Na edição de hoje (Nº 7951) do jornal Público, e na página 54, está o meu artigo «"Velho do Restelo”, e com muito orgulho!». Um excerto: «Ao contrário de “acordos” e de “reformas” na ortografia anteriores, o AO90 assenta numa alteração radical: já não se trata de substituir (o “ph” pelo “f”, o “y” pelo “i”) ou de simplificar (deixar de haver consoantes repetidas) mas sim de cortar, eliminar, letras e acentos que são necessários, que têm funções concretas. É uma “mudança revolucionária” através de uma “ditadura de uma (muito pequena) minoria”.» Transcrição integral aqui. (Divulgação também no Esquinas (111) e no MILhafre (48). Referência igualmente no Águas do Sul e no Linguagista.)
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5 comentários:
Transcrição integral, como não podia deixar de ser, no site da ILC: http://ilcao.cedilha.net/?p=4003
Sr. Octávio dos Santos
Tenho 58 anos e como tal aprendi português com a grafia "antiga" e assim continuarei a escrever até ao fim dos meus dias, pouco me importando com o AO90 e não estou contra os que fizeram o acordo nem contra os que o odeiam, digamos que sou neutral em relação às tomadas de posição de cada um. Contudo, gostaria de deixar uma pequena reflexão sobre o assunto da lingua portuguesa.
Foi o nosso rei D.Dinis que obrigou, na altura, a que todos os documentos oficiais passassem a ser redigidos em português abandonando o latim vulgar que até aí se utilizava. Foi uma medida política que, muito possivelmente, terá suscitado reacções, digo eu.
Se, por acaso, se der ao trabalho de ler um documento do séc XIV verá que o português do documento não tem nada a ver com o actual, a escrita evoluiu a par da lingua e não me parece que tenha sido por acção de Acordos Ortográficos. Mas o Mundo nesses tempos mais recuados também não era o que é hoje, os meios de informação globalizaram-se de uma maneira impressionante e talvez tenham sido eles a empurrar a economia para a "Globalização". Nós demos início à globalização no século XV justamente porque possuiamos, para o efeito, melhores navios, melhores instrumentos e cartas de marear, o que tornava a empresa mais simples, ou seja facilitámos e acelerámos as trocas Ocidente/Oriente. Por isso também não vejo grande mal quqe para facilitar a comunicação entre povos e economias se simplifique a linguagem de forma a uniformizá-la. O meu filho mais novo já vai aprender coma nova ortografia e, mais tarde, irá gozar comigo por eu escrever "à antiga", não lhe levarei a mal e ele não se vai zangar comigo.
Saudações
Artur Martins B.I.2314819
Caro Artur Martins,
como muito bem escreveu, «o Mundo nesses tempos mais recuados também não era o que é hoje». Pois não: na Idade Média, na época de D. Dinis, muito poucos eram os portugueses que sabiam ler e escrever, e o Rei era dono e senhor de quase tudo, até de decidir como a língua do país deveria ser. Hoje já não é assim: a democracia assenta, ou devia assentar, nas decisões, da vontade da maioria de uma população. Eu sou monárquico, mas nunca aceitaria, e não aceito, que um Rei, ou qualquer outro chefe de Estado – ou de Governo – decida à minha revelia um assunto que é também intrínseco à minha pessoa… como o é a ortografia.
E desengane-se: com o «aborto ortográfico» não há qualquer uniformização – as duplas grafias multiplicaram-se; entre muitos outros exemplos, no Brasil continuam a escrever «recepção» e em Portugal é suposto escrever-se «receção». Além de que (tentar) «uniformizar» a linguagem… é totalitarismo, é fascismo: é artificial e anormal «igualizar» coisas que são naturalmente diferentes. Facilitar a comunicação faz-se com aprendizagem e com práctica, e não com simplificação… Aliás, e depois das sucessivas «simplificações» feitas no português durante os últimos 100 anos, estamos mesmo melhores? Ganhámos algo de concreto com isso? Repare nos ingleses e nos franceses: há séculos que escrevem com «ph» e consoantes repetidas, e não prescindiram de todos os seus «c’s» e «p’s»… acredita mesmo que eles estão piores do que nós?
E se o seu filho mais novo algum dia gozar consigo por «escrever à antiga»… isso significará que o senhor fracassou como pai e como educador. A minha filha mais nova, que tem sete anos, sabe perfeitamente, graças a mim e apesar do que a professora dela lhe «ensina», quais as palavras que precisam de «c’» e de «p’s»; ela vem constantemente ter comigo para me mostrar as correcções que fez nos livros escolares! E diz aos amigos e colegas como é que devem escrever! Orgulho-me da minha filha, e ela orgulha-se do pai.
Transcrevi o artigo no facebook.
Abraço
Obrigado, Cristina.
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