sábado, agosto 06, 2005

Obras: "O último samurai"

Contemplando o sol nascente num jardim de lótus está o último samurai.
Ele é o último sobrevivente de uma honrada tradição de gloriosos guerreiros
mas agora soam já muito distantes os ecos dos gritos de banzai.

Ele continuou a lutar durante décadas após a guerra estar terminada.
E apesar de ter sido obrigado a depor as armas
no seu espírito a sede de combater nunca foi saciada.

Ainda colocou o lenço branco na cabeça e ofereceu-se como kamikaze.
Mas do céu outro vento divino primeiro soprou,
lançando sobre as ilhas do império uma horrível tempestade.

Com o imperador morto ele sabe que o seu tempo também findou.
Depois de uma taça de saké ele está pronto para o seppuku,
e despede-se de uma época a que não pertence e que nunca o respeitou.

Ele quis que guardassem as suas cinzas num templo do sagrado monte Fuji.
Contra a sua vontade a electrónica profanou a cerimónia
e a sua alma foi evocada num ecrã de televisão e não num palco do Kabuki.


Hoje, 6 de Agosto de 2005, passam 60 anos sobre o lançamento da bomba atómica em Hiroshima.

Poema (Nº 241) escrito em 1991 e incluído no meu livro «Museu da História».

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