Ontem enviei uma mensagem à Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações, instituição em que trabalhei entre 1999 e 2003, mais concretamente como jornalista na revista Comunicações, e que a seguir transcrevo:
«(…) Hoje
(segunda-feira, 21 de Maio) recebi pelo correio a edição Nº 203 (Maio 2012) da
revista Comunicações. E, tal como eu esperava, e receava, a revista continua a
seguir o denominado "Acordo Ortográfico de 1990" introduzido na edição anterior
– tal como, deduzo, toda a Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das
Comunicações nos seus restantes meios e suportes de comunicação. É, pois, com
profunda desilusão que confirmo que a Associação não seguiu as minhas
recomendações, expressas em mensagens que enviei em Março e Abril últimos, e
baseadas em factos incontestáveis, no sentido de cessar a sua cumplicidade com
aquilo que é um atentado à língua e à cultura portuguesas, e, em última
instância, à própria dignidade nacional. Não aceito estar ligado a uma
instituição que, deliberada e levianamente, permite tornar-se num mero apêndice
de uma das suas empresas associadas e, desse modo, se coloca numa via que a
conduzirá inevitavelmente à sua total descredibilização e irrelevância. Assim,
e por tudo isto, comunico que a partir deste momento deixo de ser sócio (Nº
1900) da APDC; e, em consequência, não voltarão a enviar-me, não só qualquer
próxima edição da revista Comunicações, mas também qualquer tipo de correspondência
e de informação, seja em papel ou electrónica. (…)».
Efectivamente,
a 28 de Março enviara a seguinte mensagem para Pedro Norton (da Impresa),
presidente da Direcção da APDC: «(…) Foi com uma considerável - e desagradável
- surpresa que constatei, na mais recente edição da Comunicações (Nº 202,
2012/2), que a mesma passou a utilizar o dito “Acordo Ortográfico de
1990” - e, posteriormente, também verifiquei que no sítio da Associação sucedeu
o mesmo. Ora, não sendo a APDC um organismo do Estado mas sim, pelo
contrário, uma entidade privada (que congrega outras, e bastantes, empresas
privadas), nada a obriga a adoptar a suposta “nova ortografia”. Aliás, mesmo
que fosse uma instituição pública também não: como já foi amplamente
demonstrado por diversos especialistas em diversas ocasiões, o AO90 não tem
qualquer consistência, sustentabilidade... e legitimidade jurídica, tanto no
plano interno como no externo. Não só não está em vigor como nunca deverá
entrar em vigor. Isto, claro, para além da aberração injustificável que
constitui nos planos cultural e político. Se o carácter incongruente, e mesmo
ridículo, do AO90 já é por de mais evidente na utilização quotidiana,
generalizada, do Português, torna-se ainda mais nítido quando aplicado a um
sector, a uma área tão específica como são as Tecnologias de Informação, Media
e Telecomunicações, em que abundam os anglicismos. O mesmo é dizer, (muitas)
palavras derivadas, entre outras, de “act” e de “direct”, com consoantes
“mudas” e repetidas, e, claro, até com “ph”. Pelo que a APDC em geral
e a Comunicações em particular perderão irremediavelmente credibilidade se, o
mais rapidamente possível, não voltarem a utilizar a ortografia portuguesa
normal. (…) Acredito que o desenvolvimento das comunicações se faz em primeiro
lugar, antes da adequada utilização de tecnologias, da correcta utilização da
língua - afinal, o mais primordial, mais fundamental, meio de comunicação. E o
lamentável, anti-democrático “acordo ortográfico” constitui
indubitavelmente não um contributo para o desenvolvimento das comunicações mas
sim, pelo contrário, para o seu definhamento. (…)» Até hoje não obtive resposta
a esta mensagem…
… Tal como
nunca cheguei a ser informado, apesar de o ter solicitado, se a utilização do
AO90 havia sido aprovada em Assembleia Geral da APDC, cujo presidente da Mesa é
Eduardo Fitas (da Accenture). Em mensagem enviada a 10 de Abril, perguntei:
«(…) Quem, concretamente, “entendeu que
iniciaríamos este processo de ajustamento no ano de 2012”? A Direcção? Com
certeza que sabe que uma decisão desta importância teria de ser necessariamente
tomada, ou pelo menos ratificada, pela AG. Porque, volto a reafirmar este
facto, nada, repito, nada existe
com força legal que possa obrigar a Associação a adoPtar o AO90.»
Como
ilustração, e demonstração, do ridículo em que a APDC caiu, atente-se neste
excerto do editorial da edição Nº 203 da Comunicações, assinado pela chefe de
redacção da revista, Isabel Travessa, licenciada em Direito e há 14 anos no
cargo: «As expetativas são muitas e os grandes grupos mundiais já se estão a
posicionar neste novo ecossistema, que envolve players tão distintos como
operadores, instituições financeiras, retalhistas e OTT.» Um editorial em que
também se faz referência a algo denominado de «espetro». Não é tão empolgante a
modernidade? (Também no Esquinas (124).)
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