Não posso ser certamente a única pessoa a achar insólito,
incongruente, irónico, que um dia que deixou de ser considerado, em decisão de
um governo ratificada por um presidente da república, um feriado oficial, ainda
seja merecedor de… comemorações oficiais. Que, para mais, contam com as
presenças do governo – através do primeiro-ministro – e do PR acima citados!
Hoje, 5 de Outubro de 2014, tal aconteceu em Lisboa, tendo como anfitrião o
presidente da câmara municipal daquela, recém-eleito novo líder do maior
partido da oposição e desejoso de assumir uma pose ainda mais institucional que
tente ocultar, e se possível apagar, a sua indiscutível incompetência enquanto autarca.
É evidentemente uma situação ridícula, mas há muito tempo
que tudo o que se relaciona com a (evocação da) implantação da república em
Portugal é ridículo. As «altas individualidades» que hoje acorreram aos Paços
do Concelho quase de certeza nunca pensaram que, mais do que a tomada do poder por terroristas através de um golpe de Estado em 1910, esta data
podia e devia ser celebrada enquanto a do reconhecimento formal da fundação da
nacionalidade – pela assinatura do Tratado de Zamora em 1143. Tal como não
costumam celebrar o 1º de Dezembro nem o 14 de Agosto, que não são mas deviam
ser feriados, preferindo, ao invés, assinalar a união ibérica a 10 de Junho,
que ainda é.
Porém, e apesar de qualquer festejo da república ser mais
patético de que patriótico, há sempre a possibilidade de, relacionado com ela,
surgir um qualquer incidente grotesco adicional. Desta vez foi a controvérsia a
propósito de uma exposição na assembleia da re(les)pública intitulada «Cem anos de presidência», e que é constituída por 18 bustos (no sentido de «carantonhas»,
infelizmente) de outros tantos figurões que ocuparam o cargo de chefe de
Estado; mais concretamente, de protestos do BE e do PCP por a referida
iniciativa incluir representações em barro de Carmona, Craveiro Lopes e Thomaz,
residentes do Palácio de Belém no período entre 1926 e 1974, isto é, durante a
2ª república. No entanto, se fossem coerentes e intelectualmente honestos,
bloquistas e comunistas teriam igualmente exigido a retirada dos retratos dos
presidentes da 1ª república, que, por também ter sido uma ditadura, nunca
proporcionou a eleição em democracia do «mais alto magistrado da nação».
Enfim, a verdade é que representa pouco mais do que um desperdício
de tempo e de esforço qualquer discussão a respeito deste regime. Que permite
ou mesmo promove a gradual destruição do país – pelo abandono do território, pelo
descontrolo migratório, pelo financiamento do aborto, pela espoliação fiscal –
e que por isso não tem – e não é de agora – qualquer recuperação ou regeneração
possível. Quantos mais escândalos de âmbito político-económico – o do Banco Espírito Santo é só o mais recente – serão ainda necessários para convencer os que ainda
se iludem? Pela minha parte, e como já afirmei, estou pronto para (um)a revolução. De preferência, e se possível, pacífica. (Também no MILhafre (97).)
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