Hoje é Dia de
Reis. E, ontem, morreu aquele que foi chamado de «Rei» (do futebol português). Há
já quem queira que ele seja sepultado no Panteão Nacional, ao lado da sua amiga
Amália Rodrigues; e sem dúvida que ele merece essa honra muito, mas mesmo
muito mais do que Aquilino Ribeiro e Óscar Carmona.
Não é
necessário dizer, recordar, o que Eusébio da Silva Ferreira fez, o que foi e é,
o que simbolizou e simboliza, agora e para todo o sempre. Dos muitos factos,
das muitas memórias, relativas ao grande desportista e ao grande homem, escolho
o simbolismo da selecção nacional de futebol que participou no Campeonato do
Mundo de 1966, em Inglaterra; uma selecção europeia cujas duas principais
figuras – o seu capitão (Mário Coluna) e o seu melhor jogador – eram ambos
africanos, de cor de pele escura; nenhum país verdadeiramente racista
permitiria isso; os afrikaners nunca o aceitariam – e por isso a África do Sul,
ao contrário de Portugal, esteve banida das competições internacionais (até ao
fim do apartheid); os segregacionistas (herdeiros dos esclavagistas) do Partido
Democrata nos EUA nunca o aceitariam.
Mais do que
através das condolências, das elegias e dos elogios fúnebres, do luto oficial,
das bandeiras a meia haste, da repetição constante das suas melhores jogadas e
dos seus melhores golos, a melhor forma de homenagear o «Pantera Negra» estaria
em os seus sucessores, no Sport Lisboa e Benfica e na «equipa de todos nós»,
fazerem melhor… dentro das quatro linhas, nos estádios, nos relvados, nos
terrenos de jogo. Infelizmente, e nos quarenta anos que se seguiram depois de
ele ter «arrumado as chuteiras», nem o seu clube nem o seu país voltaram a
alcançar, ou sequer chegaram a alcançar, a glória para a qual ele tanto
contribuiu, o sucesso cujos alicerces ele ajudou a colocar. O Benfica, que com
ele foi campeão europeu – aliás, vencedor de um troféu internacional – pela
última vez, ergueu-lhe uma estátua ainda em vida mas é hoje uma instituição degradada, diminuída, sem identidade e mal dirigida. E a selecção nacional
nunca chegou, verdadeiramente, a fazer melhor do que o terceiro lugar que ele e
os seus companheiros «Magriços» conseguiram em Londres (é melhor nem falar de
Lisboa em 2004…), sucedendo-se os «foi quase»…
No seu último
ano de vida, Eusébio assistiu ao (triplo) fracasso do Benfica, a uma «morte na
praia» (nos últimos instantes de jogo) três vezes repetida; e soube que a final
da Liga dos Campeões da época 2013-2014, que se realizará no seu Estádio da
Luz, não contará, mais uma vez, com as (muito «depenadas») «águias»; desportivamente, a despedida foi muito triste. Resta que,
como um derradeiro tributo póstumo, Cristiano Ronaldo e os seus colegas
finalmente se superem e tragam do Brasil o supremo troféu mundial, quais Pedro
Álvares Cabral e seus marinheiros «reencarnados». Porém, e dados os
antecedentes, não há verdadeiros motivos para se estar optimista, não existem
reais razões para se ter esperança. (Também no MILhafre (79).)
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