Apesar de a instituição militar ser merecedora das mais severas críticas, é importante não esquecer que todos os portugueses lhe devem muito: sem os Capitães, o 25 de Abril não teria acontecido.
Mas hoje, passados que são quinze anos sobre o Dia da Liberdade, não falta quem afirme que a época das revoluções já passou, que o «espírito revolucionário» já se perdeu... definitivamente. Actualmente, não é a Revolução que está na moda mas sim o Mercado Único de 1992 – aliás, isto pode ser exemplarmente demonstrado pelos inúmeros casos de «revolucionários» que posteriormente se converteram (reciclaram?) em «europeístas». E também são muitos os que dizem que o 25 de Abril pouco ou nada significa para os jovens. Mas será mesmo assim?
Durante muito tempo se discutiu: revolução ou reformas? Em Portugal parece ter-se optado pelas reformas. Todavia, se analisarmos aquelas que têm sido aplicadas recentemente, não podemos deixar de ficar, no mínimo, surpreendidos com o seu carácter um tanto ou quanto... peculiar: com a «reforma» do ensino, o acesso à Universidade é ainda mais difícil; com a «reforma» fiscal, paga-se ainda mais impostos; com a «reforma» da justiça, o provérbio «o crime não compensa» tornou-se completamente obsoleto. Com «reformas» destas, não será melhor deixar tudo como está?
Não! Há que mudar, há que transformar, para mais e para melhor. No entanto, isso será extremamente difícil, se não impossível, enquanto a imoralidade, sob as formas de corrupção impune, incompetência institucionalizada ou ostentação fútil continuar a prevalecer em Portugal. Neste país os atentados à legalidade e à ética sucedem-se, quantas vezes em nome de um «interesse público» muito duvidoso. Exemplos? Um programa televisivo de grande qualidade é censurado, invocando-se «valores históricos» arcaicos e ridículos; num concurso público para a atribuição de frequências de rádio são contemplados membros do júri; um ministro envolvido em negócios pouco claros anuncia, sorridente, a entrada em vigor de medidas económicas extremamente restritivas, que vão diminuir o poder de compra e o nível de vida, já de si fracos, da maioria dos portugueses. A lista é extensa e não fica por aqui.
Face ao acumular destas situações – que, é certo, não são só de agora – os portugueses acreditam cada vez menos em si próprios e no seu país. Esta descrença exprime-se não só na emigração mas também na reduzida participação na vida colectiva, aos níveis político, social e cultural. Mas é exactamente ficando e participando que os portugueses poderão modificar este estado de coisas.
Os grandes ideais e objectivos com os quais se fez o 25 de Abril encontraram uma excelente tradução na fórmula dos três «D»: Descolonizar, Democratizar e Desenvolver. Porém, é preciso acrescentar hoje outro «D»: Dignificar. Muito há a fazer neste aspecto em Portugal. Por isso, o 25 de Abril não acabou. Pelo contrário: a Revolução ainda está a começar.
Artigo publicado no boletim DivulgACÇÃO, Nº 3, 1989/6.
Mas hoje, passados que são quinze anos sobre o Dia da Liberdade, não falta quem afirme que a época das revoluções já passou, que o «espírito revolucionário» já se perdeu... definitivamente. Actualmente, não é a Revolução que está na moda mas sim o Mercado Único de 1992 – aliás, isto pode ser exemplarmente demonstrado pelos inúmeros casos de «revolucionários» que posteriormente se converteram (reciclaram?) em «europeístas». E também são muitos os que dizem que o 25 de Abril pouco ou nada significa para os jovens. Mas será mesmo assim?
Durante muito tempo se discutiu: revolução ou reformas? Em Portugal parece ter-se optado pelas reformas. Todavia, se analisarmos aquelas que têm sido aplicadas recentemente, não podemos deixar de ficar, no mínimo, surpreendidos com o seu carácter um tanto ou quanto... peculiar: com a «reforma» do ensino, o acesso à Universidade é ainda mais difícil; com a «reforma» fiscal, paga-se ainda mais impostos; com a «reforma» da justiça, o provérbio «o crime não compensa» tornou-se completamente obsoleto. Com «reformas» destas, não será melhor deixar tudo como está?
Não! Há que mudar, há que transformar, para mais e para melhor. No entanto, isso será extremamente difícil, se não impossível, enquanto a imoralidade, sob as formas de corrupção impune, incompetência institucionalizada ou ostentação fútil continuar a prevalecer em Portugal. Neste país os atentados à legalidade e à ética sucedem-se, quantas vezes em nome de um «interesse público» muito duvidoso. Exemplos? Um programa televisivo de grande qualidade é censurado, invocando-se «valores históricos» arcaicos e ridículos; num concurso público para a atribuição de frequências de rádio são contemplados membros do júri; um ministro envolvido em negócios pouco claros anuncia, sorridente, a entrada em vigor de medidas económicas extremamente restritivas, que vão diminuir o poder de compra e o nível de vida, já de si fracos, da maioria dos portugueses. A lista é extensa e não fica por aqui.
Face ao acumular destas situações – que, é certo, não são só de agora – os portugueses acreditam cada vez menos em si próprios e no seu país. Esta descrença exprime-se não só na emigração mas também na reduzida participação na vida colectiva, aos níveis político, social e cultural. Mas é exactamente ficando e participando que os portugueses poderão modificar este estado de coisas.
Os grandes ideais e objectivos com os quais se fez o 25 de Abril encontraram uma excelente tradução na fórmula dos três «D»: Descolonizar, Democratizar e Desenvolver. Porém, é preciso acrescentar hoje outro «D»: Dignificar. Muito há a fazer neste aspecto em Portugal. Por isso, o 25 de Abril não acabou. Pelo contrário: a Revolução ainda está a começar.
Artigo publicado no boletim DivulgACÇÃO, Nº 3, 1989/6.
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