«Sociedade Civil»,
na RTP2, mais do que um programa de televisão, é uma acção contínua, diária, de
propaganda às grandes «causas» do chamado «politicamente (e socialmente, e
culturalmente…) correcto»; tal só é novidade para os que não o costumam ver, ou,
vendo-o, são distraídos. E a emissão de ontem, subordinada ao tema – e à
pergunta - «cidades sem carros, para quando?», teve como convidados: Ana
Santos, da Associação para a Mobilidade Urbana em Bicicleta; Fernando Nunes da
Silva, da Câmara Municipal de Lisboa; Mafalda Sousa, da Quercus; e Mercês
Ferreira, da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia. Porém, um debate como este
não deveria ter também um representante do Automóvel Clube de Portugal?
Numa iniciativa
informativa que de facto se orientasse por critérios jornalísticos, que procurasse
realmente o equilíbrio, que tentasse abranger o máximo de opiniões possível,
sem dúvida que não poderia deixar de estar presente, por interposta pessoa, uma
instituição que, para mais, é a que tem o maior número de associados em
Portugal. Sim, normalmente seria assim. Mas o «Sociedade Civil» não é… normal. E
nem é a primeira vez que faz uma destas. Na verdade, já assinalou o centenário
da República… sem monárquicos; já abordou (por mais de uma vez) o AO90 sem opositores do dito cujo – nomeadamente da Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico, que, ela sim, representa
um movimento genuíno da (autêntica) sociedade civil. E, no que terá sido talvez
um dos poucos «descuidos» da equipa que produz o programa, a emissão do dia 22
de Setembro de 2009, que teve como pretexto o filme «A Era da Estupidez», contou,
como um dos convidados, com o saudoso Rui Moura, que não perdeu tempo a denunciar e
a desmascarar a teoria do «aquecimento global antropogénico» deixando, ao mesmo
tempo, quase sem palavras, Francisco Ferreira, Filipe Duarte Santos … e a
própria Fernanda Freitas, todos apologistas da atoarda das «alterações
climáticas». Digamos que ficou demonstrado que a «estupidez» não era de quem
estavam à espera. Um momento notável, inolvidável, para quem, como eu, a ele
assistiu.
A ausência de
um representante do ACP na emissão de ontem foi, no entanto, censurável –
embora previsível – por um outro motivo: é que Fernando Nunes da Silva –
professor de Urbanismo e Transportes no Instituto Superior Técnico! – é, na
CML, o vereador com o pelouro da «Mobilidade»… e 17 de Setembro, segunda-feira,
foi igualmente o dia em que se começaram a sentir, a sério, as consequências da
mais recente ideia irresponsável do actual, e incompetente, presidente da
edilidade da capital: as alterações ao trânsito na Praça do Marquês de Pombal e na Avenida da Liberdade, em especial o conceito de «segunda rotunda». Ironicamente,
na «Semana Europeia da Mobilidade»… aumenta-se a imobilidade, o «engarrafamento»
de tráfego, a poluição – quando o motivo invocado para esta mudança é,
precisamente, e por imposição da União Europeia, a melhoria da qualidade do ar
naquela zona da cidade. Não era, pois, «conveniente» confrontar o senhor
vereador com questões controversas e incómodas… e denunciar, em simultâneo, a
megalomania patética de António Costa, que, invejoso, quer deixar uma «marca»
maior (e «superior» à) do que a – essa sim, comprovadamente positiva,
relevante, útil – deixada por Pedro Santana Lopes com o «Túnel do Marquês».
Por este
andar, qualquer dia, e além das bicicletas, só as carroças serão permitidas à
superfície… Até lá, os cidadãos têm de suportar as consequências desta
«experiência» (mais uma) que custou «apenas» 750 mil euros – verba que, para
Nunes da Silva, «não é astronómica». É de perguntar se todo esse dinheiro não
seria melhor aproveitado, por exemplo, na limpeza e na recuperação dos edifícios de Lisboa, e não só aqueles que constituem património arquitectónico
e histórico. (Também no Esquinas (131) e no MILhafre (65).)
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