domingo, junho 30, 2013

Observação: ACP «trocado por miúdos»?

Há mais uma entidade privada que decidiu comportar-se, em relação ao «aborto pornortográfico», como uma pública… ou seja, de uma forma cobarde e colaboracionista: o Automóvel Clube de Portugal.
Tendo verificado, no início deste ano, que a revista do ACP passou, abruptamente, a utilizar o aberrante «acordês», telefonei para a sede daquele a 12 de Março último, pedindo para falar com Carlos Barbosa, actual presidente da Direcção. Em vez disso, puseram-me em contacto com Rosário Abreu Lima, antiga assessora de Luís Marques Mendes e agora «dire(c)tora de comunicação institucional» do clube, para além de (ir)responsável máxima da sua publicação principal; ela confirmou que havia sido quem decidira proceder à alteração – tendo, aparentemente, imposto a sua vontade ao próprio Carlos Barbosa. De qualquer forma, expus-lhe os argumentos e os factos… irrefutáveis, aos níveis político, jurídico e cultural, que tornam ilegítimo, ilegal e inútil o AO90. Aquela pessoa não me apresentou propriamente um «contraditório»; não conseguiu, ou não quis, refutar o que eu disse. Porém, isso não significou que tivesse concordado comigo, porque as posteriores edições da revista do ACP continua(ra)m cheias de erros ortográficos…
O caso do Automóvel Clube de Portugal no âmbito do AO90 é especialmente insólito – e irritante – porque, mais do que outras organizações, esta já teve ocasião de presenciar, de se pronunciar… e de protestar contra transformações injustificadas que trouxeram – que trazem – mais desvantagens do que vantagens. Disse-o naquela conversa por telefone e reiterei-o depois em mensagem de correio electrónico: de quem se manifestou, e bem, contra as mudanças no trânsito em Lisboa, na zona da Praça do Marquês de Pombal e da Avenida da Liberdade, seria de esperar uma atitude semelhante perante uma situação… que tem muitas semelhanças. Como escrevi, «surpreende-me a atitude passiva, de submissão, do ACP em relação ao AO90: é que é o mesmo tipo de mentalidade distorcida, de raciocínio deficiente, que está na origem tanto das alterações na ortografia portuguesa como das alterações ao trânsito lisboeta. Em ambos os casos trata-se de dar “soluções” a problemas que não existem; de lançar a confusão onde existia um mínimo de estabilidade; de desviar para objectivos irrelevantes recursos que seriam mais necessários e melhor aproveitados em áreas verdadeiramente prioritárias.»
Tanto na conversa por telefone como na mensagem de correio electrónico também abordei as consequências do AO90 no ensino: «quem causa essa “confusão” é quem pretende impor esta anormalidade; mas, ainda mais caricato, repare na ainda maior confusão que a utilização do AO90 causa em crianças e jovens que aprendem, e cada vez mais cedo, o inglês, e que assimilam todas aquelas palavras com consoantes “mudas”, consoantes e vogais repetidas, e até várias palavras com o (alegado) arcaísmo do “ph”... Não seria melhor - quanto mais não seja por sermos um país europeu! - não nos afastarmos da língua inglesa, e também, já agora, da francesa, onde não se procede a absurdas “simplificações” que só prejudicam a aprendizagem e que são potenciadoras de analfabetismo e de iliteracia?»
Aparentemente, os actuais dirigentes do ACP não vêem qualquer contradição em, ao mesmo tempo que se distanciam ortograficamente do inglês, designarem o seu programa de educação rodoviária, dirigido para os mais novos, como… «ACP Kids». Serão as crianças anglófonas residentes em Portugal os alvos prioritários desta iniciativa? «Trocado por miúdos», a conclusão é inevitável: o maior clube português, além de pelo provincianismo, foi atingido pela hipocrisia. Simplesmente ridículo. É claro que existem outras instituições que se submeteram ao AO90 e que, ao mesmo tempo, não dão ao «novo português» uma utilização plena: veja-se a RTP e o seu serviço «Play»
E pensar que eu andei a gastar o meu tempo, e o meu «latim», a defender o ACP numa anterior situação em que foi discriminado. Não vale(u) a pena o esforço. Não merece(ra)m o empenho. (Também no Esquinas (172).)

2 comentários:

CM disse...

Surpreende-se?
Não sabe qual é a paternidade ideológica e histórica de "reformas" ortográficas e do "acordo" ortogtráfico? Está a esquecer o comité que na república maçónica de 1911 retalhou o português, naquilo a que Fernado Pessoa classificou como crime?
Se tiver essa filiação presente verá que não tem a menor surpresa... bate tudo certo.
Com se diz no blog "A partir pedra": "Mas quem pensou que divulgar, comentar, publicar, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 não tem nada a ver com Maçonaria, pense outra vez e pense melhor!"

http://a-partir-pedra.blogspot.pt/2008/11/o-porqu-do-acordo-ortogrfico-no-blogue.html

OCTÁVIO DOS SANTOS disse...

Eu sei que a mania das alterações ortográficas generalizadas começou na primeira república, e que a maçonaria (irregular) também nisto tem tido uma «mãozinha». Já escrevi várias vezes sobre isso.