o mais pequeno
protesto contra aquela «comunicação» de Costa, preferindo aqueles dar destaque
a um outro SMS que terá sido enviado por Paulo Portas em 2013…
… O que veio
confirmar, como se tal fosse necessário, que há membros da «trindade» mais
insultuosos do que outros. O actual secretário-geral do PS não se pode queixar
de ter má imprensa. Enquanto presidente da Câmara Municipal de Lisboa teve
atitudes e tomou decisões controversas que, em circunstâncias normais, teriam
merecido (mais) contestação e até condenação. Em especial as (pelo menos) duas
– ilegais – discriminações por si deliberadas: uma afecta automobilistas cujo
«crime» é terem automóveis velhos e não suficientemente «verdes» e que, por isso, foram proibidos de circular na baixa da capital... mas que centros de
inspecção aprovaram; outra afecta turistas cujo «crime» é serem estrangeiros e
que, por isso, são alvo de uma «taxa turística» que a Comissão Europeia considerou não estar conforme às leis europeias. Convém igualmente não esquecer: o
iberismo demonstrado por António Costa quando, a propósito da final da Liga dos
Campeões disputada no Estádio da Luz no ano passado entre Atlético e Real, foi a Madrid buscar uma bandeira espanhola; a sua apatia e mesmo fatalismo perante as inundações que ciclicamente assolam Lisboa; e o apartamento na Avenida da Liberdade
em que ele viveu durante dois anos e que não respeita(va) as normas camarárias…
A ver vamos se, num futuro próximo, e à semelhança do seu ex-chefe agora «hospedado»
no Estabelecimento Prisional de Évora, ele também terá a sua própria congregação de «fiéis» em adoração permanente, com hino e tudo…
Embora com
diferentes protagonistas, a verdade é que a classe política que há mais de 40
anos nos (des)governa já excedeu há muito o seu prazo de validade… se é que
alguma vez a teve. Os danos que causa não se circunscrevem à comunicação e à
cultura, e as «emendas» de uns frequentemente não foram (ou são) melhores do que os «sonetos»
de outros. Sim, o PS levou o país à falência; todavia, o PSD e o CDS, para o
recuperarem, não hesitaram em permitir que partes significativas da economia
nacional – em especial na banca (BESI), nos seguros (Fidelidade) e na energia
(EDP) – passassem para as mãos de chineses comunistas, e que uma «camada» do território
nacional – o espaço aéreo – seja agora controlado em monopólio pela Vinci, uma
empresa francesa que adquiriu a ANA e que aumenta quando e quanto quer as taxas aeroportuárias. Entretanto, todos participa(ra)m no progressivo fortalecimento de
uma máquina fiscal – agora designada Autoridade Tributária e Aduaneira – tão
implacável e voraz na sua perseguição e extorsão totalitárias que, em processos
«kafkianos» ou «orwellianos», chega aos cúmulos de penhorar alimentos a instituições de solidariedade social, e – numa demonstração do quanto as parcerias
público-privadas propagadas pelo Bloco Central «a três» são imorais e
prejudiciais – de actuar, para concessionárias de auto-estradas, como «agente de cobranças» de multas exorbitantes, por vezes aplicadas a quem não tem culpa
(por já não ser, ou nunca ter sido, o proprietário do veículo assinalado) e,
até, a quem nem idade tem para conduzir.
Este é, pois,
um momento oportuno para perguntar: ainda haverá alguém que pense – e que
(me) diga – que sou um «demente» por propor e defender a mudança de regime (de
república para Monarquia) e, em consequência(s), a extinção do Grande Oriente
Lusitano, a promulgação de uma nova constituição e também a extinção de todos os partidos
que, desde 25 de Abril de 1974, tiveram assento(s) na Assembleia da República? (Também no MILhafre.)
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