sexta-feira, junho 27, 2014

Observação: Desta vez, aconteceu no Brasil

(UMA adenda no final deste texto.)
Já o disse, e escrevi, mais do que uma vez: com a selecção nacional sénior de futebol de Portugal a questão nunca é saber se vai ganhar algum campeonato, europeu ou mundial, mas sim em que momento da prova vai perder. Neste ano de 2014, no Campeonato do Mundo disputado no Brasil, igualou o pior resultado de sempre em torneios finais (há que não esquecer as vezes em que nem foi apurada na qualificação): ficou-se pela fase de grupos… o que não acontecia desde 2002, no campeonato que decorreu na Coreia do Sul e no Japão.
O que também se repete rotineiramente na representação nacional em futebol e nos seus maus resultados são as (mesmas) causas: (fraca) atitude, (maus) comportamentos, (previsíveis) erros. É a ausência de ambição, que leva «profissionais» bem remunerados a portarem-se como uma «excursão de solteiros e casados» em pré-férias; a displicência que frequentemente se confunde com arrogância; o amadorismo e a incompetência que levam a que não tenham cuidado na defesa (sofrer golos), na disciplina (ver cartões) e na saúde (sofrer lesões). Enfim, a crónica dependência de «milagres» (que nunca acontecem) quando se devia apostar num trabalho de (quase) todos os dias.
Porém, e volto igualmente a afirmá-lo e a registá-lo, a culpa destes sucessivos desastres é também dos que «estão de fora». Isto é, (quase) todos nós (eu não me incluo, porque há muito tempo que deixei de acreditar e, logo, de me comportar como um idiota), desde os milhões de meros espectadores, «torcedores» (e sofredores), às centenas, milhares, de profissionais da comunicação, jornalistas, comentadores, alegados «especialistas». Que, antes, e apesar dos (maus) antecedentes, estão sempre disponíveis para dar o benefício da dúvida; e, depois, estão sempre disponíveis para arranjar uma desculpabilização… e até uma consolação. Na verdade, e pelo contrário, o que eles (jogadores principalmente, mas também técnicos e dirigentes) deveriam receber era indiferença, quando não desprezo – e logo antes da partida, o que implicaria, igualmente, evitar recepções no Palácio de Belém…
No entanto, os piores, neste aspecto, estão sempre no mesmo local: a RTP. A agitação, o frenesim, a propaganda em tons verdes e vermelhos, sempre abunda(ra)m na estação pública de televisão durante estas ocasiões. Não têm – nunca tiveram – naquela casa qualquer vergonha na cara ou qualquer noção do ridículo: os vídeos de incentivo à «seleção» assumem um tom «épico» que mais não é do que risível, e naquele que foi emitido antes do jogo com o Gana chegaram ao cúmulo de evocar os que combateram em Aljubarrota e os que dobraram o Cabo das Tormentas! Infelizmente, nenhum dos que estiveram a «representar-nos» futebolisticamente no outro lado do Atlântico tem qualquer semelhança com – e qualquer herança de – esses heróis de outrora, que venciam invariavelmente apesar de partirem em desvantagem. E Cristiano Ronaldo, cujo estatuto de «melhor jogador do Mundo» não se tem reflectido na suposta «equipa de todos nós», que em poucos dias passou da fanfarronice («este vai ser o ano de Portugal») ao fatalismo («nunca imaginei ser campeão»), não é uma reencarnação de Vasco da Gama, de Pedro Álvares Cabral ou de Afonso de Albuquerque. Será, talvez, quando muito, de Fernão de Magalhães...
Todavia, a humilhação não é sempre necessariamente idêntica: pode variar, e varia, consoante as circunstâncias, entre as quais, e em especial, o país em que a derrota definitiva, a eliminação prematura, o fracasso final, acontecem. Já em 2010 havia sido muito mau (também) simbolicamente por ter decorrido na África do Sul, terra em que, precisamente, o Cabo «das Tormentas» se transformou em «da Boa Esperança». Mas em 2014 foi ainda pior porque, desta vez, aconteceu no Brasil. Pelo que o escárnio, o paternalismo e a soberba – ou, numa palavra, as anedotas - vão continuar, e, provavelmente, até aumentar. Como disse Paulo Bento, tivemos (e temos e teremos) «o que merecemos». Em ano de centenário da Federação Portuguesa de Futebol não poderia mesmo haver uma «prenda» melhor? (Também no MILhafre (93).)
(Adenda - Deixei comentários e entrei em «diálogos» sobre futebol no Malomil e no Sporting/ÉsANossaFé.)

sexta-feira, junho 20, 2014

Ocorrência: Foram quase 900

Ontem, e tal como tenho feito diariamente desde que ele foi publicado no passado dia 7 de Junho no Público, acedi ao sítio na Internet daquele jornal e à página que contém o meu artigo «Proíbam o Inglês!» No dia anterior verificara que o número de recomendações/partilhas no Facebook estava em 880; porém, agora esta(va)m em apenas… uma! Contactei de imediato a Direcção do Público, que considerou o ocorrido «anormal» e «inacreditável» e para o qual não encontrava (até ao momento) explicação; também desapareceram as ligações a blogs que referiram o artigo, mais concretamente o Octanas e o ILCAO. No entanto, que fique claro e sem lugar a dúvidas: foram quase 900 as pessoas que «gostaram» e que divulgaram o meu artigo, no que terá sido, nesse aspecto e no que se refere a textos de opinião, um recorde no Público.
Entretanto, e curiosamente, nenhum dos comentários desapareceu, e ainda bem. Farei uma breve análise aos de duas pessoas. Primeiro, Alberto Queiroz, de que nunca tinha ouvido falar, e que se tornou mais um, lá está, a (des)tratar-me por «Otávio» e que insinuou que eu não sei que foi em Portugal que a mania das alterações/«reformas» ortográficas abrangentes, burocráticas e não democráticas começou… Sim, eu sei, e foi em 1911 e não na «década de 20»; ou seja, e por eu ser português, não teria por isso direito a manifestar-me contra mais um «(des)acordo ortográfico»; o Sr. Queirós é que devia ter juízo, e já tem mais do que idade para isso. Segundo, Manuel Freitas, e este, sim, eu já «conhecia», e ele «conhece-me», porque é um editor com quem já falei ao telefone e troquei mensagens de correio electrónico; propus-lhe a edição de três livros meus, um dos quais era, é, o meu segundo «romance», recentemente concluído, uma distopia de ficção científica, que o Sr. Freitas considerou ter «um tema desconfortável e que no nosso caso não se enquadra no nosso posicionamento de grande público» - de notar que ele chegou a afirmar, num dos seus perfis profissionais (escrito em Inglês), ter «alta tolerância ao risco» e estar «sempre à procura de novos desafios»; pelo que lhe enviei, a 10 de Junho, uma mensagem…
… À qual ele ainda não respondeu (nem deverá responder), e que a seguir transcrevo: «Caro Manuel de Freitas, vi hoje que deixou um comentário no meu mais recente artigo no Público... Pergunto-lhe: porque é que (também) não me contactou directamente, e me colocou as questões e os comentários que quisesse? Perdeu este meu “e-ndereço” de correio electrónico? Você, tal como muitos outros que têm a consciência pesada neste assunto, mais não faz do que utilizar distracções, subterfúgios, enfim, merdices. Começando com o tema da “percentagem”, do número de palavras afectadas ou não pelo AO... sim, são menos de metade do total, mas são centenas, quiçá milhares, em que se incluem muitas que têm utilização frequente, constante, como todas as que derivam de “acção” e de “direcção”, por exemplo; mais do que a quantidade, está em causa o princípio (ou falta dele...) E bastariam “maravilhas” como “espetáculo” e “receção” para, sim, (des)classificar de cobarde e de imbecil quem concebeu esta aberração... e quem se submete a ela. E, claro, não podia faltar o “argumento” de que “porque a ortografia que utiliza já é ela própria o resultado de uma alteração, de uma ‘simplificação’, então não tem de estar a protestar”... Ou seja, não podemos dizer “já chega!” Até quando é que isto durará? Até a língua estar reduzida, ortograficamente, ao “SMS básico”, e, vocalmente, a grunhidos? E, para que conste, eu não teria qualquer problema em escrever como se escrevia antes de 1911... Porque, então, estávamos ainda mais próximos das ortografias francesa e inglesa. E este meu artigo serve principalmente para demonstrar e denunciar a hipocrisia daqueles que, aceitando deformar o Português com o “acordês”, não têm vergonha de, em simultâneo, abusar individualmente, socialmente, profissionalmente, do Inglês, onde não faltam “c's” e “p´s” repetidos e “mudos” e “ph's”. Como alguém que, sendo português e trabalhando em Portugal, decidiu designar uma das suas editoras como “Booksmile”. “Lamentável”, eu? Olhe-se ao espelho.»
Na verdade, o que não faltam são (mais) exemplos de pessoas e de entidades em Portugal que, ao mesmo tempo que se submetem ao «aborto pornortográfico», contradizem este ao incorporar expressões em Inglês na sua actividade. Um dos mais recentes é dado pela EDP, que, apesar de já não ser «eléCtrica», decidiu designar um dos seus serviços como «energy2move». Não há dúvida de que, em alguns, a estupidez está sempre «ligada à corrente». (Também no MILhafre (92).)

terça-feira, junho 10, 2014

Observação: Vem aí mais um Filipe…

Hoje assinala-se aquele que, na verdade, e como já o demonstrei, não é, não devia ser, o (autêntico) «Dia de Portugal», mas sim o «Dia da Perda da Independência e da União com Espanha»… ou seja, sempre foi, e continua a ser, a data preferida dos iberistas nacionais, que existem, são bastantes…
… E se concentram principalmente no Partido Socialista. E agora, que vem aí mais um Filipe como Rei, deverão os jacobinos lusitanos ceder à sua verdadeira devoção, sem dúvida reforçada após terem assistido hoje a outro desfalecimento do «mais alto magistrado da Nação»? Depois de José Sócrates («Espanha, Espanha, Espanha!») e de António Mendonça («Lisboa pode ser a praia de Madrid»), António Costa foi a terceira figura de destaque do PS a demonstrar, nos últimos anos, uma reprovável – mas não surpreendente – subserviência ao país vizinho. A pretexto da realização da final da Liga dos Campeões de 2014 no Estádio da Luz, Costa foi à capital espanhola a 8 de Maio último oferecer à sua congénere madrilena, Ana Botella, as «chaves da cidade de Lisboa» (algo que só acontecera antes na nossa capital e com chefes de Estado estrangeiros), garantiu-lhe que «Lisboa seria Madrid por um dia», e trouxe de lá uma bandeira de Espanha para hastear na Praça do Comércio. E tudo isto enquanto, evidentemente, se exprimia não em Português mas sim em «portunhol»…
Esta foi apenas mais uma prova da falta de carácter e de competência de alguém que, entretanto, decidiu tornar-se líder do PS e o próximo primeiro-ministro, no que conta com a ajuda e o apoio de camaradas tão «distintos» como, entre outros, Isabel Moreira e Miguel Vale de Almeida. Sinceramente, como é que alguém como António Costa é considerado uma alternativa credível? Se enquanto secretário de Estado e ministro a qualidade e relevância da sua actuação foi (muito) discutível, já enquanto presidente da Câmara Municipal de Lisboa os desastres têm-se sucedido, de que são de destacar: degradação constante, e até acelerada, do parque arquitectónico e imobiliário; intervenções supérfluas, e mesmo prejudiciais, no trânsito; e ainda (algo que me atingiu pessoalmente) cumplicidade em procedimentos incorrectos por parte de inferiores hierárquicos…
Enfim, a partir do momento em que alguém enaltece, como «princípio orientador» do seu percurso futuro, o «impulso reformista» do «licenciado ao Domingo», não podem restar dúvidas sobre o que acontecerá (outra vez) se tal pessoa alcançar o poder. Nesse sentido, a «morte anunciada» do PS não poderá vir cedo demais. E, a seguir à «guerra», os «rosas» sempre podem fugir para Castela… (Também no MILhafre (91).

sábado, junho 07, 2014

Orientação: Sobre uma «proibição», no Público

Na edição de hoje (Nº 8821) do jornal Público, e na página 55, está o meu artigo «Proíbam o Inglês!». Um excerto: «Que confusão não acontecerá – aliás, já acontece – nas cabeças dos mais jovens ao verem numa língua “c’s”, “p’s” e até “ph’s” em excesso que na outra são – ou se tenta que sejam – eliminados. Depois disso, e como que em consonância com mais uma “lógica” inovação pedagógica estatal, RTP e TVI iniciaram a transmissão de “versões infantis” de dois dos seus programas, respectivamente “Chef’s Academy – Kids” e “A Tua Cara não me é Estranha – Kids” - porque, “evidentemente”, não ficaria bem colocar “crianças” ou “miúdos” no título. Porém, e quanto a “ironia ortográfica luso-britânica”, nada nem ninguém supera o governo regional dos Açores: o seu sítio na Internet, que, evidentemente, exibe um bem comportado, conformado, “acordismo”, tem como “e-ndereço”… azores.gov.pt!» (Também no MILhafre (90). Referência no Blogtailors, e ainda, acrescida de reprodução, no ILCAO, no Largo dos CorreiosMyWebVodafone, PorAmaisB e República Digital.

quarta-feira, junho 04, 2014

Observação: Antes Angola do que a China

Assinalam-se hoje 25 anos desde a repressão – agressão, prisão, execução, exílio – de manifestantes chineses pela democracia na Praça Tiananmen em Pequim.
Convém lembrar, e salientar, que, um quarto de século depois desse intenso mas breve momento de esperança, e apesar de toda a «modernização» e «desenvolvimento» que entretanto, e alegadamente, ocorreram, o «Império do Meio» continua a ser dominado pelo (único) Partido Comunista Chinês e a ter como regime uma ditadura violenta, que não possibilita a liberdade de expressão e a de associação, entre outras. Ainda recentemente, durante a visita de Aníbal Cavaco Silva àquele país, os «comissários culturais» pós-maoístas não hesitaram em censurar – proibir, remover – obras de artistas portugueses expostas para a ocasião. Infelizmente, as relações luso-chinesas têm tido outros aspectos (mais) desagradáveis, em especial na economia: foram más – péssimas! – as decisões por parte do actual governo de vender a REN, a EDP e a Fidelidade, grandes, fundamentais, empresas portuguesas e líderes nos seus sectores, a congéneres chinesas – que, obviamente, têm (todas) ligações ao PCC. Terá sido por isso que a cor da seguradora passou a ser o vermelho? A da «elé(c)trica» já era essa, pelo que não foram necessárias – à primeira vista – mais alterações…
É neste contexto que se tornam mais insólitas as contestações, as queixas e as suspeições relativas aos investimentos de empresários angolanos no nosso país, que envolveram inclusivamente a publicação de um livro intitulado «Os Donos Angolanos de Portugal». A minha posição quanto a este assunto é inequívoca: antes Angola do que a China. E não só por aquele ser um país irmão, do espaço da língua portuguesa (que Luanda respeita, ao contrário de Lisboa, porque não implementa o AO90); também porque nele há uma democracia, sim, ainda imperfeita, incipiente, mas uma democracia; nele há pluralismo partidário e, embora com restrições, liberdade de expressão. Sim, podem dizer que a situação em Angola não é óptima; mas na China é muito, muito pior. (Também no MILhafre (89).