Em Portugal há dias feriados correspondentes a datas históricas que foram sendo completamente adulterados e pervertidos no seu significado.
No 1º de Dezembro é mais celebrada a luta contra a Sida do que a restauração da independência - o que, provavelmente, até convém para alguns, que preferem não «ofender» os «nuestros hermanos» e vizinhos espanhóis, eles que dominam cada vez mais a nossa economia, além de não nos devolverem Olivença… Honra seja feita, porém, ao Grupo de Amigos de Olivença, essa agremiação de valorosos patriotas que em 2001, contra a maré do conformismo derrotista, a indiferença e por vezes até a chacota dos que não «mexem uma palha» para defender a dignidade do seu país (mas que, pelos cargos que ocupam, deviam mexer), conquistaram, em tribunal, uma importante vitória, impedindo que a ponte velha daquela cidade portuguesa ocupada fosse «cedida» a Espanha - pelo (des)Governo português de então - para «restauro»…
25 de Abril? Um momento decisivo da nossa história recente que, de tão mal assinalado, parece hoje mais distante do que é. E o 10 de Junho? Justifica-se que o «dia nacional» seja o aniversário de uma morte (a do seu maior poeta, é verdade, mas, mesmo assim…) que coincide também com a perda da independência do país? Completamente desacreditada, esta data tem nas suas comemorações apenas um pretexto para se distribuírem algumas condecorações.
O 14 de Agosto não é feriado, mas provavelmente devia ser. Neste dia, em 1385, aconteceu a Batalha de Aljubarrota, que assegurou - pelo menos até 1580 - a independência de Portugal. Em 2001 não houve comemorações… porque o Exército não dispunha de dinheiro para as fazer. No entanto, mesmo que tivesse, seria difícil de concretizar algo de condigno, porque o campo onde ocorreu o glorioso recontro está hoje quase todo urbanizado… Esta data não deixou de ser, todavia, devidamente e duplamente «festejada» nesse ano: com a derrota por 0-2, em Setúbal, da selecção nacional de futebol de sub-21 face à sua congénere espanhola; e pela vitória de mais um ciclista do país vizinho na etapa daquele dia da Volta a Portugal em Bicicleta.
É no 5 de Outubro, contudo, que a mistificação é mais escandalosa. Neste dia, muito mais do que a implantação da República em 1910, deveria comemorar-se o reconhecimento da independência - a assinatura do Tratado de Zamora - em 1143. Não são muitos os portugueses que sabem deste acontecimento, e a entrega nas escolas, em 2000, do chamado «kit patriótico», foi mais um contributo dos republicanos para a continuação, e até para o aumento, dessa ignorância. O pressuposto - isto é, a mentira - central dessa (tentativa de) lavagem cerebral nacional foi que a História de Portugal só começou, verdadeiramente, com a República.
A minha filha mais velha, que frequentava então o primeiro ano do ciclo básico, foi uma das muitas crianças que, quais potenciais criminosas, receberam nas suas escolas a «visita» da Guarda Nacional... Republicana para aprenderem «a identidade, os valores e os símbolos nacionais.» À noite, eu, como pai responsável que tento ser, expliquei-lhe que a Pátria é muito grande, não cabe numa caixa, não se reduz a alguns autocolantes, brochuras e discos, já teve outros hinos e bandeiras, e tem uma história muito antiga, em que aconteceram muitas coisas, umas boas, outras menos boas. E houve um rei e um príncipe - um pai e o seu filho - que foram mortos, assassinados, pelos antecedentes dos que hoje nos (des)governam. Na verdade, com a República a nossa história tem sido tudo menos um conto de fadas.
O «kit patriótico» foi uma iniciativa não só anacrónica e ridícula mas também, e principalmente, inútil e hipócrita. Inútil, porque os portugueses, e em especial os jovens, não precisam de caixas para envergarem as cores da bandeira e entoarem os sons do hino. Eles tiveram uma grande oportunidade para tal no Campeonato da Europa de Futebol de 2000 - sim, as grandes jogadas dos nossos rapazes (cada um deles era uma autêntica bandeira!) não foram só um «hino ao futebol» - mas não nos Jogos Olímpicos do mesmo ano (o que, recorde-se, não preocupou António Guterres, que afirmou que as medalhas não eram importantes…) nem no Campeonato do Mundo de Futebol de 2002… Hipócrita, porque partiu de pessoas que se têm notabilizado precisamente por enfraquecerem a coesão nacional, ao permitirem e incentivarem a integração (dissolução?) na União «Soviética» Europeia, onde, entre muitas outras normas absurdas dignas dos melhores planos quinquenais, são fixadas quotas máximas de produção de leite e multas para aqueles que as excederem.
Todos os portugueses, incluindo os mais novos, querem orgulhar-se do seu país. Esta é, porém, uma tarefa cada vez mais difícil, porque ele tem vindo a ser paulatinamente transformado numa grande anedota de mau gosto pelos praticantes da chamada «ética republicana». «Ética» que, comprovou-se definitivamente nos últimos anos, condiciona o interesse nacional e a transparência pública a benefícios duvidosos de grupos obscuros; que tem como «valores» a impunidade, a incompetência e a irresponsabilidade; que tem como lemas o «vale tudo», o «deixa andar» e o «a culpa morre solteira». «Ética republicana» que, enfim, provou ser um terreno fértil para a corrupção. Portugal é um dos países mais corruptos da Europa, e não somos nós que o afirmamos, mas sim diferentes organizações internacionais nos seus relatórios anuais e diversos comentadores nacionais nas suas colunas nos jornais. E comprova-se pelo aumento de detenções criminais e de processos nos tribunais…
Até agora, o crime tem compensado, mas talvez não por muito mais tempo. Farto de «pagar e calar», o povo está quase a perder a paciência. É algo que se ouve, se vê, se sente - e que não desapareceu com as mudanças (?) decorrentes das eleições autárquicas e legislativas. As «gotas» continuam a cair, o «copo» está quase a transbordar, e ainda vamos ver, quem sabe, alguns «vendidos» a serem «atirados» da janela abaixo.
Artigo publicado no jornal Vida Ribatejana, Nº 4225, 2003/4/30.
No 1º de Dezembro é mais celebrada a luta contra a Sida do que a restauração da independência - o que, provavelmente, até convém para alguns, que preferem não «ofender» os «nuestros hermanos» e vizinhos espanhóis, eles que dominam cada vez mais a nossa economia, além de não nos devolverem Olivença… Honra seja feita, porém, ao Grupo de Amigos de Olivença, essa agremiação de valorosos patriotas que em 2001, contra a maré do conformismo derrotista, a indiferença e por vezes até a chacota dos que não «mexem uma palha» para defender a dignidade do seu país (mas que, pelos cargos que ocupam, deviam mexer), conquistaram, em tribunal, uma importante vitória, impedindo que a ponte velha daquela cidade portuguesa ocupada fosse «cedida» a Espanha - pelo (des)Governo português de então - para «restauro»…
25 de Abril? Um momento decisivo da nossa história recente que, de tão mal assinalado, parece hoje mais distante do que é. E o 10 de Junho? Justifica-se que o «dia nacional» seja o aniversário de uma morte (a do seu maior poeta, é verdade, mas, mesmo assim…) que coincide também com a perda da independência do país? Completamente desacreditada, esta data tem nas suas comemorações apenas um pretexto para se distribuírem algumas condecorações.
O 14 de Agosto não é feriado, mas provavelmente devia ser. Neste dia, em 1385, aconteceu a Batalha de Aljubarrota, que assegurou - pelo menos até 1580 - a independência de Portugal. Em 2001 não houve comemorações… porque o Exército não dispunha de dinheiro para as fazer. No entanto, mesmo que tivesse, seria difícil de concretizar algo de condigno, porque o campo onde ocorreu o glorioso recontro está hoje quase todo urbanizado… Esta data não deixou de ser, todavia, devidamente e duplamente «festejada» nesse ano: com a derrota por 0-2, em Setúbal, da selecção nacional de futebol de sub-21 face à sua congénere espanhola; e pela vitória de mais um ciclista do país vizinho na etapa daquele dia da Volta a Portugal em Bicicleta.
É no 5 de Outubro, contudo, que a mistificação é mais escandalosa. Neste dia, muito mais do que a implantação da República em 1910, deveria comemorar-se o reconhecimento da independência - a assinatura do Tratado de Zamora - em 1143. Não são muitos os portugueses que sabem deste acontecimento, e a entrega nas escolas, em 2000, do chamado «kit patriótico», foi mais um contributo dos republicanos para a continuação, e até para o aumento, dessa ignorância. O pressuposto - isto é, a mentira - central dessa (tentativa de) lavagem cerebral nacional foi que a História de Portugal só começou, verdadeiramente, com a República.
A minha filha mais velha, que frequentava então o primeiro ano do ciclo básico, foi uma das muitas crianças que, quais potenciais criminosas, receberam nas suas escolas a «visita» da Guarda Nacional... Republicana para aprenderem «a identidade, os valores e os símbolos nacionais.» À noite, eu, como pai responsável que tento ser, expliquei-lhe que a Pátria é muito grande, não cabe numa caixa, não se reduz a alguns autocolantes, brochuras e discos, já teve outros hinos e bandeiras, e tem uma história muito antiga, em que aconteceram muitas coisas, umas boas, outras menos boas. E houve um rei e um príncipe - um pai e o seu filho - que foram mortos, assassinados, pelos antecedentes dos que hoje nos (des)governam. Na verdade, com a República a nossa história tem sido tudo menos um conto de fadas.
O «kit patriótico» foi uma iniciativa não só anacrónica e ridícula mas também, e principalmente, inútil e hipócrita. Inútil, porque os portugueses, e em especial os jovens, não precisam de caixas para envergarem as cores da bandeira e entoarem os sons do hino. Eles tiveram uma grande oportunidade para tal no Campeonato da Europa de Futebol de 2000 - sim, as grandes jogadas dos nossos rapazes (cada um deles era uma autêntica bandeira!) não foram só um «hino ao futebol» - mas não nos Jogos Olímpicos do mesmo ano (o que, recorde-se, não preocupou António Guterres, que afirmou que as medalhas não eram importantes…) nem no Campeonato do Mundo de Futebol de 2002… Hipócrita, porque partiu de pessoas que se têm notabilizado precisamente por enfraquecerem a coesão nacional, ao permitirem e incentivarem a integração (dissolução?) na União «Soviética» Europeia, onde, entre muitas outras normas absurdas dignas dos melhores planos quinquenais, são fixadas quotas máximas de produção de leite e multas para aqueles que as excederem.
Todos os portugueses, incluindo os mais novos, querem orgulhar-se do seu país. Esta é, porém, uma tarefa cada vez mais difícil, porque ele tem vindo a ser paulatinamente transformado numa grande anedota de mau gosto pelos praticantes da chamada «ética republicana». «Ética» que, comprovou-se definitivamente nos últimos anos, condiciona o interesse nacional e a transparência pública a benefícios duvidosos de grupos obscuros; que tem como «valores» a impunidade, a incompetência e a irresponsabilidade; que tem como lemas o «vale tudo», o «deixa andar» e o «a culpa morre solteira». «Ética republicana» que, enfim, provou ser um terreno fértil para a corrupção. Portugal é um dos países mais corruptos da Europa, e não somos nós que o afirmamos, mas sim diferentes organizações internacionais nos seus relatórios anuais e diversos comentadores nacionais nas suas colunas nos jornais. E comprova-se pelo aumento de detenções criminais e de processos nos tribunais…
Até agora, o crime tem compensado, mas talvez não por muito mais tempo. Farto de «pagar e calar», o povo está quase a perder a paciência. É algo que se ouve, se vê, se sente - e que não desapareceu com as mudanças (?) decorrentes das eleições autárquicas e legislativas. As «gotas» continuam a cair, o «copo» está quase a transbordar, e ainda vamos ver, quem sabe, alguns «vendidos» a serem «atirados» da janela abaixo.
Artigo publicado no jornal Vida Ribatejana, Nº 4225, 2003/4/30.
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