Mais um «notável» - agora também por um mau motivo – que se rendeu ao «aborto pornortográfico»»: Mia Couto.
Tal já era
evidente a quem folheasse (como eu fiz) o seu último livro, «A Confissão da Leoa» - que, obviamente, não adquiri. E, através da edição mais recente
da revista Tempo Livre (Nº 238, 2012/6, páginas 23-28), podemos conhecer mais
pormenorizadamente o seu «pensamento» sobre o assunto: «(…) O Acordo
Ortográfico mexe com uma coisa tão pequenina, mexe com a ortografia, e a minha
reinvenção não se opera exactamente aí… E de facto é um acordo que unifica tão
pouco que não me parece que seja motivo para eu me preocupar… (…) Acho que a
polémica nasceu de um certo sector em Portugal que viu uma certa perda, que
teve um sentimento de que alguma coisa estava a ser mexida no que era um
território sagrado, bem português… Provavelmente, essa reacção nervosa existiu
sempre que houve um acordo deste tipo, sempre que houve uma revisão
ortográfica… Agora é uma coisa mais complicada porque é uma revisão feita por
vários países. O que mais importa para Moçambique é saber quais as implicações
financeiras que este novo acordo acarreta. (…) A polémica é superficial, o
acordo não implica grandes alterações. (…) Aquilo que eu objectei em relação ao
acordo foi a sua pertinência, aquilo que foi invocado para a necessidade de
introduzir alterações. Mas agora que está aí, acho que é improdutivo brigar
contra o acordo. Podemos acusá-lo de várias coisas, de não ser envolvente, de
não contar com a auscultação das pessoas que são realmente as donas, as
fazedoras da língua. Eu não sou militante dessa causa, de questionar e negar o
acordo. É verdade que esse acordo pode resolver algumas coisas que não pareciam
ser grande problema e agora que ele está aí as questões são mais de ordem
prática. Sinceramente, eu já estou a escrever, já o estou a aplicar e não é um
parto tão doloroso assim. (…)»
Quantas
contradições, falsidades, insinuações, em tão pouco espaço… Nem
«personificando» leões este «gatinho» poderá a partir de agora aumentar a sua
dimensão… pessoal e intelectual. Não mia, não ruge, não pia… contra os
fascistas linguísticos que estão a tentar impor, à força, uma ortografia «do
Minho a Timor». E, com José Eduardo Agualusa em Angola, Mia Couto já pode
formar como que um «Mapa Cor-de-Rosa» deste neo-colonialismo cultural. Porém, e
ao contrário do que alguns prematuramente – e alegremente – anunciaram,
Moçambique ainda não está «perdido», ainda não ratificou o AO90. O que foi
aprovado, sim, pelo governo de Maputo foi uma proposta de resolução que será
apresentada e votada no parlamento. Resta, pois, esperar que os deputados
moçambicanos mostrem ter mais bom senso e coragem do que os seus congéneres
portugueses. (Também no Esquinas (127) e no MILhafre (60).)
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