Foi há precisamente
um mês que foram entregues, no Teatro Nacional de São Carlos em Lisboa, os (segundos) Prémios Sophia do cinema nacional. É de louvar a – recentemente
criada (foi em 2011) – Academia Portuguesa de Cinema por esta iniciativa. E de
destacar que, na primeira edição, ocorrida em Novembro de 2012, um dos homenageados com o «Prémio Carreira» foi, e muito justamente, António de Macedo.
Porém, é
quase inevitável que se coloque uma questão relativa ao prémio, e, mais
concretamente, ao seu nome: «Sophia»?! Sim, foi em homenagem à escritora Sophia
de Mello Breyner Andresen. Note-se que não estão, e nunca estarão, em causa, o
talento daquela autora, a qualidade da sua obra, e a atenção e o admiração que
ambas merecem continuar a ter nos tempos futuros. No entanto, não seria mais
lógico que a designação de um prémio de cinema português tivesse (mais) a ver
com… o próprio cinema português? Através do nome de alguém que, de facto,
participou, de preferência enquanto pioneiro, no lançamento e no
desenvolvimento da sétima arte em Portugal?
Seguindo esse
critério, uma designação alternativa óbvia para o prémio seria «Aurélio», que
tem não só a qualidade e a vantagem de homenagear Aurélio da Paz dos Reis mas
também as de invocar palavras semelhantes como «aura», «áurea» e «auréola», que
bem se podem associar, relacionar, «artisticamente», «poeticamente», a um galardão
para o audiovisual… O «problema» é que o nome já está tomado: existe,
efectivamente, um Prémio Aurélio da Paz dos Reis, atribuído desde 2007 pela
Escola Superior Artística do Porto. Todavia, e não havendo uma «fusão», ao
nível de prémio, entre a APC e a ESAP, existem sempre alternativas. Porque não
«Portugália» ou «Invicta», nomes das primeiras produtoras cinematográficas
portuguesas, a primeira de Lisboa e a segunda do Porto?
É certo que
este caso de «baptismo deficiente», ou intrigante, não é exclusivo de Portugal.
Em França os principais prémios de cinema são (desde 1976) «César» em vez de
«Lumiére», embora o apelido dos famosos irmãos e inventores gauleses tenha sido
adoptado para uma distinção atribuída (desde 1996) por uma associação de
críticos francófonos, que, aliás, formaram uma academia com o mesmo nome. Em
Espanha existem os Prémios Goya, embora aqui se possa dizer que a «distância» é
menor porque se trata de um pintor. E, evidentemente, nunca é demais recordar,
e interrogar, porque motivo a SIC decidiu designar de «Globos de Ouro» os seus
prémios anuais quando já existem nos EUA homónimos mais antigos e famosos…
Sophia de
Mello Breyner Andresen é melhor homenageada, por um lado, através do prémio
literário criado pela Associação Portuguesa de Escritores e pela Câmara
Municipal de São João da Madeira; e, por outro, através dá (re)impressão e
divulgação correctas dos seus livros. Algo que a Porto Editora não faz, não fez, ao ter decidido reeditar obras da poetisa em «acordês». E que a Academia
Portuguesa de Cinema também não faz, ao utilizar, sem ter necessidade, sem ter
obrigação, o aberrante, ilegal e inútil AO90. (Também no MILhafre (76).)
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