Faleceu no
passado dia 15 de Março, e, se fosse vivo, completaria hoje 80 anos. É
por isso que escolhi esta data para uma breve, mas sentida, evocação de, e homenagem
a, Mário Murteira…
… Que eu
conheci pessoalmente no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa
no final da década de 80, enquanto aluno dele na disciplina de Introdução à
Economia da licenciatura em Sociologia. Evidentemente, já o conhecia antes… da
comunicação social, enquanto figura pública, professor, economista e,
principalmente, enquanto Ministro do Planeamento e Coordenação Económica que,
no IV governo provisório liderado por Vasco Gonçalves, superintendeu o processo
de nacionalização de empresas na sequência da tentativa de golpe de 11 de Março
de 1975. Inevitavelmente, este assunto constituiu o ponto principal da entrevista
que me concedeu, e aos meus amigos e colegas Rui Paulo Almas e Victor Cavaco,
publicada em Dezembro de 1988 no Nº 1 do DivulgACÇÂO, boletim da Associação de
Estudantes do ISCTE, que eu coordenava e de que fora um dos criadores. É difícil
escolher um só excerto, mas deixo este: «(…) O que se passou em Portugal em
1974 e 1975 só pode ser compreendido se atendermos à natureza do regime que foi
derrubado com o 25 de Abril. (…) É exactamente porque o regime político e
social era retrógrado que os acontecimentos em 74/75, de certa maneira, foram
também obsoletos. Isto por conterem uma radicalização anti-capitalista que
corresponde a algo que devia ter acontecido mais cedo em Portugal. Esta ideia
pode ser traduzida na seguinte imagem: nós tivemos em Portugal um regime que
pôs um “dique” no tempo. O “dique” rompeu-se, e então o tempo andou muito
depressa em 74/75 para “acertar o calendário”. (…)»
Já há quase
25 anos Mário Murteira era um homem de consciência tranquila, e tinha fortes razões
para o ser: a sua experiência político-partidária e governamental, apesar de
breve e polémica, não constitui, na minha opinião, a parte mais importante do seu impressionante currículo, onde avultam as instituições que ajudou a criar (que incluem o
próprio ISCTE e o Instituto de Ciências Sociais), as centenas de alunos que
ajudou a formar, e as dezenas de livros e de artigos que escreveu e que publicou. Em
minha casa vi, na década de 70, vários números da revista Economia e
Socialismo, de que ele foi director, e não duvido de que os textos nela
contidos influenciaram decisivamente o meu pai, José Manuel Dias dos Santos, a
ser o principal dinamizador e fundador de uma cooperativa de consumo, a UniPovo,
em Alverca.
Ao contrário
do que aconteceu com José Manuel Prostes da Fonseca, que também faleceu este
ano pouco antes de completar oito décadas de vida, soube da morte de Mário
Murteira antes do seu funeral e por isso pude assistir ao velório e missa de
corpo presente, que tiveram lugar numa capela anexa ao Mosteiro dos Jerónimos.
E não foi só pelo professor que lá fui: um dos seus filhos,
Jorge Murteira, foi meu colega de turma no ISCTE (e, logo, também aluno do pai),
e a filha, Helena Murteira, é minha colega no projecto Lisboa Pré-Terramoto de
1755. Antes de partir para o cemitério da Ajuda, o falecido recebeu as
homenagens de familiares e de colegas, entre os quais José Manuel Paquete de
Oliveira, que também foi meu professor. E hoje outra homenagem foi-lhe prestada
na escola que ele ajudou a construir: o seu nome foi dado a um dos auditórios
do ISCTE, durante uma cerimónia em que também foi exibido um documentário
biográfico «Mário Murteira, um Homem Aprendente» (realizado pelo Jorge) e
apresentado o seu último livro, «Esta Noite Sonhei com a Crise».
Sobre Mário
Murteira é de ler também o que escreveram Joana Lopes, João Rodrigues e José Pimentel Teixeira.
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