quinta-feira, maio 25, 2006

Outros: SbH - e «Visões» - na Feira do Livro

Hoje, 25 de Maio de 2006, abriu ao público, no Parque Eduardo VIII, a 76ª Feira do Livro de Lisboa, que se prolonga até 13 de Junho. A Solutions by Heart está presente neste certame através de um expositor colocado no pavilhão das pequenas editoras, e nesse expositor está o meu áudio-livro «Visões», juntamente com as duas outras obras já editadas pela SbH: (os dois volumes de) «Contos», de Hans Christian Andersen, e «O Islão segundo um Ocidental», de S. Franclim.
Deste autor, pseudónimo do meu amigo Sérgio Sousa Rodrigues, estão também disponíveis outros livros em pavilhões de outras editoras: «O Alfarrabista que mandou falsificar Os Lusíadas», na Prefácio; e «Os Dois Corvos de Odin» e «O Sol Naquele Dia ou A Árvore de Zeus», na Zéfiro/Tribuna da História. Outros amigos escritores com obras à venda na Feira do Livro 2006 incluem: António de Macedo, com «As Furtivas Pegadas da Serpente», na Caminho, e «Esoterismo da Bíblia», na Ésquilo; Cristina Flora, com «A Saudade do Rei», na Minerva, e «A Inconstância dos teus Caprichos», na Presença; e Luís Sequeira, com «Quatro Andamentos», na Caminho.

quarta-feira, maio 24, 2006

Ocorrência: Livros salvados

Hoje, 24 de Maio de 2006, abriu ao público, na Biblioteca Nacional, em Lisboa, a Exposição da Campanha Salve um Livro II (que se prolonga até 28 de Julho), que reúne e mostra obras antigas que foram objecto de trabalhos de conservação e de restauro. Eu estive presente... na qualidade de (um dos) mecenas desta campanha.
Foi há mais de dois anos, a 14 de Maio de 2004, que me desloquei à BN para entregar um cheque no valor de 285 euros «para pagar a intervenção de conservação e restauro da obra Nº 7 ao abrigo da campanha “Salve um Livro”.» Essa intervenção incluiu: a «realização de (nova) encadernação em pele» – porque a anterior, «embora esteja em bom estado de conservação, descaracteriza a obra» por ter sido feita «com materiais de má qualidade e cujo estilo não é contemporâneo da obra em questão»; o «tratamento integral do corpo do livro» - porque este apresenta(va) «sujidade superficial depositada, foxing, intervenções anteriores de restauro e orifícios provocados pela acção dos insectos»; o «acondicionamento em caixa de cartão isento de acidez»; e a execução de um microfilme.
E qual é a «obra Nº 7» da lista de quase uma centena desta (segunda) campanha «Salve um Livro» (a primeira foi em 1994)? É «O Uruguai», de José Basílio da Gama, cuja primeira edição – a do exemplar que foi restaurado – é de 1769. A importância deste livro e do seu autor pode melhor ser aferida através da leitura das citações que se seguem, apenas duas das que recolhi e transcrevi durante as pesquisas que efectuei para escrever o meu livro «Espíritos das Luzes». António José Saraiva e Óscar Lopes afirmam que «o primeiro poema heróico em que se encarecem as populações nativas do Brasil e em que a sua paisagem perpassa, embora muito palidamente, é o “Uruguai” de Basílio da Gama, nascido em Minas Gerais, educado pelos jesuítas, homem culto e viajado, que, apesar das suspeitas resultantes do seu noviciado na Companhia de Jesus, soube conciliar o favor do Marquês de Pombal e nobilitar-se. O poema tem como assunto principal a campanha do governador Gomes Freire de Andrade contra certas tribos ameríndias que o Tratado de Madrid de 1750 incluiu dentro do território colonial português, mas nas quais os missionários jesuítas haviam fortificado as aspirações autonomistas. Basílio da Gama preenche cinco pequenos cantos de verso decassilábico branco sem recorrer aos artifícios da mitologia clássica, utilizando o árido desenrolar histórico da campanha militar como enquadramento de um romance ameríndio, em que se salienta o pundonor dos chefes guerreiros, a tragédia de amor da jovem Lindóia, a caricatura de um factótum dos jesuítas e, finalmente, uma visão dantesca das maquinações em prol do império universal que atribui à Companhia de Jesus. É significativo o contraste entre o convencionalismo com que Basílio da Gama retrata os militares portugueses e a desenvoltura do romance ameríndio, e deve notar-se a justeza, conquanto esmaecida, da cor local. O “Uruguai” não fica mal ao lado do “Camões” de Garrett, o primeiro poema geralmente tido como romântico na nossa literatura, e que visivelmente influenciou; contribuiu, mais do que qualquer outra obra setecentista, para uma autonomia temática da literatura brasileira. (SARAIVA, António José, LOPES, Óscar, «O Século das Luzes», em História da Literatura Portuguesa, Porto, Porto Editora, 1979 (11ª edição), pp. 680-681).
Vinte anos mais tarde, Jorge Henrique Bastos, depois de referir – e repetir – as características da obra e as circunstâncias em que ela surgiu, realçará o facto de o poema - «considerado um dos principais marcos fundadores da nacionalidade literária brasileira» - ter sido publicado «no ano em que Pombal recebera o título de Marquês, e teve um tão intenso impacto sobre ele que mesmo (as pinturas d)o tecto do palácio de Pombal, em Oeiras, parece ter sido inspirado em passagens do poema.» (BASTOS, Jorge Henrique, «O Marquês e o Rei», em Expresso, Lisboa, 1999/8/14, pp. 69-73 (Revista)).

sexta-feira, maio 05, 2006

Opinião: Não (n)os esqueceremos

Não. Não nos esqueceremos. Não os esqueceremos. Mas... como poderíamos? Como poderemos esquecer que pessoas que amámos desapareceram, da maneira mais cruel e injusta?
Eles não mereciam isto.
Morreram antes de experimentarem tantas emoções, tantas sensações que a vida pode, e deve, oferecer. Quantos sonhos ficaram por realizar? Muitos, muitos, muitos.
Saber que eles ficaram ali, esmagados, mutilados, crucificados, entre os ferros da carruagem da morte, é ainda difícil de acreditar. Ter-se-ão eles apercebido do que ia acontecer? Será que eles sofreram muito? Que dor, que agonia!
Nós, os que ficámos, também sentimos a dor e a agonia. Poderia ter sido connosco em vez de com eles.
Já se passou um mês, mas o sofrimento persiste. E daqui a um, cinco, dez, muitos anos, continuaremos a sofrer.
Que posso eu fazer? Poucos dias antes da tragédia, eu e o Chico, meu grande, meu querido amigo, tínhamos conversado longamente, sobre as nossas vidas, as nossas experiências, sobre aquilo que gostaríamos de fazer. A sua imagem e a sua voz ficaram marcadas em mim para sempre. Digam-me: que posso eu fazer? Que podem fazer os pais, os irmãos, os parentes, os amigos?
Enterrar os mortos e cuidar dos vivos? Está feito.
Nestas ocasiões, nunca faltam as condolências, os sentimentos de pesar, o luto oficial, os gestos de solidariedade, as tomadas de posição, os pedidos de esclarecimento, as exigências. No entanto, tudo isto não os trará de volta. Nada se pode fazer pelos que morrem.
Os inquéritos da CP também não os farão regressar. Os administradores, os gestores, os responsáveis, estão demasiado ocupados em conseguir o equilíbrio financeiro da empresa. Para eles, o acidente não passou de um pequeno contratempo. Vai ser necessário que sintam na carne horrores como este para se decidirem a fazer alguma coisa pelos que – por enquanto – estão vivos.
Entretanto, continuamos a correr riscos diariamente.
Quando é que a vida deixará de ser uma eterna fuga à morte? Quando?

Hoje, 5 de Maio de 2006, passam 20 anos sobre o grande acidente ferroviário da Póvoa de Santa Iria. Onde, entre os mortos, estavam amigos meus. Onde, entre os feridos, estavam amigos meus. Onde, entre os assustados, estavam amigos meus. Não me esqueci. Não os esqueci.

Artigo publicado no jornal Notícias de Alverca, Nº 17, 1986/6.